Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Brasil 133 milhões acessos em banda larga

Brasil fecha 2013 com 133 milhões de acessos em banda larga. A banda larga móvel vem liderando a expansão do acesso do brasileiro à internet rápida, com crescimento de 51% nos últimos 12 meses

O Brasil fechou o ano de 2013 com 133,7 milhões de acessos em banda larga, com crescimento de 55% em relação a dezembro de 2012. Segundo levantamento da Associação Brasileira de Telecomunicações (Telebrasil), 47,7 milhões de novos acessos foram ativados nos últimos doze meses, num ritmo de ativação foi de 1,5 nova conexão por segundo.

A banda larga móvel, pelas redes de 3G e 4G, liderou a expansão dos acessos à internet, chegando em dezembro a 111 milhões de conexões, com 69% de crescimento em relação à 2012. Na banda larga móvel, 96,1 milhões são de conexões de celulares, incluindo os smartphones, e 15,3 milhões são terminais de dados, entre eles modems de acesso à internet e chips de conexão máquina-máquina (M2M).

A expansão também se deu na cobertura das redes de banda larga móvel, que cresceu 6%, com a ativação de 191 novos municípios em 2013. Ao todo, as redes de terceira geração estão instaladas em 3.476 municípios, onde moram 90% dos brasileiros. Esse total de municípios supera em mais de três vezes as obrigações de cobertura previstas no edital, que são de conectar 928 municípios até abril de 2013.

A nova tecnologia de quarta geração, que permite velocidade de conexão à internet até dez vezes mais rápida que a 3G, já conta com 1,3 milhão acessos. O 4G já chega a 80 cidades, que concentram 32% da população brasileira, A adoção do 4G no Brasil segue o mesmo ritmo de adoção do 3G, que também levou 10 meses desde o início da comercialização para alcançar 1,3 milhão de acessos.

Na banda larga fixa, os acessos somaram 22,3 milhões no fim de 2013. Desse total, 2,2 milhões de conexões foram ativadas nos últimos doze meses, com crescimento de 11% no período. A quantidade de acessos em banda larga fixa significa que 39% dos domicílios brasileiros urbanos têm internet de alta velocidade. A infraestrutura de banda larga fixa está presente em todos os municípios brasileiros. É por meio dessas redes que as concessionárias atendem com banda larga gratuita a mais de 66 mil instituições públicas de ensino fundamental e médio, pelo programa Banda Larga nas Escolas.

A banda larga no Brasil tem apresentado uma evolução significativa nos últimos cinco anos, período em que cresceu seis vezes, passando de 22 milhões para 133 milhões de acessos. A quantidade de novos acessos ativados a cada ano também aumentou. Em 2010, foram 14 milhões e em 2013, 47 milhões. O mês de dezembro, especialmente, bateu recorde, com 6,7 milhões de novos acessos. Esta evolução demonstra o papel fundamental das telecomunicações do Brasil de incluir um número cada vez maior de brasileiros na moderna sociedade do conhecimento. In “Telebrasil” - Brasil


Windsurf no Alentejo Interior

As águas do Alqueva serão o palco da primeira etapa do Campeonato Europeu de Windsurf, que se realiza a partir do dia 01 de Março de 2014, no Centro Náutico de Monsaraz.

O “2014 Formula Windsurfing European Cup Series” tem início na bacia hidrográfica do Guadiana, o maior lago artificial da Europa Ocidental, depois do encerramento das comportas da barragem do Alqueva em 2002, criando uma albufeira, à cota máxima, de 250 Km2.

Depois de Portugal, o campeonato continua na Lituânia, Alemanha, Finlândia, Estónia, Itália, Polónia, Letónia, Croácia, terminando em Setembro, novamente em águas italianas. Baía da Lusofonia  

quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Oportunidades de investimento na Guiné Equatorial

Nos próximos dias 03 e 04 de Fevereiro de 2014 vai realizar-se em Malabo, mais precisamente no Palácio de Conferências e Congressos da cidade de Sipopo, o Simpósio de Diversificação Económica de Emergência da Guiné Equatorial.

Conforme os organizadores oficiais deste certame afirmaram, em 2013, a República da Guiné Equatorial lançou a fase de "emergência" do seu ambicioso Plano Nacional de Desenvolvimento para o Horizonte 2020. Com base na infra-estrutura de qualidade que foi criado durante a primeira fase da "Transformação", o país está agora a concentrar os seus esforços no desenvolvimento de novas fontes de crescimento económico para assegurar a prosperidade sustentável para as gerações futuras.

Este simpósio é um convite ao mundo para participar na próxima fase de desenvolvimento da Guiné Equatorial. Pretende-se, como um fórum de investidores interessados, em aprender sobre as muitas oportunidades decorrentes dos sectores económicos emergentes, para discutir os seus pontos de vista com os principais intervenientes e decisores e de que maneira o país oferece condições para as por em prática. Ao mesmo tempo, o simpósio vai trazer ao país o conhecimento e a experiência de profissionais da política internacional para debater com o governo e o setor privado, as prioridades estratégicas de diversificação económica e compartilhar as experiências de soluções práticas realizadas em todo o mundo.

A primeira parte do evento inclui apresentações principais dos sectores-chave para a diversificação económica e o desenvolvimento de infra-estruturas, gestão macroeconómica, o capital humano e o clima de investimento. Estas questões serão discutidas com maior profundidade por duas mesas redondas de alto nível, com apresentações e opiniões dos decisores políticos nacionais e representantes de organizações internacionais.

Dados económicos da Guiné Equatorial


A segunda parte do evento caracteriza-se por sessões em cada uma das áreas prioritárias para o desenvolvimento: a pesca, petroquímica e mineração, serviços financeiros, agricultura e turismo.

