Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

sexta-feira, 31 de maio de 2013

Novela

                        Para evitar o caos logístico


SÃO PAULO – Do último episódio da longa novela em que se tornou o caos viário nas rodovias e vias de acesso ao Porto de Santos saiu-se como vilã a prefeita de Cubatão, Márcia Rosa (PT), que, em busca de melhoria para o tráfego na cidade, assinou um decreto municipal que impedia os pátios reguladores de funcionar 24 horas e acabou por multiplicar os congestionamentos que se dão nas redondezas do município. Mas, se há culpados, não se pode procurá-los nas redondezas do Porto de Santos porque o fulcro da questão não está na atividade portuária.

Se há culpados por essa situação, são os gestores públicos que não souberam preparar o País para a nova fase do agronegócio. E olhem que não foi por falta de aviso dos analistas. Em outras palavras: quando o Brasil começou a se tornar um grande fornecedor de matérias-primas e insumos, não houve por parte do governo nenhum plano estratégico com o objetivo de criar uma infraestutura no Interior do País para o agrobusiness.

O resultado é que, em razão dessa carência, os caminhões passaram fazer as vezes de silos e as rodovias se transformaram em pátios de estacionamento. As conseqüências dessa falta de planejamento estão à vista de todos, como têm mostrado com insistência as emissoras de TV e os jornais.

Essa mesma falta de visão ainda está presente na recente Medida Provisória nº 595, que autoriza a instalação de terminais-indústria, ou seja, espaços localizados fora dos portos públicos, mas nas suas proximidades. Isso significa que as nove cidades da Região Metropolitana de Baixada Santista deverão atrair mais empresas concessionárias interessadas em arrendamento de terrenos para atividades portuárias. É certo que a população do Litoral paulista, bem mais carente que a do Interior do Estado, precisa de maior número de empregos qualificados, mas é preciso levar em conta também se essa estratégia não irá acarretar maiores impactos no trânsito da região.

Ora, o que é preciso ficar claro é que nem o Porto de Santos nem os demais são locais de armazenagem de mercadorias, mas apenas lugares de embarque ou desembarque de produtos, que, aliás, deveria ocorrer no menor espaço de tempo possível, como se dá em portos de países mais desenvolvidos.

É verdade também que a solução do caos viário no Porto de Santos exige a instalação de pátios reguladores não só na Baixada Santista como no Planalto paulista, permitindo que os caminhões estacionem enquanto aguardam o horário exato para acessar os terminais e descarregar a mercadoria, de preferência com rapidez. Tudo controlado por programas digitais. Mas só isso não bastará, se os caminhões do agrobusiness continuarem a cruzar sem controle o Brasil em direção ao Porto.

É preciso também criar silos e centros de distribuição na Região Centro-Oeste, de modo que a capacidade de armazenagem seja suficiente para abrigar duas safras e ainda cobrir um crescimento de produção que, a se levar em conta o ritmo atual, será inevitável nos próximos anos. Milton Lourenço - Brasil

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Milton Lourenço é presidente da Fiorde Logística Internacional e diretor do Sindicato dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística do Estado de São Paulo (Sindicomis) e da Associação Nacional dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística (ACTC). E-mail: fiorde@fiorde.com.br. Site: www.fiorde.com.br.

quinta-feira, 30 de maio de 2013

Competitividade 2013

Portugal e Brasil, os únicos países lusófonos classificados no Índice de Competitividade Mundial 2013, divulgado hoje, 30 de Maio de 2013 pelo International Institute for Management Development (IMD) na Suíça, caem cinco posições em relação ao ano anterior.

Portugal está agora na 46ª posição, 41º lugar no ano passado, foi ultrapassado pelas Filipinas, indonésia, Rússia, Perú e pela estreante na classificação Letónia. O Brasil encontra-se no 51º posto, antes era 46º, tendo perdido posições para a Rússia, Eslováquia, Colômbia e Ucrânia, além da Letónia.

Ambos os países estão no grupo dos perdedores, ao caírem pelo menos cinco lugares entre 1997 e a classificação actual. O IMD considera que Portugal não diversificou a sua indústria e não conseguiu controlar os gastos públicos. O Brasil tem sentido a competitividade dos países emergentes asiáticos.

Esta Índice de Competitividade Mundial do IMD abrange 60 economias, sendo liderada pelos Estados Unidos da América, seguida da Suíça e Hong-Kong. Os países que mais têm subido nesta classificação de competitividade desde 1997 são: Alemanha, China, Coreia do Sul, Israel, México, Polónia, Suécia, Suíça e Taiwan. Para mais informações aceda aqui. Baía da Lusofonia

George

Adeus a Georges Moustaki

“Lembro-me de momentos felizes, no nosso apartamento do Rio, na Equitativa, em Santa Teresa: os raios do sol que, das janelas, batiam nas paredes brancas, numa atmosfera ao mesmo tempo fresca e quente; eu desenhando em papéis, paredes, capas de LPs, quadro negro, cada traço representando para mim uma primeira idéia de luto, pois sabia que estes desenhos desapareceriam logo e para sempre.

