Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

sábado, 19 de abril de 2014

Portos - Trafaria, Barreiro, Bobadela, um triângulo possível?

Desde que no início do ano de 2013 foi anunciado um porto de águas profundas na Trafaria, que muita tinta tem sido gasta sobre o futuro porto de contentores de Lisboa.

Normalmente o que é escrito ou comentado nas televisões por pessoas que estão aptas a dissertar sobre qualquer matéria demonstra na grande maioria das intervenções um desconhecimento sobre a realidade, principalmente na componente técnica, face à tecnologia empregue nos dias de hoje.

Os textos que por aqui já escrevi sobre o porto de águas profundas na Trafaria começaram por ser muito críticos em relação a esta construção, depois a análise possível ao desenvolvimento deste porto foi encontrando outras possibilidades ao projecto inicialmente apresentado e hoje já afirmo que o porto da Trafaria até tem a possibilidade de ser um bom investimento, com capitais estrangeiros e sem prejudicar os utentes do magnífico areal da Caparica, bem como os moradores da freguesia da Trafaria. O interessante é que o pensamento do governo se move na razão inversa do meu.

Depois de vir a público um porto de águas profundas no Barreiro, apoiado pelas forças autárquicas da região, recuou-se para um possível porto nesta localidade, sem se saber bem até onde pode chegar a capacidade de um porta-contentores nesta parte do leito do Tejo.

Foi precisamente neste ponto e analisando o que os países desenvolvidos da Europa fazem, que o meu pensamento sobre a possibilidade de um porto de águas profundas na Trafaria começou a ter forma.

Não faz sentido hoje, criar um porto de raiz para o transporte de contentores, que não tenha a capacidade para receber os “Post Panamax Plus” classe “C”, os “New Panamax” classe “D” ou mesmo os “Post News Panamax – Triple E” classe “E”, estes últimos já têm uma capacidade superior ao futuro canal do Panamá, mas estão aptos a aportar em Sines. Quanto maior for a capacidade de transporte, menor será o custo a grandes distâncias.

O grande problema do projecto inicial do porto da Trafaria era a linha férrea, com a sua passagem pela arriba fóssil e atravessando uma região densamente povoada da margem sul do Tejo. Hoje a grande questão que apresento é a seguinte: mas é preciso uma linha férrea para o escoamento dos contentores da ponta da margem sul do Tejo?

Quando o governo afirma que abandona o terminal “transhipment” para só pensar num terminal de contentores “hinterland” não se terá a esquecer que o “transhipment” além de ser um terminal que serve de plataforma giratória intercontinental, poderá ser também um “transhipment” para um movimento fluvial, através do rio Tejo com destino a dois portos de rectaguarda, esses sim “hinterland” um do lado sul no Barreiro, outro no lado norte na Bobadela, ambos com boas possibilidades no transporte intermodal, no rodoviário para pequenas distâncias ou no ferroviário para médias e grandes distâncias com a possibilidade de escoar grandes quantidades de mercadorias.

Por que não um porto de águas profundas na Trafaria a fazer também “transhipment” para dois portos fluviais no rio Tejo? Aí entrariam em actividade os porta-contentores classe “A” e “B” com um fundo de 10 metros, navios com melhor acessibilidade a um porto como se pretende no Barreiro. Conforme as necessidades de transporte para o local de destino, optava-se pela margem norte, Bobadela, ou margem sul, Barreiro.

Porto Tanjung Pelepas
Depois de analisar os principais portos internacionais de movimento de contentores, concluo que o porto da Malásia o “Tanjung Pelepas”, vencedor do Prémio Verde para a região Ásia-Pacífico em 2012, com uma capacidade superior a 6 milhões de TEUS é aquele que mais se aproxima das características de um porto na Trafaria.

Caso o canal da Nicarágua, de capitais chineses avance para uma nova porta no comércio oriente – ocidente, não estará a própria China interessada num porto de águas profundas na costa oeste da Europa? Baía da Lusofonia

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