Estarão presentes mais de 240 empresas estrangeiras, de diversos países como Portugal e Brasil e entre as individualidades convidadas destacam-se os antigos presidentes de Moçambique e Bolívia, Joaquim Chissano e Jorge Quiroga, bem como o antigo vice-presidente do governo espanhol, o economista Rodrigo de Rato. Poderá aceder aqui ao programaPara mais informações clique aqui. Baía da Lusofonia

Jornalista em Goa

É jornalista e tem 29 anos. Fernando Monte da Silva, descendente de uma família importante de Goa, faz uma apreciação muito geral à história e à actual realidade do Estado indiano de Goa. Para o também português, Goa está a perder identidade e tradição, muito por culpa, diz, dos hindis que vêm de outras cidades como Bombaím ou Nova Deli. Actualmente a desempenhar funções de relações públicas nos Jogos da Lusofonia, Monte da Silva, aconselha mesmo a quem quiser conhecer ainda um pouco da Goa do tempo português para se despachar pois daqui a 10 anos, a antiga colónia lusa será “como qualquer outro lugar na Índia”.

Fernando Monte da Silva - Foto: Gonçalo Lobo Pinheiro / Hoje Macau


Qual a sua ligação a Goa?

A ligação é familiar. Porque nasci cá e quase a totalidade da minha família está cá, tirando uns primos que moram em Lisboa. Gosto da maneira de como se vive em Goa. É como se diz em francês: “joie de vivre”. Na verdade, consigo ter uma forma de vida parecida com a que teria se estivesse em Portugal. Aqui também existe aquele calor humano, natural nos povos latinos.

Há quantas gerações é que os Monte da Silva estão em Goa?

Pelo que sabemos há treze. Somos goeses e fomos convertidos pelos portugueses. Essa é a verdadeira história das famílias goesas. Não concordo com o que se ensina nas escolas indianas que diz que os portugueses forçaram os indianos quando aqui chegaram. Penso que os indianos, na altura, foram convertidos de uma forma voluntária até porque os portugueses quando chegaram mostraram princípios e valores melhores do que aqueles que já existiam por cá. Por isso, muitas famílias acabaram por aceitar converter-se ao Cristianismo e adoptaram nomes portugueses, começando a falar a Língua Portuguesa. Foi isso que me foi transmitido dentro da minha família, geração após geração.

Sabe a razão dos ensinamentos de história não serem os mais correctos em relação a Portugal, como afirma?

Questões políticas, penso. Sei que o que aconteceu foi o contrário simplesmente porque existem até hoje, testemunhos escritos de pessoas que viveram naquela altura que mostram os factos como eles aconteceram. As pessoas que afirmam que a chegada dos portugueses à Índia não foi uma coisa muito agradável, ou são hindus ou são os políticos ou são as pessoas que acabaram por ser presos, por diversas razões, pelos governos portugueses. Disso há prova.

Pode afirmar, categoricamente, que a maioria dos goeses gostava dos portugueses?

Naquela altura existia uma classe muito alta, de elite mesmo, com capacidade de influência social e política, que sempre gostou mais dos portugueses. No nível mais baixo da população, as coisas não eram assim tão lineares porque eles achavam que os portugueses vieram para cá e prejudicaram a sua ascensão social e as oportunidades que existiam. A maioria das pessoas não sei se, de facto, gostava dos portugueses.

Mas, por exemplo, quando chegamos a Goa vemos que a população indiana gosta de cuidar dos edifícios antigos de traça portuguesa.

Atenção, o património está arranjadinho porque são as próprias igrejas que pagam esses melhoramentos e não o Governo de Goa ou até mesmo o Governo da Índia, como deveria ser sua obrigação uma vez que a maioria das igrejas e conventos são Património da Humanidade da UNESCO.

Curioso. E acha que destroem quando têm de destruir, ou pensam antes duas vezes?

Destruir não diria mas se a casa cai, a casa cai, se é que me entende. Aqui não se cuida de nada.

Outro dos patrimónios existentes é a Língua Portuguesa. Como é que uma pessoa como o Fernando, que ainda não tem 30 anos, fala tão bem português?

Isso acontece porque fui criado pelos meus avós, que falam fluentemente português e essa era a língua usada em casa. Para além, de todo o grupo de amigos também falarem português. Só falavam concani (língua falada em Goa) com os empregados domésticos e o inglês nunca equacionado. Aliás, o meu avô tinha uma frase célebre que era: ‘o inglês é língua para os burros e para os cavalos’ (risos). Portanto, o meu crescimento foi feito a aprender o português. O meu pai fala português e só por necessidade, muito por culpa da escola, é que comecei a falar fluentemente inglês e concani. A minha irmã também fala bem português.

Tem ideia de quantas pessoas da sua idade falam português em Goa?

Poucas. Talvez cerca de 20 pessoas. Penso que a minha irmã, que tem 24 anos, é a pessoa mais nova de Goa a falar português, actualmente. No geral, sem tendo dados oficiais para sustentar o que vou dizer, arriscaria que talvez 500 pessoas falam português em todo o Estado de Goa.

E os goeses, enquanto comunidade, onde é que se encontram? Convivem?

Passados estes anos todos, os europeus ainda não compreendem uma realidade que existe aqui na Índia que é o sistema de casta. A maioria é católica mas ainda assim guiamo-nos pelo sistema de casta. Como as classes mais altas de goeses não se misturam com as classes mais baixas não existem convívios ao nível que os europeus consideram normal. As pessoas encontram-se na missa, mas depois disso cada um segue a sua vida. E nem sequer conversam. Por aquilo que sei, até por força da minha experiência e vivência familiar, as classes de elite encontram-se em casa umas das outras e é assim que convivem.

Sendo um português em Goa, como é que vê o seu outro país?

Gosto. Já lá estive e não me importava de viver uns anos em Portugal. Tudo depende das oportunidades que surgirem na minha vida. Goa é a minha casa mas nunca digo não a Portugal. Apesar de tudo, uma experiência de vida num país estrangeiro, e neste caso em particular em Portugal, pode trazer uma boa perspectiva de futuro quando regressar a Goa. Aqui, como quase em toda a Índia, olham muito à tua experiência profissional, principalmente se essa experiência foi adquirida em países estrangeiros.

O Fernando não viveu esses tempos (Goa foi retirada aos portugueses em 1961) mas o que é que lhe contam os seus avós e pais. Como era viver aqui, no tempo dos portugueses?

