Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

domingo, 31 de agosto de 2014

Timor-Leste – Padre Domingos Soares entrevistado pela Plataforma Macau

Timorenses em Macau abriram caminho para a independência

No final da década de 90, o Grupo de Macau Rai – Timor teve “um papel muito importante no último arranque para a independência” do país, recordou, em entrevista ao Plataforma Macau, o padre Domingos Soares, presidente da associação. Numa viagem aos anos da resistência timorense, o sacerdote realça também que a associação está a preparar uma recolha de dados sobre os filhos e netos dos macaenses que constituíram família em Timor e que não regressaram.


PLATAFORMA MACAU - Como nasceu o Grupo de Macau Rai – Timor?

DOMINGOS SOARES - Nasceu com o Padre Francisco Fernandes em 1996, numa altura em que Timor estava a precisar de ajuda e Macau tinha muitas facilidades. Como o próprio nome indica, este grupo dá voz a uma ligação entre o povo timorense e de Macau. É uma ligação histórica por causa do colonialismo português. Quando vinham barcos de Portugal [para Macau], passavam por Goa e Timor, de modo que havia uma ligação forte.

Também havia muita gente de Macau em Timor porque, em primeiro lugar, precisava-se de mão-de-obra, como construtores, pedreiros ou carpinteiros. Além disso, vários presos eram enviados para Macau, Moçambique ou Angola. Em Timor também tivemos vários presos de outras colónias portuguesas.

Nessa troca de pessoas e de uma imigração, por vezes, forçada, constituíram-se famílias. Eram pessoas de Macau que casaram com timorenses e muitos dos filhos ficaram em Timor, espalhando-se depois durante a invasão indonésia. Muitos chineses e filhos dessa nova ligação foram mortos em Díli, outros conseguiram vir para Macau em 1975 ou para a Austrália.

P.M. - O seu envolvimento já coincidiu com uma nova fase deste grupo.

D.S. - A situação em Timor acalmou e, com a morte do Padre Francisco em 2005, o grupo esteve quase a desaparecer. Cheguei em 2008 e vimos que era necessário que a ligação entre Timor e Macau continuasse. Em 2010 fizemos a restauração do grupo. Este grupo tem andando com dificuldades porque não existem muitos timorenses em Macau. Além disso, existe outra associação de timorenses. Da nossa parte, vamos celebrando o aniversário da morte do Padre Francisco com missa ou jantar e confraternização. No ano passado, convidámos a cônsul de Timor em Bali, que veio falar sobre a participação da mulher na resistência e o que a mulher tem feito após a resistência.

P.M. - O grupo tem sido liderado por padres. Esta associação tem um pendor religioso?

D.S. - Não está ligado à diocese. É uma associação aprovada pelo Governo da RAEM, temos um cariz religioso, pois nas nossas atividades, a parte religiosa está sempre presente, com a missa pelas almas dos benfeitores ou pelas almas dos heróis timorenses.

P.M. - De que forma este grupo teve um papel importante na causa timorense?

D.S. - O Padre Francisco Fernandes teve um papel muito ativo. Conseguiram fazer a ponte [entre pessoas] daqui para Portugal e no regresso de Portugal a Timor quando a situação estava mais calma.

De salientar o papel muito importante no último arranque para a independência, sobretudo quando Xanana Gusmão estava na prisão e havia a necessidade de criar uma plataforma entre os partidos políticos – que eram cinco – para poder lançar a nossa luta e fazer reviver [a causa] nas Nações Unidas.

O Padre Francisco Barreto, que era irmão do maestro Simão Barreto, um dos fundadores do Grupo de Macau Rai-Timor, foi visitar Xanana Gusmão à prisão em Jacarta. Apesar da comunicação não ser fácil, o padre conseguiu trazer para Macau uma carta de Xanana com as orientações para a realização de um congresso dos timorenses na diáspora. Xanana confiou então ao Grupo de Macau Rai – Timor que preparou tudo com a ajuda do Governo para a realização desse congresso. Acabou por não se realizar em Macau, mas em Portugal.

P.M. - E onde estava nesta altura?

D.S. - Em setembro de 1997, encontrei-me com o Presidente Jorge Sampaio, que me disse: `É isto que estamos a precisar, Portugal quer ajudar Timor a ser independente, mas não temos uma plataforma, não temos um povo unido para podermos dizer que queremos defender os interesses do povo´.

Nessa altura, os partidos não estavam unidos, havia a UDT, a FRETELIN, os outros não eram partidos fortes e esses dois não se uniam para criar a plataforma e para Portugal poder apoiar.

Foi assim que, com o impulso de Jorge Sampaio, estivemos cerca de um ano a preparar a Convenção de Peniche, que se realizou em 1998. Quando terminámos, Jorge Sampaio comunicou às Nações Unidas que a nossa luta estava a recomeçar. Já havia uma plataforma – a CNRT (Conselho Nacional da Resistência Timorense).

As Nações Unidas reagiram e enviaram um grupo para observar a situação e apoiar a resistência. Depois houve uma abertura da Indonésia com a renúncia de Suharto e foi o presidente Habibie que se abriu para o referendo, que se realizou em agosto de 1999.

P.M. - Mas já estava em Macau nessa altura?

D.S - Ainda não estava neste grupo. Quando o Padre Francisco foi para Lisboa, eu estava lá. Fui obrigado a sair de Timor, porque a Indonésia não gostava nem queria a minha presença no país. Até foi bom, dizemos sempre que Deus escreve direito por linhas tortas. Foi para dar uma mão à causa.

P.M. - Antes de 1999 viviam mais timorenses em Macau?

D.S. - Sim. Muitos vieram em 1975 e outros em 1999.

P.M. - A comunidade exilada não se fixou em Macau?

D.S. - Muitos foram para a Austrália, que nessa altura oferecia facilidades.

P.M. - Quantos timorenses vivem agora cá?
D.S. - Ainda não fizemos esse levantamento. Timorenses como eu, que vieram de lá, somos poucos. Entre 10 a 20.

P.M. - E quantas pessoas pertencem ao grupo?

D.S. - Na direção estamos nove pessoas. Temos por volta de 50 membros, que não são todos timorenses, Esta é uma associação de Macau-Timor.

P.M. - E que estão a fazer agora?

D.S. - Estamos sobretudo a apoiar os estudantes. Ao longo dos anos, angariámos dinheiro e conseguimos ajudar na formação de timorenses em Macau, Timor ou Indonésia. O nosso objetivo é fazer a ponte entre os dois lados. Temos um projeto, que vamos apresentar à Fundação Macau. Queremos que alguns dos nossos membros da direção vão até Timor contactar os filhos e netos de pessoas de Macau que por lá ficaram.

P.M. - Quantos serão?