Devia ser sábado, domingo ou feriado, já que, somente nestes dias, eu tinha minha mãe e meu pai comigo em casa, cozinhando, lendo, escrevendo, ocupando-se das plantas tropicais que colonizavam nossa casa. Cada um no silêncio de um cômodo. Não os via, cada um de nós ficava no seu próprio mundo, mas nos encontrávamos todas dentro de um espaço envolvido pela música.

A música daqueles dias felizes era cantada pela única voz que, ainda hoje, consegue-me fazer sorrir até mesmo nos momentos mais tristes, ou a dar um sentido vital à melancolia. Um grego maldito, Georges Moustaki, que cantava em francês Sacco et Vanzetti de Morricone, Le temps de vivre, Le Métèque, Ma Solitude, Ma Liberté, entre as mais belas músicas que existem.

Gênio daquela França sem fronteiras, esquerdista, livre, gentil, doce, que era pátria de todos nós, judeus errantes exilados, sem pátria por escolha ou por religião, sem partido, num país onde podia-se não ter um, unidos a todos aqueles que, em Moustaki, ouviam uma das mais belas gerações que a humanidade teve a honra de conhecer. Ele que, para a criança que eu era, era parecido com Marx, com os cabelos aos quatro ventos. Ele que cantava, sem a nomear, a revolução permanente.

Moustaki cantou Portugal, e neste país, eu o apresentei aos meus amigos, este famoso desconhecido, cantando e dançando com eles, na felicidade de um apartamento de paredes brancas com vista para o Douro, as músicas brasileiras, risonhas de Moustaki: Danse, Donne du Rhum à Ton Homme, La philosophie Batucada... "nous avons toute la vie pour nous amuser, nous avons toute la mort pour nous reposer, là là là là là...". Bem dito, Georges.

Ao escutar sua música, sempre pensei que era assim que deveria ser cantado o amor, aquele que sentimos por dois pais que estão ali, cada um no silêncio de um cômodo, ou pelas pessoas que compõem o jardim de nossa vida. "Il y avait un jardin qu'on appelait la terre".

Adeus companheiro Georges. Um Dia Foste Embora, tinha que ser. Obrigado. Nunca deixarei de te ouvir e de te cantar: "Adolescência" e... "Dire qu'il faudra mourir un jour".” Gregorio Maestri – Brasil in “Diário da Liberdade”


quarta-feira, 29 de maio de 2013

Europa...



Há imagens que valem por mil palavras
 
Europa
 
 
Portugal
 
 


Reagir

                            É hora de reagir
                                                                                             

SÃO PAULO – Estudo feito pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) mostra que o Brasil está em xeque no tabuleiro do comércio exterior. Embora o governo federal tenha baixado quase 20 pacotes desde a eclosão da crise financeira internacional em 2008, nada foi suficiente para alterar um quadro de declínio na participação do País no comércio global.

Nem mesmo a redução de juros e a manutenção do dólar na casa dos R$ 2,00 foram fatores capazes de mudar esse quadro preocupante. O resultado disso é que está cada vez mais difícil vender produtos nacionais no exterior, enquanto a participação dos importados no consumo dos brasileiros não para de crescer.

Diante de uma infraestrutura pública pesada e ineficiente que só aumenta os custos, uma burocracia que não dá sinais de que possa ser reduzida a níveis civilizados e uma carga tributária assustadora, a indústria se contrai e tende a investir pouco à espera de horizontes mais favoráveis. Sem contar que o Brasil não participa de nenhum bloco econômico de peso, já que o Mercosul só tem retrocedido. Basta ver que hoje as trocas dentro do Mercosul representam apenas 12% do comércio exterior dos países-membros, quando já foram 17%.

E, no entanto, não deveria ser assim, pois, depois do fracasso da Rodada Doha, cujo objetivo é reduzir as barreiras comerciais, a tendência é o mundo regionalizar-se. Para piorar, ao menos em relação ao Brasil, EUA e União Europeia desenvolvem amplas negociações para a eliminação de barreiras para a circulação de bens e serviços. Isso significa que cada vez haverá menos espaço para os produtos manufaturados brasileiros.

É hora, portanto, de reagir e estabelecer um plano estratégico para a reinserção do Brasil no comércio exterior, a partir da eleição do diplomata Roberto Azevêdo para a direção-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), o que se pode dar com a reativação das negociações iniciadas há mais de uma década entre Mercosul e União Europeia. E quem sabe com a assinatura de outros acordos de livre-comércio ou de preferências tarifárias, a exemplo daqueles que foram firmados com Israel, Palestina e Índia que, se não representam muito, ao menos constituem um bom começo. Um grande parceiro pode ser o México, que já manifestou vivo interesse em firmar esse tipo de tratado.

Para tanto, porém, o Brasil precisa superar as dificuldades que se levantam para a exportação de manufaturados, o que equivale a dizer que o País precisa assegurar custos mais baixos de produção. E deixar de depender do agronegócio para equilibrar a balança comercial, valendo-se de uma circunstância episódica que mantém em alta os preços das matérias-primas e insumos.