Era fantástico. Mesmo na minha infância era muito diferente daquilo que é hoje e nasci 1984. Aliás, quando estive em Portugal há uns anos lembrei-me de Goa do tempo de quando era criança. A maneira de ser das pessoas, mais limpeza nas ruas, prédios remodelados, entre muitas outras coisas. Aqui, dia após dia, Goa vai-se tornando numa lixeira e é uma pena, pois isto era uma paraíso.

E qual é razão?

Penso que a culpa é das pessoas que vêm de fora. A cultura e a forma de estar na vida dessas pessoas é muito diferente daquela que, nós goeses, estamos e sempre estivemos habituados. A maneira de ser goesa é muito mais ocidental se compararmos a outras partes da Índia, portanto, é preciso que quem vem de fora, seja para trabalhar, seja para turismo, tenha a noção que Goa é assim e é preciso manter essa identidade muito própria, uma vez que o Governo nada faz para que esse cenário se altere.

E estes eventos de cariz internacional, como os Jogos da Lusofonia, são importantes para Goa?

Naturalmente que sim. Goa nunca realizou um evento tão grande como estes jogos. É a primeira vez que tal sucede e penso que a partir de agora não podemos parar. Goa tem de se tornar rapidamente numa plataforma moderna onde coisas importantes podem e devem acontecer. Estes Jogos da Lusofonia, apesar de alguma queixa por parte dos jornalistas, que até podem ter razão, estão a correr bem. Sendo a primeira vez que Goa organiza um evento tão grande, penso que as coisas positivas se estão a superar às coisas negativas. Tudo o resto que possa correr mal é alheio à organização.

Alguns governantes indianos chegaram a afirmar que a realização dos Jogos da Lusofonia em Goa traziam alguma lembrança do tempo do colonialismo. Quer comentar?

Acho que esse pensamento está completamente errado e demonstra ignorância. Este tipo de competições existem em todo o lado. Também não existe os Jogos da Commonwealth? Por isso não entendo esse tipo de conversas por parte das autoridades. Penso, aliás, que isso se trata de manobras de propaganda.

Que dirá a uma pessoa que queira visitar Goa?

Vale a pena visitar Goa nos próximos 10 anos. Estamos a perder a cultura típica de Goa e penso que no futuro, este lugar será mais uma cidade da Índia como outra qualquer. A não ser que o Governo tome alguma decisão a esse respeito, por forma a preservar a cultura goesa e o património deixado pelos portugueses, penso que o caminho será muito negro para a história de Goa. Existem muitos hindus em Goa e isso tem retirado especificidade à cultura goesa.

Não tem medo de ser chamado racista ou xenófobo com essas declarações?

Nada. Acho que cada lugar tem a sua identidade própria e Goa não foge a isso. A Índia tem também as suas próprias realidades, diferentes das de Goa, Damão ou Diu. Farto-me de dizer a um amigo meu de Bombaím que eles gozam quando vêm a Goa, simplesmente, porque a maneira de ser entre as duas realidades é diferente. Não há melhores nem piores. Há diferenças e essas diferenças têm de ser respeitadas.

Mudando de assunto. Como é que é ser jornalista em Goa?

Não é muito agradável porque os meios de comunicação pagam mal (risos). E por isso, muitos dos jornalistas que ocupam os diversos cargos nos diversos jornais são pessoas sem grandes estudos ao nível académico e, inclusive, sem educação social. Aliás, muitos deles nem sabem como se comportar em eventos de nível internacional como é o caso destes Jogos da Lusofonia e já assistimos a diversos casos. É preciso mudar o paradigma do jornalismo em Goa e talvez assim consigam contratar jornalistas de outro nível, com outros conhecimentos.

Qual é o seu futuro aqui? Pretende continuar em Goa?

Sim, com certeza. A minha ideia é continuar a viver em Goa porque se continuar posso tentar fazer a diferença. Antes de ser jornalista, o que quero mesmo é ser professor de jornalismo que é uma profissão muito bem remunerada, cinco vezes mais do que a de jornalista. É mais fácil ensinar, e terei todo esse privilégio que é o de transmitir às próximas gerações o que é o bom jornalismo e o que é ser um bom jornalista. Gonçalo Pinheiro – Macau in “Hoje Macau”

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Tecnologia portuguesa na Nicarágua

Eléctrica da Nicarágua implementa sistema de gestão criado em Portugal

A tecnológica portuguesa Quidgest foi escolhida pela Empresa Nacional de Transmissão Eléctrica da Nicarágua (Enatrel) para fornecer, em parceria com uma marca latino-americana, um software de gestão que permite monitorizar em permanência o desempenho da organização.

A Quidgest é uma empresa criada em 1988, com unidades constituídas em Macau, Timor-Leste e Moçambique, para além de parcerias em Angola, Alemanha, Brasil, Noruega, Lituânia e em El Salvador.

O projecto mais recente da marca – o BSC Quidgest na Nicarágua, em parceria com a TTI.L.A Telecom -, “é uma ferramenta de gestão estratégica, cujo principal objectivo é apoiar a implementação da estratégia organizacional e garantir a monitorização constante do desempenho da organização”.

A Enatrel é a empresa estatal responsável por transportar a energia desde as centrais de geração até aos centros de distribuição.

“O mercado latino-americano é uma das grandes apostas estratégicas da Quidgest. Neste contexto, termos sido seleccionados para desenvolver um projecto para uma empresa como a Enatrel representa um importante passo na consolidação da nossa presença na América Central”, afirma Rosa Rodriguez, consultora da tecnológica e gestora do projecto.

A empresa é também também responsável pelo desenvolvimento de um sistema de monitorização de indicadores (sociais, políticos e económicos) para o governo de El Salvador.

