Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

quarta-feira, 30 de abril de 2014

Espanha - Temporada de cruzeiros ampliada em Tenerife

Quase 28 mil passageiros desembarcarão no porto de Santa Cruz de Tenerife – Canárias, Espanha, neste mês de Maio de 2014. Um total de 14 navios de cruzeiros atracarão durante o mês de Maio, trazendo consigo quase 20 mil turistas e oito mil tripulantes, prolongando a época de cruzeiros nesta região que normalmente termina no mês de Abril.

No próximo fim de semana, 03 e 04 de Maio de 2014, está prevista a chegada de quatro navios, um no sábado e três no domingo, que trarão a Tenerife no domingo, 5650 passageiros e 2300 tripulantes. No próximo domingo, o porto será visitado pelo Boudicca, o Queen Victoria e o Celebrity Reflection, este último em escala entre Miami e Málaga. O navio que atracará no sábado será o Braemer, que com os seus 2 mil passageiros e tripulantes, movimentarão aproximadamente dez mil pessoas na cidade durante o fim de semana, ou seja 5% do total da população residente.

São esperados durante o mês de maio, navios de cruzeiro de grande porte, como o Zenith, o Splendour of Seas e o Serenade of Seas, ambos da mesma classe de paquetes, o Oceana, o MSC Opera e o MSC Sinfonia, um mercado em que a procura vai aumentando todos os anos e os portos portugueses demoram a dar a respectiva resposta, a serem locais atractivos para este tipo de lazer, excluindo em parte os portos do Funchal e Lisboa, que apresentando bons resultados, ficam muito aquém das visitas praticadas nos principais portos, ocupando o Funchal o 25º lugar na lista de portos de cruzeiros europeus. Baía da Lusofonia

Moçambique – Invista no futuro, vença a malária

Standard Bank vs. Malária

Com o objectivo de complementar as acções do Governo, no quadro das celebrações do dia mundial da luta contra a malária, e sob lema "Invista no futuro: vença a malária", o Standard Bank ofereceu, este sábado, um total de 500 redes mosquiteiras ao hospital provincial da cidade de Quelimane.

Esta oferta, que representa o comprometimento do Standard Bank para com a erradicação da malária em Moçambique, está enquadrada na política de responsabilidade social corporativa do banco, visando criar melhores condições para as comunidades onde opera.

Tomaz Salomão, presidente do Conselho de Administração do Standard Bank, referiu que "o Banco quis associar-se a esta data, fazendo a doação ao hospital provincial de Quelimane de 500 redes mosquiteiras, para se solidarizar com todos os esforços que têm vindo a ser feitos no País, no âmbito da luta contra a malária, cientes de que esta doença constitui ainda um dos grandes problemas que continuamos a debater na saúde pública em Moçambique".

Por sua vez, a directora clínica do hospital provincial de Quelimane, Nélia Mutisse indicou que, ao nível da província da Zambézia, a malária constitui uma das principais causas de morbi-mortalidade. "No primeiro trimestre de 2014, a malária foi o principal motivo de consulta no serviço de urgências da nossa unidade sanitária, onde foram registados 2521 casos".

A directora hospitalar acrescentou ainda que a malária é, igualmente, a primeira causa de internamentos no serviço de pediatria daquele hospital, onde no primeiro trimestre do ano em curso foram registados cerca de 340 casos de internamento relacionados com a malária. "O peso da doença é enorme. Os casos de malária representam 40% dos casos de internamento no serviço de pediatria do hospital".

Para aquela responsável, esta oferta do Standard Bank vai permitir que, agora em diante, cada doente internado tenha a possibilidade de dormir sob protecção de uma rede mosquiteira tratada, de modo a evitar as picadas de mosquitos causadores da malária.

Importa referir que, no acto de entrega das redes, estiveram presentes dirigentes e jogadores da equipa do clube Ferroviário de Quelimane, no âmbito da parceria existente entre o Standard Bank e a Liga Moçambicana de Futebol, através da qual esta instituição financeira tem associado o seu patrocínio às acções de combate contra a malária.

Mcel entrega 5 mil redes mosquiteiras ao MISAU

No âmbito das celebrações do Dia Mundial de Luta Contra a Malária que, este ano decorrem sob o lema "Invista no Futuro: Vença a Malária", a Mcel-Moçambique ofereceu, na última sexta-feira, em Maputo, um total de cinco mil redes mosquiteiras ao Ministério da Saúde (MISAU).

O donativo visa apoiar as necessidades dos centros de saúde e unidades hospitalares em todo o País, no combate a esta doença, que afecta grande parte da população moçambicana, em particular as crianças e mulheres grávidas.

