Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

terça-feira, 30 de abril de 2013

Escola

“Na escola do meu tempo nem todos lá entravam e muitos dos que o conseguiam saíam ao fim de pouco tempo, ficando com a segunda ou terceira classe, como então se chamava. Chegava para um país atrasado, rural e sem necessidade de qualificação.

Na escola do meu tempo os rapazes estavam separados das raparigas.

Na escola do meu tempo havia um só livro e toda a gente aprendia apenas o que aquele livro trazia.

Na escola do meu tempo levavam-se muitas reguadas, basicamente por dois motivos, por tudo e por nada.

Na escola do meu tempo, ensinavam-nos a ser pequeninos, acríticos e a não discutir, o que quer que fosse.

Na escola do meu tempo eu era “obrigado” a ter catequese, religiosa e política.

Na escola do meu tempo aprendia-se que os homens trabalham fora de casa e as mulheres cuidam do lar e dos filhos.

Na escola do meu tempo não aprender não era um problema, quem não “tinha jeito para a escola, ia para o campo”.

No tempo da minha escola, quem mandava no país achava que muita escola não fazia bem às pessoas, só a algumas. Ao meu pai perguntaram porque me tinha posto a estudar depois da quarta classe, não era frequente naquele meio. Para ser serralheiro como ele não precisava de estudar mais.

Na escola do meu tempo não se falava do lado de fora de Portugal. Do lado de dentro só se falava do Portugal cinzento e pequenino. Na escola do meu tempo eu era avisado em casa para não falar de certas coisas na escola, era perigoso. As pessoas até podiam ser presas e maltratadas.

Sim, eu sei, não precisam de me dizer que a escola deste tempo ainda tem muitas coisas parecidas com a escola do meu tempo. Também estou muito preocupado com o que vai acontecendo na escola de hoje.

Mas o caminho é mesmo melhorar a escola deste tempo não é, não pode ser, querer a escola do meu tempo.” José Morgado – Portugal in “Diário de Notícias”

segunda-feira, 29 de abril de 2013

Rodovias



                      Uma corrida contra o tempo

                                                                                             

 Com 43,8 quilômetros de extensão, o trecho Leste do Rodoanel, com inauguração prevista para o primeiro semestre de 2014, será a principal ligação entre o Aeroporto de Guarulhos e o Porto de Santos, conectando o trecho Sul e o sistema Anchieta-Imigrantes às rodovias Ayrton Senna, Dutra e SP 066. O trecho, que passará pelos municípios de Arujá, Itaquaquecetuba, Mauá, Poá, Ribeirão Pires e Suzano, deverá receber por dia mais de 48 mil veículos, na maioria caminhões carregados.

É de lembrar também que, até o final do primeiro semestre de 2013, as rodovias Anhanguera, Imigrantes, Ayrton Senna e também o Rodoanel passarão a contar com 39 quilômetros de novas faixas, ou seja, serão 16,8 quilômetros de faixas adicionais na Anhanguera, 14 na Imigrantes, 7,6 na Ayrton Senna e um quilômetro no trecho Oeste do Rodoanel, na pista no sentido da Rodovia dos Bandeirantes, do km 18,3 ao km 19,3, entre os municípios de Carapicuíba e Osasco.

Todas essas obras são bem-vindas e, portanto, não há como deixar de reconhecer o esforço do governo do Estado no sentido de procurar aprimorar a infraestrutura viária. O que se lamenta é que a Secretaria estadual de Transportes não tenha imaginado que todas essas obras iriam facilitar a chegada de mais caminhões ao Porto de Santos, deixando de preparar os acessos viários aos terminais portuários para o crescimento vertiginoso que está ocorrendo na movimentação de cargas. Agora, o que há é uma corrida contra o tempo, mas que já se dá por perdida por vários anos, até que essa nova infraestrutura viária seja construída, especialmente na entrada da cidade de Santos e na margem esquerda do Porto, em Guarujá.

Também é ilusão imaginar que uma nova infraestrutura viária constituirá uma solução para a questão do transporte. Aliás, o modelo de transporte rodoviário adotado pelo País não é solução, mas um problema que, ao longo dos anos, tende apenas a se agravar. Por isso, seria recomendável que não só o governo do Estado como a União cuidasse da implantação de uma nova matriz de transporte, com maior participação da ferrovia e da hidrovia no carregamento de cargas, tal como ocorre na Europa.

Hoje, segundo dados do Instituto de Logística e Suplly Chain (Ilos), do Rio de Janeiro, 60% das mercadorias movimentadas no País seguem por rodovia, enquanto o modal hidroviário é responsável por 13%. Seria o caso de aumentar a participação do modal hidroviário para 30% e estimular o uso da ferrovia como opção para que o sistema rodoviário não fique tão sobrecarregado e não venha em pouco tempo a registrar novos black outs.

Nada disso é difícil de prever, já que, segundo números do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), os caminhões, reboques e semirreboques em São Paulo subiram, em números redondos, de 165 mil em 2003 para 194 mil em 2013, ou seja, 18%, enquanto os automóveis, no mesmo período, passaram de 3,2 milhões para 4,8 milhões, ou seja, 50%.

Em outras palavras: se não houver um redimensionamento da matriz de transporte, recordes de congestionamento continuarão a ser batidos. E, sem infraestrutura adequada para o escoamento das cargas, o crescimento do País continuará a patinar por anos a fio. Mauro Dias - Brasil

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Mauro Lourenço Dias, engenheiro eletrônico, é vice-presidente da Fiorde Logística Internacional, de São Paulo-SP, e professor de pós-graduação em Transportes e Logística no Departamento de Engenharia Civil da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). E-mail: fiorde@fiorde.com.br Site: www.fiorde.com.br

domingo, 28 de abril de 2013

Mátria

PGL - Fernan Portas é galego nascido no Brasil, foi pressionado para que abandonasse o seu português, combatente contra o castelego que se fala na Galiza, a estratégia para o reintegracionismo deve ser paciência e sedução e aspira a que o governo central e autonómico deixe de ter medo.
 