A Quidgest define-se como “o maior produtor de software empresarial de origem nacional” e tem investido “fortemente e com sucesso na internacionalização das suas actividades”. In “Veja Portugal” – Portugal

Quidgest Software de Gestão - é uma empresa tecnológica 100% portuguesa, criada em 1988. Entre outros prémios e distinções é Microsoft Gold Certified Partner e integra a rede de PME inovadoras da COTEC. Pela variedade das soluções produzidas pelos seus departamentos de I&D, com mais de 200 sistemas de informação diferentes em produção, a Quidgest é o maior produtor de software empresarial de origem nacional.
R. Castilho n.º 63, 6.º | 1250-068 Lisboa / Portugal - Tel: (+351) 213 870 563/652/660 - Fax: (+351) 213 870 697     
Mail:  quidgest@quidgest.pt - www.quidgest.pt

Ensino em Goa

A aposta que a China, e Macau em particular, tem feito no ensino do português, deve servir de exemplo para Goa e para a Índia, defende Delfim Correia da Silva, director do Centro de Língua Portuguesa do Camões e leitor na Universidade de Goa. Na única instituição de ensino superior indiana com departamento de Português, o número de alunos tem aumentado de forma “gradual e consistente”.
 
Delfim Correia da Silva


- Quantas pessoas falam português em Goa e quantas estão a aprender?

Delfim Correia da Silva – Em relação às que falam português, não sei e duvido que alguém saiba. As que estão a aprender, em números redondos, são cerca de 1500 anualmente, divididas pelos vários níveis de ensino. Cerca de 800 alunos estudam português nas escolas do secundário, do 8º ao 12º ano, na Universidade [de Goa] temos cerca de 100 alunos, talvez não chegue a tanto. Dez estão inscritos no mestrado – é a única universidade em toda a Índia que oferece o nível de mestrado – e uns 70 estão inscritos em vários cursos opcionais que o Departamento de Português oferece, cursos de língua, de cultura portuguesa, de cinema, arte. Tem havido um aumento no número de inscrições. Existem outras instituições que oferecem os cursos livres: além do Centro de Língua Portuguesa do [Instituto] Camões, onde cerca de 100 alunos anualmente estudam, existem outros polos, no Chowgule College em Margão, com o qual temos um protocolo, e instituições como a Indo-Portuguese Friendship Society e a Communicare.

- Esse aumento tem sido gradual?

D.C.S. – É um aumento gradual e consistente. Essa tendência de aumento tem-se verificado nos últimos oito, dez anos, sensivelmente. Depois daquele interregno que foram os acontecimentos de 1961, com a libertação, houve um impasse complicado. O português deixou de ser língua obrigatória e só com o reatamento das relações diplomáticas entre Portugal e a Índia, nomeadamente com a instalação de instituições portuguesas como o consulado, o [Instituto] Camões e a Fundação Oriente, é que se verificou um reacendimento da procura pelo português. No nível secundário, os números, há uns anos, eram relativamente reduzidos, cerca de 200 ou 300 alunos. Segundo informações que recebi, há uma tendência de crescimento. Na universidade isso é muito mais evidente, os números dispararam e costumo dizer que se houvesse mais professores qualificados, poderíamos ter aqui uma situação verdadeiramente surpreendente de procura pelo português.

- É difícil trazer professores para cá?

D.C.S. – É muito complicado. Já desde o século XVI que é complicado convidar portugueses para virem para a Índia. Não é propriamente fácil viver nesta zona do planeta. Depois são as distâncias, as dificuldades burocráticas, a adaptação à vida, aos valores culturais. Apesar de haver vários jovens portugueses e brasileiros a procurarem saber das condições para poderem trabalhar, depois a efectivação é sempre muito complicada.

- Também passou por essas dificuldades? Que balanço faz?

D.C.S. – A minha experiência indiana começou em Nova Deli, em 1996. Aí senti, de facto, um choque cultural e uma dificuldade francamente grande. É brutal, nalguns aspectos, a adaptação à Índia. Vir para Goa já não foi propriamente um desafio. O desafio que aqui se coloca é o de responder às solicitações, que são imensas. Estou cá desde 2008 e o tempo tem passado a voar. Tem sido uma experiência muito positiva, com momentos que guardo com muito agrado.

- Quem são os alunos do Departamento de Português?

D.C.S. – Tem-se sentido uma evolução em termos de perfil e motivações. A Universidade restruturou os programas curriculares, tornando-os mais exigentes e intensivos. De maneira que, se em 2010 tínhamos ainda alunos que vinham fazer mestrado por mero interesse pessoal, hoje o perfil é totalmente diferente. São alunos mais jovens, que vêm de outros estados da Índia e que vêm com o propósito muito claro de adquirir competências que possibilitem o desempenho de funções profissionais, sobretudo a nível das grandes empresas. Têm um plano muito bem delineado e sabem que, acabando o mestrado, obtêm empregos muito vantajosos no resto da Índia porque a procura por especialistas em língua portuguesa é crescente.

- Com quantos professores conta a universidade?

D.C.S. – No Departamento de Português são cerca de 100 alunos para dois professores e tempo inteiro, com a colaboração de outras duas professoras. Nos outros departamentos a situação é muito semelhante, no máximo quatro docentes para um universo de 100, 150 alunos. No departamento de Química, com o maior número de alunos, cerca de 200, o corpo docente não deve exceder os seis professores. Em média, então, cerca de 20 professores.

- Que avaliação faz da Universidade de Goa?

D.C.S. – O Departamento de Português é o mais pequeno da universidade. Goa é o Estado mais pequeno da Índia e o Departamento de Português é uma espécie de Goa dentro da Universidade. Debatemo-nos com algumas dificuldades de infra-estruturas e sobretudo de ao nível do corpo docente. A universidade abriu um programa de oferta de postos e estou muito confiante que, com a contratação de professores qualificados, o Departamento de Português possa dar o salto que toda a gente espera, para poder responder e forma mais eficiente às solicitações do mercado de trabalho e da área académica.

- Cooperam com outras universidades?