D.S. - Centenas. Mas como já referi, aqueles que tinham mais possibilidades foram para a Austrália. Catarina Domingues – Macau in “Plataforma Macau”

sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Macau – PIB cresce 8,1% no 2º trimestre de 2014

No segundo trimestre do corrente ano o Produto Interno Bruto (PIB) registou um acréscimo de 8,1%, em termos reais, face ao idêntico trimestre de 2013, ou seja, inferior aos 12,4% verificados no primeiro trimestre, devido ao impacto do declínio das exportações de serviços do jogo, que conduziu ao abrandamento do crescimento económico. Assim o impulso deste crescimento ficou a dever-se, principalmente, ao aumento do investimento e das exportações dos outros serviços turísticos. Realça-se que o investimento privado, as exportações de bens e os outros serviços turísticos subiram 56,4%, 10,4% e 10,4%, respectivamente. Em contrapartida, as exportações de serviços do jogo desceram 0,5% em termos anuais. No primeiro semestre deste ano, o crescimento económico foi de 10,2% em termos reais, enquanto o deflactor implícito do PIB do segundo trimestre, que mede a inflação global, ascendeu 9,8% em termos anuais, informam os Serviços de Estatística e Censos.
  
A despesa de consumo privado cresceu de forma estável. O emprego apresentou um comportamento favorável e aumentou a procura de recursos humanos, pelo que o número total de empregados e o rendimento do emprego atingiram níveis recordes, impulsionando um crescimento de 7,0% em termos anuais da despesa de consumo privado. A despesa de consumo final das famílias realizada no mercado local e a despesa no exterior subiram 7,3% e 6,6%, respectivamente.
  
A despesa de consumo final do Governo apresentou um acréscimo de 4,8%, em termos anuais. Salienta-se que a remuneração dos empregados se elevou 3,4%, bem como ascenderam 7,5% as compras líquidas de bens e serviços.

O investimento foi o principal motor do crescimento económico. A formação bruta de capital fixo, que reflecte o investimento, expandiu-se significativamente 52,7% em termos anuais, muito superior aos 30,9% registados no primeiro trimestre. O investimento realizado pelo sector privado aumentou 56,4%, em virtude de estar em pleno andamento a construção de várias instalações de turismo e entretenimento de grande envergadura. Destaca-se que os investimentos em construção e em equipamento subiram 58,3% e 46,9%, respectivamente. O investimento realizado pelo sector público cresceu 9,6% em termos anuais, reflectindo-se nas subidas de 10,4% e 4,0% dos investimentos em construção e em equipamento, respectivamente.

A tendência ascendente do comércio de bens manteve-se. A procura externa cresceu moderadamente, pelo que as exportações de bens aumentaram 10,4%. Por seu turno, as importações de bens subiram 18,3%, graças à expansão do investimento privado e ainda aos acréscimos da despesa de consumo privado e do número de visitantes.
  
O crescimento do comércio de serviços abrandou. Os outros serviços turísticos subiram 10,4% em termos anuais, devido ao aumento do número de visitantes e da respectiva despesa, porém, as exportações de serviços do jogo chegaram ao final da tendência ascendente dos últimos seis trimestres, registando menos 0,5% em termos anuais. O crescimento das exportações de serviços contraiu-se acentuadamente, para 1,3%, enquanto as importações de serviços diminuíram 11,1%, em termos anuais, em virtude do impacto do comportamento. Direcção dos Serviços de Estatística e Censos - Macau

Guiné Equatorial – Começa a implementar o ensino de português

O Ministro Lucas Nguema analisando o projecto apresentado
O segundo Vice-ministro e Ministro da Educação e Ciências, Lucas Nguema Esono Mbang recebeu no passado dia 26 de Agosto de 2014, no seu gabinete na cidade de Bata, Guiné Equatorial, uma delegação da Madeira Multilingual School liderada pelo seu Director-geral Sílvio Sousa Santos, que começará em breve a implementar a aprendizagem da língua portuguesa em algumas escolas da Guiné Equatorial.

O encontro teve a presença, além do Ministro Nguema Esono Mbang, do Ministro delegado, José Nchama, do Secretário de Estado do Ensino Primário e Secundário, Pascual Masa, e os Directores-gerais das diferentes áreas que compõem o Departamento de Educação e Ciências.

A entrada da Guiné Equatorial como membro efectivo da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) no passado mês de Julho em Dili, Timor Leste, levou que as autoridades da Guiné Equatorial começassem a elaborar um projecto que incorpore a língua portuguesa nas escolas, para cumprir o desígnio de língua oficial.

Em cima da mesa, teve em análise a implementação do acordo já assinado entre a Madeira Multilingual School com os centros Carige (Comité de apoio à criança ecuatoguineana) que teve o apoio da Primeira-dama da Guiné Equatorial, Constancia Mangue de Obiang.

A Madeira Multilingual School, denominação que teve início em 2013, é a herdeira da antiga Escola Britânica da Madeira que foi fundada em 1980 no Funchal. Sílvio Sousa Santos nasceu no Funchal a 16 de Maio de 1960, tem um mestrado em Gestão pelo Instituto Superior de Gestão da Universidade de Lisboa, foi deputado à Assembleia Regional da Madeira pelo PSD, é professor e empresário. Baía da Lusofonia

Moçambique – Defesa do consumidor

A Associação de Defesa do Consumidor de Moçambique (DECOM) recomenda que se faça uma maior divulgação da Lei da Concorrência, aprovada pela Assembleia da República, em Abril do ano passado, pois este instrumento é uma das garantias da salvaguarda dos direitos do consumidor.

Foi com este intuito que esta organização promoveu, na passada quarta-feira, 27 de Agosto de 2014, na cidade de Maputo, um seminário subordinado ao lema "A Pertinência da Concorrência e a Defesa do Consumidor", no qual, para além da divulgação deste dispositivo, estiveram em debate as atribuições da Autoridade Reguladora da Concorrência.

Segundo Mouzinho Nicols, presidente da DECOM, o encontro, que contou com a participação de representantes de diversos sectores de actividade, serviu para divulgar a lei e explicar de que modo ela beneficia o consumidor.

"Se as instituições dominarem a Lei da Concorrência, poderão actuar de forma correcta e fazer a sua parte na relação com os diversos parceiros, tendo como fim último salvaguardar os direitos do consumidor", disse.

Mouzinho Nicols explicou que a importância da promoção da concorrência reside no facto de ela beneficiar directamente o consumidor, mas alerta que tal só é possível se ela for feita de forma "leal e justa".

"A Lei da Concorrência foi concebida a pensar no consumidor. Se a concorrência for leal e justa, quem sai a ganhar é o consumidor, que é o cliente. Como cliente, ele deve receber produtos e serviços de qualidade", realçou.