Quê provocou em você a saudade do Brasil e o medo a perder a língua?
 
A certeza de que não votaria à mátria e o xenofobismo da cidade. Havia um acosso e crítica constantes da vila e da própria família em que deixássemos de falar português. Naturalmente nos entrava por um ouvido e saía pelo outro. Em casa e entre nós “sempre” em português. O povo que perde a sua língua, perde a sua identidade. E o poder despótico sempre quer corromper a língua, porque é o patrimônio cultural do povo. A mátria não é o meio geográfico, nem o conjunto de aparelhos econômicos e políticos. A mátria é o idioma, criado ou herdado pelo povo.
 
Como foi o contato com o Reintegracionismo?
 
Na Escola Oficial de Idiomas, um companheiro de aula estava nessa onda. Eu era bastante inclinado a que as pessoas daqui aprendessem português. Era um começo fácil, devido às dificuldades que há na Espanha para aprender idiomas, por culpa da dublagem e os métodos de ensino traduzido, que limitam muito a forma em que eu acho que se deve estudar uma língua, pela associação de ideias e imagens, sem ter sempre uma “língua primária” na qual tudo deve passar, como se fosse uma peneira.
 
Donde achas que vem a resistência em dizer: Sou galego e falo português?
 
No xenofobismo que todo povo hispânico tem. É um pecado original imposto pelos Reis Católicos que começou com seu sonho de uniformizar a Península Ibérica. A expulsão dos Judeus e Mouros, é a primeira prova disto. A Espanha é um país que não respeita as minorias porque tem muito pouca cultura democrática. Fomos governados sempre por Tiranos Autoritários e isso transformou o nosso caráter que é especialmente “intolerante” com tudo aquilo que é “diferente”.
 
Como foi a transmissão familiar da língua?
 
No meu caso é residual. Tive grandes dores de cabeça com minha mãe e irmã, que falam “portunhol” com meus sobrinhos, que já vivem numa cidade onde falar galego é difícil, português já é impossível. Os galegos fazemos duas coisas que todo logopeda e professor diz que não se deve fazer: Misturar e não marcar fronteira.
 
A pessoa que pretenda falar bem, duas línguas tão próximas, deve fazer muito esforço e eu entendo que nem todo o mundo está disposto. É esgotante estar todo o dia corrigindo e sendo corrigido. Mas é necessário, se não queremos acabar falando o “castelego” que se fala na Galiza.
 
Qual deve ser a estratégia para alcançar a hegemonia social?
 
Paciência e sedução. O modelo impositivo cria rejeição. É tempo de semear um futuro possível, porque a morte do galego é uma certeza. O português é o caminho da nossa reencarnação. Devemos fazer o possível pra convencer ao maior número de pessoas, pra que estudem português, que é como floresceu a nossa língua, graças aos Galaicos Bracarenses, que tiveram a sorte de se libertar de Castela e assim poder definir bem a sua nacionalidade... Infelizmente, os Galaicos Lucenses saímos perdendo, mas ainda estamos a tempo de criar um Renascimento, que uma decisão política e arbitrária, nos negou. O nosso caminho é o do sul.
 
Assim como o Cristianismo usou o latim pra se espalhar, o galego deve usar o português para se salvar da morte certa que terá dentro do Estado Espanhol. Já está acontecendo.
 
Que ganharíamos os galegos ligados aos países de língua portuguesa?
 
Liberdade. Nossa língua se dissolve no mar. Esse mar que não é o que nos dá de comer, é o mar da ignorância ao pensar que transformando-nos deixaremos de ser galegos.
 
Os portugueses cultos, sabem perfeitamente “donde vem a sua língua” e um grande número de intelectuais desejam receber-nos dentro da sua normativa. O único que devemos aceitar é o nosso lugar. Somos poucos, pequenos e estamos divididos. Enquanto estivermos assim, Castela não precisa nos matar, já nos suicidamos...
 
Temos experiência “meduliana”.
 
Que esperas da AGAL e que te animou a ser sócio?
 
Conhecer gente como eu e poder levar o meu grão de areia à reintegração. Foi muito gratificante ver a tanta gente estudada com o mesmo sonho... Espero aprender mais sobre a história da nossa língua e me sinto muito feliz de contribuir com esse sonho, que não tem nada a ver com a política.
 
O que eu quero é que o governo central e autonômico deixe de ter medo. Nós somos intelectuais, não somos terroristas. Por isso temos de trabalhar juntos e em paz, porque a paz é o caminho do conhecimento.
 
Como gostarias que fosse a Galiza do ano 2020?
 
Que o número de galegos estudantes de português aumente exponencialmente. É o único jeito de consertar este enguiço. E que o governo pelo menos deixe de pôr pedras no caminho, por medo a uma possível secessão da Galiza. Isso hoje é absurdo. O Reino Católico Castelhano nunca foi uniforme e homogêneo. Os galegos somo um povo prático, aqui do que se trata é de não desaparecer no dissolvimento, que já é preocupante, porque a minha geração, já têm filhos que não falarão nunca, a língua de seus avós...
In “Portal Galego da Língua” - Galiza


sábado, 27 de abril de 2013

Horizontes


                               A literatura de Moçambique
                            vista do outro lado do Atlântico


                                                           I
Escritores moçambicanos na fase inicial da literatura de seu país sempre se declararam inspirados por autores brasileiros. Foi o caso de José Craveirinha (1922-2003), filho de pai português e mãe africana, que se dizia leitor atento de Manuel Bandeira (1886-1968), Mário de Andrade (1893-1945), Graciliano Ramos (1892-1953), Carlos Drummond de Andrade (1902-1987), Jorge Amado (1912-2001), Raquel de Queiroz (1910-2003), João Cabral de Melo Neto (1920-1999) e outros. Sem contar que tivera em Leônidas da Silva (1913-2004), o Diamante Negro, centroavante da seleção brasileira de 1938 e inventor do lance chamado de “gol de bicicleta”, um ídolo de sua juventude, admiração que compartilhava com muitos de sua geração.