D.C.S. – Beneficiamos de dois programas de cooperação, com a Universidade de Aveiro e com a Universidade de Porto. Tivemos, em 2011, um curso de Verão organizado na Universidade de Aveiro, para professores goeses, que correu muitíssimo bem, foi uma óptima experiência que gostaríamos de repetir, se possível já este ano. Com a Universidade do Porto temos uma série de convites para participar como membro em vários programas do Erasmus Mundus. Para além de programas específicos com a Faculdade de Letras, também teremos projectos com a Faculdade de Desporto e de Arquitectura. Estamos a consolidar e estabelecer essas pontes entre Portugal e a Índia, através de Goa.

- Nunca foi equacionada uma cooperação com a Universidade de Macau?

D.C.S. – Sei que já houve visitas de uma delegação de Macau, mas mais na área das ciências sociais e políticas, porque há um Centro de Estudos Latino-Americanos e um Departamento de Ciências Políticas. Na área das literaturas, ainda não houve nenhuma proposta.

- Seria interessante?

D.C.S. – Obviamente. Seria estratégico criar aqui uma espécie de triângulo das Bermudas: Moçambique, Goa e Macau. Faria todo o sentido, seria um projecto de muito interesse.

- Acompanha o trabalho da Universidade de Macau?

D.C.S. – Tenho poucas informações sobre Macau. Conheci a universidade em 1996 e apercebi-me da força e da dimensão, em termos de programas académicos, que existe em Macau. Apercebi-me que, de facto, a China tem uma perspectiva de aposta no português que infelizmente ainda não acontece na Índia. Nesse sentido, acho que Macau é um bom exemplo, pode servir de modelo para Goa, e consequentemente para o resto da Índia.

- A nova geração de goeses está interessada em aprender ou o português que cá existe é das gerações anteriores?

D.C.S. – Sim. O português atrai os jovens goeses, devido ao Brasil – a música, o Carnaval, o desporto –, devido às grandes figuras da actualidade, como o Cristiano Ronaldo. Apesar de Goa ser quase uma aldeia, é um local bastante cosmopolita. Todos têm familiares um pouco por toda a Europa. Muitos viajam [para Portugal] e quando regressam confessam que afinal o Portugal que viram não é o Portugal que os avós lhe falavam. Ficam fascinados com os monumentos, com a modernidade. Essa nova geração tem uma visão diferente.

- A cultura é o factor número um para o interesse pelo português?

D.C.S. – Sim, mas também não podemos menosprezar o facto de Portugal ser um país que oferece boas condições de trabalho e vida profissional, apesar da crise. E também a possibilidade de realizar estudos superiores na Europa – é uma das coisas que eles falam com muito fascínio, das condições das universidades.

- Já disse que a experiência está a ser positiva. Quanto tempo mais pensa ficar em Goa?

D.C.S. – Sou sonhador, mas os meus projectos têm a duração de 365 dias. Todos os anos, quando colocada a questão, pelo [Instituto] Camões, se pretendo renovar por mais um ano, penso, reflicto e chego sempre à mesma conclusão: sim, quero ficar mais um ano. Mas penso que, devido às regras, a minha permanência em Goa está a terminar. Penso que ficarei até 2015. Do futuro só Deus sabe, apesar dos meus sonhos. Logo se verá.

- Tem pena de ir?

D.C.S. – Sim. Quando chegar essa altura, vai ser difícil. Aconteceu-me o mesmo em Nova Deli. Foi uma experiência verdadeiramente traumática, durante uns meses senti que vivia noutro planeta, tudo era diferente, o choque cultural foi muito duro. Mas acabei por ficar quase seis anos e quando saí, ao contrário do que supunha, quando cheguei ao aeroporto senti que parte de mim ficava para trás. Foi muito difícil. Em relação a Goa, quando isso acontecer, suponho que vai ser muito mais duro.

- Os seus sonhos incluem projectos fora de Goa?

D.C.S. – O meu sonho é, sobretudo, concretizar os projectos em que estou empenhado e procurar não perder este gosto, esta paixão, pelo ensino.

- Nunca pensou em estabelecer uma Escola Portuguesa em Goa, à semelhança da que existe em Macau?

D.C.S. – Há uns anos falou-se nessa possibilidade. Mas penso que é um pouco prematuro, é necessário consolidar outras questões. Uma delas passa pelo fortalecimento da estrutura escolar do ensino secundário – criar uma rede de professores do quadro porque os professores não têm vínculo, são financiados quase na totalidade pela Fundação Oriente. Se a rede de docência do secundário estiver, de facto, consolidada, penso que sim, que justifica o projecto de uma Escola Portuguesa, à semelhança de Macau.

- Haveria interesse por parte das autoridades locais em criar as infra-estruturas, e por parte do Ministério dos Negócios Estrangeiros português em aqui ter um espaço?

D.C.S. – Mais do que uma escola portuguesa, deveria ser uma escola lusófona, uma escola que congregasse interesses do Brasil dos PALOP e de Portugal.

 “Gostava de ser professora de português”

Fomos encontrar Alysia Viegas em plena aula, juntamente com mais quatro colegas. Esta jovem de 20 anos, natural de Goa, está a aperfeiçoar o domínio do português, para poder contribuir para a sua preservação. “Desde pequena que falo português, toda a minha família fala português mas pouca gente em Goa fala português. Não há professores, gostava de ser professora de português para crianças”, explica.

Além de estudar na Universidade de Goa, Alysia Viegas é também desportista, joga futebol na equipa de Goa. Não está a competir nos Jogos da Lusofonia, mas tem boas perspectivas para os resultados da equipa: “Acho que vão ganhar”. Inês Gonçalves – Macau in “Ponto Final”

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Terminal multiusos de Nacala

Moçambique: Terminal multiusos de Nacala entra em funcionamento este ano de 2014.

Vai entrar já este ano em operação o novo terminal portuário multiusos em construção no porto de Nacala, província de Nampula.

O empreendimento, orçado em cerca de mil milhões de dólares, terá capacidade para armazenar 14,5 milhões de toneladas do carvão extraído na bacia carbonífera de Moatize, na província de Tete.

De acordo com o 'Notícias', é uma empresa chinesa quem está a construir actualmente um virador de vagões, estando ainda em construção o pontão que vai assegurar a acostagem de navios de grande calado com capacidade de carga superior a 200 mil toneladas.