No caso em que o produto ou serviço não é de qualidade, "chama-se o regulador para intervir. Este tem a missão de ver se essa insatisfação deriva do desrespeito às regras ou da negligência do consumidor. Há diversos factores por detrás da defesa do consumidor, mas o mais importante é que a relação deste com o fornecedor e as empresas seja sã e saudável".

Já o ministro da Indústria e Comércio, Armando Inroga, considerou o encontro pertinente, na medida em que o domínio da Lei da Concorrência pode contribuir para a melhoria na prestação de serviços ao mercado, assim como para a estabilidade dos preços dos produtos e, consequentemente, para a satisfação do cidadão.

O governante entende, no entanto, que para a defesa plena dos direitos do consumidor é necessário que se conclua a regulamentação da Lei de Defesa do Consumidor e se introduza uma entidade pública que, de forma única e exclusiva, se dedique a esta tarefa.

Relativamente à divulgação da Lei da Concorrência, o ministro da Indústria e Comércio revelou que "a nível do Governo, este processo iniciou em 2013, e consistiu na regulamentação e implementação deste dispositivo legal, para além da identificação e reabilitação de instalações para o funcionamento da Autoridade Reguladora da Concorrência, entre outras actividades levadas a cabo no País e no estrangeiro". Olá Moçambique - Moçambique

quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Brasil – Festlip 6ª Edição



Sexta edição do Festival Internacional de Teatro da Língua Portuguesa - O português João Mota, com 57 anos de carreira artística, é o homenageado.

O Festlip - Festival Internacional de Teatro da Língua Portuguesa, em sua sexta edição, presta homenagem ao ator, diretor e professor João Mota, Com 57 anos de carreira artística, é considerado um dos principais nomes do teatro de Portugal.

João Mota  /  Foto: Beatriz Canoa
Mota já encenou mais de cem espetáculos, parte deles com a companhia Comuna – Teatro de Pesquisa, que fundou em 1972. Trabalhou com nomes como Peter Brook e passou ainda por Angola, França, Irã e Brasil, onde trabalhou com Henriette Morineau e Augusto Boal, entre outros. Há três anos é também diretor artístico do Teatro D. Maria II.

Realizado pela Talu Produções, o Festlip apresenta entre os dias 27 de agosto e 5 de setembro 11 peças inéditas de Angola, Brasil, Cabo Verde, Moçambique e Portugal – todas com entrada franca –, além de palestras, oficinas, exposição, show e mostra gourmet.

Entre os espaços culturais que receberão a programação teatral do Festlip estão: Casa de Cultura Laura Alvim, Teatro Municipal do Jockey, Teatro Ipanema, Teatro Café Pequeno, Teatro Gláucio Gil e Sesi Jacarepaguá.

A inovação deste ano é a FESTLIPinho, onde pela primeira vez, o Festlip apresentará uma peça infantil, “O Príncipe Feliz”, da Cia. Magia e Fantasia, de Portugal, que será encenada no Morro de São Carlos e no Parque Lage, também com entrada franca.

O já tradicional FESTLIPSHOW ocorre no Parque Lage, no Jardim Botânico, no dia 30 de agosto, a partir das 22h, com desafio de DJs de Angola, Brasil e Portugal, com versões eletrônicas de kuduro, MPB e fado, com abertura da DJ brasileira Ana Paula.

Os debates, palestras e oficinas do II Encontro Cultural de Língua Portuguesa entre os dias 1 e 2 de setembro, no SESI Centro, com a participação de dramaturgos, encenadores e programadores internacionais.

Em meio ao teatro, música e debates, ocorre também o FESTGOURMET no restaurante Zazá Bistrô Tropical, no bairro de Ipanema, que trará o menu especial denominado de “O tempero da língua portuguesa”,

Este ano, a exposição fotográfica será realizada em parceria com o Camões – Instituto da Cooperação e da Língua. Intitulada “O cinema português”, a mostra será no Parque Lage e terá imagens projetadas que traçam um panorama dos mais de cem anos da história do cinema lusitano. J Carlos da Silva – Brasil in “Portal Galego da Língua”



José Carlos da Silva Desde 2008, é correspondente do PGL no Brasil. Residente em Campinas (São Paulo), é produtor cultural e periodista. Como produtor cultural trabalha pela difusão da cultura caipira, que tem na viola de 10 cordas, sua maior expressão.

Lusofonia – Portos de Santos, Itajaí e Sines no “top” mundial de contentores

O Porto de Santos no Brasil encontra-se na 38ª posição na movimentação de contentores no ano de 2013, segundo o anuário “World Top Container Ports 2014” apresentado recentemente pela revista especializada “Container Management”. O Porto de Santos encerrou o ano com um movimento de 3448879 de TEUs (medida-padrão internacional equivalente a contentores com 20 pés de comprimento), um crescimento de 8,7% face ao ano de 2012. O Secretário de Infraestrutura Portuária da Secretaria de Portos, Tiago Barros, reafirmou no passado dia 13 de Agosto de 2014, o compromisso de manter o calado do Porto de Santos e trabalhar para aumentar a profundidade em todos os trechos para um padrão único de 13,2 metros, permitindo uma melhor acessibilidade ao porto.

O Complexo Portuário do Itajaí no Brasil apresenta-se no 103º lugar, uma melhoria de cinco posições em relação ao ano anterior com 1120627 TEUs operados durante o ano de 2013, uma evolução anual de 12% na movimentação de cargas contentorizadas. O superintendente do Porto de Itajaí, António Ayres dos Santos Júnior considera a presença do porto entre os 120 maiores do mundo como uma grande satisfação para a Autoridade Portuária de Itajaí e um reconhecimento por todo o trabalho desenvolvido e um melhor aproveitamento dos investimentos que o porto tem recebido na melhoria das infra-estruturas terrestre e aquaviária.

O Porto de Sines em Portugal integra pela primeira vez a tabela do anuário “World Top Container Ports 2014” ao entrar directamente para a 115ª posição, graças à maior subida mundial registada em 2013, ao assinalar um crescimento de 68%. Ao movimentar 931036 TEUs durante o ano de 2013, mais 378 mil que o ano anterior, o Porto de Sines gerida pela PSA de Singapura viu os seus níveis de produtividade aumentar substancialmente, com uma média de 200 TEUs movimentados por hora, trabalhando as 24 horas diárias. O Porto de Sines espera alcançar no corrente ano 1,2 milhões de TEUs e ultrapassar entre outros, o porto de Las Palmas nas Canárias, que ocupou em 2013 a 109ª posição, sendo o quarto porto espanhol com mais movimento de contentores, depois de Algeciras (30º com 4,35 milhões de TEUs), Valência (31º com 4,33 milhões) e Barcelona (78º com 1,7 milhões). Destaque-se o Porto de Algeciras que desde o mês de Novembro de 2013 recebe os novos porta-contentores classe E que transportam cargas de 18000 TEUs. Baía da Lusofonia

Brasil – Movimento de cargas conteinerizadas marca o mês de Julho no Porto de Santos

O acumulado no ano pelo complexo soja também continua em alta, apresentando crescimento de 7,8%.

