Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Demarchi

              Demarchi, o artesão do verso antropofágico
                              

                                                           I

Datas redondas exigem balanços como forma de se perpetuar em papel a vida passada por entre os dedos ou, neste caso, por entre versos. Em tempos de Internet, nada disso é possível porque sites, blogs e facebooks criados há alguns anos costumam se desmanchar no ar ao sabor dos provedores e das circunstâncias. Sem contar que os responsáveis por revistas eletrônicas também envelhecem e morrem e com eles se vão essas aventuras intelectuais.

Com o papel, não. A perenidade é maior, embora não seja eterna, ainda mais em países úmidos em que o mofo, o bolor e a traça tudo devoram. Tivesse Jesus Cristo escolhido para apóstolos doze analfabetos – e não homens letrados, entre eles até publicanos, como Mateus, por exemplo, que sabia contar e anotar a coleta dos impostos –, hoje, por certo, ninguém saberia o que teria dito no Monte das Bem-Aventuranças para mais de cinco mil fieis, sem alto-falantes nem gravadores, valendo-se apenas da sonoridade natural da montanha à beira do Mar da Galileia. Basta dizer isto para se ressaltar a importância do papel e do pergaminho em que se registraram os manuscritos em comparação com os atuais e etéreos meios digitais.

Mas a que vêm estas reflexões de quem, um dia, descobriu na Ilha de Rhodes que os gregos antigos sabiam como construir um teatro de arena em que o ator podia falar e ser ouvido por toda a plateia, igualmente sem dispor de alto-falantes? Vêm a propósito da edição do livro Pirão de Sereia, do poeta Ademar Demarchi, que marca os 50 anos de vida de seu autor e 30 de lida com poesia, assinalados em 2010. E que, como denuncia o próprio título, constitui também uma homenagem à Antropofagia, movimento artístico brasileiro da década de 1920, fundado e teorizado pelo poeta paulista Oswald de Andrade (1890-1954), que costumava ironizar em suas obras a submissão da elite brasileira aos países desenvolvidos e propunha, em contrapartida, a deglutição cultural das técnicas importadas para reelaborá-las com autonomia, convertendo-as em produto de exportação.

Entendia Andrade que era preciso “devorar” o estrangeiro para adquirir suas qualidades espirituais e produzir algo novo – isso é o que faz Ademir Demarchi em Pirão de Sereia, seu 15º livro em que reuniu uma produção poética de três décadas publicada em obras anteriores acrescida de parte ainda inédita. O legado antropofágico, porém, está mais presente nos livros Os mortos na sala de jantar (2007), Passeios na floresta (2008), Palavras cruzadas e Preceitos da dúvida, que fazem parte deste volume comemorativo, ainda que apareçam de maneira eventual em outros. É de assinalar que estes dois últimos livros saem à luz pela primeira vez. Eis um exemplo desses versos em “Antropofagia consentida”, que estão em Os mortos na sala de jantar:
                        nervosa, a mídia ganiu
                       
                        um alemão comeu outro
                        em antropofagia consentida

                        longe de absurdo, normal
                       
                        pesquisa demonstra:
            para o consumo há à disposição
            oferecidas 500 novas pessoas
            dispostas a se darem
            ao deleite de serem comidas

De Os mortos na sala de jantar, o professor Raul Antelo diz que é um livro que se une à tradição de André Breton (1896-1966), Paul Claudel (1868-1955) e Roger Caillois (1913-1978) no gosto pelas pedras e pelas escrituras lapidares. Já na epígrafe de seu livro, Demarchi reproduz um epitáfio de Marcel Duchamp (1887-1968): além disso, é sempre os outros que morrem. E acrescenta outro de sua lavra, à guisa de dedicatória: aos cadáveres que a vida nos dá de comer. A propósito de epitáfios, o poeta dá a sua própria definição:
                                   epitáfios são epígrafes
                               de histórias que continuam
                                   túmulo adentro
Mais adiante, acrescenta:
                                         das velas e
                                      do morto o odor
                                   das vidas queimando

                                               II

Nascido em Maringá, interior do Paraná, Demarchi vive há mais de 25 anos junto ao mar, em Santos, no litoral de São Paulo, experiência que está mais evidenciada em livros como Costa a Costa e do Sereno que enche o Ganges (2008), já traduzido para o espanhol e publicado no Peru em 2010, e ainda em Janelas para lugar nenhum (1993). Em Costa a Costa, lê-se esta homenagem às cidades siamesas de Santos e São Vicente:
                                   no alto do morro do itararé
                                   o vento aos olhos sussurra
                                   com aleivosia os sabores
                                   das carnes doces da baía
                                   salpicada de navios e contêineres
                                   azulada como um peixe
                                   sanguínea como uma sereia no cio
                                   subo para vê-la, desço para perdê-la.

