Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Mamarracho


            Lisboa é hoje uma cidade onde ancoram diariamente cruzeiros trazendo milhares de turistas de todas as partes do mundo. O Terreiro do Paço, uma praça construída após o terramoto de 1755, com os seus 36 mil metros quadrados, é uma das mais imponentes da Europa e porta de entrada na Lisboa pombalina, para os turistas que acabam de desembarcar dos cruzeiros, para passarem um dia na capital mais antiga deste velho continente.

            Nestes últimos dias, todos aqueles que entram nesta bela praça pelo lado do rio, esbarram num mamarracho, composto por três panos brancos em forma de pirâmide, que não ocultam uma estrutura metálica de andaimes a que pomposamente chamam de árvore de natal. Mais grave é que este mamarracho, encobre, da parte nascente do terreiro, o belo Arco da Rua Augusta, que qualquer turista, deseja fotografar, dos mais diversos ângulos e se possível captando um carro eléctrico dos antigos, embora muitos dos modelos que outrora circulavam pelas colinas lisboetas, tenham desaparecido.

          Infelizmente o património arquitectónico português, tem sido desprezado pelos governantes, nos seus diversos patamares de governação, esquecendo-se que ele representa a história de um povo, é um legado das gerações que contribuíram para construir um país e que no fundo, ajudam através do turismo, a criar receitas para o bem-estar da população.

     O que neste momento interessa realçar é que os políticos eleitos democraticamente por um período transitório de tempo, devem exercer as suas funções, gerindo melhor possível o bem público, como se estivessem a governar a sua própria casa, não gastando de qualquer forma o dinheiro que não lhes pertence. No acto da inauguração deste mamarracho, o responsável pela obra, a uma pergunta dum jornalista, sentiu-se incomodado e respondeu, no fundo assumindo a sua responsabilidade, que os governantes anteriores tinham gasto ainda mais dinheiro. Uma bela justificação para se continuar a esbanjar o erário público! Baía da Lusofonia

domingo, 30 de dezembro de 2012

Pescadores

              Uma das artes mais antigas praticada pelo homem é a de pescar, pois era um meio de subsistência. Se pensarmos um pouco, a pesca deve ter começado com uma primitiva lança pontiaguda, que em pequenos riachos eram lançadas para apanhar o peixe necessário para uma refeição. Mais tarde, o homem foi desenvolvendo outras formas de pescar, criando um pau, um fio e um apetrecho para apanhar o peixe que nos nossos dias conhecemos por anzol.

            "Antes de dar comida a um mendigo, dá-lhe uma vara e ensina-lhe a pescar" é um conhecido provérbio muito utilizado perante aqueles que estão sempre à espera que alguém lhes trate da sobrevivência sem que para isso tenham de trabalhar.  Mas estará este provérbio ainda bem aplicado? Pelo que eu presenciei um dia desta semana, há um novo tipo de pescadores.

             Andava eu a circular por Lisboa quando, para minha surpresa, encontrei um pescador, que não estava pescando no poluído Tejo, rio que outrora alimentou muita gente, mas, pasme-se, em plena Praça do Rossio, perante o olhar atento de Pedro, não o discípulo, mas de El-Rei D. Pedro IV de Portugal, Pedro I Imperador do Brasil.

            Este pescador já tinha passado a fase da primitiva lança, mas ainda estava no período do pau, muito distante da actual cana-de-pesca, uma corda daquelas de embrulhar fardos, ainda longe dos fios de pesca de hoje e um apetrecho que não era um anzol, mas um íman, que não servia para pescar peixes onde não os há, mas sim moedas lançadas pelos estrangeiros, que entusiasmados pelo clima de Lisboa, pela beleza da baixa pombalina, resolvem, como se tivessem na Fontana de Trevi em Roma, atirar uma moeda para as fontes do Rossio, para terem a sorte de regressar a esta cidade de Lisboa mais uma vez.

            Este novo tipo de pescador, não usa a arte para se alimentar de peixe, emprega um apetrecho artesanal para apanhar moedas e depois adquirir droga, de uma maneira fácil, consegue o que outros não conseguem ao fim de um dia de trabalho, sempre isento de impostos. A Fonte de Trevi em Roma tem uma autoridade assegurando que os desejos dos turistas, transmitidos através de uma moeda lançada para a fonte, não sejam levados por mão alheia, mas em Lisboa encontramos as autoridades municipais em grupos de três ou quatro elementos, normalmente em amena cavaqueira, pois Lisboa é uma cidade acolhedora, mas entretanto onde se menos espera há alguém a cuidar pela sua vida de maneira ilícita. Baía da Lusofonia

sábado, 29 de dezembro de 2012

Duzentos...