Tantos anos depois, faz-se agora o percurso inverso com estudiosos brasileiros, alguns em atividade em universidades fora do Brasil, escrevendo sobre a produção de escritores moçambicanos mais recentes. É o que se vê em Passagens para o Índico: encontros brasileiros com a literatura moçambicana (Maputo: Marimbique Conteúdos e Publicações, 2012), organizado pelas professoras Rita Chaves e Tania Macêdo, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (USP), com prefácio do professor Lourenço do Rosário, o scholar moçambicano com maior trânsito nas universidades de Portugal e do Brasil.


Para realizar essa obra, as organizadoras convidaram 20 especialistas em Literatura Africana de Expressão Portuguesa, inclusive este articulista, para que escrevessem ensaios sobre a produção de autores moçambicanos contemporâneos. O livro inclui ainda o ensaio “A literatura moçambicana e os leitores brasileiros”, das organizadoras, responsáveis também pela introdução. Para as professoras, a exemplo de A kinda e a misanga: encontros brasileiros com a literatura angolana, lançado em 2007, este volume “corresponde a mais uma ação para tornar cada vez mais vivos os laços que nos prendem”.


                                                           II
Como não podia deixar de ser, Mia Couto, o escritor moçambicano com maior visibilidade da mídia do mundo lusófono, alcança espaço destacado na análise dos especialistas. De sua obra ocupam-se Anita Martins Rodrigues de Moraes, doutora em Teoria e História Literária pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e professora da Universidade Federal Fluminense (UFF), Maria Nazareth Soares Fonseca, doutora em Literatura Comparada pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e professora da Pontifícia Universidade Católica (PUC-MG), e Patrícia Schor, que faz doutoramento em Humanidades na Utrecht University, da Holanda.


Já a narrativa feminina, especialmente a de Paulina Chiziane, é objeto de atenção de Laura Padilha, doutora pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e professora emérita da UFF, Débora Leite David, que faz pós-doutorado em Estudos Comparados de Literatura de Língua Portuguesa na USP, e deste articulista.


Em “Literatura e política: José Craveirinha e as inclinações prospectivas de uma poética popular”, o professor Benjamin Abdala Junior, doutor em Letras pela USP e professor titular de Literaturas Africanas de Língua Portuguesa da mesma instituição, aproxima a poesia do poeta moçambicano do fazer poético do angolano António Jacinto (1924-1991) e do brasileiro Solano Trindade (1908-1974), observando que o horizonte de expectativa de Craveirinha “enlaça os poetas da geração de 50 em Angola e os poetas brasileiros articulados politicamente e que viriam a promover os Centros Populares de Cultura”.


No contexto socialmente reivindicativo, e ainda anticolonial e antifascista das literaturas africanas de Língua Portuguesa dos anos 1950-1960-1970, diz Abdala, esse horizonte estético-ideológico promovia um olhar para outros poetas, de outros sistemas lingüísticos, como o cubano Nicolás Guillén (1902-1989), que seria colocado como poeta-símbolo na antologia do angolano Mario de Andrade (1928-1990) e do são-tomense Francisco José Tenreiro (1921-1963), “onde a condição negra se associava à proletária – um humanismo em que as diferenças étnicas se abriam à solidariedade social”.


Em “A voz, o canto, o sonho e o corpo: reflexões sobre a poesia feminina em Moçambique”, Carmen Lucia Tindó Secco, doutora em Letras pela UFRJ e docente que criou a disciplina de Literaturas Africanas na mesma instituição, diz que, ao contrário do que ocorreu em Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau e São Tomé e Príncipe, em Moçambique o silêncio em torno de textos de autoria feminina se manteve por mais de uma década depois da independência não só na poesia como nos demais gêneros.


Com exceção de Glória de Sant´Anna, que teve condições próprias de editar vários livros antes da independência, poucas mulheres tiveram seus textos publicados no período colonial. Mesmo a conhecida Noémia de Sousa, acrescenta, só teve a sua obra reunida em livro, em 2001, por empreendimento do poeta Nelson Saúte, atual editor da Marimbique, que publicou o livro que se resenha aqui. Hoje, já não são poucas as poetisas moçambicanas: Ana Mafalda Leite, Tânia Tomé, Sónia Sultuane são alguns nomes que têm sua produção analisada por Carmen Lucia neste ensaio.


                                                           III
Em “José Francisco Albasini e a saúde do corpus moçambicano”, César Braga-Pinto, doutor em Literatura Comparada pela University of California, Berkeley, e professor da Northwestern University, em Illinois, recupera a trajetória literária e jornalística de José Francisco Albasini, o Bandana (1877-1935), irmão de João Albasini. Ambos fundaram o primeiro jornal escrito e dirigido por uma elite de intelectuais negros e mulatos em Moçambique, O Africano (1908-1918), que seria sucedido por O Brado Africano (1918-1974).


Lidos numa perspectiva pós-independência e, portanto, anacrônica, os Albasini são vistos hoje com certo distanciamento. Descendente de um italiano e neto de português e de uma neta do régulo do clã Mpfumo, de Maxaquene, Bandana, ao seu tempo, defendeu a “causa indígena”, lançando uma campanha pela educação em português que tinha por base a luta pelo direito à cidadania plena, no caso a cidadania portuguesa, à época do salazarismo. Como diz Braga-Pinto, essa é ainda uma questão que permanece em debate e longe de um consenso, ou seja, “a situação do sujeito assimilado em relação não somente ao sujeito “indígena”, mas também ao passado pré-colonial e à tradição africana”.


Um dos textos mais interessantes desta coletânea é “Os lugares do indiano na literatura moçambicana”, de Nazir Ahmed Can, doutor em Letras pela Universidade Autônoma de Barcelona e professor-colaborador do Instituto Camões de Barcelona, que registra um “silêncio” a respeito da participação indiana nos estudos literários sobre Moçambique dos dias atuais. É de lembrar que a comunidade indiana se fixou no país em meados do século XVII ou ainda em época anterior à chegada dos portugueses e, hoje, “representa uma parte significativa da população moçambicana (inclusive da elite política e intelectual)”.