O Porto de Santos registrou, em julho último, o segundo maior movimento para esse mês, atingindo 10.081.424 t, ficando abaixo (3,7%), apenas, do resultado obtido em julho do ano passado, quando foram movimentadas 10.469.5552 t.

O destaque no mês e no acumulado do ano ficou com a carga conteinerizada, que apresentou o segundo melhor desempenho mensal de sua história, com a movimentação de 326.614 teu, ficando abaixo, somente, do resultado obtido em novembro do ano passado (327.359 teu). O volume acumulado no ano (2.047.823 teu) registra, também, o melhor desempenho de cargas conteinerizadas no período, com crescimento de 8,5% em comparação ao mesmo período do ano passado (1.888.180 teu).

O desempenho da carga conteinerizada no Porto de Santos já vem se destacando há alguns anos, atingindo, em 2013, um crescimento de 8,8%. O índice é o maior do Brasil no ano e superior a média mundial (4,8%), conforme a consultoria marítima Drewry Maritime Research. Como comparação, o maior porto do mundo em operação de contêineres, Xangai (China), obteve crescimento de 3,3% em relação a 2012 (Lloyds). No Brasil, registraram crescimento os portos organizados de Salvador (8,7%) Itaguaí (6,9%), Itajaí (4,4%), Rio Grande (2,4%) e Suape (0,6%). Paranaguá, Rio de Janeiro e Vitória apresentaram uma redução em suas movimentações, em teu, de 1,8%, 18,3% e 30,6%, respectivamente. Santos respondeu por 47% da movimentação total do país, em teu, seguido pelos portos de Paranaguá (11,0%), Rio Grande (9,0%), Itajaí e Suape, com 6,0% cada um.

As exportações e importações apresentaram queda no mês de julho de, respectivamente, 2,0% e 7,5%. Os embarques registraram diminuição por conta, principalmente, da redução na movimentação de açúcar (12,1%), álcool (61,4%) e milho (24,0%). A queda nas descargas de adubo (40,9%), minério de ferro (72,1%) e gás liquefeito de petróleo (31,9%) foram determinantes para a redução nas importações.

O número de navios atracados, tanto no mês quanto no acumulado do ano, se manteve em discreta redução (respectivamente, 2,5% e 2,1%), em função da vinda para Santos de navios de maior porte, tendo em vista o aumento dos calados operacionais no canal de navegação.

Acumulado - No total acumulado do período, o desempenho das importações (19.174.768 t) ainda manteve resultado positivo (+ 0,33%) em relação ao mesmo período do ano passado (19.114.736 t). Dentre as cargas importadas destacam-se o gás liquefeito de petróleo, com aumento de 332,7%, e a nafta, com 93,33%. Na importação o adubo foi o produto mais descarregado no Porto, com 1.638.113 t.

No fluxo de exportação, o complexo soja se destaca com o maior volume movimentado, acumulando 14.737.560 t e ficando 7,8% acima do registrado no mesmo período do ano passado (13.665.233 t). O complexo soja respondeu por 23,4% do movimento geral do porto no período. O café em grãos também registra desempenho positivo, com aumento de 26,2% no acumulado do ano (769.017 t). Já o açúcar, segundo maior movimento nesse fluxo, acumula 8.960.211 t escoadas, menos 14,3% do efetivado nesse período do ano passado.

Balança Comercial - Os dados apurados da Balança Comercial apontam o valor total de US$ 68,0 bilhões das cargas operadas em Santos até julho, refletindo participação de 25,3% na movimentação das trocas comerciais brasileiras (US$ 268,9 bilhões). As exportações somaram US$ 33,8 bilhões (25,1%) e as importações US$ 34,2 bilhões (25,4%). Porto de Santos - Brasil


quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Cabo Verde – Título de Património Cultural em risco

Praia - O vereador da Cultura em Ribeira Grande de Santiago, Cabo Verde, alertou esta terça-feira para a possibilidade de a Cidade Velha vir a perder o título de Património Mundial, já que alguns dos compromissos assumidos para a obtenção da classificação não têm sido cumpridos.

Em conferência de imprensa, na cidade da Praia, Carlos Lopes disse que o risco é real porque o sítio histórico não tem um Plano de Gestão desde Dezembro de 2013. "O risco da Cidade Velha vir a perder o título do Património Mundial é evidente, porque a principal condição para ser graduado é ter um Plano de Gestão que não existe", afirmou, citado pela agência Inforpress.

Segundo o vereador, houve um financiamento da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) para a elaboração do referido plano, mas o primeiro que foi elaborado, em 2009, já expirou.

"Há provas de que o dinheiro entrou para a elaboração desse plano, por isso do nosso ponto de vista é grave o sítio histórico não ter uma bússola orientadora para toda a sua gestão", considerou.

Outra questão que pode levar Cidade Velha a perder o seu título, segundo a mesma fonte, é a delimitação marítima, algo que Carlos Lopes considera que com um conjunto de bóias o problema já estava resolvido.

"Todos os cabo-verdianos explodiram de alegria com a graduação da Cidade Velha a Património Mundial há cinco anos, mas hoje assistimos tristemente à agonia deste sítio histórico, porque não se cumpriu alguns compromissos derivados da candidatura", declarou.

Outra acusação feita pelo vereador da Cultura em Ribeira Grande de Santiago é que o PAICV (Governo) vem "incentivando os seus militantes a fazerem construções clandestinas" no que classifica de um "claro desafio" à autoridade camarária, gabinete conjunto e outros "atropelos" à lei e regulamentos urbanísticos.

"O Governo não dá sinal de vida, desistindo de todas as responsabilidades enquanto Estado, contrariando a euforia e as promessas aquando da graduação", concluiu. In “África 21 Digital” – Cabo Verde

Moçambique - Electricidade, precisa-se!

Moçambique precisa de diversificar as suas fontes de produção de energia eléctrica, como forma de evitar problemas de fornecimento em caso de ocorrência de secas, uma vez que actualmente depende única e exclusivamente de recursos hídricos.

Este alerta foi dado pelo presidente do Conselho de Administração da Electricidade de Moçambique E.P. (EDM), Augusto de Sousa Fernando, que falava durante a 43ª reunião do Comité de Gestão do Pólo Energético da África Austral (SAPP), que decorre na cidade de Maputo desde a última segunda-feira, 25 de Agosto, sob o lema "Desenvolver um Mercado de Electricidade Competitivo para o Desenvolvimento Sustentável da Região".