O blogue Baía da Lusofonia em actividade há sete meses, exclusivamente dedicado às palavras em língua galaico-português e em crioulos derivados, após uma semana dedicado à poesia, regressa ao texto para fazer um balanço.


Nos 212 dias de existência utilizando uma linguagem acessível a todos os falantes lusófonos espalhados pelo mundo, foram publicados 250 textos, cabendo a maior responsabilidade às citações que corresponderam a 45% do total publicado. Os textos originais, 34,1% do total, têm sido nos últimos meses, apresentados com mais assiduidade, graças a novas colaborações que têm contribuído para um enriquecimento da qualidade dos textos. A poesia, 18,5% do total, representando todos os países da CPLP e as regiões da Galiza e Malaca, tem tentado mostrar o que os poetas de língua portuguesa descrevem por esse mundo, embora sejam os textos que infelizmente são menos visitados. Por fim as traduções e entrevistas correspondem a 2,4% do total.
 

Uma das preocupações do blogue Baía da Lusofonia é a da diversificação geográfica dos textos, tarefa que não é fácil de elaborar. Mesmo assim conseguiu-se um vasto leque de origens, cabendo a dois países, que me parece consensual, Portugal e Brasil, o maior número de textos publicados, 22,5% e 19,7% do total, respectivamente. Moçambique, 7,2%, Angola, Galiza e Guiné Bissau, 6,8% do total, são os países e região que também contribuíram significativamente para a apresentação de palavras lusófonas.


Num patamar com um número menor de escritos estão, São Tomé e Príncipe, 4,4% do total, Cabo Verde, 4%, o conjunto da CPLP, 2,8%, a Guiné Equatorial e Timor Leste, ambos com 2,4%, Casamansa, 1,6%, com os seus textos a terem muita procura e os EU América, 1,2% do total.

 
Por fim, com uma percentagem inferior a 1, temos Goa, Macau, o conjunto da Lusofonia e Uruguai, 0,8%, Malaca, Equador, Espanha, México, Namíbia, Rússia, Suécia e Catalunha, todos com 0,4% do total.


Dos textos publicados há a destacar pelo número de visitas, as citações “Consumo” e “Social” do ministro brasileiro Moreira Franco, o original “Desavergonhado” da Baía da Lusofonia e a citação “Casamansa” um texto brasileiro do Prof. Dr. Adelto Gonçalves.
 

As origens das visitas têm sido das mais diferenciadas, com sete países a evidenciarem-se dos restantes. Portugal, 20,3% do total, Alemanha, 17,1%, EU América, 16,9%, Rússia, 13,9%, Brasil, 9,4%, França, 5,2% e Espanha, 4,6% do total.
 

O blogue Baía da Lusofonia espera continuar a navegar pelo ano de 2013, aportando a novos locais onde se fala em língua galaico-português. Obrigado. Baía da Lusofonia

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Deserto


Presença do deserto

Presença do deserto que não finda,
sem ti o que seria, a imensidão
do meu deserto longo, em escuridão
sem o brilhar do sol, em luz infinda,

Que dardejando em ti, te tornou linda
qual borboleta esquiva em solidão
abrindo asas frementes, ao condão
da liturgia etérea, que não finda!

Se por te ver chorar também eu choro...
se é minha, a grande dor da minha dor,
e igual à tua sorte que deploro,

Que sejas no teu reino, sempre aquela
que feita minha irmã, na mesma cor
segue em destino o fim, que um amor sela…

Joana Couto – Angola

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Amor


Reparo o amor com virtude de um pássaro
que quer voar em direcção
à larga linha do horizonte,
com tanta gente aqui neste país que o anuncia
e o desperdiça a feri-lo em disputa,
a magoá-lo, a alvejá-lo,
quando o mesmo pode ser uma dilecta criação do peito

Um amor, por si só, vale tanto,
vale mais que nada, vale tanto como a vida,
exprime a cor da sua sede,
ao alto dois pássaros a voar.

O amor não merece as pedras
que todos os dias o atiramos.

Invés de acusares a inconsciência que o invocas
se amas, e não te correspondem,
desde já não uses travões nem borracha.

Pelo contrário,
desse pouco lucro que te dão as estrelas
contenta-te até,
que o amor é assim mesmo,
sempre a transportar a dor ao âmago.