Dados de 2013 mostram que a malária, em Moçambique, foi responsável por 3.924 mil casos e 2.941 óbitos, números que constituem uma grande preocupação para o Governo, uma vez que podem influenciar negativamente no desenvolvimento do País, devido ao absentismo escolar e laboral, bem como a perda da mão-de-obra.

Intervindo no decurso das comemorações centrais do Dia Mundial de Luta Contra a Malária, ocorridas na capital do País, o administrador da Mcel, Macsud Ismail, disse que "o apoio ao sector da saúde reveste-se de capital importância no domínio das acções de responsabilidade social corporativa da mcel, pois, dentre as várias áreas de intervenção esta merece cada vez mais atenção de todos no nosso País".

A parceria entre a maior operadora de telefonia móvel do País, conforme salientou Macsud Ismail, "perdura há longos anos e a Mcel tem apoiado vários projectos neste sector, como forma de contribuir na resposta às diversas preocupações da saúde e garantir maior qualidade de vida dos moçambicanos".

Por sua vez, o ministro da Saúde, Alexandre Manguele, disse, na ocasião, que até ao momento já foram distribuídas mais de nove milhões de redes mosquiteiras tratadas com insecticidas e que a participação das empresas no apoio aos esforços do Governo para combater esta doença é muito importante, por isso incentivamos e encorajamos mais iniciativas como a que acabámos de testemunhar.

Porém, segundo sublinhou o governante, existe um desafio que se prende com o uso inadequado das redes por parte da população.

Relativamente ao tratamento desta doença, o ministro da Saúde disse que o País tem vindo a adoptar políticas cada vez mais eficazes baseadas em combinações terapêuticas com "artemisina", com o objectivo, não só de garantir a cura do doente, mas também de retardar o surgimento da resistência.

"Estas combinações terapêuticas têm sido associadas a estudos de resistência, efectuados de forma rotineira pelas nossas instituições de pesquisa em colaboração com o Programa Nacional de Combate à Malária", afirmou.

Importa realçar que as cerimónias centrais de comemoração do Dia Mundial de Luta Contra a Malária consistiram em actividades culturais, debate sobre desafios do futuro no combate à malária, para além das apresentações sobre a situação da malária em Moçambique e o papel da sociedade civil na luta contra este flagelo, feitas director nacional de Saúde Pública, Francisco Mbofana, bem como o Bispo Dom Dinis Sengulane. In “Olá Moçambique” - Moçambique