Este terminal vai ser utilizado fundamentalmente pela subsidiária moçambicana do grupo brasileiro Vale que desde 2011 opera uma mina em Moatize onde extrai anualmente 11 milhões de toneladas de carvão.

Além do terminal e de outras instalações, o grupo está a financiar a construção de uma linha de caminho-de-ferro entre Moatize e Nacala, com passagem pelo Malawi, com uma extensão de 912 quilómetros, dos quais 684 quilómetros em processo de reconstrução e os restantes em fase de construção. In “Cargo Edições” - Portugal

Os grandes lagos africanos

A realização, em Luanda, da Conferência Internacional dos Grandes Lagos causou alguma perplexidade, pelo facto de o nosso país, geograficamente, não pertencer à Região dos Grandes Lagos Africanos. Houve quem me tenha questionado sobre o assunto, ao que prometi passar para o papel – escrever um pequeno texto – o que penso sobre essa matéria. Faço-o agora, mas deixem-me, primeiramente, contextualizar devidamente o facto para, assim, ajudar um pouco melhor o seu entendimento.

Quando um africano ouve, por exemplo, a expressão Grandes Lagos, vêm-lhe, pela certa, à cabeça os Grandes Lagos Africanos. Se for um norte-americano ou um canadense, a expressão Grandes Lagos remetê-los-á para os Grandes Lagos Americanos, situados entre os Estados Unidos da América e o Canadá. Os asiáticos terão como referência, penso, o Mar Morto, o Mar Cáspio, o Mar de Aral – que, afinal, mais não são do que lagos – bem como o Lago Baikal ou o Lago Balkhash. Os europeus têm, também, os seus lagos de referência, tal como os sul-americanos e outros povos.

Ainda esta semana, acompanhei um trabalho de televisão que teve como foco o Lago Baikal. O tema prendeu, especialmente, a minha atenção pelo facto de ter desfrutado, muito recentemente, da das belezas da Bacia do Okavango, no Botsuana. A Bacia do Okavango é uma enorme bacia de água doce por onde se espalham as águas do nosso Rio Kubango, que se transforma em Kavango ao passar pela Namíbia, e que muda novamente de nome para Okavango, já dentro do território do Botsuana.

Ao acompanhar a peça televisiva sobre o Lago Baikal, aumentou ainda mais a minha curiosidade sobre rios, lagos e mares, uma velha paixão que tinha guardado dentro de mim e que, agora, se vem revelando de um modo apaixonante. Rios, lagos, mares, e tudo quanto povoa esse mundo maravilhoso... Não é por acaso que se diz que a água é a fonte da vida, e que foi aí onde tudo começou…

Infelizmente, os nossos Estados vivem conflitos que os outros povos já ultrapassaram ou, então, estão em vias de ultrapassar, como seja a delimitação das suas fronteiras – mesmo que, aqui ou ali, surjam ainda certos fenómenos de centrifugação. Vivemos, também, e de um modo bastante dramático, as consequências das mal digeridas identidades étnicas e religiosas – o que, não poucas vezes, nos atira para massacres e outras formas de violência sectária. Hoje, a região dos Grandes Lagos Africanos é das áreas geográficas mais instáveis do nosso continente, com conflitos que põem em causa as fronteiras territoriais herdadas da Era Colonial. Noutros continentes, os seus Grandes Lagos já não são matéria de conflito, muito menos palco de guerras.

Os Grandes Lagos da América do Norte assumem-se como importantes pólos de desenvolvimento económico. Nos arredores dos lagos Superior, Michigan, Huron, Eire e Ontário – considerados os maiores reservatórios de água doce do mundo – concentram-se algumas das principais cidades norte-americanas e canadenses, como Chicago, Cleveland, Milwaukee, Rochester e Bufallo, e também, Toronto, Montreal e Quebec – as duas últimas, nas margens do Rio São Lourenço.

Angola não é um país geograficamente da Região dos Grandes Lagos Africanos. Mesmo assim, somos – ou devemos ser – parte interessada na resolução dos problemas que assolam aquela zona demasiado instável de África. Faz, pois, por isso, algum sentido a atenção especial que damos ao estado daquela região. Recordo que, no passado, estivemos envolvidos militarmente no conflito da RDC, Uganda e Ruanda, no território do Kivu, onde pontifica um dos Grandes Lagos do nosso continente.

Vale, pois, a pena darmos ainda uma pequena olhadela à geografia da Região do Grandes Lagos Africanos, para melhor entendermos a complexidade do fenómeno político e social que aí se desenvolve.

Os Grandes Lagos Africanos estão situados na África Oriental – justamente considerados dos mais extensos e mais profundos do mundo. A sua formação data de há cerca de 35 milhões de anos, no Vale do Rift Ocidental, uma formação geológica onde se situam a Etiópia, Quénia, Tanzânia, Uganda, Burundi, República Democrática do Congo, Malawi e Moçambique.

O Lago Niassa é partilhado por Moçambique, Malawi e Tanzânia. O Lago Tanganica estabelece fronteira entre a RDC, Tanzânia e Burundi. O Lago Kivu confina o Rwanda e o RDC. Os Lagos Eduardo e Alberto são partilhados pela RDC e Uganda. Por sua vez, o Lago Vitória – o maior de todos – separa o Quénia do Uganda e também da Tanzânia. Por último, temos o Lago Turkana – que já foi designado por Lago Rodolfo – é partilhado pelo Quénia (maioritariamente) e pela Etiópia, que tem a particularidade de ser o único Grande Lago Africano situado na parte Oriental do Vale do Rift.

Podemos avançar um pouco mais na geografia dos Grandes Lagos africanos: os Lagos Vitória, Eduardo e Alberto vertem as suas águas no Rio Nilo Branco; os Lagos Tanganika e Kivu lançam as suas águas no Rio Zaire; o Lago Niassa despeja as suas águas no Rio Zambeze.