Adelino Timóteo - Moçambique

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Mestres


Os Mestres do Mundo

Vieram

levaram tudo
o sonho
a esperança
a vida
até a realidade varreram
e na azáfama da fuga
o vazio arrancaram
com medo que engendrasse
os genes da vida
a luz
e os seus gestos denunciassem

Eles...
os mestres do mundo
afogaram o sonho
enforcaram a esperança
apagaram a vida
com um sopro
um estalar de dedos
um sacudir de ombros altivo…

Senhores de todos os destinos
intocáveis
nas suas torres de cristal
roubadas ao suor alheio
vieram
levaram tudo
o riso
o pranto
o fôlego
até os rostos desfigurados pela dor
e na azáfama da fuga
os olhos arrancaram
para que não os vissem
e com o olhar os condenassem

Eles…
os mestres do mundo
prenderam o riso
amarraram o pranto
asfixiaram o fôlego
num gesto louco
de um estalar de chicote
o olhar altivo...

Deuses do universo
senhores de todos os destinos
decidindo a vida e a morte
vieram
levaram tudo
a dignidade
a modéstia
a honestidade
até o pensamento esvaziaram
e na azáfama da fuga
a consciência perderam
por não lhe suportarem o peso

Eles…
os mestres do mundo
violaram a dignidade
enterraram a modéstia
venderam a honestidade
num abrir e fechar de olhos
como num truque de magia
o semblante altivo…

Senhores absolutos
inverteram a escala de valores
à luz da própria imagem
vieram
levaram tudo
o pão da boca do faminto
o tecto do desabrigado
até a História apagaram
deixando apenas no seu rasto
humilhação
impotência
revolta
que o povo na dor afoga
por iguais armas não possuir
para combater tal violência
que de igual
só tem o ódio
fruto mudo
da fúria destrutiva !

Eles
os mestres do mundo
criminosos impunes
de consciência tranquila
barriga farta de ganância
o peito inchado de razão
da legitimidade usurpada
inconscientes da própria ignorância!!!

Filomena Embaló – Guiné Bissau

terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Natal


Natal de Quem?

Mulheres atarefadas
Tratam do bacalhau,
Do peru, das rabanadas.
- Não esqueças o colorau,
O azeite e o bolo-rei!
- Está bem, eu sei!
- E as garrafas de vinho?
- Já vão a caminho!
- Oh mãe, estou pr'a ver
Que prendas vou ter.
Que prendas terei?
- Não sei, não sei...
Num qualquer lado,
Esquecido, abandonado,
O Deus-Menino
Murmura baixinho:
- Então e Eu,
Toda a gente Me esqueceu?
Senta-se a família
À volta da mesa.
Não há sinal da cruz,
Nem oração ou reza.
Tilintam copos e talheres.
Crianças, homens e mulheres
Em eufórico ambiente.
Lá fora tão frio,
Cá dentro tão quente!
Algures esquecido,
Ouve-se Jesus dorido:
- Então e Eu,
Toda a gente Me esqueceu?
Rasgam-se embrulhos,
Admiram-se as prendas,
Aumentam os barulhos
Com mais oferendas.
Amontoam-se sacos e papeis
Sem regras nem leis.
E Cristo Menino
A fazer beicinho:
- Então e Eu,
Toda a gente Me esqueceu?
O sono está a chegar.
Tantos restos por mesa e chão!
Cada um vai transportar
Bem-estar no coração.
A noite vai terminar
E o Menino, quase a chorar:
- Então e Eu,
Toda a gente Me esqueceu?
Foi a festa do Meu Natal
E, do princípio ao fim,
Quem se lembrou de Mim?
Não tive tecto nem afecto!
Em tudo, tudo, eu medito
E pergunto no fechar da luz:
- Foi este o Natal de Jesus?!!!

Coelho dos Santos – Portugal

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Noite


Um homem, — era aquela noite amiga,
noite cristã, berço no Nazareno, —
ao relembrar os dias de pequeno,
e a viva dança, e a lépida cantiga,

Quis transportar ao verso doce e ameno
as sensações da sua idade antiga,
naquela mesma velha noite amiga,
noite cristã, berço do Nazareno.

Escolheu o soneto... A folha branca
pede-lhe a inspiração; mas, frouxa e manca,
a pena não acode ao gesto seu.

E, em vão lutando contra o metro adverso,
só lhe saiu este pequeno verso:
"Mudaria o Natal ou mudei eu?"

Machado de Assis - Brasil

domingo, 23 de dezembro de 2012

Voltar


Cando ti volvas...