Ainda que nos versos de Os mortos na sala de jantar ressoe certo tom poético da década de 1980, é em Maria, a cidade sem rosto (1985, edição mimeografada) que está mais clara essa percepção de um mundo que saía dos tempos de horror da ditadura militar (1964-1985). Como nestes versos de “Cemitério de estátuas de Moscou” em que o poeta demonstra também o seu precoce desencanto com a utopia soviética, que, naquele tempo, embora caminhasse célere para a desintegração, ainda seduzia a juventude contestadora:
                        no cemitério de estátuas de moscou
                                   não há silêncio
                        não esse que se conhece
            mudas e castradas, as estátuas estão russas
                        erigidas desde a revolução
                                    lá estão, humilhadas
                                    de lenin, pálida de estupor
                        de brejnev, impávida no uniforme
            de stalin, maneta depois de inúmeros braços
                        liderando um exército de outras
            formando uma corja sem fim de estátuas menores
            de comissários aprisionados na pedra e no tempo
            agora sem partido mas todos ainda disputando espaço
                                   com a grama
            num lugar desimportante que mereceria chinfrim
                        o nome de medusa cemitério jardim

Já em Preceitos da dúvida, Demarchi exercita versos curtos, nada líricos, que anseiam se tornar epitáfios ou máximas, na tradição dos dísticos gregos e romanos, rimados ou não, procurando constituir “uma saída para o lugar-comum em que se tornou a expressão poética contemporânea, tributária cordata e senil de modelos asfixiantes”, como diz o próprio autor, que aqui se mostra como um perfeito artesão do verso antropofágico. Eis alguns exemplos:
                        o jornalista
                        é o coveiro
                        do inesperado

                        o jornal
                        a cova
                        do deteriorado

                        quem não morre
                        envilece
                                               III

Ademir Demarchi (1960) é editor das revistas de poesia Babel – Revista de Poesia, Tradução e Crítica e Babel Poética, bem como do selo editorial de livros artesanais Sereia Ca(n)tadora. Formou-se em Letras na área de Francês pela Universidade Estadual de Maringá e cursou o mestrado em Literatura Brasileira na Universidade Federal de Santa Catarina, sob a orientação de Raul Antelo, um dos maiores especialistas acadêmicos na Antropofagia. É doutor em Letras pela Universidade de São Paulo na mesma área. Com numerosos poemas, artigos e ensaios publicados em livros e revistas impressos e em sites da Internet, mantém há mais de quatro anos uma coluna semanal no jornal O Diário do Norte do Paraná, de Maringá. Adelto Gonçalves - Brasil



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PIRÃO DE SEREIA, de Ademir Demarchi. Santos: Editora Realejo/Secretaria de Cultura de Santos, 268 págs., R$ 35,00, 2012. E-mail: editora@realejolivros.com.br

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Adelto Gonçalves é doutor em Literatura Portuguesa pela Universidade de São Paulo e autor de Gonzaga, um Poeta do Iluminismo (Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1999), Barcelona Brasileira (Lisboa, Nova Arrancada, 1999; São Paulo, Publisher Brasil, 2002), Bocage – o Perfil Perdido (Lisboa, Caminho, 2003) e Tomás Antônio Gonzaga (Rio de Janeiro, Academia Brasileira de Letras, 2012). E-mail: marilizadelto@uol.com.br

domingo, 29 de setembro de 2013

Rui Costa Campeão

Rui Costa acabou de ser campeão mundial de estrada 2013 em Florença Itália batendo ao sprint o espanhol Joaquin Rodriguez! É a primeira vitória para Portugal num Campeonato do Mundo em ciclismo.