O Lago Turkana tem uma característica muito particular, pois, não lança as suas águas num rio, ou no mar – elas ou se evaporam, ou se infiltram nas profundezas da terra. É o maior lago alcalino do nosso mundo, equivalendo ao “Mar Morto”. Tem 290 km de comprimento e a sua largura máxima atinge os 30 km. A profundidade média do Lago Turkana é de 30 m e a máxima vai até aos 109 m. Alguns antropólogos consideram mesmo o Lago Turkana como o berço da humanidade, dado que foi nessa região que foram encontrados dos mais antigos fósseis de hominídeos.

Nós, os africanos, ainda não fomos capazes de transformar plenamente a natureza maravilhosa de que estamos dotados em factor de crescimento económico e de geração de bem-estar para os nossos povos. Temos, em grande medida, desperdiçado os imensos recursos que possuímos, perdendo-nos em guerras altamente destruidoras. Precisamos, sim, de valorizar devidamente da paz.

É evidente que a paz na Região dos Grandes Lagos Africanos, é, primeiro que tudo, do interesse imediato dos povos e dos países aí localizados. Mas, é também verdade, que há países fora da Região dos Grandes Lagos – como, por exemplo, Angola – que não deixam de ser parte interessada, dado que, qualquer perturbação que aí se verifique, tarde ou cedo se repercutirá dentro das suas fronteiras, por via das migrações massivas de refugiados, ou até pela deslocação de forças militares.

Não vejo grande mal em países fora da Região dos Grandes Lagos Africanos se assumirem como protagonistas na busca da paz e estabilidade para a Região. Julgo, porém, que o seu envolvimento deve ter sempre em devida conta a génese dos problemas que têm tornado a Região bastante vulnerável, não se pautando apenas pela satisfação de interesses egoístas imediatos, que ainda complicam mais a já explosiva situação que lá se vive. Pinto de Andrade – Angola

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Intercâmbio cultural

Lusofonia ou a vontade de ser-se outro

Bem sei que os cáusticos dias em que vivemos não condescendem bem com paixões fortuitas, que há um vetusto romantismo na sórdida possibilidade de se confiar num mundo diferente, quiçá melhor. Nos tempos que correm, ninguém alimenta ideais sem uma pitada de vergonha ou embandeira princípios e convicções sem automatizar a censura, sem se deixar corroer por sentimentos de culpa. Na era do pragmatismo e da imediatez, acreditar – em Deus, no Homem, na universalidade das ideias – é fraqueza.

Fraco, desde logo, me confesso. Desenganado pela obnubilação compulsiva dos ideais da democracia, dei por mim, enfatuado, a crer com ingénua meninice na mais bela das fraternidades, a que une povos, credos e culturas com mais contrastes do que semelhanças. A ideia de Lusofonia aquece-me o coração. Desde que o destino me fez arribar a Macau que nenhum ideal me parece mais digno, ainda que a inteireza do conceito nem sempre se vislumbre com a nitidez necessária por entre as nuvens de interesses que conformam as relações entre estados.

Mesmo não sabendo ainda ao certo o que é ou como poderá vir a ser rentabilizado o capital de esperança a que se convencionalizou chamar Lusofonia, sei bem como se manifesta: o espanto que Aureliano Buendía – o impulsivo coronel de “Cem Anos de Solidão” – sentiu na tarde remota em que o seu pai o levou a conhecer o gelo, senti-o eu sem reservas e com pueril entusiasmo da primeira vez que me sentei à mesa naquele que continua a ser para mim o mais fascinante estabelecimento de comidas de Macau. Do outro lado do balcão, escondidos sob um inelutável manto de rugas, oitenta e muitos anos de energia (um português adocicado, colorido com nhonha-nhonha à janela e fula-fula em flor), feijoada e arroz de pato numa redoma de vidro, velados e embalados por névoas de vapor. A refeição afigurou-se-me improvável e o espaço uma emanação de uma realidade descontínua, uma ilha de inverosímil familiaridade e conforto num oceano de estranheza e de incompreensão. Regresso ao Riquexó com a mesma ingénua devoção com que os peregrinos respondem à improbabilidade de um milagre e de todas as vezes me sinto em casa, como que embalado pelo abraço de um lar.

Agrada-me, sem reservas, a multiplicidade de formas, de rostos e de revelações com que se manifesta o pulsar da Lusofonia. É um mistério feito gente, feito dança, feito vida. Nas viagens que fiz, de Timor-Leste à Malásia, passando por destinos impresumíveis como Thanlyin, Nagasaki ou Batticalao, dei por mim a conversar com interlocutores improváveis e a esconder com secura o maravilhamento de enfim falar sobre coisas que realmente importavam, a tentar mascarar com duvidável seriedade a perplexidade que se sente quando contrastes e semelhanças se fundem em algo novo, familiar e aliciante numa mesma penada. No coração da inebriante Goa que por estes dias acolhe os Jogos ditos da Lusofonia, ouvi Aida Menezes de Bragança, a dama de Chandor (retratada no documentário homónimo de Catarina Mourão), ressuscitar – num português polido e limpo – memórias de uma juventude há muito dilacerada, dos dias em que pelos corredores da enormíssima Casa dos Bragança esvoaçavam crianças a perder de conta e se escutavam ladainhas e tabuadas por detrás do arcabouço de janelas envidraçadas com painéis de madre-pérola.