Na matricial Galiza, sempre túa,
que dend-a Torre d'Hercules ao Miño
un facho acenderá por cada illa,
cando ti volvas pol-o mare;
de toxo unha fogueira en cada monte,
cando ti volvas pol-o mare;
dos castros na coróa unha cachela,
cando ti volvas pol-o mare;
unha loura candea en cada pino,
cando ti volvas pol-o mare;
o seu cirio de frouma os alciprestes,
cando ti volvas pol-o mare;
luces de ardora branca en cada mastro,
cando ti volvas pol-o mare;
un farol mariñeiro en cada dorna,
cando ti volvas pol-o mare;
veliñas â xanela en cada casa,
cando ti volvas pol-o mare;
e as pérolas das bágoas derramadas,
cando ti volvas pol-o mare,
cando ti volvas pol-o mare...

Paz-Andrade - Galiza

sábado, 22 de dezembro de 2012

Morna


É já saudade a vela, além.
Serena, a música esvoaça
na tarde calma, plúmbea, baça,
onde a tristeza se contém.

Os pares deslizam embrulhados
de sonhos em dobras inefáveis.


(Ó deuses lúbricos, ousáveis
erguer, então, na tarde morta
a eterna ronda de pecados
que ia bater de porta em porta!)

E ao ritmo tímido do canto
na solidão rubra da messe,
deixo correr o sal e o pranto
- subtil e magoado encanto
que o rosto núbil me envelhece.

Daniel Filipe – Cabo Verde

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Malária


    Segundo o Relatório Mundial da Malária 2012 da Organização Mundial da Saúde (OMS) durante a última década, os esforços concertados dos países endémicos, doadores e parceiros globais na luta contra a malária têm fortalecido o controlo desta doença no mundo. O alargamento das intervenções de prevenção e controlo da malária tiveram o seu maior impacto nos países com uma grande propagação da doença, 58% dos 1,1 milhões de vidas que foram salvas durante a última década, aconteceram nos dez países mais afectados com a doença.

    Após uma expansão do financiamento para a prevenção e controlo da doença entre 2004 e 2009, assistiu-se a uma estabilização entre 2010 e 2012, que está a sinalizar uma desaceleração nas conquistas recentes na luta contra uma das doenças mais infecciosas e mortais em todo o mundo.

  Sendo o continente africano aquele onde mais aconteceram falecimentos causados pela malária, 103 126 em 2011, o que corresponde a 96,5% do total mundial e superior em percentagem ao ano de 2010, que se situava nos 96,3%, os países africanos de língua oficial portuguesa têm comportamentos diferenciados, com Angola, 6 909 vítimas e Moçambique, 3 086, a melhorarem substancialmente em relação a 2010, Angola a reduzir em -14,9% e Moçambique -8%. Cabo Verde continua a ser o país africano com menor número de vítimas mortais, 4 em 2012, no entanto superior à única vítima registada em 2010. São Tomé e Príncipe que também está entre os países com bons resultados subiu de 14 para 19 falecimentos entre os anos de 2010 e 2011. A Guiné Bissau é o país que está em contraciclo, ao aumentar em +59,5% as vítimas mortais de malária (paludismo) no seu país, passando de 296 em 2010 para 472 em 2011. Por fim, a Guiné Equatorial país que aguarda a adesão à CPLP, teve 52 casos mortais em 2011, enquanto no ano anterior tinham sido 30.

   Dos países de língua oficial portuguesa fora do continente africano, o Brasil com 70 vítimas em 2011 melhorou face a 2010, onde tinham ocorrido 76, mas a corresponder a 61,9% dos casos no continente americano, Timor Leste reduziu substancialmente de 58 falecimentos em 2010 para 16 em 2011, o que equivale a uma quebra de -72,4%. Baía da Lusofonia

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Necessário


                                        É preciso executar as obras



            O anúncio do pacote que alterou a Lei nº 8630/93 e criou um novo marco regulatório, ao que parece, só teve um grande objetivo: mascarar a ineficiência estatal na gestão dos portos. Mesmo porque as modificações apresentadas como de largo alcance, ainda que sejam bem justificadas e possam melhorar a produtividade portuária, só terão efeito se o governo superar alguns obstáculos que, a rigor, são criados por ele mesmo.

            Afinal, o que está em questão é a incapacidade do governo – e não é só o da União, mas também os estaduais – de responder às demandas criadas pelo próprio desenvolvimento. Ou seja, não dá para esconder que o País tem ficado sujeito a um crescimento pífio em função da incapacidade governamental de melhorar a infraestrutura.  E, sem infraestrutura, o Brasil continuará limitado a uma participação de 1,3% de tudo o que se vende e se compra no planeta, o que não condiz com o seu Produto Interno Bruto nem com sua dimensão territorial e populacional.