terça-feira, 29 de abril de 2014

Lamento para a Língua Portuguesa

não és mais do que as outras, mas és nossa,
e crescemos em ti. Nem se imagina
que alguma vez uma outra língua possa
pôr-te incolor, ou inodora, insossa,
ser remédio brutal, mera aspirina,
ou tirar-nos de vez de alguma fossa,
ou dar-nos vida nova e repentina.
Mas é o teu país que te destroça,
o teu próprio país quer-te esquecer
e a sua condição te contamina
e no seu dia-a-dia te assassina.
Mostras por ti o que lhe vais fazer:
vai-se por cá mingando e desistindo,
e desde ti nos deitas a perder
e fazes com que fuja o teu poder
enquanto o mundo vai de nós fugindo:
ruiu a casa que és do nosso ser
e este anda por isso desavindo
connosco, no sentir e no entender,
mas sem que a desavença nos importe
nós já falamos nem sequer fingindo
que só ruínas vamos repetindo.
Talvez seja o processo ou o desnorte
que mostra como é realidade
a relação da língua com a morte,
o nó que faz com ela e que entrecorte
a corrente da vida na cidade.
Mais valia que fossem de outra sorte
em cada um a força da vontade
e tão filosofais melancolias
nessa escusada busca da verdade,
e que a ti nos prendesse melhor grade.
Bem que ao longo do tempo ensurdecias,
nublando-se entre nós os teus cristais,
e entre gentes remotas descobrias
o que não eram notas tropicais
mas coisas tuas que não tinhas mais,
perdidas no enredar das nossas vias
por desvairados, lúgubres sinais,
mísera sorte, estranha condição,
mas cá e lá do que eras tu te esvais,
por ser combate de armas desiguais.
Matam-te a casa, a escola, a profissão,
a técnica, a ciência, a propaganda,
o discurso político, a paixão
de estranhas novidades, a ciranda
de violência alvar que não abranda
entre rádios, jornais, televisão.
E toda a gente o diz, mesmo essa que anda
por tal degradação tão mais feliz
que o repete por luxo e não comanda,
com o bafo de hienas dos covis,
mais que uma vela vã nos ventos panda
cheia do podre cheiro a que tresanda.
Foste memória, música e matriz
de um áspero combate: apreender
e dominar o mundo e as mais subtis
equações em que é igual a xis
qualquer das dimensões do conhecer,
dizer de amor e morte, e a quem quis
e soube utilizar-te, do viver,
do mais simples viver quotidiano,
de ilusões e silêncios, desengano,
sombras e luz, risadas e prazer
e dor e sofrimento, e de ano a ano,
passarem aves, ceifas, estações,
o trabalho, o sossego, o tempo insano
do sobressalto a vir a todo o pano,
e bonanças também e tais razões
que no mundo costumam suceder
e deslumbram na só variedade
de seu modo, lugar e qualidade,
e coisas certas, inexactidões,
venturas, infortúnios, cativeiros,
e paisagens e luas e monções,
e os caminhos da terra a percorrer,
e arados, atrelagens e veleiros,
pedacinhos de conchas, verde jade,
doces luminescências e luzeiros,
que podias dizer e desdizer
no teu corpo de tempo e liberdade.
Agora que és refugo e cicatriz
esperança nenhuma hás-de manter:
o teu próprio domínio foi proscrito,
laje de lousa gasta em que algum giz
se esborratou informe em borrões vis.
De assim acontecer, ficou-te o mito
de haver milhões que te uivam triunfantes
na raiva e na oração, no amor, no grito
de desespero, mas foi noutro atrito
que tu partiste até as próprias jantes
nos estradões da história: estava escrito
que iam desconjuntar-te os teus falantes
na terra em que nasceste, eu acredito
que te fizeram avaria grossa.
Não rodarás nas rotas como dantes,
quer murmures, escrevas, fales, cantes,
mas apesar de tudo ainda és nossa,
e crescemos em ti. Nem imaginas
que alguma vez uma outra língua possa
pôr-te incolor, ou inodora, insossa,
ser remédio brutal, vãs aspirinas,
ou tirar-nos de vez de alguma fossa,
ou dar-nos vidas novas repentinas.
Enredada em vilezas, ódios, troça,
no teu próprio país te contaminas
e é dele essa miséria que te roça.
Mas com o que te resta me iluminas.

Graça Moura - Portugal in "Antologia dos Sessenta Anos"

Em memória de Vasco Navarro Graça Moura, Porto 03.01.1942 – Lisboa 27.04.2014  

segunda-feira, 28 de abril de 2014

O 25 de Abril que não aconteceu

Quarenta anos depois da fugaz Revolução Portuguesa, três palpites sobre medo passageiro das elites, ilusão dos revolucionários e manobras do poder global



Estamos no mês das celebrações. Vão organizar-se muitas peregrinações ao 25 de Abril de 1974 com trajetos e até destinos diferentes, como se fossem pacotes de turismo da memória. Um tempo tão importante pelos lugares visitados como pelos evitados, pelo que vai ser dito como pelo que não vai ser dito. Remeto-me a imaginar os lugares evitados, o não- dito, propondo-me um exercício de sociologia das ausências. São três os 25 de Abril que vão estar ausentes.

O 25-de-Abril-de-quem-deve-teme. Para os poderosos, as elites de sempre (latifundiários, grandes industriais, banqueiros), todas com “sólida formação moral” certificada pela PIDE [a polícia política da ditadura salazarista], o 25 de Abril foi uma dor de cabeça, um desconforto inoportuno. Para alguns, até pareceu um bom negócio mas foi sol de pouca dura. A partir de 11 de Março de 1975, transformou-se numa ameaça que lhes causou medo e os obrigou a protegerem-se. Foi um susto passageiro, pois em 25 de Novembro do mesmo ano foi-lhes dito ao ouvido (para os portugueses comuns não ouvirem) que, com o tempo, tudo voltaria ao normal. Não seria sequer necessário criar uma comissão de verdade e reconciliação e muito menos uma que incluísse, além destas, justiça. Quarenta anos depois, quem teve medo já nem se lembra e quem lhes causou medo tem medo de lhes lembrar.