Não sei ao certo o que é a Lusofonia mas sei como se manifesta: irrompe como uma vaga absurda de orgulho. Orgulho inexplicável que é também maravilhamento, vontade de abraçar o outro, de compreender as suas motivações, de entender a sórdida resistência ao fluir do tempo e o apego a influências culturais alienígenas, desfasadas das concretizações políticas e sociais que hoje vigoram. É por ser fruto de um conjunto de improbabilidades que a Lusofonia está condenada se os povos que se acomodam no seu regaço não souberem ultrapassar a redutora formalidade do conceito que a define. Mais do que o conjunto das comunidades de língua portuguesa no mundo, a Lusofonia é o cadilho de comunidades que têm o português como língua comum e uma e outra acepção não são necessariamente a mesma coisa. Para os falantes da língua de Camões a Lusofonia deve ser entendida sobretudo como um fértil campo de possibilidades. Deve ser um interface de intercâmbio cultural que sirva de plataforma de difusão cultural e artística aos países e territórios que a integram, mas também uma frente unida de batalha na luta pela preservação da independência e da genuinidade cultural dos povos que se dizem e sentem lusófonos. Mais do que o fomento do português, a Lusofonia deve ter também capacidade para se transformar num instrumento de projecção do cantonense e do concanim face à cada vez mais agressiva política de uniformização linguística embandeirada por Pequim e por Nova Deli. Deve afirmar-se como uma montra capaz de exponenciar a história e as tradições dos fula e dos papel da Guiné Bissau, dos maubere de Timor-Leste ou dos ovimbundu de Angola. Uma tribuna para o conhecimento de homens e de deuses.

Eu, que não sei ao certo o que a Lusofonia é, sei bem aquilo que ela não é. Não é a visão tacanha e enviesada do mundo que manifestou Artur Lopes há meia dúzia de dias, quando assumiu que o português – mais do que interface de conhecimento – se deve afirmar como instrumento de subjugação. Por muito bem versado na história da Expansão que o chefe da missão de Portugal em Goa se arrogue ser, não teve grandeza de espírito suficiente para perceber que não foi o comércio, a pimenta, a prata e ouro que engrandeceram a presença de Portugal e dos portugueses de antanho na Ásia. Foi – isso sim – a sórdida vontade de ser-se outro. Com portugueses como Artur Lopes, quem os pode censurar? Marco Carvalho – Macau in “Hoje Macau”

Mitti Cool

Geladeira criada por indiano dispensa eletricidade e custa R$ 135.

Além de representar uma das fatias da conta mensal de luz, a geladeira é um eletrodoméstico que não é acessível a 100% da população, sobretudo nas regiões mais afastadas e vulneráveis de muitos países. Ao pensar nisso, o artesão indiano Mansukhbai Prajapati idealizou um refrigerador que dispensa a eletricidade para funcionar. Batizado de Mitti Cool, o aparelho funciona à base do mesmo princípio de resfriamento dos velhos filtros de cerâmica.

A inovadora geladeira, cuja temperatura pode chegar a 8ºC, consegue deixar frutas, legumes, leite e verduras frescos por até três dias, por meio de uma câmara de água na parte superior do produto. A evaporação escorre pelas laterais da parede de cerâmica da geladeira (quatro tipos diferentes de argila), o que faz com que os mantimentos continuem frescos. Já á torneira na parte frontal disponibiliza água para o consumo.

E quanto ela custa? – O valor médio de venda da Mitti Cool é de R$ 135,00, o que a torna acessível a uma boa parcela da população, levando-se em conta o preço de uma geladeira convencional (que ainda por cima gasta energia). “Em 1997 eu havia lançado com sucesso um mini filtro de água. Então, a partir de 2002 eu comecei a trabalhar nessa pequena geladeira”, relata Prajapati em seu site.

Segundo ele, a geladeira-filtro tem até pedidos de encomenda de outros países. O artesão, 49 anos, nasceu na aldeia Wankaner, onde aprendeu a trabalhar com argila. “Meu objetivo é fornecer todas as versões mais acessíveis em escala nacional para as pessoas que não possam pagar por produtos eletrodomésticos”, completa o inventor. in Eco Desenvolvimento - Brasil

domingo, 26 de janeiro de 2014

Direitos humanos

A organização Human Rights Watch apresentou o seu relatório anual de 2014, sobre as práticas de direitos humanos em todo o mundo. O relatório resume questões fundamentais de direitos humanos em mais de 90 países e territórios, com base em acontecimentos até Novembro de 2013.

O relatório mundial reflecte o extenso trabalho de investigação que os técnicos da organização Human Rights Watch realizaram em 2013, em estreita parceria com os activistas de direitos humanos que estão a trabalhar no terreno.

Deste vasto estudo realçamos as análises feitas a Angola, página 78, Guiné Equatorial, página 108 e Brasil, página 216.

Poderá aceder ao Relatório de 2014 da Human Rights Watch aqui. Baía da Lusofonia

Porto de Palma

O Governo moçambicano oficializou, em regime de concessão, os terminais portuários e logísticos de Pemba e Palma à Sociedade Portos de Cabo Delgado, uma empresa de capitais públicos.

A Sociedade Portos de Cabo Delgado é uma parceria entre as empresas públicas Portos e Caminhos de Ferro de Moçambique (CFM) e Empresa Nacional de Hidrocarbonetos (ENH), ficando cada uma com 50% do capital, sendo a concessão por um período de 30 anos.

Está previsto um investimento inicial de 150 milhões de dólares para a construção de infra-estruturas para assegurar o escoamento do gás natural de Cabo Delgado no norte de Moçambique.

Palma - Foto: amimartins.wordpress
Enquanto para Pemba está projectado a construção de um novo porto junto ao actual, gerido pela CFM, com excelentes condições de navegabilidade, boas acessibilidades terrestres, com uma protecção natural, pois encontra-se no interior da baía de Pemba, o porto de Palma, simplesmente não existe.

No tempo colonial, os barcos ficavam ao largo na baía de Tungue, sendo o transbordo de pessoas e bens, feito apenas nas marés cheias, em pequenos barcos, para um pequeno pontão, na localidade de Palma, hoje destruído.

Palma - Foto: amimartins.wordpress
A paradisíaca baía de Tungue com as suas belas praias, local ideal para as actividades turísticas, apenas com o sério problema das matacanhas, é uma zona de grande assoreamento, águas pouco profundas, onde a construção de um porto terá custos elevados e com acessibilidades terrestres bastantes difíceis.

Segundo os responsáveis, os dois portos serão a porta de entrada para todos os equipamentos necessários para o funcionamento das empresas que actualmente fazem a prospecção de hidrocarbonetos na bacia do Rovuma e para a exportação dos produtos finais, com destaque para o gás natural liquefeito. Baía da Lusofonia