Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

sexta-feira, 10 de outubro de 2014

Brasil - Crônica de um déficit anunciado

SÃO PAULO – Ainda não se pode fazer uma previsão categórica, mas as perspectivas indicam que haverá déficit na balança comercial de 2014. É o que mostram os últimos desempenhos mensais e, especialmente, o de setembro, que apresentou saldo negativo de US$ 939 milhões, o pior resultado em 16 anos. Até agora, o déficit anual está ao redor de US$ 690 milhões, o que faz supor que até o último dia de dezembro chegue a uma marca em torno de US$ 919 milhões.

É de ressaltar que a última vez em que o Brasil acumulou déficit no ano foi em 2000, quando o saldo negativo bateu em US$ 731 milhões. Isso significa que o País nem mesmo como fornecedor de matérias-primas está se saindo bem em sua política de comércio exterior, o que exige uma tomada de posição para o próximo exercício pelo novo governo.

O Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), ao justificar o baixo desempenho comercial do País, tem observado que uma das causas tem sido o aumento das importações de petróleo e seus derivados, o que não melhora a já desgastada imagem da Petrobras, afetada por muitas denúncias nos últimos tempos. Ora, se o País registrou nos nove primeiros meses do ano um aumento de 40% na quantidade exportada de petróleo em bruto, não se compreende que a empresa estatal não disponha de tecnologia para não ser obrigada a importar tanto petróleo e seus derivados. Este é um fenômeno típico de um país subdesenvolvido.

Outra causa que deverá contribuir para o déficit anual anunciado é a queda das exportações de soja e minério de ferro para a China. O preço do minério de ferro, por exemplo, caiu 30% no mercado de setembro de 2013 a setembro de 2014, conforme dados do MDIC. Houve, porém, uma compensação, já que foi registrado um aumento no volume exportado neste ano.

Como a China já não vem crescendo nos níveis de anos anteriores, a perspectiva é que haja uma redução na demanda externa de commodities. Para piorar a situação, tem sido registrada uma sensível redução nas vendas para a Argentina, o grande parceiro do Brasil no Mercosul. Segundo o MDIC, em 2014, as (baixas) vendas para aquele país têm sido responsáveis por 77% da queda das exportações brasileiras. Até setembro, as exportações para a Argentina caíram 25,7%. Em função disso, houve uma queda de 82,6% no superávit do Brasil com a Argentina entre janeiro e setembro de 2014, conforme dados da Associação Brasileira de Comércio Exterior (AEB), o que não afasta a possibilidade de que até o final de dezembro seja registrado também déficit nas contas com o país vizinho.

Em resumo: a retração na exportação de commodities aliada à perda de competitividade da indústria exportadora brasileira pode levar o País a uma crise profunda, que exigirá anos para ser superada. Tudo isso é resultado de uma política comercial excessivamente cautelosa, adotada pelos últimos governos, que não estimulou a assinatura de acordos comerciais com outras nações e blocos, deixando o País fora das grandes cadeias produtivas. Milton Lourenço - Brasil

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Milton Lourenço é presidente da Fiorde Logística Internacional e diretor do Sindicato dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística do Estado de São Paulo (Sindicomis) e da Associação Nacional dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística (ACTC). E-mail: fiorde@fiorde.com.br. Site: www.fiorde.com.br.

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