O 25-de-Abril-dos-revolucionários-aferventados. Foi a fulguração das ruas, das praças, dos campos, das escolas, das famílias, dos quarteis a incendiar a imaginação duma sociedade justa, como se a felicidade estivesse à mão, a opressão secular fosse um pesadelo passageiro e o futuro distante e radioso tivesse chegado aqui e agora para ficar. Havia partidos que se diziam de vanguarda mas nem retaguarda eram da alegria que transbordava. O país eram trabalhadoras rurais analfabetas a vasculharem maravilhadas as gavetas íntimas das senhoras da herdade; operários empolgados a tentarem convencer-se a si próprios de que tinham direitos contra o patrão; prostitutas a organizarem-se em sindicatos; jovens a fazerem sexo tão incessantemente quanto faziam cartazes e manifestos; camponeses a organizar “corporativas” por soar mais familiar do que cooperativas; jornalistas a poderem escrever socialismo ou comunismo como se fosse anúncio de filme em cartaz; professores a poderem leccionar Karl Marx e já não Carlos Marques como anteriormente faziam para despistar os informadores da PIDE no fundo da sala. Tudo aferventado porque mal cosido e a escaldar. A quem já foi senhor dos seus sonhos, mesmo que por pouco tempo, custa lembrar, em tempos de servidão, que já esteve levantado do chão.

O 25-de-Abril-das-grandes-manobras. No ano anterior, a primeira experiência de socialismo democrático do século XX, o governo de unidade popular de Salvador Allende no Chile, tinha sido esmagada por militares a soldo da CIA. Portugal corria o risco de repetir a experiência, o que, do ponto de vista dos EUA, seria ainda mais grave por ocorrer na Europa Ocidental, uma zona de influência sua nos termos do Tratado de Yalta. Kissinger considerou a invasão do país com o apoio da NATO, mas a social-democracia europeia (sobretudo alemã) opôs-se e propôs que, em vez de militares, viesse dinheiro, muito dinheiro, para fortalecer os partidos e os movimentos sociais que se opunham ao “modelo soviético”. Assim se fez e os resultados foram os esperados. Portugal ficou então em dívida para com os alemães e assim continua hoje. Mudam-se os tempos mudam-se as dívidas mas não o endividamento. Quarenta anos depois, seria impertinente falar de imperialismo norte-americano quando afinal ele é agora europeu.

O 25 de Abril foi a mega-expectativa de ontem que está na origem da mega-frustração de hoje. Aos peregrinos ao 25 de Abril de 1974 eu aconselharia que acampassem por lá durante um tempo, tomassem o ar livre, cheirassem o alecrim, conversassem sobre Portugal como se fosse outra vez coisa sua e, em vez de regressarem, organizassem uma expedição ao presente e, já que estamos a falar de peregrinos, expulsassem os vendilhões do templo. Boaventura Santos – Portugal in “Outras Palavras”

domingo, 27 de abril de 2014

ASAM

Associação do Serviço de Administração Militar

Esta fotografia, que é "composta" por um pequeníssimo grupo de Homens do Sam que estiveram presentes na EVOCAÇÃO DA EPAM E DOS 40 ANOS DO 25 ABRIL74, deve ser considerada como a prova do "minuto zero" da institucionalização da ASAM!

Foto: ASAM - Local: Antigas instalações da EPAM - 25 de Abril de 2014 


Agora... tem-se/TEMOS de avançar para as acções que conduzam ao "primeiro segundo do minuto zero":

Discussão dos Estatutos e aquisição da personalidade jurídica da "ASAM"!
NUNCA, COMO AGORA (!), FOI TÃO PRECISA, E NECESSÁRIA, A NOSSA UNIDADE E DETERMINAÇÃO PARA AVANÇAR COM A (NOSSA) "ASAM"!
"UMA VEZ SAM SAM PARA SEMPRE!"! Associação do Serviço de Administração Militar - Portugal



sábado, 26 de abril de 2014

Lopes Tembe Ndelana

Da UDENAMO à FRELIMO e a Diplomacia Moçambicana

Foi lançado em Maputo, na passada quinta-feira 25 de Abril de 2014, o livro intitulado “Udenamo à Frelimo” da autoria do antigo combatente da luta de libertação nacional de Moçambique e diplomata reformado, Lopes Tembe Ndelana.

A obra, que contou com alto patrocínio da Mcel e chancelada pela Editora Marimbique, retrata várias etapas da luta pela independência, desde as tarefas organizativas em Dar-es-Salaam, passando pelos centros educacionais e treino militar na Tanzânia, com particular realce para Kongwa e Nachingwea.

Trata-se de uma obra de 206 páginas que contém vários depoimentos de antigos combatentes e ex-diplomatas que testemunham um percurso de luta, amizade e camaradagem cultivados com o autor do livro.

De acordo com Lopes Tembe, a sua obra surge, por um lado, com intuito de dar a conhecer aquilo que foi a sua contribuição na luta armada de libertação nacional de Moçambique.


Lopes Tembe na sessão de apresentação do livro


“Por outro lado, espero dar a minha modesta contribuição aos jovens sobre a história do meu País, sobre a génese, natureza e o fim que se propunha atingir esta luta desencadeada pela Frelimo”, salientou.