Can cita Francisco Noa para quem “a figura do indiano aparece-nos marcada pelo ressentimento, pelo preconceito e por um indisfarçável sentimento de intolerância”. Para Can, “a prosa do período pós-independência sente-se ainda numa posição desconfortável para representar estas comunidades de forma pormenorizada para lhes fornecer protagonismo ou voz”.


Conhecidos de maneira depreciativa por monhés, baneanes e canarins, os indianos sempre foram vistos de maneira preconceituosa – de início, porque representariam um obstáculo à hegemonia portuguesa na região e, depois, porque desenvolviam, na maioria, atividades ligadas ao ilícito, como contrabando e a sonegação fiscal, e eram adeptos do islaminismo e, portanto, adversários das práticas cristãs.


Depois de apontar a presença de protagonistas indianos (monhés), referidos de forma negativa por personagens em autores como Nelson Saúte, Lília Momplé e Suleiman Cassamo e positiva ou neutra em Mia Couto, João Paulo Borges Coelho e Paulina Chiziane, o ensaísta assinala a ausência de uma auto-representação da travessia indiana na prosa moçambicana, questionando quais seriam os motivos pelos quais isso não foi possível até agora.


                                                           IV
O livro traz ainda ensaios dos professores José Nicolau Gregorin Filho, doutor em Letras pela Universidade do Estado de São Paulo (Unesp) e professor da USP, Érica Antunes Pereira, pós-doutoranda na USP, Maria Anória de Jesus Oliveira, professora assistente da Universidade do Estado da Bahia (Uneb) e doutora em Letras pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Marinei Almeida, doutora em Letras pela USP e professora da Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat), Maurício Sales Vasconcelos, doutor em Letras e pós-doutorando na USP, Prisca Agustoni de Almeida Pereira, doutora em Literaturas Africanas de Língua Portuguesa pela PUC-MG, Rosania da Silva, doutora em Letras pela Universidade Nova de Lisboa, Simone Caputo Gomes, doutora em Letras pela PUC-RJ,  Sueli Saraiva, doutoranda em Letras pela USP, e Teresinha Taborda Moreira, doutora em Letras pela UFMG e professora da PUC-MG. Adelto Gonçalves - Brasil

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PASSAGENS PARA O ÍNDICO: ENCONTROS BRASILEIROS COM A LITERATURA MOÇAMBICANA, organização de Rita Chaves e Tania Macêdo. 1ª ed. Maputo: Marimbique – Conteúdos e Publicações. 327 págs., 2012.


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Adelto Gonçalves é doutor em Letras na área de Literatura Portuguesa pela Universidade de São Paulo e autor de Gonzaga, um Poeta do Iluminismo (Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1999), Barcelona Brasileira (Lisboa, Nova Arrancada, 1999; São Paulo, Publisher Brasil, 2002), Bocage - o Perfil Perdido (Lisboa, Caminho, 2003) e Tomás Antônio Gonzaga (Rio de Janeiro, Academia Brasileira de Letras, 2012). E-mail: marilizadelto@uol.com.br 









sexta-feira, 26 de abril de 2013

Seria...

                                Sem infraestrutura, não há crescimento


A crise econômica global, que colocou a União Europeia em situação de quase fragmentação e os EUA na defensiva, não causou tantos estragos no Brasil, ao contrário do que ocorreu com outros países que estão no mesmo patamar de desenvolvimento que o brasileiro. Seria, portanto, esta a hora de o País crescer e queimar etapas, desenvolvendo-se em 10 anos o equivalente ao que exigiria meio século.

Seria... se não fosse um obstáculo que foi criado pela própria ineficiência dos governos que se sucederam no Palácio do Planalto pelo menos nos últimos 20 anos. Independente de sigla partidária, esses governos, acompanhados pelos governos estaduais, pareceram-se na falta de visão estratégica, deixando que a infraestrutura – estradas, ferrovias, portos e aeroportos – chegasse ao atual estágio de saturação que tem sido definido como apagão logístico. E sem pesados investimentos em infraestrutura não há como crescer e aumentar a participação do Brasil no comércio exterior, hoje em torno de 1,3% de tudo o que se vende e compra no planeta.

Basta ver que as obras que tiveram início em abril para a construção do novo acesso viário do polo industrial de Cubatão à Via Anchieta começam a sair do papel exatamente 15 anos depois da largada de uma campanha liderada pelo Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp) estabelecido naquele município. É muita demora. Essa obra, cuja entrega está prevista para setembro de 2014, inclui a duplicação de oito quilômetros da Rodovia Cônego Domênico Rangoni entre o Viaduto Cosipão e o km 55 da Via Anchieta e um anel viário composto por seis viadutos. Até lá, preparemo-nos para novos congestionamentos.

Obviamente, essa obra vai melhorar o movimento naquela área, mas não irá resolver a questão do acesso ao Porto de Santos. Na verdade, nos últimos anos, nada havia sido feito na Baixada Santista para facilitar o acesso ao Porto, embora já se soubesse que o Rodoanel e algumas obras na Rodovia dos Imigrantes iriam facilitar a chegada de mais caminhões pelo menos até a entrada de Santos. O que não houve foi o desenvolvimento conjunto de um projeto que pudesse melhorar o acesso aos terminais e demais instalações do porto santista, com a construção de marginais e uma nova via de entrada para a cidade de Santos.

É verdade que obras para desafogar o trânsito na zona portuária já foram executadas, como a Avenida Perimetral na Margem Direita. Já na Margem Esquerda, em Guarujá, a obra da Perimetral, que deveria ter sido entregue em janeiro de 2013, não teve o seu prazo cumprido, mas deverá estar concluída ainda neste primeiro semestre.