          Para não ficar apenas no campo da retórica, pode-se recorrer aos números. Há dias, o Departamento de Coordenação e Governança das Empresas Estatais (Dest) – portanto, um órgão governamental – divulgou estatísticas que atestam a incapacidade do governo de tirar do papel os planos que costuma anunciar com estardalhaço.

         Parece até que voltamos ao tempo do governo Washington Luís (1926-1930), ao qual se atribui o lema “governar é abrir estradas”. Hoje, uma atualização desse lema poderia ser resumida nas seguintes palavras: “governar é anunciar investimentos”. E só.

          É o que mostram os números do Dest: só o Porto de Santos de 2002 a 2011 deixou de aplicar recursos no valor de R$ 1,003 bilhão, embora essa importância tivesse sido incluída no Orçamento da União. Da verba de R$ 1,359 bilhão destinada a investimentos em infraestrutura portuária naquele período, a Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp) só conseguiu utilizar R$ 356 milhões, ou seja, 26%.

         Se tivesse tido agilidade para utilizar os recursos, o Porto de Santos já estaria com as avenidas perimetrais concluídas, o projeto do Mergulhão pronto e, mais importante, o túnel submerso entre as duas margens construído e aberto ao uso prioritário dos veículos de carga.

           É claro que a ineficiência não é só da Codesp. As sete companhias docas subordinadas à Secretaria Especial de Portos seguem o mesmo padrão. Naquele período, essas companhias tiveram a possibilidade de colocar a mão em R$ 5,071 bilhões, mas só conseguiram aproveitar R$ 1,415 bilhão, ou seja, menos de 28%. O restante dos recursos ficou só no papel e voltou para os cofres da União.

         Para justificar o injustificável, os gestores públicos alegam que os obstáculos ambientais impedem que o ritmo das obras seja mais intenso. Também culpam a morosidade dos processos licitatórios e os recursos que as empresas privadas costumam impetrar na Justiça. E defendem a aplicação nos portos do Regime Diferenciado de Contratações Públicas (RDC), que vem sendo utilizado nas obras da Copa do Mundo. Só que esse regime já é alvo de ação direta de inconstitucionalidade no Supremo Tribunal Federal. Não é preciso dizer mais. Milton Lourenço - Brasil
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Milton Lourenço é presidente da Fiorde Logística Internacional e diretor do Sindicato dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística do Estado de São Paulo (Sindicomis) e da Associação Nacional dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística (ACTC). E-mail: fiorde@fiorde.com.br. Site: www.fiorde.com.br.




quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Emigrantes


       Depois de meditar durante alguns dias sobre um artigo de jornal publicado num país que recebe emigrantes portugueses, que criticava, mas criticava severamente em português correcto, com pinceladas de calão, a absorção do seu país por mão-de-obra portuguesa, resolvi abordar este tema.

    Portugal tem neste momento das gerações mais qualificadas de sempre, investindo muito dinheiro público, para que os jovens concretizem os seus objectivos de obter uma licenciatura normalmente na área para que estão vocacionados e possam depois ajudar a desenvolver o seu país, compensando-o mais tarde com os conhecimentos adquiridos, pelo esforço que foi aplicado na sua educação.

    Haver jovens altamente qualificados que pretendem partir para outro destino, porque querem apenas trabalhar e no seu país, devido a estratégias e opções políticas de dirigentes, esses sim, de qualificação duvidosa, não conseguem encontrar o almejado emprego, eu diria a sorte que têm, países emergentes, em forte crescimento, com necessidade de pessoas qualificadas, que demoram alguns anos até estarem preparados e ainda não têm condições para satisfazer as suas necessidades, aparecerem-lhes a oferecer-se para apenas trabalhar, sem custos de formação, jovens que abandonam a sua zona de conforto.

   Quando todos ambicionam ter sorte, há quem a tenha e a tente desdenhar, sabe-se lá com que motivação. Baía da Lusofonia

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Portos


           É preciso ser um otimista contumaz para se acreditar que o governo irá investir no prazo anunciado a totalidade dos R$ 6,4 bilhões previstos no Plano de Aceleração do Crescimento (PAC) para obras de acesso terrestre e aquaviário aos portos. Até porque o Ministério dos Transportes e, agora, a Secretaria Especial de Portos (SEP) tem um retrospecto sofrível: costumam aplicar em obras por ano menos de 30% dos recursos alocados no Orçamento da União.