Numa prova de 272,26 km entre Lucca e Florença e mais de 7 horas de corrida, apenas na última grande subida, a escassos quilómetros da meta, quando cinco ciclistas conseguiram fugir ao pelotão, o italiano Vincenzo Nibali, os espanhóis Alexandre Valverde e Joaquin Rodrigues, o português Rui Costa e o colombiano Rigoberto Uran Uran, se começou a desenhar o desfecho da corrida.

Nos cinco fugitivos, Rodriguez conseguiu escapar enquanto Uran Uran, numa curva mal feita, despistou-se e caiu, ficando Rodriguez com dez segundos de avança sobre o trio, Nibali, Valverde e Costa.

Neste grupo, Costa o ciclista com menos projecção, embora vencedor de duas Voltas à Suiça, obrigou o sacrificado Nibali, vítima de uma queda que o forçou a um esforço suplementar para regressar ao pelotão, a um trabalho de perseguição, principalmente porque corria em casa, levando-o a um desgaste, que quase foi coroado de êxito quando estiveram a escassos metros de Rodriguez.

Bem conhecedor das fraquezas do seu colega Valverde da equipa Movistar, Rui Costa quando a cerca de dois quilómetros da meta, verificava que os seus dois colegas não conseguiam aproximar-se de Rodriguez, desferiu um potente ataque, deixando Nibali e Valverde para trás, conseguindo alcançar Rodriguez a 500 metros da meta. 

Aí, Rodriguez, de forma provocatória, tentando intimidar Rui Costa, virou-se na bicicleta, quase encostando a cara ao ciclista português. Rui Costa aproveitou esse momento para descansar um pouco e a cem metros da meta, desferir o golpe final, ganhando o título de Campeão do Mundo por uma roda.

Joaquin Rodriguez foi o segundo, com o mesmo tempo, 7 horas, 25 minutos e 44 segundos, ficando Valverde em terceiro. O português Tiago Machado que acompanhou os primeiros até à última subida, ficou em 36º lugar, a 2 minutos e 1 segundo do vencedor. Baía da Lusofonia

Rui Costa ladeado por Rodriguez e Valverde



Veja aqui a victória de Rui Costa

Premonições

 
Premonições de uma Mulher falecida em 1993, guião da actual realidade portuguesa.
 
"A nossa entrada (na CEE) vai provocar gravíssimos retrocessos no país, a Europa não é solidária com ninguém, explorar-nos-á miseravelmente como grande agiota que nunca deixou de ser. A sua vocação é ser colonialista".
 
 
 
"A sua influência na sociedade portuguesa não vai sentir-se apenas agora, embora seja imensa. Vai dar-se sobretudo quando os seus filhos, hoje crianças, crescerem e tomarem o poder. Essa será uma geração bem preparada e determinada, sobretudo muito realista devido ao trauma da descolonização, que não compreendeu nem aceitou, nem esqueceu. Os genes de África estão nela para sempre, dando-lhe visões do país diferentes das nossas. Mais largas mas menos profundas. Isso levará os que desempenharem cargos de responsabilidade a cair na tentação de querer modificar-nos, por pulsões inconscientes de, sei lá, talvez vingança!"
 
"Portugal vai entrar num tempo de subcultura, de retrocesso cultural, como toda a Europa, todo o Ocidente".
 
"Mais de oitenta por cento do que fazemos não serve para nada. E ainda querem que trabalhemos mais. Para quê? Além disso, a produtividade hoje não depende já do esforço humano, mas da sofisticação tecnológica".
 
"Os neoliberais vão tentar destruir os sistemas sociais existentes, sobretudo os dirigidos aos idosos. Só me espanta que perante esta realidade ainda haja pessoas a pôr gente neste desgraçado mundo e votos neste reaccionário centrão".
 
"Há a cultura, a fé, o amor, a solidariedade. Que será, porém, de Portugal quando deixar de ter dirigentes que acreditem nestes valores?"
 