Embora 25% do comércio exterior brasileiro passem pelo Porto de Santos, nunca houve um planejamento para que o escoamento dos produtos pudesse ser feito sem atropelos e sem black out. O que causa apreensão é que os terminais da Embraport e da Brasil Terminal Portuário (BTP) vão entrar em funcionamento em breve, triplicando a movimentação de cargas no Porto. Eis aqui uma verdade que os planejadores não levaram em conta: não adianta muito ter capacidade de movimentação sem acesso fácil aos terminais portuários. Milton Lourenço - Brasil

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Milton Lourenço é presidente da Fiorde Logística Internacional e diretor do Sindicato dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística do Estado de São Paulo (Sindicomis) e da Associação Nacional dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística (ACTC). E-mail: fiorde@fiorde.com.br Site: www.fiorde.com.br


quinta-feira, 25 de abril de 2013

Origens

Das línguas africanas ao português brasileiro

Do século XVI ao século XIX, o tráfico transatlântico trouxe para o Brasil 4 a 5 milhões de falantes africanos extraídos de duas regiões subsaarianas : a região banto, situada ao longo da extensão sul da linha do equador, e a região oeste-africana ou sudanesa, que abrange territórios que vão do Senegal à Nigéria.
 
A região banto compreende um grupo de 500 línguas muito semelhantes, que são faladas na África sub-equatorial. Entre elas, as de maior número de falantes no Brasil foram três línguas angolanas: quicongo, também falada no Congo, quimbundo e umbundo. Das línguas oeste-africanas ou sudanesas, seus principais representantes no Brasil foram os povos do grupo ewe-fon provenientes de Gana, Togo e Benim, apelidados pelo tráfico de minas ou jejes, e os iorubás da Nigéria e do Reino de Queto (Ketu), estes últimos na vizinha República do Benim, onde são chamados de nagôs.

No entanto, apesar dessa notável diversidade de línguas, todas elas têm uma origem comum. Pertencem a uma só grande família lingüística Níger-Congo (Greenberg 1966). Logo, são todas línguas aparentadas.

Fatos relevantes

Explicar a participação de línguas africanas na construção da língua portuguesa no Brasil é ter em conta a atuação do negro-africano como personagem falante no desenrolar dos acontecimentos e procurar entender os fatos relevantes de ordem sócio-econômica e de natureza lingüística que favoreceram o avanço consecutivo do componente africano nesse processo.

Inicialmente, o contingente de negros e afro-descendentes era superior ao número de portugueses e outros europeus, durante três séculos consecutivos, num contexto social e territorial cujo isolamento em que foi mantida a colônia pelo monopólio do comércio externo brasileiro feito por Portugal até 1808 condicionou um ambiente de vida de aspecto conservador e de tendência niveladora, mais aberto à aceitação de aportes culturais mútuos e de interesses comuns. Aqui, merecem destaque a atuação socializadora da mulher negra na função de mãe-preta no seio da família colonial, e o processo de socialização lingüística exercido pelos negros ladinos, aqueles que, aprendendo rudimentos de português, podiam falar a um número maior de ouvintes, e influenciá-los, resultando daí por adaptarem uma língua a outra e estimularem a difusão de certos fenômenos lingüísticos entre os não bilíngües.(Ver Pessoa de Castro 1990).

No século XIX, o processo de urbanização que se iniciava no Brasil a partir da instalação da família real portuguesa no Rio de Janeiro e a abertura dos portos em 1808, exigiram a fixação nas cidades da mão-de-obra escrava recém-trazida da África, numa época em que a maioria da população brasileira era constituída de mestiços e crioulos. Esses, já nascidos no Brasil, falando português como primeira língua, por conseguinte, mais desligados de sentimentos nativistas em relação à África e susceptíveis à adoção e aceitação de padrões europeus então vigentes.

Finalmente, com a extinção do tráfico transatlântico para o Brasil em 1856 até a abolição oficial da escravatura no país em 1888, o tráfico interno foi intensificado. Negros escravizados nas plantações do nordeste foram levados para outras nas regiões do sul e sudeste (depois ocupadas por europeus e asiáticos) e, em direção oposta, do centro-oeste para explorar a floresta amazônica onde os povos indígenas são preponderantes. Em conseqüência, portanto, da amplitude geográfica alcançada por essa distribuição humana, o elemento negro foi uma presença constante em todas as regiões do território brasileiro sob regime colonial e escravista.

No entanto, nesse contexto sócio-histórico, cada língua ou grupo de línguas teve sua influência própria.

Os bantos

A influência banto é muito mais profunda em razão da antiguidade do povo banto no Brasil, da densidade demográfica e amplitude geográfica alcançada pela sua distribuição humana em território brasileiro.

A sua presença foi tão marcante no Brasil no século XVII que, em 1697, é publicada, em Lisboa, A arte da língua de Angola, do padre Pedro Dias, a mais antiga gramática de uma língua banto, escrita na Bahia para uso dos jesuítas, com o objetivo de facilitar a doutrinação dos 25.000 negros angolanos, segundo Antônio Vieira, que se encontravam na cidade do Salvador sem falar português (Cf. Silva Neto 1963:82).

Os aportes bantos ou bantuismos, ou seja, palavras africanas que entraram para a língua portuguesa no Brasil, estão associados ao regime da escravidão (senzala, mucama, bangüê, quilombo), enquanto a maioria deles está completamente integrada ao sistema lingüístico do português, formando derivados portugueses a partir de uma mesma raiz banto (esmolambado, dengoso, sambista, xingamento, mangação, molequeira, caçulinha, quilombola), o que já demonstra uma antiguidade maior. Em alguns casos, a palavra banto chega a substituir a palavra de sentido equivalente em português: caçula por benjamim, corcunda por giba, moringa por bilha, molambo por trapo, xingar por insultar, cochilar por dormitar, dendê por óleo-de-palma, bunda por nádegas, marimbondo por vespa, carimbo por sinete, cachaça por aguardente. Alguns já estão documentados na literatura brasileira do século XVII, a exemplo dos que se encontram na poesia satírica de Gregório de Matos e Guerra. (1633-1696).