Segundo Augusto de Sousa Fernando, noventa e nove por cento da energia eléctrica produzida em Moçambique é baseada em fontes hídricas, o que é muito arriscado, pois o País pode enfrentar sérios problemas em períodos secos.

Por isso, o PCA da EDM considera que o gás natural vai, nos próximos tempos, contribuir significativamente para a redução desta dependência em relação aos recursos hídricos.

"O gás natural vai ser determinante para Moçambique. É a solução para os próximos tempos. Por isso, há empreendimentos com base neste recurso que vão ser construídos como forma de diversificar as fontes. O País sai a ganhar e o excedente poderá ser exportado para os países da região", explica Augusto de Sousa Fernando.

Entretanto, enquanto tal não acontece, e para contornar o défice de energia no País, "há acções que estão a ser levadas a cabo, as quais passam pela introdução de políticas de minimização do consumo e implementação de políticas de eficiência energética".

Por seu turno, Laura Nhancale, directora de Estudos e Planeamento do Ministério da Energia, considera que o encontro constitui uma oportunidade para discutir os problemas com que se depara o sector de energia no mundo e na região, em particular.

De acordo com Laura Nhancale, para fazer face aos problemas deste sector é necessário que haja segurança no fornecimento de energia eléctrica, o acesso e estabilidade energética, o que inclui o desenvolvimento de vários projectos e medidas de gestão do consumo.

Ainda de acordo com Laura Nhancale, é necessário que os países da região Austral concentrem e juntem esforços no sentido de desenvolver o sector energético, pois só assim é que poderão melhorar as condições de acesso à energia eléctrica e, consequentemente, as condições de vida das populações.

O Comité de Gestão do Pólo Energético da África Austral (SAPP) é uma organização fundada em 1995 e subordinada à Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC), sendo formada por empresas fornecedoras de energia eléctrica dos respectivos países. in “Olá Moçambique” - Moçambique

Lusofonia – As PortuGoesas

Música | PortuGoesas com Macau nas pautas

No seu álbum de estreia as PortuGoesas prometem embalar mandó, fado e dulpod em tons clássicos e tradicionais de Goa. Algumas dessas partituras recolhidas foram desencantar em Macau, aí guardadas há mais de 20 anos. O trio quer revelar já no final do Verão esta visão da identidade goesa e depois, quem sabe, cantá-la em Macau.

As PortuGoesas - Foto Paulo Cordeiro


Verónica Milagres da Silva e Carolina Figueiredo identificaram-se logo pelo olhar quando se cruzaram, como aliás acontece sempre que um goês se encontra com outro. Sabiam que algo as unia. “Percebemos isso de imediato”, sublinha Verónica. Se o reconhecimento das raízes foi imediato, já a formação das PortuGoesas, que inclui ainda o pianista Carlos Garcia, esperou vários anos para acontecer.

As cantoras líricas conheceram-se no Coro da Gulbenkian, em Portugal, há 15 anos, mas eram vários os descendentes de goeses nesse agrupamento, por isso não estranharam a coincidência. Nem depois de descobrirem que os pais não só se conheciam, como tinham cantado juntos há 50 anos, as fez pensar que o destino tinha marcado encontro entre as duas. Porque quase todos os goeses cantam, dançam ou tocam um instrumento.

Há dois ou três anos numa situação informal, “uns amigos do coro pediram que cantássemos música goesa. A Carolina sentou-se ao piano e, sem combinar, cantámos músicas que ambas conhecíamos”, recorda a soprano Verónica. “Parecia ensaiado” de tanto que se completavam, “porque a Carolina, que é meio-soprano, era a voz grave e eu a aguda”. A semente estava lançada mas não passou de uma “situação engraçada”. Foi preciso uma viagem de trabalho ao Porto, a coincidência das duas não poderem acompanhar o resto do Coro da Gulbenkian no autocarro e terem de fazer a viagem juntas de carro para a semente germinar. Nessa viagem nasceu a ideia de formar as PortuGoesas, que muito deve a um “desenrolar de coincidências”, dizem quase em uníssono.

O rol de acasos não termina aí. Pouco depois do momento decisivo, Carolina encontrou o compositor goês Jerónimo Silva num restaurante: “Já não o via há largos anos. Ele contou-me que estava a terminar de compor uma missa em concani [uma das línguas oficiais da Índia] e eu falei-lhe do nosso novo projecto de música goesa”. A partir daí, os encontros sucederam-se para que as PortuGoesas conhecessem melhor as partituras inéditas. Se dúvidas restassem sobre o destino das duas cantoras, este compromisso com o compositor selava o arranjo. Afinal, seriam elas e Carlos Garcia a estrear aquele original da música erudita. Algo que, aliás, pretendem continuar a fazer, apesar de grande parte do seu repertório pertencer ao cancioneiro de Goa.

Em Maio, revelou-se essa mesma missa em concani no Museu do Oriente. Mas não foi a primeira vez que actuaram. As PortuGoesas já passaram por alguns palcos lusos, ouvindo até aplausos em Goa. E Macau também está nos planos do trio. Afinal, foi lá que foram buscar parte do repertório…

Do Senado ao São Luiz

Carolina mudou-se para Macau com os pais e os irmãos quando tinha apenas oito anos. “Só fui para Portugal aos 18.” Durante a adolescência integrou o Grupo Musical de Macau – Família Figueiredo. Actuou muitas vezes na cidade e até deu um grande espectáculo no São Luiz, em Lisboa, nos idos anos 1990.

Já adulta, a meio-soprano rumou a Portugal para prosseguir os estudos. Em Macau, ficaram os pais e muitas partituras de música de Goa, Portugal, Macau e até de Timor. “O meu pai era cuidadoso e catalogou tudo em pastas.” A de Goa esteve guardada em Macau até nascerem as PortuGoesas. E foi a Verónica que, numa viagem à RAEM, a trouxe para Lisboa.

Carolina promete num eventual concerto do trio em Macau entoar algumas músicas compostas ou recolhidas na região pelo seu pai. E levanta a ponta do véu: “É provável que sejam de embalar”, revelando depois Bastiana como o tema eleito. Confessa que gostava de actuar no Fórum de Macau e queria encher a sala. “Podíamos também cantar no Largo do Senado, onde já actuei em pequenina.”

A recolha continuou e mais pautas se juntaram à festa das PortuGoesas. Numa outra viagem, desta feita a Goa, Verónica aproveitou para comprar alguns compêndios tradicionais onde, para sua surpresa, encontrou dois mandós – um género típico de Goa – escritos pelo bisavô. “Foi uma grande emoção”, confessa, orgulhosa.