"As primeiras décadas do próximo milénio serão terríveis. Miséria, fome, corrupção, desemprego, violência, abater-se-ão aqui por muito tempo. A Comunidade Europeia vai ser um logro. O Serviço Nacional de Saúde, a maior conquista do 25 de Abril, e Estado Social e a independência nacional sofrerão gravíssimas rupturas. Abandonados, os idosos vão definhar, morrer, por falta de assistência e de comida. Espoliada, a classe média declinará, só haverá muito ricos e muito pobres. A indiferença que se observa ante, por exemplo, o desmoronar das cidades e o incêndio das florestas é uma antecipação disso, de outras derrocadas a vir". Natália Correia – Portugal
 

 
Todas as citações foram retiradas do livro "O Botequim da Liberdade", de Fernando Dacosta.
 
Natália de Oliveira Correia - (Fajã de Baixo, São Miguel, Açores, 13 de Setembro de 1923 - Lisboa, 16 de Março de 1993). Poetisa, dramaturga, romancista, ensaísta, tradutora, jornalista, guionista, editora e activista social.
Tomou parte activa nos movimentos de oposição ao Estado Novo, tendo participado no MUD (Movimento de Unidade Democrática, 1945), no apoio às candidaturas para a Presidência da República do general Norton de Matos (1949) e de Humberto Delgado (1958) e na CEUD (Comissão Eleitoral de Unidade Democrática, 1969). Eleita deputada pelo Partido Popular Democrático em 1980 à Assembleia da República, onde participou como independente. Grande-Oficial da Ordem Militar de Sant'Iago da Espada, Grande-Oficial da Ordem da Liberdade, recebeu em 1991, o Grande Prémio de Poesia da Associação Portuguesa de Escritores pelo livro “Sonetos Românticos”.
 
Bibliografia
 
Grandes Aventuras de um Pequeno Herói (romance infantil), 1945
Anoiteceu no Bairro (romance), 1946; 2004
Rio de Nuvens (poesia), 1947
Descobri Que Era Europeia: impressões duma viagem à América (viagens), 1951; 2002
Sucubina ou a Teoria do Chapéu (teatro), em colaboração com Manuel de Lima, 1952
Poemas (poesia), 1955
Dimensão Encontrada (poesia), 1957
O Progresso de Édipo (poema dramático), 1957
Passaporte (poesia), 1958
Poesia de Arte e Realismo Poético (ensaio), 1959
Comunicação (poema dramático), 1959
Cântico do País Emerso (poesia), 1961
A Questão Académica de 1907 (ensaio), 1962
Antologia de Poesia Portuguesa Erótica e Satírica: dos cancioneiros medievais à actualidade (Antologia), 1965; 2000
O Homúnculo, tragédia jocosa (teatro), 1965
Mátria (Poesia), 1967
A Madona (Romance), 1968; 2000
O Encoberto (Teatro), 1969; 1977
O Vinho e a Lira (Poesia), 1969
Cantares dos Trovadores Galego-Portugueses (Antologia), 1970; 1998
As Maçãs de Orestes (Poesia), 1970
Trovas de D. Dinis, [Trobas d'el Rey D. Denis] (Poesia), 1970
A Mosca Iluminada (Poesia), 1972
O Surrealismo na Poesia Portuguesa (Antologia), 1973; 2002
A Mulher, antologia poética (Antologia), 1973
O Anjo do Ocidente à Entrada do Ferro (Poesia), 1973
Uma Estátua para Herodes (Ensaio), 1974
Poemas a Rebate, (poemas censurados de livros anteriores) (poesia), 1975
Epístola aos Iamitas (poesia), 1976
Não Percas a Rosa. Diário e algo mais (25 de Abril de 1974 - 20 de Dezembro de 1975) (Diário), 1978 ; 2003
O Dilúvio e a Pomba (poesia), 1979
Erros Meus, Má Fortuna, Amor Ardente (teatro), 1981; 1991
Antologia de Poesia do Período Barroco (antologia), 1982
Notas para uma Introdução às Cantigas de Escárnio e de Mal-Dizer Galego-Portuguesas (ensaio), 1982
A Ilha de Sam Nunca: atlantismo e insularidade na poesia de António de Sousa (antologia), 1982
A Ilha de Circe (romance), 1983; 2001
A Pécora, peça escrita em 1967 (teatro), 1983; 1990
O Armistício (poesia), 1985
Onde está o Menino Jesus? (contos), 1987
Somos Todos Hispanos (ensaio), 1988; 2003
Sonetos Românticos (poesia), 1990; 1991
As Núpcias (romance), 1992
O Sol nas Noites e o Luar nos Dias (poesia completa), 1993; 2000
Memória da Sombra, versos para esculturas de António Matos (poesia), 1993
D. João e Julieta, peça escrita em 1959 (teatro), 1999
A Ibericidade na Dramaturgia Portuguesa (ensaio), 2000
Breve História da Mulher e outros escritos (antologia de textos de imprensa), 2003
A Estrela de Cada Um (antologia de textos de imprensa), 2004


