Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

sábado, 22 de fevereiro de 2014

Roteiro da portugalidade

Saudades de Portugal

Esta semana bateram-me forte as saudades de Portugal. Não as saudades da corrupção, dos sucessivos Governos incompetentes, do desemprego, da precariedade. Não!

Lembrei-me das coisas boas e positivas que o meu país tem. Lembrei-me da terra dos meus avós, que fica na Serra da Lousã. Lembrei-me do bairro de Alfama onde nasci. Lembrei-me do Alentejo, das suas pessoas e da sua gastronomia. Lembrei-me de cidades que tanto amo como Guimarães, Évora, Aveiro e, claro, da minha eterna Lisboa. Lembrei-me das praias maravilhosas que pontuam a costa do país. Lembrei-me dos rios e das praias fluviais portuguesas. Lembrei-me de Vila Nova de Milfontes, de Porto Covo e da Zambujeira do Mar. Lembrei-me do Algarve, de Tavira, de Vila Real de Santo António, de Aljezur ou de Sagres.

Lembrei-me de Sesimbra, de Sintra, de Cascais, da Ericeira, de Peniche e da Nazaré. Lembrei-me da minha infância na Costa da Caparica. Lembrei-me da Serra da Estrela e quão bela é. Lembrei-me da neve e do sol. Lembrei-me do Queijo da Serra. Lembrei-me do azeite e do vinho, seja tinto ou branco, ou até verde vindo de um dos recantos que mais aprecio no meu país, o Minho.

Lembrei-me de Trás-os-Montes. Lembrei-me da “Alheira de Mirandela”. Vejam bem que até me lembrei do Mirandês, segunda língua oficial do meu país. Lembrei-me do “Javali com feijão”, das “Papas de Sarrabulho”, do “Arroz de Carqueja”, da “Sopa de Cação”, da “Carne do Alguidar com migas de espargos verdes”, da “Chanfana”, da “Açorda de Marisco”, da “Galinha de Cabidela”, do “Pudim de Abade de Priscos”, do “Pastel de Tentúgal”, do “Pastel de Belém”, lembrei-me…

Lembrei-me dos Santos Populares e da sardinha assada no braseiro. Lembrei-me do pão. Hummm, do maravilhoso pão de Mafra, do pão alentejano, da broa de Milho ou da broa de Avintes. Imaginei-me, por breves segundos, a fazer uma sandes num desses saborosos pães. Podia ser com chouriço de Arganil, com paio do Montoito, com morcela de arroz do Fundão ou com presunto de Chaves. Tanto faz.

António Falcão - Hoje Macau


Lembrei-me das cervejarias e das tabernas. Lembrei-me dos croquetes, dos pastéis de bacalhau, dos rissóis e dos pastéis de massa tenra. Lembrei-me da bela cerveja e do belo marisco. Imaginei uma mesa farta de sapateira, camarão de Espinho, gambas, percebes, amêijoa, canivetes e berbigão. Lembrei-me dos caracóis e das caracoletas que nunca deixo de comer sempre que volto a Portugal.

Lembrei-me das festas nas aldeias. Do Quim Barreiros ao José Cid. Lembrei-me das quermesses, das rifas, do porco a rodar no espeto, das garraiadas e das bebedeiras.

Lembrei-me das rendas de bilros, dos ranchos folclóricos, dos Pauliteiros de Miranda, do Galo de Barcelos e do Sobreiro, aldeia típica de José Franco. Lembrei-me do Mosteiro dos Jerónimos, da Torre de Belém, do Mosteiro da Batalha, da Igreja do Bom Jesus de Braga, de Conímbriga ou da Torre dos Clérigos. Lembrei-me do CCB, da Casa da Música, do Parque das Nações ou do Museu do Chiado.

Lembrei-me do Bairro Alto, do Cais do Sodré, da Ribeira e da Foz do Porto. Lembrei-me da Comporta, de Barrancos, da Covilhã, de Góis, da Pampilhosa da Serra, da Sertã, de Arouca, de Ansião, de Coimbra, da Guarda, de Bragança, de Mourão, de Monsaraz, de Santarém, de Viana do Castelo, de Vila Verde, de Peso da Régua, da Amadora, de Belas, do Piódão, e de outras tantas localidades que me dizem tanto e onde, como diz o Malato, fui tão feliz.

Lembrei-me da Madeira e dos madeirenses, povo que tanto admiro. Lembrei-me de como me sinto em casa quando vou ao Funchal, como se algum dia, noutra qualquer vida, tivesse ali vivido. Lembrei-me do bolo do caco, do bolo de mel, da poncha ou das maravilhosas e gigantescas lapas. Lembrei-me do Porto Santo. Lembrei-me dos Açores e das suas nove ilhas. Da variedade de pequenas culturas numa imensidão de pessoas naquele lugar no meio do Oceano Atlântico. Lembrei-me do chá Gorreana e do queijo de São Jorge.

Portugal é isto e muito mais. Não é Passos Coelho, Sócrates, Cavaco Silva, Soares ou Relvas, e toda essa corja de políticos que, na verdade, se estão a marimbar para o sentido de ser português e da portugalidade. Preservem Portugal, sejam portugueses com orgulho como eu sou à distância. Portugal pode ser tudo, tem quase tudo. Vocês são uns privilegiados, nesse sentido, e eu lembrei-me que tenho tantas saudades do meu país… Lobo Pinheiro – Macau in “Hoje Macau”

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