Com o repertório a crescer na toada das viagens, onde se incluem ainda muitas horas de navegação na Internet, as PortuGoesas têm-se surpreendido com a quantidade de informação disponível sobre o cancioneiro de Goa. Contudo, Verónica considera que “não é um repertório muito conhecido”, sem desprestígio para os grupos amadores que o têm feito perpetuar. Mas sente que talvez não tenha existido até hoje uma preocupação em divulgar essa música “de um modo mais institucional”.

Apesar de darem prioridade à música de Goa, com Tucá, Kaiboreló, Farar Far ou Adeus em destaque no alinhamento, os sons da raiz da lusofonia não são esquecidos. É o caso do Fado da Mariquinhas, que faz todo o sentido na set list porque os mandós lembram os fados. Estas músicas lentas de Goa dividem-se em várias categorias. Os mandós mais clássicos são canções de amores fracassados. Também há mandós de casamento, de amores felizes e os de celebração de nascimentos e os de funerais. “No fundo, são canções de amor”, atalha Verónica.

Por tradição, “depois dum mandó canta-se uma rapsódia de dulpods, que são músicas mais mexidas”. São pequenos estribilhos de canções que têm um tom mais satírico, com carácter social ou político. A música das PortuGoesas inclui ainda cantares das bailadeiras hindus, as colvontas, e as canções de embalar que eram entoadas pelas amas de antigamente. O trio ainda não chamou para o seu repertório as canções de trabalho de Goa, mas está nos planos.

As PortuGoesas - Foto Paulo Cordeiro


World music com clássica

“A música goesa é muito diferente da do resto da Índia, porque é muito influenciada pela portuguesa em termos de concepção harmónica”, explica Carolina, adiantando que a estrutura dos tradicionais mandós e dulpods “dá para ser entoada a duas vozes”. Apesar de vocalmente mais simples do que o canto lírico, a música de Goa ganha nas vozes de Carolina e Verónica roupagens mais clássicas, até porque a acompanhá-las está um pianista com conhecimentos musicais mais formais e variados. “Entendemo-nos todos muito bem porque temos formação clássica.” Neste momento, os arranjos estão praticamente a cargo de Carlos Garcia e isso está bem patente no disco de estreia que têm estado a gravar em Lisboa e arrisca lançamento até ao fim deste ano.

No início eram as cantoras que definiam o som pretendido, porque “era um tipo de música que o Carlos não conhecia”, justifica Carolina. Com uma experiência que vai do jazz à música popular, o pianista “é bastante plástico”, segundo Verónica. Ao que a meio-soprano acrescenta: “E tem muita sensibilidade para a world music”.

As PortuGoesas não gostam muito da ideia de classificar de “clássica” a volta que estão a dar à música goesa, “porque cantamos estes temas como antigamente, como aprendemos a entoá-los”, sublinha Verónica. Aliás, muito deste repertório nasce da tradição oral, porque antigamente as famílias passavam muitos serões a tocar e a cantar, “e as canções passavam de pais para filhos”, como aconteceu com as duas intérpretes. Não é por isso de estranhar a riqueza do cancioneiro de Goa que, apesar de disperso em livros e websites, ainda hoje se encontra vivo na memória dos seus herdeiros.

Não é possível falar de Goa sem falar de música, com tudo o que isso tem de modernidade, por ter sido o berço da música electrónica trance, e de antiguidade, porque era também a cantar que os goeses afirmavam a sua identidade. E se tal era natural na Goa povoada de hindus e indianos, também o foi quando muitas famílias goesas se mudaram para Portugal e outras paragens distantes. A música manteve e reforçou a ligação às raízes.

Brilhos de Goa

É sobretudo o piano de Carlos Garcia que tece o cenário musical das PortuGoesas. Mas dois outros instrumentos de percussão de Goa são convidados para colorir o repertório do trio de Lisboa que inclui música erudita, tradicional e religiosa de Goa. A meio-soprano Carolina Figueiredo toca o ghumat, “que está para a música goesa, como a guitarra portuguesa para o fado”, esclarece, admitindo que aprendeu recentemente a tocar este instrumento “com a ajuda de outros goeses”. O ghumat é um cântaro de barro e é coberto por uma pele de lagarto em vias de extinção.

A soprano Verónica Milagres da Silva toca paizonam. “São uns guizos que se colocam nos tornozelos e eram sobretudo usados pelas bailadeiras.” Esta opção das PortuGoesas tem muito a ver com a necessidade de diversificar o timbre e “dar outro brilho rítmico à música”, apesar de não ser um instrumento comum no mandó, o género musical típico de Goa.

Acentuando a sua “liberdade de escolha” no tratamento das raízes, as cantoras não vestem o traje típico dos mandós (pano baju), “porque era um pouco pesado”, explica Carolina. Para o palco levam sempre o salwar (calças) kameez (túnica), que inclui ainda uma dupatta (lenço).

O que é o mandó?


Também apelidado de manddo, este género musical típico de Goa é a marca cultural do encontro entre a cultura indiana e a portuguesa. Cantadas durante os séculos XIX e XX, estas canções de amor eram populares entre os goeses católicos. Patrícia Lemos – Macau in “Revista Macau”

Galiza - A Galiza na era do confronto

Como já vimos informando nesta nossa secção, a guerra encoberta entre Emergentes e o Império Ocidental pela hegemonia global do orbe virou já realidade palpável.

Dois são os modelos económicos em concorrência: o Ocidental, nascido da teoria neoliberal, representada nomeadamente pela escola de Chicago e virando a Neo-Feudalismo das finanças (novo modelo de organização económica, baseado na dívida perpétua e no usufruto da renda permanente) e o Capitalismo de Estado (nas suas diversas formas e facetas), diferentemente ensaiado pela China e a Rússia (rivais primordiais do Ocidente pelo controlo planetário). Três pela sua vez são as visões geopolíticas destes principais atores: a Atlântica talassocrata típica do Império Ocidental, a Euroasiática telurocrata própria do pensamento russo e a ainda por vislumbrar visão de centralidade desde o Pacifico Oriental, que a China parece representar e joga a insinuar (mas cujas intenções são, ainda, uma incógnita).

Os últimos acontecimentos em pleno desenvolvimento tanto no Oriente Médio como na América Latina e no Norte e Centro da África devem ser analisados baixo este novo prisma. A batalha do Império Ocidental pelo controlo unilateral do planeta choca com as forçadas iniciativas BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) de compromisso multilateral no exercício pleno da governança global.