sábado, 28 de setembro de 2013

Nova Macau

A nova cidade de Macau

O campus da Universidade de Macau na Ilha da Montanha já recebeu os primeiros alunos e em Novembro deve estar pronto para abrir as portas a todos os visitantes. O novo espaço é uma verdadeira cidade universitária, com salas de aula e laboratórios, mas também com piscinas, campos de futebol, um auditório para espectáculos, uma biblioteca, um quartel de bombeiros, lojas, serviços e muito mais. Tudo capaz de suportar dez mil alunos.

Em Macau o perto torna-se longe. A distância é psicológica e a escala do território convida a achar que uma viagem a Coloane é coisa para tirar um dia inteiro de fim-de-semana. Pensar numa visita ao novo campus da Universidade de Macau (UMAC), na Ilha da Montanha, parece ainda um cenário distante, um exotismo para momentos desocupados. Isso, no entanto, pode ter os dias contados.

A UMAC convidou a imprensa a visitar o novo campus, agora sob jurisdição de Macau, depois de ter sido entregue à RAEM a 20 de Julho pelas autoridades do Continente.

A viagem, feita na passada quinta-feira, começa no antigo campus da Taipa, do qual a universidade conservará no futuro apenas o edifício da biblioteca, ainda que não funcionando como tal. Menos de 15 minutos depois, o autocarro fretado para o efeito já deixou o Galaxy para trás e prepara-se para entrar no túnel subaquático que liga o Cotai à Montanha. Para já, apenas carros autorizados e o autocarro público U37 podem entrar no túnel e percorrer as quatro faixas de rodagem repartidas pelos dois sentidos. Futuramente, a via estará aberta a todos os veículos do território, sem check-points ou outros constrangimentos. Haverá também, espera-se que a partir de Novembro, uma segunda ligação pedonal e para bicicletas.



O lado de lá

O novo campus da UMAC é 20 vezes maior que o actual. Tem sensivelmente um quilómetro quadrado e a dimensão da cidade universitária percebe-se mal o autocarro deixa o túnel para entrar na Avenida da Universidade. Por agora, é esta a única paragem para transportes públicos em funcionamento e qualquer pessoa pode viajar até aqui. Dentro de alguns meses haverá outras. À saída do autocarro, o reitor da UMAC, Wei Zhao, e o vice-reitor, Rui Martins, cumprimentam todos os presentes com a nova biblioteca – o ex-líbris do novo campus – atrás de si.

O campus da UMAC foi desenhado por He Jingtang, arquitecto que nos últimos anos tem sido responsável pelos projectos da maioria das instalações universitárias no Continente e que foi também o autor do Pavilhão da China na Exposição Mundial de 2010, em Xangai. Em 2009, o arquitecto esteve em Macau a apresentar as grandes linhas do plano para o novo campus de Hengqin, assegurando que a conservação ambiental seria uma das principais preocupações do projecto. E o que agora salta à vista é o cuidado em criar zonas verdes, com muitas árvores a acompanharem o betão e com um grande lago rodeado de relva a funcionar como pulmão da cidade universitária.

Da Avenida da Universidade avista-se o Cotai e Coloane, para um lado, e a biblioteca, para o outro. A biblioteca, que tem capacidade para um milhão de publicações, é o centro de todo o complexo. Dali partem as diferentes artérias que conduzem à zona mais a norte, onde está situado o quartel dos bombeiros – o maior de Macau –, o grande auditório da UMAC, uma guesthouse com 110 quartos e a zona de centros de investigação e laboratórios. Para sul, ficam as residências dos estudantes de licenciatura, as casas dos alunos de pós-graduação e também os edifícios destinados a albergar os funcionários da universidade.