Por fim, o governo precisa deixar de misturar política com economia e passar a encarar a Área de Livre Comércio das Américas (Alca) como, de fato, ela é, ou seja, uma grande oportunidade de negócios. Até porque os EUA compram do Brasil não só pastas químicas, ferro-liga, petróleo em bruto e café em grão como manufaturados de elevado teor tecnológico, como aviões. Mauro Dias - Brasil

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Mauro Lourenço Dias, engenheiro eletrônico, é vice-presidente da Fiorde Logística Internacional, de São Paulo-SP, e professor de pós-graduação em Transportes e Logística no Departamento de Engenharia Civil da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). E-mail: fiorde@fiorde.com.br Site: www.fiorde.com.br

terça-feira, 28 de maio de 2013

Vidas

Muitas vezes pensamos na língua galega como um instrumento que nos abre possibilidades noutros países de fala lusófona, mas raras vezes reparamos em que, para muitas pessoas, o português também é um instrumento para viver na Galiza. Paulo Alexandre é uma dessas pessoas. A sua ferramenta de trabalho é a palavra. Conhecido por fazer monólogos na zona velha de Compostela, também é ator de teatro e televisão. Encontro com ele no bar As Dúas, onde vai atuar numa festa solidária com o seu amigo Paterne, um senegalês multado por não ter “papeis”.

Como chegas a Galiza?

Primeiro estive em Portugal, onde estudei e trabalhei na construção. Ali conheci uma rapariga galega que me convidou a vir para a Galiza trabalhar como um rei. Eh pá! Eu encantado. Mas quando cheguei era para fazer de rei Baltasar.

Num tempo, a rapariga, que era minha namorada, arranjoume um emprego numa granja de porcos. Mais tarde comecei a dedicar-me ao mundo artístico e comecei a trabalhar de servidor, frente ao público. Fiz um curso de teatro no Espazo Aberto de Sam Pedro e comecei a trabalhar com a companhia Cámara Ditea. Mais tarde participei no programa land Rover da TvG fazendo humor e fiz alguma curta-metragem e longa-metragem.

Recentemente terminei um documentário que fala para o Brasil em termos linguísticos: há que reparar em que afinal, um galego, um angolano e um brasileiro entendemo-nos perfeitamente. Há que dar a conhecer a língua galega no mundo porque tem muito a ver com o português igual que o português tem muito a ver com o galego.

É raro ver presença lusófona na TVG

Eu fiz os meus sketches em galego, o público era galego, e todo o mundo me entende perfeitamente.

A situação é complicada para qualquer imigrante e o cenário da cultura também é precário. É mais difícil dedicar-se a isto sendo imigrante?

É. Eu comecei a trabalhar na hotelaria, Compostela é uma cidade universitária e portanto há muito bar. Mas o mundo artístico nom é fácil para um imigrante. Tive sorte com determinadas coisinhas que fui fazendo, vou enviando os meus currículos a produtoras, mas nom é fácil.

Como se faz humor em Angola? Em Galiza temos a retranca.

Há determinadas expressões que nos custa entender aos imigrantes. Atendendo à vossa cultura, por razões históricas, os galegos são muito desconfiados e por isso tenhem a retranca. Existe essa realidade cultural fruto dessa história, mas a nós toca-nos outra.

Muda muito a maneira de fazer humor em Angola?

É um bocado diferente. vai um exemplo: Na década de 80 e 90, a juventude angolana começou a emigrar para Portugal e a maioria trabalhava na construção. Na hora de comer -que nós chamamos “almoço” e aqui é o contrário, o nosso almoço é o “jantar”- havia umha separação: os angolanos de uma banda e os portugueses da outra. Que é o que aconteceu? Um dos portugueses, enquanto comiam a sopa, viu um angolano a comer a carne, mas também o osso da carne. o português foi preguntar ao angolano: “Se tu aqui estás a comer os ossos da carne, lá na Angola, que é o que comem os cães?”. o angolano, após olhar os portugueses, respondeu: “lá na Angola os cães comem sopa”.

Além do português, em Angola falam-se mais línguas?

No meu país há entre oito línguas nacionais. Mas a língua oficializada é o português. Eu falando português estando na Galiza, torna-me mais doada a comunicação. Fum criado em português.

No norte de angola falam kimbundu, no sul falam umbundu, e em vários pontos de Angola falam-se outras línguas que tenho que confessar que não sei porque emigrei logo para Portugal, depois para a França, para o Brasil e, por último, para aqui.

Que status crês que deveriam ter todas essas línguas?

Acho que, como acontece na Galiza, que dá a conhecer a língua galega no mundo, no meu país as línguas nacionais deveriam ser reconhecidas e também dar-se a conhecer, porque som línguas nacionais e isso está bem conservá-lo. os portugueses levaram a igreja católica para Angola e colonizaram-nos com a sua língua, mas as línguas verdadeiras de Angola som o kimbundu e o umbundu, entre outras. o português é uma língua implantada. Em termos de comunicação estamos contentes, podo viver na Galiza falando português e sou perfeitamente entendido.