Para manter a supremacia unilateral, Ocidente precisa deslocar do primeiro posto do pódio económico a China. Para isso é necessário controlar, domesticar ou dominar a Rússia (só é preciso deitar uma olhada a um mapa do mundo, para compreender este argumento). Rússia, única potencia militar com capacidade de se enfrentar ao poderio global da OTAN. A sua vez para comandar cumpre assegurar a supremacia cientifico-tecnológica, bem como energética (monopolizando as fontes, a rede de distribuição e os corredores estratégicos por onde esta decorre). As guerras no Oriente Médio têm muito a ver com isto. Exercer o policiamento completo do orbe garante, à sua vez, o controlo do transito marítimo, aéreo e terrestre – tanto das mercadorias como da própria energia.

Por outro lado, é fácil compreender que iniciativas de emancipação regional, como a de Brasil, em coordenação com seus vizinhos (e suas tentativas para criar uma independência real, política e económica, do continente Sul Americano) ou de afirmação no plano internacional, como a de alguns países do Sul da África (e mesmo iniciativas de obter uma maior visibilidade, em zonas de grande dificuldade, como no caso do Irão) só podem ou puderam materializar-se graças ao poder económico da China e à capacidade de dissuasão militar da Rússia.

Até o de agora (e depois de vencer a URSS na guerra fria), Ocidente podia mover os fios na sombra, criando equilíbrios e desequilíbrios globais ou regionais quase sem contestação equivalente. Mesmo depois da ascensão da China e a criação dos BRICS, a possibilidade Ocidental de confrontar e inimizar os diferentes países do grupo, graças a aproveitar habilidosamente as diferentes visões e interesses divergentes dos mesmos, era relativamente fácil.

A Índia transformou-se num dos grandes aliados do Ocidente em contraposição ao poder chinês. Mas, agora, a confluência de necessidades motivou uma unidade mais estreita baseada em complementos mútuos. Algo que se tornou uma ameaça direta ao domínio hegemónico dos EUA, como por exemplo a criação dum Banco de Financiamento próprio que libere o bloco emergente do anel de poder exercido pelo FMI e o Banco Mundial (organismos internacionais que funcionam, na prática, em defesa das estruturas de dominação e dos interesses económicos das elites ocidentais). Ocidente sabe que precisa agora já quebrar essas confluências, ou tal como expressam todos os estudos e previsões para um futuro próximo, num par de décadas será ultrapassado económica e militarmente, até desafiado no nível científico-tecnológico pelas novas potências. Isto relegaria a um segundo plano o poder de um império construído em séculos, deitando ao esquecimento toda narrativa da epopeia europeia iniciada as finais do século XV, princípios do XVI.

Por outro lado não podemos deixar de sublinhar que ainda que o Império Ocidental logre ultrapassar as dificuldades em curso, a sua decadência torna-se inevitável e palpável, mesmo desde faz já alguma década (como bem demostrou Erich Fromm no seu maravilhoso livro “Ter ou Ser”). Ao optar pela continuidade e aprofundamento da materialidade, em vez de optar pela realização do individuo (o Ser), Ocidente escolheu o caminho da decadência. Culturalmente, já tocou teto e não pode achegar à humanidade nada de inovador, com capacidade real para puxar do novo paradigma que agora está agromar dentro do novo pensamento dissidente (e por causa do domínio científico-tecnológico, curiosamente esse pensamento tomou corpo também no Ocidente).

Resulta inevitável, pois, um deslocamento hegemónico que provavelmente se produzirá ao longo de todo este iniciado século. A visão russa e chinesa também se torna obsoleta de não mudar radicalmente a cosmovisão de Estado omnipresente devorador das energias humanas. Para levar para a frente este novo paradigma (que se está a consolidar através de um curioso reencontro entre ciência e espiritualidade, e que muito bem poderíamos denominar de “paradigma da confraternização”), será preciso um novo polo dinamizador em que cristalize e tome forma este novo paradigma, dentro do qual o caminho da guerra e a visão de errada (de confronto e concorrência), dela nascida, parece não ter já um bom acomodo.

Outros apontamentos (dada a crise surgida no Oriente Próximo e, calculando que este desarranjo talvez não possa ser solucionado em decénios, isso se não evolui a uma guerra regional mais ampla e com perigo de implicações perigosas para toda a humanidade), levam-nos a sugerir que os países membros da CPLP irão aos poucos, nos próximos anos, ocupar certo lugar de destaque devido às suas reservas energéticas, à sua posição geográfica estratégica e à sua capacidade de criar riqueza. Isso está a acrescentar os chamados de muitas nações para serem novos membros desta organização (na qual à Galiza corresponder-lhe-á um lugar de observador importante por motivos óbvios, cuja analise está fora deste artigo).

Olhando este panorama, fica muito às claras que um deslocamento hegemónico em face do Pacifico, muito favorável para a China, seria um desastre para Europa (ficaria como periferia) e pelo tanto para a Galiza. Uma translação do centro para Euro-Ásia, com benefícios centrais para a Rússia, poderia ter mesmo um bom acomodo para a Alemanha, mas para a Europa atlântica significaria como mínimo um retrocesso lamentável: a Galiza sofreria extremamente com esse cenário. Uma deslocação lenta, harmoniosa e bem estruturada do Atlântico Norte ao Atlântico Sul parece ser a melhor das soluções para a Europa no seu conjunto e, em particular, para a Península Ibérica, a qual mais apropriadamente deveríamos chamar a partir de agora Península Celtibérica.

A Galiza pode fazer um excelente trabalho nessa direção, começando pela criação de redes e alianças diversas em todos os campos do conhecimento, a economia, a cultura e os desportos com o universo que lhe é próprio: a Lusofonia.

O reintegracionismo foi o grande iniciador, promotor e projetor desta rota, que se outros não trilharem, em breve arriscaram sua própria sobrevivência. A língua galega terá de passar por um reconhecimento privado e institucional de ser uma variante mais do tronco comum lusófono, em pé de igualdade com as outras variantes dialetais, as suas irmãs de fala. Para isso cumpre, com o tempo, mudar a errada aposta ortográfica que atrapalha a evolução linguística ao colocar no galego a grafia alheia castelhana.

Reste lembrar que dentre os países em emergência, os países lusófonos ocupam 50% do bolo dos novos descobrimentos energéticos em hidrocarbonetos (que em breve representarão 30% do total de reservas do planeta, cifra muito similar à que hoje possuem os países do Golfo Pérsico, em óbvio declínio). Tem este espaço cultural inúmeras possibilidades e potencialidades além do mercado das matérias primas, e a Galiza pode fornecer parcerias de muito interesse no referente ao mundo inovador das novas tecnologias, ciência e empreendimentos culturais.