A biblioteca receberá todos os 600 mil exemplares agora guardados no antigo campus da UMAC, mais uma quantidade significativa de obras que a universidade está a adquirir. Haverá, pela primeira vez, uma área em funcionamento 24 horas, para que os alunos possam estudar durante a noite, à semelhança do que acontece em várias instituições de ensino europeias.

A Europa é, aliás, uma inspiração assumida do campus, também em termos arquitectónicos. Os muitos arcos e colunas dos edifícios, a juntar às cores quentes que se encontram em algumas fachadas e à calçada portuguesa que preenche o chão da grande praça diante da biblioteca, dão ao campus um toque europeu e sulista, várias vezes frisado durante esta visita.

O ano lectivo arrancou na passada segunda-feira e até agora há três edifícios completamente operacionais no campus que conta mais de 60 estruturas, depois de já terem passado nas inspecções públicas. Já há cerca de 2000 estudantes a viver no campus e este ano a UMAC deve receber cerca de oito mil alunos, com 80 por cento a residirem no novo complexo.

O principal edifício dedicado a aulas, onde se concentrarão disciplinas transversais à maior parte dos cursos, vários deles novos, tem capacidade para 3000 estudantes. A UMAC divide-se agora em oito faculdades, das Ciências da Saúde às Ciências Sociais.


Aberta à sociedade civil


O reitor Wei Zhao faz questão de reiterar o facto de várias das instalações do novo campus irem não apenas servir os alunos mas também toda a cidade. Boa parte da nova zona sob jurisdição de Macau estará aberta aos residentes, apesar de a circulação de carros ser circunscrita à área mais próxima do túnel, ficando o campus reservados a veículos autorizados, a bicicletas e a pedestres.

A nova UMAC tem 2500 lugares de estacionamento repartidos por várias áreas. Estarão disponíveis para todos quantos desejem usufruir da zona que, entre outras infra-estruturas, terá no seu centro cultural e no grande auditório, com capacidade para cerca de mil espectadores, uma das principais atracções. Wei Zhao explica que o objectivo é oferecer o espaço à Orquestra de Macau para que ali se torne residente, ensaiando com regularidade e também dando concertos. O auditório deve ainda receber outros eventos programados em parceria com o Instituto Cultural.

As instalações desportivas, com uma piscina olímpica, um campo de futebol e uma pista de atletismo com medidas oficiais para receberem qualquer tipo de competição, estarão também articuladas no futuro com a gestão do Instituto do Desporto.

Nada disto seria possível sem o crescimento do número de funcionários da universidade, que de acordo com o site da instituição está situado nos 750 e que quase triplicará; e do corpo docente, que duplicará para perto de 800 professores. Para este novo ano lectivo, a UMAC a recebeu mais 1520 alunos do que no ano anterior e o objectivo é ir gradualmente crescendo até aos dez milhares de estudantes.

Os edifícios de investigação, situados junto ao quartel dos bombeiros, somam mais de 300 laboratórios e 20 centros de investigação. O autocarro que transporta a imprensa dá a volta ao campus, passa junto do estádio e do complexo desportivo com um pavilhão com capacidade para 3000 pessoas e vários campos para badminton e outras modalidades, e entra na Avenida dos Alunos, que dá acesso às residências de estudantes de licenciatura, de acordo com a UMAC as maiores da Ásia. Ao longe vê-se o muro que separa o campus do restante território da Montanha, esse sob jurisdição das autoridades do Continente. Recorde-se que recentemente soube-se que os cidadãos do Continente que entrarem no novo campus da Universidade de Macau saltando a vedação do complexo serão punidos por travessia ilegal de fronteira. A revelação foi feita por um funcionário da fronteira do Continente ao diário Global Times.

É num dos edifícios destinados à residência de alunos de licenciatura – que terão também à sua disposição vários serviços, como supermercados, cafés, farmácias e clínicas – que Wei Zhao fala à imprensa, fazendo uma apresentação das principais novidades que a UMAC introduz neste ano lectivo. O reitor apresenta os novos cursos e o modo como o campus da Montanha funcionará. Diz desconhecer a alegada investigação do Comissariado Contra a Corrupção ao processo de atribuição de casas no novo campus (ver texto nestas páginas) e garante que o processo está a decorrer com normalidade.

