O mau ensino da matemática é uma das causas
do desperdício dos mais importantes recursos do País, os recursos humanos. E
também faz de nós um povo acrítico face aos números relativos às contas do
estado, que constantemente invadem o espaço público.
O divórcio entre os portugueses e a
matemática tem a sua origem num sistema de ensino que não acautela devidamente
esta área do conhecimento.
A formação em matemática tem duas
especificidades. Por um lado, a aprendizagem é sequencial. Não se compreende a
fase seguinte sem dispor dos conhecimentos prévios, ou seja, as bases, os
alicerces em que assentarão os saberes subsequentes. Claro que quando falham as
bases, falha toda a progressão. Quem não entendeu a matéria do sétimo ou oitavo
ano de escolaridade dificilmente recuperará mais tarde. Por outro lado, nesta
ciência os conhecimentos chegam aos alunos apenas através do sistema de ensino,
das aulas. Não há estímulos exteriores à aprendizagem. Contrariamente a outras
áreas, como a história, as línguas ou as artes, em que há aquisição de
conhecimentos através da televisão, a ler jornais ou em viagens e visitas a
exposições – na matemática só se adquire conhecimento na escola. Se esta falha,
falha tudo. E infelizmente o sistema de ensino não tem garantido a devida
qualidade dos professores. Um mau professor, que não consiga transmitir
devidamente o saber, quebra a cadeia de conhecimentos e impede a progressão nos
anos seguintes. Falhando um elo na cadeia, esta quebra e fica destruída a carreira
de aprendizagem talvez para toda a vida. Num só ano, um mau professor pode
prejudicar a vida de dezenas de alunos. Os efeitos em termos da estrutura de
recursos humanos do País são desastrosos. Muitos dos que poderiam ter ido para
ciências ou engenharia – e apenas para fugir às matemáticas – vão para letras
ou humanidades, áreas de emprego escasso. Engrossam assim o rol dos
desempregados. Acresce que os portugueses são diariamente bombardeados com
números que não entendem. Para sorte dos políticos! Se o povo entendesse o seu
real significado, a revolução não tardaria a chegar.
Estes baixos níveis de literacia matemática
implicam consequências dramáticas: mais pobreza e menos liberdade. Paulo Morais – Portugal in “Correio da Manhã”
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