Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

quinta-feira, 17 de julho de 2014

Angola – Mbanza Congo candidata a património mundial da humanidade

Mbanza Congo- Três anos depois do início do processo de escavações arqueológicas para a descoberta de vestígios históricos e culturais destinados a sustentar o dossier de candidatura a património mundial da humanidade, o projecto "Mbanza Congo: cidade a desenterrar para preservar" entrou em velocidade cruzeiro e com indicadores positivos para a sua concretização junto do Organismo das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO).

Escavações arqueológicas de Mbanza Congo Foto: Alberto Julião


Fruto do trabalho de 11 arqueólogos angolanos e estrangeiros, liderados pela angolana Sónia Domingos, quadro do Instituto Nacional do Património Cultural, instituição afecta ao Ministério da Cultura, o processo culmina, muito em breve, na inscrição da histórica e antiga capital do Reino do Congo na lista de bens sob a protecção da UNESCO, dotando, desta forma, Angola de um bem cultural com valor imensurável.

Numa corrida contra o tempo para cumprir os timings estabelecidos, a equipa aportou, na terceira fase do trabalho de escavações arqueológicas, na “velha” cidade de Mbanza Congo, onde, durante três meses (Abril, Maio e Junho) arregaçou as mangas e empenhou-se fundo nas escavações para encontrar vestígios enterrados há séculos.

Apostados em mostrar que o objetivo supremo "inscrição de Mbanza Congo" na lista do património mundial é alcançável, os especialistas "vasculharam" todos os cantos da cidade em busca de vestígios do passado que possam contribuir na conquista de vontades dentro das estruturas da UNESCO.

Sem olhar a meios e mesmo debaixo de um calor intenso, os especialistas não descuraram nenhuma hipótese encontrada no terreno das escavações, fazendo com que cada uma das peças (artefactos, ossadas humanas e outros utensílios) que apresentem vestígios de um passado longínquo mas histórico entre no baú das avaliações e catalogação para posterior análise em laboratórios norte-americanos, a fim de se comprovar o seu valor histórico cultural.

Surpreendidos em plena jornada laboral, depois de uma visita, 24 horas antes, da ministra da Cultura, Rosa Cruz e Silva, por uma equipa de jornalistas provenientes de Luanda, os membros da equipa, que na véspera tinham ganho mais três reforços, nomeadamente a dupla de antropólogos John e Linda Trontom e da directora do Instituto Nacional do Patrimonio Cultural, Maria da Piedade, procuraram satisfazer a curiosidade dos profissionais de comunicação social ávidos por mais detalhes sobre o assunto.

Sempre disponível e com um sorriso nos lábios, a coordenadora do projecto, a arqueóloga angolana Sónia Domingos, recorreu ao seu manancial de informações para "matar" a curiosidade dos escribas angolanos, dando, ao pormenor, todos os detalhes sobre as três fases já executadas e a seguinte, que vai culminar com um atelier de fundamentação (última etapa de concepção do relatório, verificação das provas) que serão enviadas, numa primeira versão, em Setembro deste ano, à UNESCO, dando mostras do trabalho realizado até ao momento.

Esta etapa, segundo a ministra da Cultura, Rosa Cruz e Silva, servirá de ensaio geral para o trabalho final, pois, a partir da resposta a ser dada pela UNESCO,  com indicações sobre as correcções a serem feitas, os técnicos vão então concentrar-se na versão final do texto de fundamentação para que, em Janeiro de 2015, seja enviada a versão definitiva, para se ficar  à espera dos resultados finais sobre a inclusão ou não de Mbanza Congo na lista de património mundial.

Etapas do projecto

O projecto para a inscrição de Mbanza Congo na lista do património mundial reserva, entre outras, a componente científica para a descoberta dos elementos materiais e imateriais que deverão fundamentar o valor excepcional e universal desta capital do antigo Reino do Congo.

A coordenadora do projecto, a arqueóloga angolana Sónia Domingos, enumerou as acções de pesquisa sobre o património imaterial, o levantamento arquitectónico dos edifícios mais emblemáticos e históricos da cidade, seu estudo e inventariação para posterior classificação.

As escavações arqueológicas em curso e já na sua terceira fase foram destacadas pela responsável, assim como o estudo documental que foi feito em vários países, como França, Bélgica, Alemanha, Portugal e no estado do Vaticano, que detêm vários documentos inéditos sobre o reino do Congo.

De acordo com a arqueóloga, os arquivos documentários são de grande valor porque servirão também de argumentação do dossier de candidatura a ser apresentado a UNESCO, que confirmará o valor extraordinário de Mbanza Congo.

Sónia Domingos realçou ainda as pesquisas sobre a tradição oral local que permitiram a delimitação do centro histórico de Mbanza Congo, através das conhecidas 12 fontes de água que circundam esta localidade e que estão ligadas ao momento da fundação do Reino do Congo.

“Todos os elementos que serviram para a fundação do Reino do Congo, que inclui a localização estratégica de Mbanza  Congo, os cursos de água, entre outros, servirão também para a elaboração da declaração a ser entregue à UNESCO“, frisou.