            Portanto, se o governo federal pretende atrair R$ 54,2 bilhões da iniciativa privada até 2017 em investimentos para os portos, como previsto no último pacote que alterou as regras do setor, é de temer que possa ocorrer uma eclosão de gargalos na infraestrutura. Mesmo porque na Medida Provisória nº 595, que criou regras para a exploração de terminais de uso privativo, não há um artigo estabelecendo a responsabilidade do empreendedor por investimentos em infraestrutura de transporte.

          Isso significa que a União e os Estados serão ainda mais exigidos para dotar os portos e terminais privados de estrutura pública, ou seja, rodovia, ferrovia e até hidrovia. O que leva à conclusão óbvia de que os recursos previstos no Plano de Aceleração do Crescimento (PAC) equivalem uma gota no oceano.

        Para aumentar a preocupação, sabe-se que a SEP quer colocar em andamento o Plano Nacional de Dragagem II, que prevê a licitação em cinco blocos de portos, ficando a empresa vencedora responsável pela manutenção e dragagem da área por uma década. Quer dizer: com profundidade maior, os portos começarão a operar com embarcações de maior porte e, em conseqüência, haverá maior volume de contêineres operados na exportação e na importação.

        Para se ter ideia do tamanho do problema, basta ver que até 2009 a produtividade média nos terminais no Porto de Santos era de 30 a 35 contêineres movimentados por hora, mas hoje já passa de 50 – um aumento de 40%. Com isso, a questão do acesso e escoamento dos contêineres começa a se agravar.

             É de lembrar que dos R$ 54,2 bilhões que a iniciativa privada deve investir em portos nacionais até 2017, R$ 28,6 bilhões serão nos complexos portuários da Região Sudeste, o que inclui o Porto de Santos. Para tanto, os investidores poderão usar linhas de financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), com correção pela taxa de juros de longo prazo mais 2,5% ao ano. Sem contar que o prazo de carência poderá chegar a três anos, com amortização em 20 anos e alavancagem de até 65%.

       É claro que esses investimentos vão contribuir para modernizar as operações portuárias bem como aumentar a movimentação de cargas e reduzir custos. Só que esses empreendimentos particulares estimulados pelo governo podem vir a perder rentabilidade, se não houver o equacionamento da rede de distribuição na entrega e saída dos terminais de uso privativo e do porto público.

          Como esse é um problema que exige tempo e muitos recursos, não se sabe se o governo terá agilidade para responder à demanda que será criada pelos investimentos privados. Infelizmente, o histórico não é favorável ao poder público. Mauro Dias - Brasil
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Mauro Lourenço Dias, engenheiro eletrônico, é vice-presidente da Fiorde Logística Internacional, de São Paulo-SP, e professor de pós-graduação em Transportes e Logística no Departamento de Engenharia Civil da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). E-mail: fiorde@fiorde.com.br Site: www.fiorde.com.br




segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Unidade


“Consideremos, por exemplo, um time de futebol. Um time de futebol é formado por vários indivíduos, 11 pessoas. Cada pessoa com o seu trabalho concreto para fazer quando o time de futebol joga. Pessoas diferentes umas das outras: temperamentos diferentes, muitas vezes instrução diferente, alguns não sabem ler nem escrever, outros são doutores ou engenheiros, religião diferente, um pode ser muçulmano, outro católico, etc. Mesmo de política diferente, um pode ser de um Partido, outro de um outro. Um pode ser da situação, como por exemplo em Portugal, outro pode ser da oposição.

Quer dizer, pessoas diferentes umas das outras, considerando-se cada uma diferente da outra, mas do mesmo time de futebol. E se esse time de futebol, no momento em que está a jogar, não conseguir realizar a unidade de todos os elementos, não conseguirá ser um time de futebol. Cada um pode conservar a sua personalidade, as suas ideias, a sua religião, os seus problemas pessoais, um pouco da sua maneira de jogar mesmo, mas eles têm que obedecer a uma coisa: têm que agir em conjunto, para meter golos contra qualquer adversário com quem estiver a jogar, quer dizer, à roda deste objectivo concreto, meter o máximo de golos contra o adversário. Têm que formar uma unidade. Se não o fizerem, não é o time de futebol, não é nada. Isto é para verem um exemplo de unidade.” Amílcar Cabral – Guiné Bissau

Palavras sábias a de Amílcar Cabral, sempre actuais e que melhor veículo para as transportar que o futebol. Palavras que podem ser inseridas em diversos contextos, sejam na família, na sociedade, no despertar colectivo de um estado-nação. Baía da Lusofonia

domingo, 16 de dezembro de 2012

Livros


     No passado dia 12 e 13 do corrente mês de Dezembro, a Escola Portuguesa Ruy Cinatti realizou em Dili, capital de Timor Leste, a 2ª Feira do Livro, com o intuito de promover a leitura em português entre os jovens timorenses.