Tembe acrescentou ainda que o livro resgata, igualmente, a sua contribuição para a história diplomática moçambicana, que remonta aos tempos da luta de libertação nacional, e sobretudo a experiência desenvolvida após a Independência como quadro do Ministério dos Negócios Estrangeiros, nas missões diplomáticas na Ásia e na África Austral.

Por seu turno, o presidente do Conselho de Administração da Mcel, Teodato Hunguana, explicou que a sua instituição aparece associada ao livro, como uma das empresas patrocinadoras, por estar vocacionada na cultura moçambicana. “Não é primeira vez que a Mcel apoia obras desta natureza”, disse. In “Olá Moçambique” - Moçambique

sexta-feira, 25 de abril de 2014

Que prioridades na cooperação lusófona

“Portugal foi a criação do génio galego”

Pouco se pode dizer da Galiza sobre a nossa cooperação lusófona no âmbito das Instituições.

Por um lado estamos aqui, entidades lusófonas da Galiza, que como é óbvio, temos um posicionamento muito claro neste campo e trabalhamos todos os dias para estarmos presentes e fazermos achegas e colaborações e participações no âmbito da Lusofonia, ajudando à criação de redes lusófonas abrangentes de todos, e disso é bom exemplo, esta nossa presença neste II congresso da Cidadania Lusófona1.

Também não é casual que o órgão de governo da Fundação Meendinho a que presido, esteja constituído por galegos e portugueses. 

Foto: MIL - Movimento Internacional Lusófono


Com certeza que o papel da Galiza no âmbito da Lusofonia tampouco deveria ser o mesmo de Goa e Macau, pois a Galiza é o elemento gerador de Portugal e em definitivo da Lusofonia toda, como exprimiu muito bem o historiador Alexandre Herculano numa famosa entrevista no Jornal “O Primeiro de Janeiro” do Porto, com a sua frase: “Portugal foi a criação do génio galego”, que cito de António Sérgio , na sua obra “Breve interpretação da história de Portugal”. 10ª ed. Lisboa : Livraria Sá da Costa, 1981.

Quando falo da Galiza como geradora de Portugal, – como quando falava Alexandre Herculano –, não estou a falar da Galiza que hoje existe sob Espanha. a qual sendo só uma pequena parte. acabou por usufruir o nome. Porem falo de uma Galiza histórica, que abrangia do mar Cantábrico a bem mais para sul da atual Coimbra.

No ano de 914, no avanço da reconquista para o sul, fundava-se o Mosteiro de Lorvão e na sua ata fundacional figura In finibus Galaecia. E essa Galiza que usufruiu o nome está representada neste congresso pela instituição a que presido e a Associação Pro-Academia Galega da Língua Portuguesa.

A cabeça dessa Galiza que gerou Portugal, era Braga e por ser cabeça da Galiza nessa altura é pelo que Braga continua a ser a Diocese Primaz de Portugal.

O compostelanismo e a sua visão da península, e o seu enfrentamento – para tirar o poder de Braga –, está no cerne do nascimento de Portugal, esse milagroso e providencial facto que nunca poderemos agradecer bastante, os galegos e galegas – os bons e generosos – que hoje usufruímos o nome.

Sem a existência de Portugal e sua obra, quer dizer, se, pelo contrário, o modelo do compostelanismo tivesse sido o triunfante em todo o nosso espaço identitário ocidental, hoje estaríamos muito provavelmente todos perante uma realidade não muito além da que sofreu o espaço cultural e linguístico asturo-leonês, do qual provavelmente o pequeno espaço do mirandês em Portugal seja o espaço cultural desse âmbito mais vivo, reconhecido e protegido. E não estaríamos em congressos como este, a ver com a construção de uma cidadania lusófona.

O âmbito das instituições

No âmbito das instituições, a Galiza infelizmente, como aliás, se passa com GoaMacau Malaca, não dispõe de capacidade para tomar uma posição nesse âmbito, estando como está constrangida por Espanha, que é quem determina a sua política de relacionamento, no nível internacional.

E isso, por não reunirmos as condições da estatalidade, é dizer, de sermos mais um estado lusófono, embora essa estatalidade for, como não pode ser de outro jeito, com todas as limitações que hoje tem essa categoria no âmbito internacional, ele tão travado de redes de relações e de cooperação, acordos e tratados intergovernamentais, ou com organismos de novo estilo v.g. o da doutrina Jean Monet – como foi o da Comunidade do Carvão e do Aço que veio a dar na nossa atual União Europeia.

