Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Entre o passado e o presente

Graça Pacheco Jorge,  Joey Ho, Pedro Jorge Barreiros
Fotografias raras da colecção de Danilo Barreiros podem ser vistas agora em Macau, numa exposição que junta imagens de hoje do fotógrafo Chan Hin Io e pinturas que retratam épocas passadas de João Magalhães. “Transformações – Fotos e Ilustrações de Macau do passado ao presente” é o título desta viagem no tempo inaugurada ontem no edifício do antigo tribunal.

Os escritores Wenceslau de Moraes e Camilo Pessanha convivendo com o seu mestre de chinês num café em Macau no final do século XIX é apenas uma das fotos raras da colecção privada do macaense Danilo Barreiros que agora pode ser vista pelo público na exposição “Transformações – Fotos e Ilustrações de Macau do passado ao presente”.

A mostra é comissariada pela artista local Joey Ho e inaugurou ontem no edifício do antigo tribunal, com a presença do filho de Danilo Barreiros, Pedro Jorge Barreiros, que é quem conserva o espólio. O fotógrafo Chan Hin Io, nascido em Zhongshan, mas estabelecido em Macau desde 1990, faz a ponte entre o passado e o presente, apresentando um conjunto de imagens actuais dos lugares antigos. O artista plástico João Magalhães participa na mostra com um conjunto de quadros que retratam Macau na época de Danilo Barreiros, entre 1910 até 1946, quando partiu para Lisboa.

“A Joey já nos tinha falado em fazer uma exposição de fotografias do Danilo [Barreiros]. Ela escreveu-nos em Setembro [de 2013] a dizer-nos que o projecto ia mesmo para a frente. Esteve connosco [em Lisboa] em Outubro. Estivemos praticamente 24 horas por dia a trabalhar, a fazer a escolha, a digitalização, fizemos tudo em casa. O Pedro fez as legendas em português, eu fiz a tradução para inglês, a Joey fez em chinês. Foi o trabalho de nós os três”, explica Graça Pacheco Jorge, mulher de Pedro Jorge Barreiros, também ela parente de Danilo Barreiros, autora de diversos livros sobre culinária de Macau, tendo colaborado em documentários sobre a cultura e gastronomia macaenses.

Para Pedro Jorge Barreiros, médico, professor, pintor, autor de várias obras literárias e colaborador de documentários sobre figuras ilustres de Macau, que nasceu no território mas saiu muito novo para Portugal, esta exposição é uma forma de manter uma ligação com o território. “[Representa] uma continuidade das vezes que tenho vindo a Macau, a propósito não só do meu pai mas da minha família, e que tem sido muito importante, que é a recordação, no local, de tudo o que aprendi de Macau, que me foi ensinado por eles, e da ligação que continuo a ter.”

“As pessoas querem saber a história”

João Magalhães pintou “quadros inspirados na cidade, na vivência de Macau, nas histórias contadas pelos pais”. “Desde pequenino que estou habituado a ver fotos antigas”, explica. Magalhães pinta as suas próprias memórias da cidade e o que ainda se conserva do passado. “Esta exposição consegue mostrar o antigo, o presente e consegue mostrar essa passagem [entre o antigo e o novo], porque ainda se consegue ver e sentir muita coisa, os cheiros, o mahjong na rua, o que faz esta cidade um lugar interessante, com essa mistura das duas culturas, o ocidente e o oriente”.

Para a comissária da exposição, Joey Ho, esta mostra é uma forma de os habitantes da cidade conhecerem melhor as suas raízes e a sua história. “As pessoas querem conhecer o passado, os que vivem na cidade querem saber a sua história. Penso que vai ser fácil atrair a atenção do público, as pessoas querem entender-se a si próprias”, afirma.

Joey Ho conheceu Graça e Pedro há cerca de três anos, quando trabalhavam na biografia trilingue do avô de ambos, o macaense José Vicente Jorge, sinólogo, coleccionador de arte, figura influente da segunda metade do século XIX e do início do século XX. Em múltiplas conversas, Joey começou a interessar-se pelo passado daquela família, com uma história conhecida desde  o século XVII.

Por sua vez, Miguel de Senna Fernandes, advogado, dramaturgo, presidente da Associação dos Macaenses, presente na inauguração, afirma que esta mostra permite “dar a conhecer o que foi a cidade”. “Macau não foi só uma terra antiga onde tudo se destruiu e onde tudo se substituiu pelas coisas que vemos agora. É uma terra com história, o que vemos [nestas imagens] é a história a nível arquitectónico, mas sobretudo o aspecto humano”. “Muitas pessoas não fazem ideia do que foi este território e esta exposição pode dar uma nova perspectiva”, prossegue Senna Fernandes. “Claro que é apenas uma pequena amostra, mas é o suficiente para dar uma ideia bem precisa que aqui sempre houve várias nuances, várias comunidades que se cruzaram, que sempre viveram aqui. A parte dos chineses, que eram a população maioritária, e a comunidade portuguesa, bem enraizada, com costumes muito próprios. Esta exposição vem trazer precisamente esta dimensão.” Cláudia Aranda – Macau in “Ponto Final”

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