   A mensagem da Directora da Escola Portuguesa Ruy Cinatti, Conceição Godinho, é de uma escola dinâmica e participativa. “Uma escola que queremos que seja de todos e onde todos podem trocar experiências, saberes e afectos. É uma escola que se empenha no sucesso dos seus alunos. Para isso, procuramos prestar um ensino de qualidade, preparando os jovens de forma inclusiva para o Futuro.”

    É nestas palavras que se enquadra a Feira do Livro, que tenta alargar os seus horizontes, segundo as palavras da organizadora deste evento a professora Liliana Eira ao afirmar, "abrir a escola portuguesa a toda a comunidade", uma forma de incentivar a língua portuguesa entre a população que encontra mais dificuldades no acesso aos livros escritos em português. Os livros que estiveram à venda com um desconto de 10%, tiveram muita procura, principalmente os dedicados aos mais jovens e os livros de culinária.

    A música também compareceu na 2ª Feira do Livro da Escola Portuguesa Ruy Cinatti, através dos alunos do 1º ciclo que brindaram os presentes com cânticos de Natal, o Rancho Folclórico "Os Lorikos" que actuaram pela primeira vez com a música ao vivo dos cavaquinhos e na biblioteca houve um momento musical, com a participação dos alunos do projecto do grupo instrumental, constituídos pelos estudantes do 2º e 3º ciclos, que tocaram instrumentos como a flauta de bisel, xilofones, metalofones, jogos de sinos e outros instrumentos de pequena percussão. Baía da Lusofonia

Rumo


Linha de rumo

Quem não me deu Amor, não me deu nada.
Encontro-me parado…
Olho em meu redor e vejo inacabado
o meu mundo melhor.

Tanto tempo perdido…
Com que saudade o lembro e o bendigo:
Campo de flores
e silvas…

Fonte da vida fui. Medito. Ordeno.
Penso o futuro a haver.
E sigo deslumbrado o pensamento
que se descobre.

Quem não me deu Amor, não me deu nada.
Desterrado,
desterrado prossigo.
E sonho-me sem Pátria e sem Amigos,
adrede.

Ruy Cinatti - Timor Leste

sábado, 15 de dezembro de 2012

Comércio


      Segundo dados oficiais chineses, no período de Janeiro a Outubro de 2012 as trocas comerciais entre a China e os Países de Língua Oficial Portuguesa, cresceram 5,5% do lado das exportações chinesas e 15,7%, nas importações com origem nos países de língua portuguesa.

   O Brasil, o principal parceiro da China de entre os oito países de língua portuguesa, comercializou produtos que corresponderam a 66,3% do total deste mercado, representando um total de 68 862 milhões de dólares. As exportações brasileiras registaram um valor, para os dez primeiros meses de 2012, de 42 546 milhões de dólares, mais 3%, enquanto as importações da China, 26 315 milhões de dólares, mais 2,8% que o período homólogo de 2011, resultando um saldo comercial bastante positivo para o maior país de língua portuguesa.

   Angola, o segundo maior parceiro comercial com a China do conjunto dos países da CPLP, registou um total de 31 709 milhões de dólares, 30,5% do total deste mercado, com as exportações angolanas a ascenderem a 28 395 milhões de dólares, mais 41,1% que no ano transacto e as importações oriundas da China a registarem 3 314 milhões de dólares, mais 48,7%, um saldo também bastante favorável para o lado angolano.

   Portugal, é o terceiro país de língua portuguesa com mais comércio com a China, as trocas comerciais ascenderam a 3 368 milhões de dólares, uma subida de 3,2% face ao período homólogo do ano anterior, com a China a exportar 2 088 milhões de dólares, -11,2% e a importar do mercado português, produtos no valor de 1 280 milhões de dólares, um crescimento de 40,3%, face a igual período de 2011. Baía da Lusofonia

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Dezembro


Libertação de prisioneiros de guerra senegaleses: Uma acção consistente do MFDC e de Salif Sadio

Os oito soldados senegaleses detidos como prisioneiros de guerra, após as batalhas de Diégoune, Kabeumb e d’Affiniam, chegaram na noite de domingo, 09 de dezembro de 2012, a Dakar, capital do Senegal, a bordo de um avião fretado pelo governo gambiano. Recuperaram a sua liberdade algumas horas antes, através de um acordo entre o Comité Internacional da Cruz Vermelha, a comunidade italiana de Santo Egídio e a ala militar do Movimento das Forças Democráticas de Casamansa (MFDC), liderada por Salif Sadio.