Quando vou almoçar às casas dos meus amigos na aldeia, as suas avós, após servirem a comida, sempre perguntam: “Paulo, queres um pouco de molho?”. Nós em Angola falamos “molho”, na Galiza falam “molho” as avós, mas as novas gerações empregam o castelhano “salsa”. isso não é galego. Encanta-me ouvir as avós porque falam um galego mais parecido ao português de Angola.

A gente gosta mais da tua forma de falar quando fazes um monólogo?

A gente gosta mais quando falo português, que tem mais a ver com o galego antigo. Estamos na Galiza e a gente está contente de ouvir galego numa pessoa de fora como eu. Muita gente fica surpreendida de que um imigrante fale galego! Raul Rios – Galiza in “Novas da Galiza”


segunda-feira, 27 de maio de 2013

Alimentos

Um relatório da Human Rights Watch vem denunciar as dificuldades que aproximadamente 1400 famílias moçambicanas enfrentam para terem acesso a alimentos, água e trabalho, depois de terem sido realojadas em terras áridas, longe de linhas de água e de mercados.


Estas famílias foram obrigadas a abandonar as suas terras onde faziam cultivo de auto-suficiência, após o governo ter concedido a empresas multinacionais a exploração de carvão na região.


Moçambique, um dos países mais pobres do mundo necessita deste tipo de investimentos para ajudar o país a um maior desenvolvimento e as concessões estabelecidas com as empresas internacionais cobrem 34% da província de Tete, mais precisamente 3,4 milhões de hectares. As previsões apontam para reservas de carvão num total de 23 mil milhões de toneladas que estão praticamente inexploradas.


O relatório vem chamar a atenção para a necessidade do governo moçambicano e as empresas que negociaram o acordo de assegurarem que estas famílias tenham acesso a terras férteis para poderem continuar a sua agricultura de subsistência e de meios compensatórios pelos prejuízos que entretanto os afectaram. Baía da Lusofonia


domingo, 26 de maio de 2013

OUA

A INTEGRAÇÃO REGIONAL NOS 50 ANOS DA OUA
 
A integração económica regional não foi um objectivo claramente expresso no documento constitutivo da Organização de Unidade Africana (actual União Africana) que agora celebra os seus primeiros 50 anos de vida.
 
Num texto que escrevi há precisamente dois anos, por ocasião dos 48 anos dessa organização continental, fiz questão de descrever os 6 grandes objectivos definidos e subscritos pelos representantes dos 32 Estados africanos presentes em Addis Abeba, no dia 25 de Maio de 1963. De apenas dois desses objectivos se podia subentender o desígnio da cooperação económica. Não se aludiu, explicitamente, a qualquer modelo de integração económica entre os Estados.
 
É perfeitamente compreensível que assim tenha sido, uma vez que, na altura, a tónica política era outra e tinha mais a ver com a solidariedade africana na luta pela libertação dos territórios ainda sob domínio colonial – entre os quais estava Angola. Além disso, a maioria dos Estados africanos independentes mantinham fortes vínculos económicos com as antigas potências coloniais, dificultando laços de estreita cooperação interna em África. A preocupação com a integração regional africana veio depois.
 
Porém, é sempre bom recordar, e apenas como registo histórico, que, em 1917, as autoridades britânicas criaram uma União Aduaneira vinculando as então colónias britânicas do Uganda e Quénia, a que se juntou, em 1927, o território da Tanganica. Esta referência africana (sob alçada colonial) tem talvez um significado histórico quase idêntico ao da criação, em 1834, da Zollverein, por Otto Von Bismarck, o Chanceler responsável pela unificação da Alemanha. A Zollverein iniciou com 39 estados do norte alemão, mas foi dissolvida em 1866. Restabelecida em 1867, passou a incorporar já os estados alemães do sul. Foi-lhe posto um fim em 1871, com a consumação da unificação alemã. Mas, voltemos à Africa.
 
Ao longo dos anos e, sobretudo, a partir da década de 70 do século XX, emergiram no nosso continente variadas experiências de integração regional, nem todas, porém, bem sucedidas ou bem articuladas. Vou, por isso, referir apenas as experiências mais notórias.
 
Pelo Tratado de Lagos de 1975, surgiu a CEDEAO (ECOWAS), Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (Economic Community of  West Africa), integrando os seguintes 15 países: Benin, Cabo-Verde (1976), Nigéria, Burkina Faso, Côte d’Ivoire, Ghana, Guiné, Gambia, Guiné-Bissau, Libéria, Mali, Níger, Senegal, Serra Leoa e Togo.
 
Em 1993, procedeu-se à revisão do Tratado de Lagos como expediente para acelerar o processo de integração económica regional e também a cooperação na esfera política. Para tal efeito, criou-se mesmo um Parlamento (com sede em Abuja), um Conselho Económico e Social, e um Tribunal para assegurar a execução das decisões. Contudo, a CEDEAO tem um forte handicap que poderá dificultar a sua evolução para União Aduaneira: 7 dos países integrantes pertencem também à UEMOA (União Económica e Monetária dos Estados da África Ocidental, com uma moeda única, o franco CFA).
 