Os oeste-africanos

Ao encontro dessa gente banto já estabelecida nos núcleos coloniais em desenvolvimento, é registrada a presença de povos ewe-fon, cujo contingente foi aumentado em conseqüência da demanda crescente de mão-de-obra escravizada nas minas de ouro e diamantes, então descobertas em Minas Gerais, Goiás e Bahia, simultaneamente com a produção de tabaco na região do Recôncavo baiano.

Sua concentração, no século XVIII foi de tal ordem em Vila Rica que chegou a ser corrente entre a escravaria local um falar de base ewe-fon, registrado em 1731/41 por Antônio da Costa Peixoto em A obra nova da língua geral de mina, só publicada em 1945, em Lisboa. Também Nina Rodrigues, ao findar do século XIX, teve oportunidade de registrar um pequeno vocabulário jeje-mace (fon) de que ainda se lembravam alguns dos seus falantes na cidade do Salvador, assim como de outras quatro línguas oeste-africanas (acossa, tapa, Gramsci, flane). (Ver Pessoa de Castro 2002).

Ao findar do século XVIII, a cidade do Salvador começa a receber, em levas numerosas e sucessivas, um contingente de povos procedentes da Nigéria atual, em conseqüência das guerras interétnicas que ocorriam na região. Entre eles, a presença nagô-iorubá foi tão significativa que o termo nagô na Bahia começou a ser usado indiscriminadamente para designar qualquer indivíduo ou língua de origem africana no Brasil. Nina Rodrigues mesmo dá notícia de um "dialeto nagô", que era falado pela população negra e mestiça da cidade do Salvador naquele momento e que ele não documentou, mas definiu como "uma espécie de patois abastardado do português e de várias línguas africanas" (cf. Rodrigues 1942::261). Logo, não se tratava da língua iorubá, como muitos ainda se deixam confundir.

Devido a uma introdução tardia e à numerosa concentração dos seus falantes na cidade do Salvador, os aportes do iorubá são mais aparentes, especialmente porque são facilmente identificados pelos aspectos religiosos de sua cultura e pela popularidade dos seus orixás no Brasil (Iemanjá, Xangô, Oxum, Oxossi, etc.).

O português do Brasil

Depois de quatro séculos de contato direto e permanente de falantes africanos com a língua portuguesa no Brasil, esse processo de interação lingüística, apoiada por fatores favoráveis de ordem sócio-histórica e cultural, foi provavelmente facilitado pela proximidade relativa da estrutura lingüística do português europeu antigo e regional com as línguas negro-africanas que o mestiçaram. Entre essas semelhanças, o sistema de sete vogais orais (a, e, ê, i, o ê, u) e a estrutura silábica ideal (CV.CV) (consoante vogal.consoante vogal), onde se observa a conservação do centro vocálico de cada sílaba e não há sílabas terminadas em consoante. Essa semelhança estrutural provavelmente precipitou o desenvolvimento interno da língua portuguesa e possibilitou a continuidade da pronúncia vocalizada do português antigo na modalidade brasileira (onde as vogais átonas também são pronunciadas), afastando-a, portanto, do português de Portugal, de pronúncia muito consonantal, o que dificulta o seu entendimento por parte do ouvinte brasileiro, fazendo-lhe parecer tratar-se de outra língua que não a portuguesa (Cf. a pronúncia brasileira *pi.neu, *a.di.vo.ga.do, *su.bi.ma.ri.no em lugar de pneu, a(d).v(o).ga.do, su(b).m(a).ri.no) (V. Pessoa de Castro 2005) Nesse processo, o negro banto, pela antiguidade, volume populacional e amplitude territorial alcançada pela sua presença humana no Brasil colônia, ele, como os outros, adquiriu o português como segunda língua, tornando-se o principal agente transformador da língua portuguesa em sua modalidade brasileira e seu difusor pelo território brasileiro sob regime colonial e escravista. Ainda hoje, inúmeros dialetos de base banto são falados como línguas especiais por comunidades negras da zona rural, provavelmente remanescentes de antigos quilombos em diversas regiões brasileiras (V. Queiroz 1998, Vogt e Fry 1996). Ao encontro dessa matriz já estabelecida assentaram-se os aportes do ewe-fon e do iorubá, menos extensos e mais localizados, embora igualmente significativos para o processo de síntese pluricultural brasileira, sobretudo no domínio da religião.

Diante dessas evidências, chegamos necessariamente a uma conclusão compatível com as circunstâncias extralingüísticas que foram favoráveis a esse processo: o português do Brasil, naquilo em que ele se afastou do português de Portugal, é, historicamente, o resultado de um movimento implícito de africanização do português e, em sentido inverso, de aportuguesamento do africano sobre uma matriz indígena pré-existente e mais localizada no Brasil. Assim sendo, o português brasileiro descende de três famílias lingüísticas: a família Indo-Européia que teve origem entre a Europa e a Ásia, da qual faz parte a língua portuguesa; a família Tupi, de línguas faladas pelo indígenas brasileiros e que se espalha pela América do Sul; e, por fim, a família Níger-Congo que teve origem na África subsaariana e se expandiu por grande parte desse continente. Conseqüentemente, povos indígenas e povos negros, ambos marcaram profundamente a cultura do colonizador português que se estabeleceu no Brasil, dando origem à uma nova variação da língua portuguesa – mestiça, brasileira.