Galiza limita-se a uma comunidade autónoma espanhola, a que se furtaram espaços territoriais, o espaço conhecido como Faixa-leste, que faz parte das Astúrias e de Castela-Leão, espaço do qual quero lembrar que no estatuto autónomo do território referendado na II República espanhola se traçava o caminho para a sua reintegração e reincorporação à Comunidade autónoma. Porém, essa República foi morta a sangue e fogo – tudo em desmesura –, e os que a mataram e seus epígonos, negociaram a sua intocabilidade na recuperação da democracia, e limites muito marcados aos espaços, na estrutura provincial (distrital) espanhola.

As províncias espanholas são uma estrutura da organização centralizada do Estado, e não espaços conformadores de realidades doutro tipo2. É bom lembrar que o nascimento dessas províncias foi o primeiro entrave que deu lugar a uma resposta a partir da Galiza no século XIX, estando isso nas origens do moderno galeguismo.

Além disso, as forças madrilenas foram firmes em evitarem que a Galiza recuperasse as suas instituições estatutárias e republicanas do exílio, e a Galiza salvo seis escassos anos do seu período autonómico, sempre foi governada, em todos os seus extremos e cantos, por partidos a afirmarem a supremacia do madrilenismo-castelhanismo, o qual se traduziu em políticas culturais e linguísticas onde se visa ligar o português da Galiza ao romance peninsular central, dialetalizando-o, e afastando-o do mundo lusófono; quer dizer, nacionalizando e estatalizando o nosso português da Galiza, como só mais uma língua “espanhola”.

Neste mês de abril – no dia oito – foi publicada a Lei 1/2014, Para o aproveitamento do relacionamento com o português e dos vínculos com a Lusofonia, aprovada por unanimidade do Parlamento da Galiza, e cuja realidade deve-se, em não pouca medida, ao empenho de entidades lusófonas como as que participamos neste II Congresso.

Essa Lei abre o caminho à presença da nossa língua na Galiza, - na sua farda portuguesa e internacional, a da Academia Galega da língua Portuguesa – e à participação da Galiza institucional no âmbito lusófono.

Porém é uma lei que do ponto de vista jurídico, quer dizer, dos elementos que conformam uma lei, carece do elemento da sua exigibilidade, o elemento coativo que carateriza as leis, pelo que aguardemos que não acabemos mais uma vez num desideratum, num anseio que não se realiza, e o seu possível sucesso, seja mais um miragem, não sendo que a Lei acabe fazendo parte, não de um projeto galego, e sim do projeto espanhol de incutir-se, vender-se, e influir na Lusofonia.

As nossas prioridades na cooperação lusófona

Para a Galiza o prioritário na cooperação lusófona, é o sucesso da Lusofonia no âmbito internacional, com todos os efeitos benéficos que isso pode trazer para a Galiza, que não são poucos, e que nalguns campos vão além do que de bom tem esse princípio benéfico, no resto do espaço lusófono.

Além disso, a Galiza faz parte de um espaço de integração e cooperação comum com Portugal, – por ser espanhola e a Espanha também fazer parte desse espaço –, estou a referir-me ao espaço da União Europeia.

A União Europeia é muitas coisas, agora fraturada numa eurolândia sob a égide alemã e o resto.

Mas há um ponto que informou substantivamente o seu nascimento, a luta contra as guerras intraeuropeias. Acredito que isso é o seu cerne, o seu primeiro valor. A União Europeia desde os começos aparece como uma garantia de que no seu espaço os problemas, conflitos entre Estados e outros, têm de se resolver sempre de modo pacífico.

Isso fazia parte do objetivo ideológico dos fundadores, o de acabarem com a sangria contínua de guerras que se davam no espaço europeu, com milhões e milhões de mortos (só na primeira metade do século XX, mais de 100 milhões de mortos) e inúmeras destruições, todos ajustando contas com os vizinhos, submetendo-os, dominando-os, roubando-os, exterminando-os, ou lidando sobre a quem temos que colocar círios nas igrejas; ou discutindo a destruição, dominação e colonização do resto do espaço terrenal, e na procura de um intangível, o do sempre esbatido e difuso equilíbrio europeu entre as potências que houver em cada altura.

Aliás, isso complicou-se pelo progresso científico-técnico, que fez que a destruição seja muito mais efetiva e o assassinato acabou industrializado3.

Tudo isso fazia que o espaço europeu não pudesse definir-se como de Paz, pois a Paz era apenas esses períodos que ficam entre o estado normal de guerras entre vizinhos, colegas e amigos, e onde muito pouco cumpria para incendiar as relações e estar de novo na baila da guerra.