A COMESA, Mercado Comum dos Estados da África Oriental e Austral, constituída por 19 países da África Oriental e Austral, e 2 países da África do Norte (Líbia e Egipto) surge em 1993, em substituição da PTA (Área de Comércio Preferencial), estabelecida em 1981, com o objectivo do estabelecimento de uma área de livre comércio. Falo da COMESA sobretudo pela implicação que ela poderá ter no desenvolvimento da SADC, como iremos ver, no final do texto.
 
A CEEAC, Comunidade Económica dos Estados da África Central, foi criada em 1981, com sede em Libreville, no Gabão. Porém, apenas começou a operar em 1985. Integra países como Camarões, Burundi, República Centro-Africana, Chade, Guiné-Equatorial, Gabão, Ruanda, São Tomé e Príncipe, RDC e Angola. Tal como as anteriores organizações, a CEEAC pretende:
 
i) Promover a integração económica regional dos países membros;
ii) promover o desenvolvimento auto-sustentável;
iii) promover a estabilidade económica;
iv) promover a melhoria da qualidade de vida dos cidadãos dos países membros.
 
A UMA, União Árabe do Magreb, foi criada em 1989, pelo Tratado de Marraquexe (Marrocos), apontando para os seguintes objectivos:
 
i) Promover a livre circulação de pessoas, serviços, mercadorias e capitais entre os Estados membros (Tunísia, Argélia, Marrocos, Líbia e Mauritânia);
ii) adoptar políticas comuns, em matéria económica (desenvolvimento industrial, comercial, agrícola) e social.
 
A CEN – SAD, Comunidade Económica dos Estados Sahelo-Saharianos, foi estabelecida em 1998, em Tripoli, Líbia, com vista à criação de uma União Económica, e integrando os seguintes países: Benin., Burquina Faso, República Centro-Africana, Costa do Marfim, Djibuti, Egipto, Eritreia, Gambia, Guiné-Conacri, Guiné-Bissau, Libéria, Líbia, Mali, Marrocos, Níger, Nigéria, Senegal, Sudão, Somália, Chade, Togo, Tunísia.
 
A CAE, Comunidade da África Oriental, é um desenvolvimento da União Aduaneira criada pelas autoridades britânicas, na altura em que o Quénia, Uganda e Tanzânia ainda eram suas colónias. Em 2007, passou a incorporar igualmente o Burundi e o Ruanda. Mantém a sede em Arusha (Tanzânia). O objectivo fundamental é o mesmo: aprofundar a cooperação económica, política e social entre os Estados-Membros.
 
A SADC, Comunidade de Desenvolvimento da África Austral, criada pelo Tratado de Windhoek de 1992, é uma evolução da antiga Conferência de Coordenação e Desenvolvimento da África Austral, SADCC, e associa países como Botswana, África do Sul, Moçambique, Namíbia, Suazilândia, Zâmbia, Lesotho, Malawi, Zimbabwe, Ilhas Maurícias, República Democrática do Congo, Tanzânia, Madagáscar. É, seguramente, o processo de integração africana mais evoluído, com os seguintes objectivos declarados:
 
i) Desenvolvimento económico, alívio da pobreza, melhoramento do nível de vida dos seus povos e apoio aos mais desfavorecidos, através da integração regional;
ii) desenvolvimento de valores políticos comuns, sistemas e instituições;
iii) promoção e defesa da paz e da segurança regional;
iv) promoção do auto-desenvolvimento, baseado no esforço colectivo e interdependência dos países-membros;
v) alcance da complementaridade entre as estratégias e programas nacionais e regionais;
vi) reforço e consolidação dos velhos laços históricos, sociais e culturais entre os povos da região.
 
A SADC vive no seu seio uma grande contradição: 5 dos países integrantes já constituíram uma União Aduaneira, a SACU, União Aduaneira da África Austral (Southern African Customs Union), nomeadamente, África do Sul, Namíbia, Botswana, Lesotho e Suazilândia. Estes 5 países são uma Zona de Livre Comércio já consolidada, formando, assim, uma espécie de Bloco Central dentro da SADC. 7 outros países integram ainda a COMESA (Common Market for Eastern and Southern África), uma associação de 21 países que também, aparentemente, pretende evoluir para União Aduaneira.
 
A OMC não permite que um mesmo país integre mais de uma União Aduaneira, uma vez que numa União Aduaneira deixam de existir tarifas aduaneiras; eliminam-se as restrições não-tarifárias; estabelecem-se regras comuns nas relações comerciais com o exterior, pelo estabelecimento de uma Tarifa Externa Comum. Tudo isso vem a constituir-se num sério obstáculo para que a SADC se constitua em verdadeira União Aduaneira. Pinto de Andrade - Angola


sábado, 25 de maio de 2013

Eleições II

 
Amanhã, dia 26 de Maio de 2013, aproximadamente, 300 mil eleitores irão exercer o seu direito de voto na Guiné Equatorial. Ao sufrágio eleitoral concorrem uma coligação liderada pelo partido do Presidente Teodoro Obiang, o Partido Democrático da Guiné Equatorial (PDGE) a que se associaram dez (!) partidos da oposição, o partido da Convergência para a Democracia Social (CPDS), que nas últimas eleições tinha conquistado o único deputado da oposição num total de cem e a Acção Popular da Guiné Equatorial (AP).
 
