Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

quinta-feira, 27 de junho de 2013

Sines...

Sines à deriva

A dimensão portuária do complexo de Sines tornou-se num raro caso de consenso em torno de um notável sucesso da economia portuguesa.

Distante da visão centrada na petroquímica que o marcelismo decadente sonhara, e que a crise de 1973 liquidara, Sines é um caso único de afirmação de um projeto portuário de dimensão intercontinental. A sua consolidação rompeu com a miséria do centralismo provinciano e com as desconfianças dos medíocres habituais que no final do século passado tudo fizeram para impedir a concretização do que apelidavam de elefante branco.

A teimosia determinada de João Cravinho, Consiglieri Pedroso e Ana Paula Vitorino deu músculo e visão política a que o pequeno porto de pesca e o terminal industrial evoluíssem para um grande porto de combustíveis e de contentores que vale metade do movimento portuário nacional, é um exemplo de simplex burocrático e dá lucro para o Estado.

Aqueles que, como o atual Governo, se deliciam com a comodidade do apeadeiro aéreo da Portela e têm orgulho em que Portugal seja uma Albânia ferroviária não conseguiram travar o sucesso de Sines. Adiaram a ligação ferroviária eficiente à Europa, cancelaram a ligação rápida ao interior, mas não impediram que Sines continuasse a crescer nos dois últimos anos, quando tudo corre mal na economia portuguesa.

Na última década, o rosto do sucesso de Sines tem sido uma exemplar gestora pública chamada Lídia Sequeira, que Cavaco Silva destacou na recente visita a Singapura como o símbolo de sucesso da vocação portuguesa para centrar o desenvolvimento na relação com o Mar. Quando Passos Coelho quis mostrar a economia que resiste à crise teve de ir a Sines.

Na imprensa de fim de semana dizia-se que o Governo admitia afastar Lídia Sequeira pelas suas reservas ao crime económico anunciado para a Trafaria. Ela disse o que todos acham, que é um absurdo um porto de águas profundas na Margem Sul, que liquida a competitividade de Lisboa e prejudica Sines e Setúbal.

Ontem iria falar do tema na Assembleia da República… já não foi porque foi escovada para não dizer verdades inconvenientes. A economia está já de rastos, temos agora Sines à deriva… Eduardo Cabrita – Portugal in “Correio da Manhã”

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