Desde a II Grande Guerra e a criação do projeto europeísta, que não é intergovernamental, e isso é a chave da doutrina Jean Monet (o grande ideólogo do seu nascimento), vão lá 69 anos de paz, com só pequenos arranhões na periferia dessa construção; o caso jugoslavo, onde o de se afirmar o domínio de uns povos sobre outros e redefinir as relações internas, incendiou um espaço anterior de respeito e cordialidade, e há de ser finalmente o espaço da União Europeia, o que os acabe tornando à cordialidade.

Esse período de 69 anos, comparado com a anterior história de breves períodos de paz, mesmo parece uma miragem.

Mas essa longa história de guerras e enfrentamentos criou modelos de relacionamento entre Estados e até tiques diplomáticos em muitos países, que ainda se arrastam pelo novo espaço europeu, como se se aguardasse trovões e lôstregos4, desses vizinhos, antes sempre a ameaçarem.

Portugal, é um Estado que soube gerir de maneira excelente a sua situação, pois convivendo com um dos Estados mais agressivos e imperialistas, aliás com o único com que tem fronteiraCastela-Espanha, conseguiu sobreviver centenariamente, e sair com pequenos esgaçamentos das muitas agressões que teve de enfrentar.

Portugal, muitas vezes por malucos portugueses, soube criar em todas as situações problemáticas alternativas viáveis e de sucesso. Após Aljubarrota. Após o domínio Filipino e a brilhante restauração, em que Portugal se converteu, viradas as costas ao resto da península, no centro de um mundo. Após a independência do Brasil e a guerra civil coroada com o seu Pedro IV e uma das constituições melhores da Europa no século XIX, etc., etc.

Portugal foi quem de criar um mundo pluricontinental para a nossa língua convertendo-a em uma das línguas internacionais. A língua nossa já não é a língua de Portugal. Portugal é agora só mais um parceiro, e não o mais importante, nem economicamente nem demograficamente.
A Língua nossa é de todas as pessoas que a falamos por todos os cantos do mundo, é, como dizia Pessoa, a nossa pátria verdadeira. Essa pátria é diversa nos sotaques, mais tem que ser UNA. A diversidade intrínseca interna das línguas plurinacionais não pode empecer o sentirmo-nos todos nela da mesma pátria, nem ser causa de entraves localistas que a coloquem numa posição subordinada a respeito doutras línguas internacionais concorrentes.

O planeta é hoje mais pequeno, não há espaços para colonizar, civilizar ou explorar. O sistema internacional ganhou em interações, e os Estados – até os mais poderosos – já não agem em praticamente nada absolutamente livres e sem terem em conta outras vontades.

Para a Galiza, para o povo galego, é fulcral o jogo que faça Portugal no quadro europeu. É fulcral o sucesso de Portugal em todos os campos. Quanto mais grande for o sucesso de Portugal, e o seu compromisso e empatia com os problemas da sua língua – por toda parte–. e nomeadamente com os problemas da Lusòfonia no quadro europeu, mais poderá tirar de proveito a Galiza.

O quadro europeu, é esse quadro onde as questões se têm de arranjar de maneira pacífica, e não é possível outra maneira, os Estados não podem tomar medidas de nenhum  tipo unilaterais sobre outros Estados, pois a União Europeia não é o resultado de acordos intergovernamentais, e sim uma estrutura doutro tipo, a quem os Estados transferiram competências no quadro dos tratados, e essas competências já não são suas, dos Estados originários.

Portugal nesse quadro, nas relações peninsulares, continua com tiques que foram elementos de sucesso na sua longa história. Porém, agora já não se pode agir sem que os outros ajam também, até no interno do Estado.

Empresas de um ou de outro lado instalam-se por toda a parte ou até ocupam espaços que no século XIX se diria que constituem o cerne da segurança nacional. As empresas todas têm nação, isso da desnacionalização das empresas transnacionais é piada para incautos.

Portugal continua a perceber as relações peninsulares como cousa de dous. As cimeiras ibéricas pouca mais-valia estão a fornecer a Portugal, antes pelo contrário, ao manter tiques do passado com o poderoso vizinho. Portugal não foi capaz de usar essas cimeiras nem para trazer à tona e resolver de vez a vergonhosa e ilegítima ocupação de Olivença. As relações intrapeninsulares é preciso vê-las sempre no contexto europeu.