Estão em disputa, cem lugares da câmara baixa do parlamento e 55 membros eleitos pela população para o senado, além dos 334 lugares de conselheiros locais para ocupar os cargos de 30 municípios.
 
De fora destas eleições está o principal partido da oposição, o ilegalizado Partido do Progresso (PP) de Severo Matias Moto Nsá, exilado em Espanha. Este partido apela aos seus eleitores que não se desloquem às mesas de votos, considerando que não votar é o melhor caminho para a Guiné Equatorial, esquecendo-se que cada voto a menos nos partidos da oposição, é um deputado a mais eleito pela coligação liderada pelo partido que está no poder.
 
Embora a grande maioria da comunidade internacional não tenha acesso ao desenrolar das eleições na Guiné Equatorial, estará presente uma delegação de 40 observadores da União Africana (UA), que completa hoje 50 anos, chefiada pela antiga Primeiro-ministro do Senegal Mame Madior Boye e que tem na sua comitiva um representante de Cabo Verde e Moçambique.
 
Bem atento ao desenvolvimento do acto eleitoral está o embaixador dos Estados Unidos da América, Mark L. Asquino, que a uma pergunta de um jornalista à saída do Ministério das Relações Exteriores afirmou: “Nós como representantes do governo dos EUA na Guiné Equatorial estamos muito interessados como observadores na condução das eleições. (…) Eu tenho bem presente as palavras do Presidente Teodoro Obiang Nguema nas vésperas da campanha eleitoral, em que manifestou a esperança de que estas eleições ocorram num clima de democracia e de respeito pelos direitos humanos. A representação diplomática dos Estados Unidos da América também seguirá essa linha, porque o meu governo está muito interessado em apoiar e acompanhar este processo, queremos afirmar claramente que não apoiamos nenhum partido político, apoiamos a democracia, o respeito pelos direitos humanos e que as eleições sejam realizadas numa atmosfera de liberdade pelas organizações democráticas. Este é o compromisso dos Estados Unidos da América para participar como observador nesta eleição.”
 
As três forças políticas que concorrem a estas eleições de 26 de Mio de 2013 apresentam nos seus programas como principais objectivos os seguintes temas: Convergência para a Democracia Social (CPDS) - Em defesa dos trabalhadores e do trabalho é um direito que deve ser exercido em igualdade de oportunidades e de acordo com a capacidade de cada um; acesso gratuito a uma saúde pública de qualidade; defesa do regime republicano; igualdade de todos os guineenses; uma justiça imparcial; contra o abandono dos jovens; contra a corrupção e pela distribuição justa da riqueza nacional; a favor dos agricultores; pela defesa dos direitos da mulher; pelo direito à livre reunião dos cidadãos, pela liberdade de expressão através dos partidos políticos, por uma amnistia geral dos presos políticos.
 
A Acção Popular da Guiné Equatorial (AP) defende no seu programa uma iniciativa legislativa para revogar todas as principais leis existentes no país que visam apenas beneficiar quem está no poder e apresentar novos projectos legislativos que estejam ao serviço da população em geral.
 
 A coligação liderada pelo Partido Democrático da Guiné Equatorial (PDGE) define no preâmbulo do seu programa que ele está orientado para a dinâmica da criação e manutenção de um desenvolvimento político, económico e sociocultural que favoreça rápida, equilibrada e harmoniosamente, a República da Guiné Equatorial, a fim de fazer um país emergente e desenvolvido tendo como objectivo primeiro, o Horizonte 2020. O programa está estruturado em cinco secções distribuídos pelos sectores político, público, social, produtivo e pelo sector das infra-estruturas. Destacamos no sector social as seguintes propostas: expansão do sistema escolar para uma cobertura a todos os níveis do ensino; aumentar o recrutamento de professores e implementar um sistema universal de bolsas de estudo; continuar a construção de equipamentos escolares, construção de centros de educação especial; criar uma rede nacional de museus provinciais. Na área da saúde, o principal objectivo é modernizar a infra-estrutura hospitalar nacional; criar um centro de referência para a prevenção e controle de doenças endémicas, reforçando o controlo das doenças crónicas não-transmissíveis; construir enfermarias pediátricas, e continuar com o fornecimento antiviral aos pacientes com Sida. Há também várias iniciativas para a igualdade do género entre homens e mulheres; implementação de programas de sensibilização sobre os direitos das mulheres e, no aspecto do trabalho, a prioridade continua a ser a base de contratação de mão-de-obra local, juntamente com o fortalecimento e adequação da formação profissional e da universidade às necessidades do mercado de trabalho. Baía da Lusofonia


Implicância?