Fundamentou que, ao fazer a declaração do valor excepcional e universal de Mbanza Congo, a equipa científica pretende provar que todos os elementos que estiveram na base da fundação do Reino do Congo ainda estão patentes e bem visíveis nesta localidade.

As próximas etapas

Concluído a terceira fase dos trabalhos de escavações arqueológicas, os especialistas, a que se vão juntar em Agosto um antropólogo físico, estarão virados para mais duas etapas: fotografia aérea (retratos de vários ângulos da cidade de Mbanza Congo e das áreas de escavações) e o plano de gestão (tratamento do texto de fundamentação, inventariação e catalogação final das praças recolhidas e a serem enviadas para laboratórios internacionais ais para a sua comprovação científica).

Os planos da ministra da Cultura

Em função dos resultados alcançados com o processo de escavação arqueológica, a ministra da Cultura, Rosa Cruz e Silva, manifestou a ambição da criação de uma escola de arqueologia e de um museu do Zaire. A escola, de acordo com a governante, terá como missão formar técnicos para esta área do saber que vão reforçar os quadros dos museus de Arqueologia de Benguela e do Zaire e surge na sequência dos resultados alcançados com a acção dos especialistas angolanos e estrangeiros que trabalham para a inscrição da cidade de Mbanza Congo como Património Mundial da Humanidade da UNESCO.

"Vamos, em colaboração com o Governo do Zaire, elaborar um plano para que, no âmbito do programa do Executivo, para o ano 2015, possa ser incluída verba para a edificação da escola e do museu, como forma de garantimos a formação de mais especialistas, bem como para acolher as peças recolhidas no processo de escavação arqueológica do dossier Mbanza Congo", disse a ministra.

Os resultados dos arqueólogos no terreno

Satisfeita com os resultados alcançados até ao momento pela equipa de arqueólogos no terreno, a ministra diz ser um trabalho de reconhecido valor, tendo em conta o alcance dos mesmos no trabalho final que se pretende enviar à UNESCO. "É um trabalho que começou em 2011 e até ao momento é bastante satisfatório, pois permitiu a recolha e descoberta de vários artefactos e locais de interesse histórico cultural, que reforçam a nossa convicção de que estamos no bom caminho", apontou a governante.

Nas escavações, estão envolvidos especialistas do Museu de Arqueologia, da Comissão Científica do Ministério da Cultura e das Universidades de Coimbra (Portugal) e Yaoundé (Camarões). Fruto das várias fases desenvolvidas, a equipa conseguiu reunir quatro mil peças resultantes das escavações efectuadas, que deverão se inventariadas, catalogadas e classificadas.

Entrega do dossier à UNESCO

O dossier relativo a candidatura da cidade de Mbanza Congo a património mundial da humanidade será entregue à UNESCO em Janeiro de 2015, após a conclusão das várias fases desenvolvidas pelo Governo angolano, através do Departamento Ministerial da Cultura.

No entanto, antes de Janeiro de 2015, o Governo fará chegar, em Setembro deste ano, o pré-dossier para que os peritos da UNESCO possam fazer uma avaliação e pronunciar-se sobre as correcções e alterações que serão feitas a fim de se melhorar o texto final.

O projecto de inscrição da cidade de Mbanza Congo na lista do Património Mundial da Humanidade da UNESCO foi lançado em 2007, com a realização de uma Mesa Redonda Internacional, denominada “Mbanza Congo, cidade a desenterrar para preservar”.

História da cidade de Mbanza Congo

M'Banza Congo é uma cidade e município da província do Zaire, e tem cerca de 68 mil habitantes. Foi a capital do antigo reino do Kongo e designou-se São Salvador do Congo até 1975. A cidade foi fundada antes da chegada dos portugueses e era a capital de uma dinastia que governava desde 1483. O local foi abandonado durante guerras civis que eclodiram no século XVII.

M'Banza Congo foi o lar dos Menekongo, monarcas que governavam o Reino do Congo. No ano de 1549, por influência dos missionários portugueses, foi construída a Sé Catedral de São Salvador do Congo, a mais antiga da África Sub-Sahariana, o nome da igreja no local é Nkulumbimbi. Foi elevada ao estatuto de catedral em 1596.

O papa João Paulo II visitou a catedral em 1992.

O nome São Salvador do Congo apareceu pela primeira vez em cartas enviadas por Álvaro I do Congo ou Álvaro II do Congo, entre os anos de 1568 e 1587. A cidade voltaria a chamar-se M'Banza Congo, após a Independência de Angola em 1975.

Quando os portugueses aí chegaram, ela já era uma grande cidade, a maior da África sub-equatorial. Durante o reinado de Afonso I, edificações de pedra foram criadas, incluindo o palácio e muitas igrejas.

Em 1630, foram relatados cerca de 4000 a 5000 baptismos na cidade com uma população de 100.000 pessoas. A cidade foi saqueada várias vezes durante as guerras civis do século XVII, principalmente na batalha de Mbwila e foi abandonada no ano de 1678, sendo reocupada em 1705 por seguidores de Dona Beatriz Kimpa Vita, a partir desta época a cidade não foi mais abandonada. Venceslau Mateus – Angola in “ANGOP”

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