De volta ao autocarro, a viagem de volta à Taipa faz-se em poucos minutos. O campus e o novo túnel parecem agora mais perto. A nova cidade de Macau continua a crescer ali ao lado, maior que todos os casinos do território. Hélder Beja – Macau in “Ponto Final”

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Logística e Portos

Fórum Ibero-americano de Logística e Portos

O Porto de Sines participou no “Fórum Ibero-americano de Logística e Portos” que teve lugar na Cidade do Panamá, no passado dia 19 de setembro. Integrado no painel subordinado ao tema “Os portos Ibero-americanos nas novas rotas de transportes marítimo”, João Franco, Presidente do Porto de Sines, apresentou as condições oferecidas por este porto para servir os tráfegos atlânticos, atendendo à evolução da dimensão dos navios, ao alargamento do Canal do Panamá, assim como ao aumento da capacidade dos portos da américa latina.

Este Fórum teve dois tipos de objetivos: por um lado, pretendeu analisar a situação e as tendências das rotas marítimas da América Latina e a capacidade dos portos em receberem esses novos tráfegos e, por outro, identificar os principais desafios e obstáculos na integração dos centros de produção e consumo, dentro e para fora da região ibero-americana, através da eficiência das cadeias logísticas.



O evento foi realizado no âmbito da XXIII Cimeira Ibero-americana e reuniu representantes de portos e outros agentes económicos do setor, com o objetivo de identificar as melhores práticas em termos de eficiência e competitividade no transporte marítimo. In “Administração Porto Sines” - Portugal

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Adiamento

Jogos da Lusofonia em Goa adiados para 18 a 29 de Janeiro 2014



A Associação dos Comités Olímpicos de Língua Oficial Portuguesa (ACOLOP) numa reunião de Assembleia-Geral extraordinária realizada no Hotel Sheraton em Taipa, Macau, no passado dia 22 de Setembro de 2013, decidiu adiar para 18 a 29 de Janeiro de 2014 a terceira edição dos Jogos da Lusofonia, com realização anunciada para 2 a 10 de Novembro 2013.



Comunicado da Assembleia Geral da ACOLOP:

“A Assembleia Geral da ACOLOP reuniu hoje para decidir o adiamento das datas previstas para a realização da 3.a edição dos Jogos da Lusofonia. Goa veio apresentar aos membros da ACOLOP um relatório do progresso dos trabalhos para a realização dos Jogos.

De acordo com a exposição feita pela Comissão Organizadora dos Jogos da Lusofonia - Goa, pelo seu presidente, Keshava Chandra, os acabamentos das instalações estão, neste momento, em fase de conclusão. Espera-se que os trabalhos nas instalações estejam finalizados entre o final de Novembro e o princípio de Janeiro de 2014.

Os eventos teste irão decorrer a partir do início de Dezembro até ao final do mês. A maior parte dos delegados técnicos nomeados pelas Federações Internacionais já visitaram as instalações e deram a sua aprovação aos projectos em curso.

Os membros da ACOLOP discutiram demoradamente as data dos Jogos da Lusofonia, que ficaram marcadas para o período que decorre entre os dias 18 a 29 de Janeiro de 2014.

O que resultou desta reunião foi uma grande unidade entre os membros da ACOLOP. A força da ACOLOP reside na nossa solidariedade e cooperação. Todos sabemos que a ACOLOP tem membros muito diferentes, com capacidades de vários níveis, pelo que é preciso um entendimento em benefício da unidade da associação e da continuidade dos Jogos da Lusofonia.

Nesta Assembleia Geral foi ainda decidido que, face ao sucesso da participação da equipa de Macau na Volta de Cacau, em São Tomé e Príncipe, os atletas de todos os membros da ACOLOP terão oportunidade de participar na próxima edição. Do mesmo passo, vamos continuar a apostar em actividades intercalares, nos intervalos da realização dos Jogos da Lusofonia, como já acontece com a Maratona Internacional de Macau e a Corrida de São Silvestre, em Angola.”

Reunião da Assembleia Geral da ACOLOP


Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné Bissau, Guiné Equatorial, Índia (Goa), Macau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe, Sri Lanka e Timor Leste são os países membros da ACOLOP que participarão no evento. Baía da Lusofonia