                        Porto de Santos em crescimento
                                                                                           
SÃO PAULO - Não se trata de implicância, mas os números mostram que a situação de apagão logístico que vive o Porto de Santos, em função da supersafra de grãos e açúcar, deu-se em grande parte por causa da ineficiência dos gestores públicos para aplicar os recursos disponíveis no Orçamento da União. Ou seja, se a burocracia brasileira fosse mais ágil nas intervenções de interesse da economia nacional, provavelmente, o Porto de Santos não teria passado pelos apuros dos últimos meses.
À falta de dados mais recentes, basta ver que de 2002 a 2011 o Porto de Santos deixou de receber R$ 1,3 bilhão que estiveram consignados em nome da Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp) para investimentos em infraestrutura portuária. Desses recursos, a estatal só conseguiu utilizar R$ 356 milhões, ou seja, 26%. É muito pouco.
Tivesse tido agilidade para aplicar aqueles recursos disponíveis, o Porto já teria finalizado a construção das avenidas perimetrais tanto na margem direita como na esquerda, concluído o projeto Mergulhão, que vai segregar o fluxo de caminhões dos trens de carga na margem direita e ainda financiado uma ligação seca – que tanto poderia ter sido uma ponte como um túnel submerso – que unisse as duas margens para o uso prioritário de veículos de carga.
Dessas obras projetadas, apenas a construção das avenidas perimetrais está bem encaminhada e com conclusão prevista para 2015. As demais nem saíram do papel e continuam nos chamados fóruns de discussão. E, no entanto, graças a investimentos privados, o que se prevê é que o Porto de Santos terá sua capacidade duplicada até o final deste ano de 2013.
Ou seja, se em 2011 Santos tinha capacidade de movimentar 3,2 milhões de TEUs (unidade equivalente a um contêiner de 20 pés) por ano, ao final de 2013 poderá operar 8 milhões de TEUs anuais, a mesma quantidade que os demais portos brasileiros juntos poderão movimentar. Isso em função da entrada em operação do terminal da Embraport na margem esquerda, que poderá movimentar 2 milhões de TEUs e 2 bilhões de litros de etanol por ano, e da Brasil Terminal Portuário (BTP), que deverá operar inicialmente 1,1 milhão de TEUs e 1,4 milhão de toneladas de líquidos por ano.
É de ressaltar que apenas esses dois terminais vão responder por 65% do aumento da capacidade prevista para o Porto de Santos até o final do ano. Sem contar que empresas que já operam continuam investindo na ampliação de sua capacidade de operação, entre elas Santos Brasil, Libra e Tecondi.
Em outras palavras: só o modal rodoviário não será suficiente para atender à chegada e escoamento de cargas. Será preciso investir não só no modal ferroviário, que hoje transporta apenas 22% das cargas do Porto, como no hidroviário, ou seja, no sistema Tietê-Paraná. Quando as seis barragens previstas para o sistema estiverem construídas, com otimismo talvez por volta de 2016, será possível integrar a hidrovia ao corredor ferroviário de exportação Campinas-Santos, em Piracicaba (no Porto de Artemis) e Salto. Só assim os problemas de trânsito rodoviário na zona portuária deixarão de piorar. Mauro Dias - Brasil
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Mauro Lourenço Dias, engenheiro eletrônico, é vice-presidente da Fiorde Logística Internacional, de São Paulo-SP, e professor de pós-graduação em Transportes e Logística no Departamento de Geotecnia e Transportes da Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). E-mail: fiorde@fiorde.com.br Site: www.fiorde.com.br


sexta-feira, 24 de maio de 2013

Através


Às editoras chegam, para além de textos suscetíveis de serem publicados, ideias. A de Carlos Taibo parecia ótima: entrevistar pessoas do mundo cultural galego a respeito da identidade da língua galega e a posição da Galiza a respeito da Lusofonia.

Na ATRAVÉS tentamos levar a ideia para à frente, mas não conseguimos. Passado um tempo, o projeto chegava ás nossas mãos da autoria do próprio Carlos, em parceria com o sociólogo Arturo de Nieves. A ideia tornou-se agora um livro ao acesso dos galegos e galegas interessados na língua, um clã cada vez mais numeroso.

No texto da contracapa o leitor fica informado do que pode encontrar no seu interior:

Este livro tem a sua origem em muitas conversações informais que os seus coordenadores mantiveram com figuras da cultura e, em geral, da vida galegas. As discussões relativas à condição da ortografia oficial ou as relações entre a Galiza e o mundo lusófono são frequentes e, além disso, e amiúde, duras e descorteses, circunstância que obriga a identificar uma matéria sensível que convém -esta é a nossa opinião- dessacralizar, tanto mais quanto que estamos a falar dum debate importante que ultrapassa o âmbito meramente ortográfico-linguístico.

Nesta obra o nosso objetivo, modesto, era recolher a opinião de pessoas importantes na vida galega em relação com as discussões correspondentes.

Todas estas pessoas entrevistadas no livro deviam responder a três questões ligadas entre si: a adequação da vigente norma institucional para o galego, a relação entre galego e português e a vinculação da Galiza com o resto da lusofonia.

Até cem pessoas foram entrevistadas mas foram 56 as que decidiram responder as anteditas questões. Polo livro desfilam pessoas do mundo literário, da historiografia, do ativismo linguístico e da Filologia, da política, da música e ainda de outras áreas. A lista inteira pode-se consultar aqui.