Regiões de concentração do tráfico para o Brasil

Oeste-africanos:

Ewe-fon (mina-jeje)
1.Gana 2. Togo 3. Benim

Nagô-Iorubá
3. Reino de Queto ( Benim) e 4. Nigéria

Bantos
5. Gabão 6. Congo 7. Congo-Kinshasa 8.Angola 9. Moçambique

Yeda de Castro – Brasil in “Labjor Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo”
 
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quarta-feira, 24 de abril de 2013

Gonzaga

                        Gonzaga ganha edição da
                        Academia Brasileira de Letras
A Academia Brasileira de Letras (ABL), com o apoio da Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, acaba de lançar o livro Tomás Antônio Gonzaga, que reúne uma antologia com excertos dos melhores poemas do poeta e um estudo biográfico-crítico preparado por Adelto Gonçalves, doutor em Letras na área de Literatura Portuguesa pela Universidade de São Paulo (USP) e autor de Gonzaga, um Poeta do Iluminismo (Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1999), sua tese de doutorado.
Tomás Antônio Gonzaga, patrono da cadeira 37 da ABL, é o volume nº 56 da Série Essencial, que se propõe a oferecer informações básicas sobre cada um dos ocupantes das 40 cadeiras da Academia ao longo da História, bem como sobre os patronos da instituição. Acompanhados de sucinta antologia, os volumes, sob responsabilidade de acadêmicos ou de especialistas, pretendem atingir um público amplo e diversificado e despertar no leitor o interesse de se aprofundar no conhecimento da obra de todos aqueles que tiveram seus nomes para sempre vinculados à ABL.
Nascido no Porto, Tomás Antônio Gonzaga (1744-1810), autor de Marília de Dirceu, a coleção de poemas líricos mais popular da literatura de Língua Portuguesa, formou-se em Direito pela Universidade de Coimbra e exerceu, entre outras funções na magistratura, o cargo de ouvidor-geral da comarca de Vila Rica, Minas Gerais, de 1782 a 1788. Em 1789, já fora do cargo, foi alcançado pela devassa aberta para apurar denúncia de conspiração para a derrubada do governo do capitão-general visconde de Barbacena, a chamada Inconfidência Mineira.
Detido, Gonzaga foi encaminhado para a fortaleza da Ilha das Cobras, no Rio de Janeiro. Da prisão, pediu a um amigo que levasse para Lisboa os originais da Marília de Dirceu, que saiu à luz em 1792 pela Tipografia Nunesiana. Naquele ano, seria condenado a degredo na Ilha de Moçambique, na costa oriental da África, onde exerceria funções na magistratura, como a de promotor de defuntos e ausentes. Quando morreu aos 65 anos, era juiz da alfândega. Na Ilha de Moçambique, casou-se com Juliana de Sousa Mascarenhas, filha de Alexandre Roberto Mascarenhas, escrivão da ouvidoria-geral desde 1775 e tabelião público. Na África, Gonzaga comporia alguns versos e “A Conceição”, poema épico inspirado no naufrágio do navio Marialva em 1802, cujos originais (em parte) estão hoje na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro.
                                                           O autor
Adelto Gonçalves (1951), jornalista, autor do estudo biográfico-crítico, é também mestre na área de Língua Espanhola e Literaturas Espanhola e Hispano-americana pela USP. É professor titular da Universidade Santa Cecília (Unisanta), no curso de Jornalismo, e da Universidade Paulista (Unip), no curso de Direito, ambas em Santos-SP. É também professor de Literaturas Portuguesa, Brasileira e Africanas de Expressão Portuguesa.
Sua estreia na literatura deu-se em 1977 com o livro de contos Mariela Morta. Em 1980, foi um dos ganhadores do Prêmio Nacional de Romance José Lins do Rego, da Livraria José Olympio Editora, do Rio de Janeiro, com o livro Os Vira-Latas da Madrugada, publicado em 1981. Em 1986, obteve o Prêmio Fernando Pessoa da Fundação Cultural Brasil-Portugal, do Rio de Janeiro, participando do livro Ensaios sobre Fernando Pessoa com o trabalho “O ideal político de Fernando Pessoa”.
Conquistou os prêmios Assis Chateaubriand de 1987 e Aníbal Freire de 1994, ambos da ABL. Em 2000, com Gonzaga, um Poeta do Iluminismo, ganhou o Prêmio Ivan Lins de Ensaios da União Brasileira de Escritores e da Academia Carioca de Letras. Em 1997, publicou o livro de ensaios e artigos Fernando Pessoa: a Voz de Deus (Santos, Universidade Santa Cecília).
Em 1999, publicou o seu primeiro livro em Portugal: o romance Barcelona Brasileira (Lisboa, Editora Nova Arrancada), que saiu no Brasil em 2002 pela Publisher Brasil, de São Paulo. Barcelona Brasileira e Os Vira-Latas da Madrugada fazem parte do “ciclo de romances de identidade portuária” e são estudados em vários dos ensaios reunidos em Esquinas do Mundo: ensaios sobre História e Literatura a partir do Porto de Santos (São Paulo, Dobra Editorial, 2013), do historiador Alessandro Atanes, mestre em História Social pela USP.
Em 2003, Gonçalves publicou pela Editorial Caminho, de Lisboa, Bocage – o Perfil Perdido, seu primeiro trabalho de pós-doutorado, para o qual obteve bolsa da Fundação de Amparo à Pesquisa no Estado de São Paulo (Fapesp). Escreveu em 2010-2011 Direito e Justiça em Terras d´El Rei: ouvidores, juízes de fora, juízes ordinários e vereadores em São Paulo colonial (1709-1822), com bolsa da Unip, seu segundo trabalho de pós-doutorado, ainda inédito.
Jornalista desde 1972, trabalhou em O Estado de S. Paulo, Empresa Folha da Manhã, Editora Abril e A Tribuna, de Santos, tendo sido correspondente da revista Época em Lisboa em 1999-2000. É colaborador desde 1994 da revista Vértice, de Lisboa. Escreve regularmente para o quinzenário As Artes Entre as Letras, do Porto, e Jornal Opção, de Goiânia. É sócio-correspondente da Academia Brasileira de Filologia (Abrafil) e assessor cultural e de imprensa do Centro Lusófono Camões da Universidade Estatal Pedagógica Hertzen, de São Petersburgo, Rússia.
Escreveu prefácios para dois livros de contos de Machado de Assis publicados em 2006 e 2007 pelo Centro Lusófono Camões da Universidade Hertzen em edição bilingue russo-portuguesa, com o apoio do Ministério das Relações Exteriores do Brasil. Participou do livro Studi su Fernando Pessoa, publicado em 2010 por Edizioni dell´Urogallo, de Perugia, Itália, com o ensaio “Ambiguità e ossimoro: simboli dell´universo e del mistero in Fernando Pessoa” (“Ambiguidade e oximoro: símbolo do universo e do mistério em Fernando Pessoa”). Participou com o ensaio “O feminismo negro de Paulina Chiziane” do livro Passagens para o Índico: encontros brasileiros com a literatura moçambicana, de Rita Chaves e Tania Macêdo, organizadoras (Maputo, Marimbique, 2012).
Também colabora com as revistas Colóquio/Letras, de Lisboa, Forma Breve, da Universidade de Aveiro, Revista Brasileira, da ABL, Revista do Centro de Estudos Portugueses (Cesp), da Universidade Federal de Minas Gerais, Cultura – Revista de História e Teoria das Ideias, do Centro de História da Cultura da Universidade Nova de Lisboa, e Revista Estudos Avançados, do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da Universidade de São Paulo (USP), entre outras, além de escrever para sites e revistas eletrônicas do Brasil, Portugal e Moçambique. Academia Brasileira de Letras - Brasil
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Tomás Antônio Gonzaga, de Adelto Gonçalves. Rio de Janeiro/São Paulo: Academia Brasileira de Letras/Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 68 págs., 2012, R$ 10,00. E-mail: livros@imprensaoficial.com.br


