Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

domingo, 10 de fevereiro de 2013

Mosambiki


“Gervásio Chambo e Félix Tembe, da associaçom moçambicana Bantu Mosambiki, tenhem umha agenda muito apertada desde que vinhérom para Vigo estudar. O trabalho da associaçom a que pertencem consiste na defesa da diversidade idiomática no seu país contra, olha que cousas, a nossa língua galego-portuguesa, que lá se encarrega de submeter outras. E claro, na Galiza, tratando-se de línguas em conflito, somos todo ouvidos. Para além de aspetos relativos à diversidade etnolingüística de Moçambique, estes bons comunicadores também se debruçam sobre problemáticas políticas e culturais, arriscando perspetivas para o futuro. Em Compostela, no Pichel, mesmo cozinhárom iguarias moçambicanas e o narf chegou-se para os deliciar com a sua música.

Moçambique, tam desconhecido! As pessoas intuem que se devem falar línguas indígenas, mas nom fam ideia de quais serám. Poderíades fazer um mapa escrito das diversas famílias lingüísticas de Moçambique?

Em Moçambique coabitam 4 famílias de línguas diferentes, nomeadamente: (1) A família maioritária, constituída por 22 línguas de origem bantu, distribuídas de seguinte forma: (a) Sul do país: Xirhonga, Xichangana, Citshwa, Ciswazi, Cicopi e Gitonga; (b) Centro do país: Cindau, Cinyungwe, Cisena, Cimanyika, Ciutee, Cibalke, Cisenga, Elomwe e Echuwabu; (c) Norte do país: Emakhuwa, Shimakonde, Ciyao, Cinyanja, Kimwani, Kiswahili e Ekoti; (2) Umha língua de família indo-europeia, o Português; (3) Umha família de línguas afroasiática (faladas por minorias em contextos religiosos e familiares em diversos pontos do país): Urdu, Hindi, Gujarati, Memane e Árabe; e (4) Umha língua de Sinais.

E o português, que lugar ocupa em relaçom às outras línguas? É aceite por todas as comunidades? O português é posto em questom?

Desde 1975, ano da independência nacional, o Português é a única oficial e ideológica e politicamente considera-se instrumento para a coesom e unidade nacional. Este estatuto linguístico, suscita, num país caracterizado pola diversidade multilíngüe, multiétnico e multicultural maioritário, um debate cujos pontos de debate se resumem em: (1) Há os que opinam que o Português é umha língua importante e que deve ser conhecida por todos os moçambicanos para ser umha língua estratégica para a intercomunicaçom dada a diversidade nacional. (2) Outros entendem que, se Moçambique é independente há 37 anos, o Português falado em Moçambique já está nacionalizado e é umha língua que nom deve ser vista como superior às restantes. Por isso, seria oportuno que as línguas bantu fossem também oficializadas para que pudessem ser utilizadas de igual para igual com o Português nos espaços que este ocupa atualmente. (3) Alguns defendem manter o Português como única língua oficial sob pretexto de manter a unidade nacional, evitar o tribalismo, o regionalismo e gastos financeiros públicos que adviriam do uso das línguas bantu equiparadas ao Português. (4) Por fim, há vozes que clamam polas desigualdades sociais, económicas e destruiçom das culturas que estám associadas ao facto de Moçambique possuir umha política linguística monolíngüe que valoriza o Português de forma ofensiva e obrigatória.
 
Estas línguas passam além das fronteiras do país?

Algumas das línguas faladas em Moçambique som transfronteiriças. O Cinyanja é falado em Malawi, o Xichangana é compartilhado com a África do Sul e com o Zimbabwe, o Ciswazi é falado na Swazilandia, o Ciyao é compartilhado com Malawi e o Kiswahili com a Tanzania.

Existem contactos com outros países para promover as línguas indígenas?

Há umha organizaçom, LASU (The Linguistics Association of SADC Universities) que desenvolve pesquisas, conferências e publicações sobre as línguas da regiom austral de África e um projeto de investigaçom das línguas transfronteiriças.

É possível, no continente africanos, usar a política para defender as línguas?

Estamos num mundo em que os sinos tocam sobre a liberdade, a democracia, a cidadania, a igualdade de género, o desenvolvimento sustentável, a educaçom para todos, a erradicaçom da pobreza e das doenças endémicas, entre outros. Desta feita, estes pontos só serám possíveis se os governos africanos possuírem políticas linguísticas que valorizam o multilinguismo, o multiculturalismo, a revitalizaçom das línguas minoritárias em vias de extinçom. Cada língua, cada cultura, cada etnia tem umha visom, tem pensamentos e atitudes de compreender o mundo. Quanto mais línguas possui um país, mais som as visões que se tenhem para resolver um problema e quanto mais problemas se resolvem, as línguas enriquecem, renovam as suas visões e pensamentos sobre o mundo e assim os países desenvolvem.” Eduardo Maragoto – Galiza entrevista in “Novas da Galiza”

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