Os detidos foram repatriados a bordo de uma aeronave fornecida pela Gâmbia, uma demonstração do papel de Banjul e dos serviços de informação do governo de Yahya Jammeh.

Conforme explicaram os nossos correspondentes, os prisioneiros de guerra senegaleses foram entregues às autoridades de Banjul, após intensos esforços diplomáticos, liderados de uma forma discreta, por membros da ala interna e externa do MFDC, da direcção de refugiados da Casamansa na Gâmbia, dos iminentes marabutos e da igreja de Casamansa e de duas personalidades casamanseses Nouha Cissé e Alain Diédhiou que negociaram com Salif Sadio. A comunidade de Santo Egídio e a Cruz Vermelha Internacional associaram-se recentemente para darem um cunho internacional e humanitário a esta libertação.

Homens como o comandante Sambou, Sané e Diédhiou, braços direitos de Salif Sadio, conseguiram demonstrar ao seu líder, a importância de escolher o mês de Dezembro para a libertação dos militares, para todos se lembrarem que este mês, se tornou “sagrado” pela luta da independência.

Algumas datas importantes na história da Casamansa:

1º de Dezembro de 1886 – A batalha de Séléky – três militares franceses, Truche, Seguin e Renaudin perderam a vida.

17 de Dezembro de 1962 – O capitão Faustin Preira, de origem casamansesa, salvou Léopold Sédar Senghor de um golpe-de-estado, atribuído a Mamadou Dia e Amadou Fall. 

22 de Dezembro de 1962 – Os deputados da Casamansa, Ibou Diallo e Dembo Coly são detidos e feitos prisioneiros por exigirem a independência da Casamansa e para não se envolverem na crise senegalo-senegalesa entre Léopold Sédar Senghor e Mamadou Dia.

05 de Dezembro de 1980 – O Abade Diamacoune envia uma carta de 25 páginas ao Presidente senegalês Léopold Sédar Senghor a exigir a imediata independência da Casamansa.

31 de Dezembro de 1980 - Léopold Sédar Senghor renuncia ao cargo de presidente senegalês e cede o lugar a Abdou Diouf a 01 de Janeiro de 1981.

23 de Dezembro de 1982 – Prisão violenta e respectiva deportação para Dakar do Abade Augustin Diamacoune Senghor Secretário-Geral do MDFC e do seu adjunto Mamadou Nkrumah Sané.

26 de Dezembro de 1982 – Marcha pacifista de mais de cem mil pessoas em Ziguinchor. Uma bandeira branca símbolo da paz é içada no edifício governamental. Mais de 200 pessoas assassinadas pelos soldados senegaleses, 400 pessoas presas e torturadas. O comissário da polícia senegalesa Cheikh Tidiane Kane executou a sangue-frio sete pessoas com a sua pistola.

06 de Dezembro de 1983 – Acontecimento de Diabir a Ziguinchor com o massacre no mato de oito agentes infiltrados senegaleses.

13 de Dezembro de 1983 - O Tribunal de Segurança Nacional de Estado senegalês condena nove réus, entre eles o Abade Augustin Diamacoune Senghor, Mamadou Nkrumah Sané, Mamadou Diémé e Sanoune Bodian a 5 anos de prisão e outros dez independentistas a 3 anos de prisão.

18 de Dezembro de 1983 – Mais de 100 000 pessoas manifestam-se pacificamente nas ruas de Ziguinchor para reclamar a independência da Casamansa e a libertação dos presos políticos. Intervenção do exército senegalês, mais de uma centena de vítimas e 700 detidos.

Com esta libertação, o Movimento das Forças Democráticas de Casamansa (MFDC) por intermédio de Salif Sadio vem colocar uma forte pressão mediática para empurrar o Senegal a uma intenção de negociar.

Resta saber se, como desejam a chancelaria americana, alemã, gambiana e da Guiné-Bissau que estavam presentes na cerimónia de libertação dos prisioneiros de guerra, o gesto do MFDC vai permitir desbloquear a situação num momento em que o governo no Senegal está paralisado.

Hoje, nós estamos convencidos que no Ocidente, apenas Washington e Berlim têm a firme vontade de trabalhar para uma solução na Casamansa. Os antigos colonizadores da Casamansa, franceses e portugueses, permanecem muito hesitantes, talvez reflectindo uma má consciência neste processo.

O fim da detenção no mato de Casamansa dos militares senegaleses cria um clima favorável para a dinâmica da paz e da independência da Casamansa que gostaríamos de acreditar irreversível. Bintou Diallo - Casamansa - Casamance