Seria tentador colocar agora aquelas respostas que me chamaram mais a tentação mas vou reprimir o desejo para dar rédea solta à vossa curiosidade, portanto ao vosso desejo. Esta semana teremos a sorte de poder interatuar com os autores. Estarão connosco nas cidades de Vigo, de Compostela e da Corunha e talvez contem mais histórias das que aparecem no livro, de nós depende que o façam. Valentim Fagim - Galiza in "Portal Galego da Língua”




quinta-feira, 23 de maio de 2013

Moustaki


Bahia

Bahia des pêcheurs des marins
Bahia des filles du port
Bahia de tous les saints
Bahia de Saint-Salvador

C'est là qu'un beau jour a commencé le Brésil
Et sa première capitale
C'est là que l'Afrique vit encore en exil
Et parle la langue du Portugal

Bahia des pêcheurs des marins
Bahia des filles du port
Bahia de tous les saints
Bahia de Saint-Salvador

C'est là que les hommes savent encore se battre
A pieds nus ou à mains nues ou au couteau
Pour les beaux yeux d'une jolie mulâtre
Au risque d'y laisser la peau

Bahia des pêcheurs des marins
Bahia des filles du port
Bahia de tous les saints
Bahia de Saint-Salvador

J'ai écouté chanter les fils de Gandhi
J'ai vu danser les filles de Xango
C'est là que j'ai retrouvé le paradis
Du côté de chez Jorge Amado

Bahia des pêcheurs des marins
Bahia des filles du port
Bahia de tous les saints
Bahia de Saint-Salvador

Comme ma chanson n'était pas terminée
Je l'ai emportée avec moi
Je reviendrai un jour te la fredonner
Sur la plage d'Itapoa

Bahia des pêcheurs des marins
Bahia des filles du port
Bahia de tous les saints
Bahia de Saint-Salvador...

George Moustaki – Senhor de Mil Lugares

 Para melhor conhecer George Moustaki aceda aqui

Em memória de Giuseppe Mustacchi (Alexandria 03 de Maio de 1934 – Nice 23 de Maio de 2013)

MP 595

                        A MP 595 e suas consequências

SÃO PAULO – Se para o aperfeiçoamento da democracia a aprovação, a toque de caixa, pelo Congresso da Medida Provisória 595 nada contribuiu – pelo contrário –, para a economia do País não há dúvida que trouxe alguns avanços, ainda que a Lei nº 8 630/93 (Lei de Modernização dos Portos) não estivesse totalmente superada. Afinal, com o novo marco regulatório, a expectativa que fica é que haja maior concorrência entre operadores e, portanto, maiores investimentos, o que poderá  redundar em mais eficiência na atividade portuária e menos custos das operações.

Das discussões no Parlamento, o que ficou é que o cerne da MP 595 foi preservado, ou seja, a possibilidade de abertura para que terminais privados que movimentam cargas próprias também o possam fazê-lo para terceiros, o que deverá atrair novos investimentos.

Já as demais questões se resumem a uma queda-de-braço entre o governo e grupos privados. A renovação dos contratos assinados antes da Lei 8 630/93 não ficou como o governo queria e, por isso, é um ponto que pode sofrer o veto presidencial. Para o governo, esses contratos estão vencidos e, portanto, é preciso licitar os terminais novamente. Por enquanto, de acordo com a MP aprovada pelo Congresso, esses contratos podem ser renovados pelo mesmo prazo previsto no contrato de concessão, desde que haja investimentos.

Também a questão dos contratos novos não ficou como o governo imaginava, o que significa que também pode ser vetada. Ou seja, de acordo com o texto aprovado, as concessões serão feitas pelo prazo de 25 anos e obrigatoriamente renovadas por mais 25 anos, o que equivale a fazer uma concessão por meio século. Uma aberração que, provavelmente, sofrerá o veto presidencial.

De lamentar é que a licitação de áreas e de portos nos Estados tenha continuado como prerrogativa exclusiva da União, o que contraria uma tendência mundial no sentido de que o porto seja administrado pela comunidade que o cerca. Saiu derrotada, assim, a ideia da estadualização ou regionalização da administração das companhias docas. Com isso, persistirá o excesso de centralismo no planejamento e na fixação das tarifas, como se tem dado até agora. Ou seja: se o governo federal pretende estimular a competição entre os portos e dentro deles, não deveria definir as tarifas, deixando-as a critério de cada região.

Além disso, o que se teme é que a indicação para os postos de direção das estatais continue a funcionar como moeda de troca no jogo político-partidário. Nos últimos tempos, é de reconhecer que têm sido indicados técnicos de reconhecida experiência no setor, mas haverá sempre o risco da nomeação de apaniguados desqualificados, como ocorria há tempos não muito distantes.

Seja como for, o que se espera é que a MP 595 seja capaz de atender às necessidades que a forte expansão do movimento portuário está a exigir, ajudando a criação de uma infraestrutura suficientemente moderna e ágil para suportar as demandas de uma nova realidade econômica vivida pelo País. Milton Lourenço - Brasil
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Milton Lourenço é presidente da Fiorde Logística Internacional e diretor do Sindicato dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística do Estado de São Paulo (Sindicomis) e da Associação Nacional dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística (ACTC). E-mail: fiorde@fiorde.com.br. Site: www.fiorde.com.br.