O reintegracionismo deve, pois, virar os seus esforços para facilitar possíveis ligações tanto do âmbito privado como público (na medida das suas possibilidades), assim como no fomento e promoção da opção linguística que lhe é própria. E achamos está a fazer muito bem as suas tarefas, com forças cativas, mas cada vez maiores e melhor organizadas. O futuro da Galiza passa por aí, só resta que a sociedade no seu completo rume aos poucos para aceitar e propagar no seu seio esta visão pacífica. Mas isso é algo que já ultrapassa o nosso esforço: só poderemos continuar a trabalhar e aguardar o bom sucesso: a recolha do trabalho bem realizado, sem perder os ânimos e fôlego. Artur Novelhe – Galiza in “CARTAS MEXICAS – Portal Galego da Língua”

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Artur Alonso Novelhe - Galego, mas nascido no México, é diplomado pela Escola Pericial de Comércio de Ourense. Exerce como funcionário do Serviço Galego de Saúde do Governo da Galiza. Publicou várias obras de poesia e colabora habitualmente com diferentes publicações, entre as quais o PGL. É sócio da Associaçom Galega da Língua (AGAL) desde os meados dos anos 80 e académico da AGLP.

Brasil - Portos: indefinição causa insatisfação

SÃO PAULO – Apesar da expectativa do governo federal de que até o final do ano as licitações para o arrendamento de áreas portuárias em Santos e no Pará serão lançadas, a verdade é que a demora provocada pela intervenção do Tribunal de Contas da União (TCU) causou um efeito contrário ao que se esperava da nova Lei dos Portos (nº 12.815/13). Ou seja, em vez da ampliação dos investimentos do setor privado na área de infraestrutura portuária, o que houve foi uma paralisia, o que tem causado um clima negativo para os negócios que só tende a piorar, enquanto durar a indefinição do TCU quanto à aprovação dos estudos para as licitações.

Como se sabe, a Secretaria de Portos (SEP) incorporou algumas das recomendações feitas pela iniciativa privada, pelo TCU e pela Advocacia Geral da União (AGU), mas a análise continua e não tem prazo para conclusão. Diante disso, a SEP, para lavar as mãos, já anunciou que, tão logo o TCU aprove os estudos, no máximo, um mês depois, os primeiros editais para licitação de áreas serão lançados. Em Santos, das 26 áreas previstas inicialmente, somente nove serão licitadas. Acredita-se que só em 2015 ocorrerão as primeiras concorrências.

É de notar que essa demora que já vai para um ano tem contribuído para aumentar a insatisfação entre aqueles que dependem da agilidade do setor portuário. Uma pesquisa recente do Instituto de Logística e Supply Chain (Ilos), do Rio de Janeiro, feita com 169 empresas usuárias dos portos de 18 setores da economia, mostrou que a avaliação é a pior desde 2007: 6,8, depois de ter sido 7,3 em 2012 e 6,9 em 2009.

A pesquisa também mostrou que os usuários estão insatisfeitos com o desempenho dos terminais públicos, dando as melhores notas para os terminais privados, o que indica que a indefinição quanto ao lançamento das licitações para arrendamento de áreas portuárias só tem contribuído para elevar o grau de descontentamento.

Obviamente, essa visão pessimista é consequência das dificuldades que os usuários enfrentam. E que não são poucas, pois vão de acessos terrestres e marítimos deficientes a problemas burocráticos que provocam atrasos na liberação das mercadorias pela aduana, além da pouca qualificação da mão de obra disponível. Sem contar as conhecidas deficiências nas inspeções agropecuárias e sanitárias, especialmente a falta de fiscais.

De positivo o que ficou até agora foi a ação da SEP e da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq) para evitar a repetição dos congestionamentos que ocorreram nos acessos ao Porto de Santos em 2013, ainda que a queda na movimentação da safra de grãos deste ano também tenha contribuído para esse panorama mais alentador.

Seja como for, o governo agiu rápido ao dar início ao processo de agendamento da chegada de caminhões, atividade que deverá ser automatizada com a implantação pela SEP do sistema PortoLog – Cadeia Logística Portuária Inteligente, que inclui a instalação de equipamentos e softwares. Com o PortoLog, o que se espera é que haja um eficaz controle da chegada da carga a partir de janeiro de 2015. Mauro Dias - Brasil

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Mauro Lourenço Dias, engenheiro eletrônico, é vice-presidente da Fiorde Logística Internacional, de São Paulo-SP, e professor de pós-graduação em Transportes e Logística no Departamento de Engenharia Civil da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). E-mail: fiorde@fiorde.com.br Site: www.fiorde.com.br

terça-feira, 26 de agosto de 2014

França – Ferrovia

França concentra setor ferroviário numa única entidade pública

Depois de decisão do parlamento francês, terminou a separação entre a Sociedade Nacional dos Caminhos de Ferro (SNCF) e a RFF (Rede Ferroviária de França). As empresas estão agora juntas numa mesma entidade pública, dividida entre a SNCF Réseau (gestão da infra-estrutura) e a SNCF Mobilité (exploração dos comboios).

A nova empresa contará com 150 mil trabalhadores e permite poupanças de 550 milhões de euros anuais até 2020, sendo quase um regresso ao passado, antes de em 1991 uma directiva comunitária ter obrigado à separação da gestão da infra-estrutura e da exploração dos serviços de transportes.

A decisão surge um pouco no seguimento do que já havia sido feito na Alemanha, onde apesar de nunca ter sido criada uma entidade única para gestão de todo o setor, existe a DB Netz, congénere da portuguesa Refer, que faz parte da holding da estatal Deutsche Bahn (DB), sendo por esta detida em 100%. In “Cargo edições” – Portugal

Comboios turísticos em França - Foto Webrails.tv


Ciclo-rail em França - Foto Webrails.tv
Em Portugal a divisão da empresa pública CP em diversas entidades, levou ao avolumar da despesa, à rápida destruição do sistema ferroviário, levando ao abandono de muitas linhas férreas, com o desaparecimento do material das vias, esquecendo-se o que poderia ser um potencial turístico, o aproveitamento de linhas centenárias, com estações únicas, em desenvolvimento turístico, passou nalguns casos para percursos de ciclovias, ou para espaços repletos de mato. Para agravar a situação os decisores resolveram juntar a entidade das infraestruturas ferroviárias com a das estradas. Pior a emenda que o soneto.

Recordemos também as palavras do brasileiro Mauro Dias que há dias escrevia e passo a citar:Considerado uma das maiores invenções do setor portuário, o contêiner – também conhecido como contentor em Portugal e nos demais países de expressão portuguesa –, criado na década de 1930 nos Estados Unidos, é hoje responsável pela movimentação de 95% das cargas que são transportadas pelos mares do planeta. Seu aparecimento revolucionou não só o transporte por navio como requalificou o modal ferroviário que, no Brasil, na década de 1970, parecia com os dias contados, o que levou imprudentes gestores públicos a sucatear a malha que existia, a ponto de hoje várias antigas estações terem virado centros de convivência ou de exposição de artes populares.” Baía da Lusofonia