No contexto europeu, não despareceram velhos conflitos. Espanha é mesmo bem firme na questão de Gibraltar, ainda que a pertença de Gibraltar ao Reino Unido é absolutamente legítima de acordo com os tratados. Na Sentença do Tribunal Europeu sobre as seleções de futebol e a oposição radical de Espanha à existência da seleção de Gibraltar, sofreram um grande revés jurídico, mas isso não deu para mudarem o compasso da revindicação; nem isso empece que o relacionamento hispano-inglês seja bom, como não poder ser de outra maneira no novo quadro, salvo asneira. No caso de Olivença passa exatamente o contrário de Gibraltar; porém, os velhos tiques adquiridos fazem que não se formule a solução para o problema.

No contexto europeu temos pequenos Estados, como o caso da Hungria, que são muito ativos na defesa da sua língua para as minorias que a têm por própria noutros Estados: Eslováquia, Roménia, Sérvia, Áustria e Ucrânia. Como se ouviu a sua voz, há bem pouco, quando o Maidam no poder agora na Ucrânia modificou o reconhecimento da diversidade linguística e a oficialização das diversas línguas no território onde forem faladas. Pois bem, isso faz parte do consenso nacional dos magiares, e até está inscrito na sua Constituição. Como está inscrita na Constituição portuguesa no seu artigo 7.3  que "Portugal reconhece  o direito dos povos à autodeterminação e independência e ao desenvolvimento, bem como o direito à insurreição contra todas as formas de opressão". Porém, sem de momento modificar ações e comportamentos, ainda que exista um solene mandato legal para o fazer.

Um dos alicerces dum projeto de Portugal de futuro tem que estar alavancado na língua e na projeção lusófona e da Lusofonia. E Portugal tem de adotar um posicionamento pró-ativo na defesa dos lusófonos no quadro europeu, que não significa questionar realidades doutros Estados, mas defender os da comum pátria pessoana.

Se a Galiza sob Espanha não for percebida por Portugal como um território com a língua comum, e na que ela está verdadeiramente ameaçada sob políticas muito ativas e agressivas para a banir – Olivença pode ser bom exemplo, com a limpeza étnica realizada na sua nacionalização espanhola –, a Galiza acabará funcionando como uma alavanca espanhola de enfraquecimento e debilitamento e erosão de Portugal.

Os galegos e galegas, os lusófonos europeus todos, necessitamos de um Portugal forte e com um projeto nacional abrangente e de futuro.

Há neste momento, devido a duras circunstâncias, um pessimismo tenebroso em muitas cabeças das elites5 envergonhadas portuguesas,  e do povo – um dos mais nobres povos do mundo –. Porém, podemos ver as circunstâncias como uma oportunidade, uma necessidade de repensarmos o sermos no mundo, e pensarmos oportunidades, medidas e outras questões a tomar para que esse projeto nacional de futuro, forte e abrangente seja uma realidade.

Da Galiza, que já disse que necessitamos desse Portugal para termos futuro, da Meendinho, gostaríamos de começar a fazer algumas sugestões numa proposta de reforma do Estado, mas não é esta a altura mais indicada nem a adequada.

Já que logo quero convidar o MIL, o PASC, a Sociedade Geográfica Portuguesa e tantas instituições aqui participantes, a convocarem umas jornadas para debater, fazer achegas, fazer propostas, para o novo Portugal alegre, firme e abrangente e satisfatório para a sua população que todos necessitamos. O processo poderia ser divido em áreas de trabalho, e em cada uma delas ir fazendo-se estudos e debates prévios, para termos claros os campos fracos e fortes, para medidas a adotar, e logo pondo propostas em comum, que há que fazer que sejam mobilizadoras das energias do povo de Portugal. Alexandre Banhos – Galiza

In “Intervenção no II Congresso sobre a Construção da cidadania lusófona. Lisboa 15, 16 de Abril 2014.”

Notas:

1[1] Já tive a honra de representar a Fundação Meendinho no I Congresso de Cidadania Lusófona:http://www.academiagalega.org/images/stories/2013/20130403_alexandre_banhos_discurso_cidadania_lusofona.pdf.
2[1] É bom lembrar, hoje que se ouve tanto falar da Catalunha, que o seu estatuto de autonomia da Segunda República incorporou ao espaço da província de Lérida/Lleida a parte de língua catalã de Aragão, o que chamam na geografia da Catalunha Franja de Ponent. E o primeiro que vai fazer a ditadura foi reduzir o seu território.
3[1] O processo de extermínio nazista de populações em campos onde o assassinato foi industrializado.
4[1] Forma antiga do português, viva no norte e na Galiza para a palavra acadêmica raio – resplendor produzido por descarga elétrica numa tormenta. Raio em português, e nesse contexto, é palavra de origem castelhana.
5[1] Muitas das elites portuguesas agem envergonhadas, como se em realidade quiserem ser outra coisa.