terça-feira, 23 de abril de 2013

Mhula

Faleceu ontem, dia 22 de Abril de 2013, no Hospital Geral José Macamo, na cidade de Maputo, capital de Moçambique, o artista Alberto Fabião Mhula fundador e líder do conjunto Manjacaziano, sendo um dos mais representativos músicos da Marrabenta, um estilo de música com origem no sul de Moçambique onde começou a ter forma nas décadas de 30 e 40 do século passado e que Alberto Mhula foi um dos precursores.

Com 78 anos de idade, Alberto Mhula tocou praticamente até ao fim da sua vida, havendo intervenções públicas no passado mês de Fevereiro, já com grandes debilidades físicas. Nasceu a 01 de Dezembro de 1934, na localidade de Chaguala no distrito de Manjacaze, província de Gaza.

A morte do cantor e músico é uma perda para Moçambique, pois representa um símbolo da genuína cultura moçambicana, não percebendo os actuais responsáveis políticos que Alberto Mhula simboliza um património cultural a preservar para que as gerações vindouras conheçam melhor as raízes da sociedade do seu país.

Alberto Mhula gravou alguns temas da Marrabenta e teve uma carreira internacional, tocando em diversos países europeus. Ao longo da sua extensa carreira, acompanharam-no artistas como Dilon Djindji, Xidiminguana, Ernesto Chimanganine, António Marco, Alberto Mutcheka, entre outros. Baía da Lusofonia


segunda-feira, 22 de abril de 2013

Turismo

            Nos últimos meses, os dados publicados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) sobre dormidas por regiões Nuts II, mostram uma quebra acentuada de dormidas na região do Alentejo.

            Este grande espaço turístico é principalmente visitado por turistas nacionais, pois não tem havido uma promoção externa das vantagens de viajar pelo Alentejo. Como Portugal está em recessão e os turistas nacionais têm-se retraído nas suas deslocações, é com alguma naturalidade que verificamos uma quebra de -12,1% de dormidas no IV trimestre de 2012, de -17,0% em Janeiro e -13,6% em Fevereiro de 2013.

            Em sentido contrário está a região de Lisboa, com um aumento de dormidas de +6,6% no IV trimestre de 2012, +4,9% em Fevereiro de 2013, após uma quebra mínima de -0,8% em Janeiro passado. Para estes resultados muito têm contribuído a chegada a Lisboa, de um número crescente de navios de cruzeiro.

            Este padrão de turistas que viajam em cruzeiros, das mais diversas nacionalidades, mas com predominância do Reino Unido, não procuram praias, mas sim outros tipos de turismo, como o histórico, o cultural, o gastronómico ou simplesmente de lazer.

            Todos estes géneros de turismo nós encontramos no Alentejo, isto é, encontra quem conhece bem a região. Desde Beja a Portalegre, passando por Évora há um turismo histórico, cultural por descobrir, mas também temos o turismo ambiental, o turismo gastronómico, o turismo desportivo, sem falar do turismo recreativo.

                Outro tipo de turismo que os nossos vizinhos espanhóis já desenvolvem, a norte nas Astúrias e a sul na Andaluzia, é o turismo ferroviário. Por cá destruíram-se linhas como Beja – Moura, uma loucura, Vila Viçosa – Évora ou Évora – Reguengos de Monsaraz, outras loucuras, emparedando estações ou cedendo-as a outras instituições, ou pasme-se, criando ciclovias no lugar das linhas ferroviárias. E ainda temos outros ramais desactivados, destruídos, onde os ferros dos carris desapareceram.

            Hoje em dia está na moda falar nos cruzeiros no Douro, mas explorar melhor as viagens no rio Guadiana entre o Pomarão e Vila Real de Santo António, numa paisagem única, selvagem, que por vezes faz lembrar África, praticamente ninguém fala. Nem preciso de fazer referência ao Alqueva.

            Um dos grandes privilégios da região alentejana é precisamente podermos encontrar espaços que nos fazem transportar para outras zonas do mundo, seja África como acabei de referir, a América ou mesmo outro tipo de paisagens europeias.

 
            Se há zona onde se deve investir no turismo, é o Alentejo, mas com método. É necessário mais camas, mas em zonas urbanas, principalmente perto do aeroporto de Beja, é necessário investir na ferrovia para o turismo, mas aproveitando as novas tecnologias ecológicas, é necessário criar núcleos gastronómicos, pólos de artesanato, há todas as condições para se criarem centenas, para não dizer milhares de postos de trabalho no Alentejo, ao serviço do turismo, que tantos apregoaram mas nada fizeram. Baía da Lusofonia
Pomarão Fonte: twoartists.home.sapo.pt