Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Moçambique – Paulina Chiziane em co-autoria com Maria do Carmo da Silva

Os recentes livros da irreverente escritora Moçambicana Paulina Chiziane em co-autoria com Maria do Carmo da Silva, “Na mão de Deus” e “Por quem vibram os tambores do Além” não se ajustam nos moldes da literatura de ficção.

Quebrando as fronteiras entre o autor textual e o autor empírico, Na mão de Deus é um relato da experiência de vida da personagem principal da história, de nome Alice, quando acometida por uma crise mental que a levou a passar alguns dias internada no Hospital psiquiátrico de Infulene.

Trata-se de uma obra que aborda a questão da mediunidade, isto é, a incorporação dos espíritos em seres humanos passando estes a mediar o mundo dos vivos e dos mortos.

Por Quem vibram os tambores do Além, agudiza ainda mais esta tendência de escrita, ao adentrar em histórias reais do curandeirismo, num exercício em que a autora procura salvaguardar uma “sabedoria” Africana que considera marginalizada, ignorada pela Ciência bem como por muitas crenças religiosas ditas “sagradas”.

Sobre o livro Na mão de Deus, escreve o escritor Moçambicano, Calane da Silva, no prefácio; “é rica e minuciosa na narração e descrição do que acontece com uma personagem, melhor dito, com a personagem principal de nome Alice que vai contando ao longo da história todo o seu drama vivencial, todos os sintomas físicos e psíquicos que a levaram à psiquiatria, mas que, fundamentalmente era o aflorar da sua mediunidade, infelizmente, não compreendida pelos familiares e amigos, e tratada medicamente como se de uma mera doente mental se tratasse.”

Trata-se, considera, de um exercício de busca de explicação de fenómenos que escapam às soluções científicas racionais, através daquilo que hoje é conhecido como ciência espiritual, a parapsicologia, “que eminentes espiritualistas e espíritas – sem medo das religiões – foram investigando e desvendando com a colaboração, inclusive, de ousados homens e mulheres ligados à chamada ciência formal (revelando, assim, os tais mistérios e milagres de que falam algumas religiões) como, igualmente e de modo mais profundo, pelo Amor, pela Energia do Amor, que contém em si o perdão, a humildade, a caridade e a própria cura e também, essencialmente, pela descoberta do Criador Quântico dentro de cada um de nós que nos pode ajudar a resolver com sucesso todas essas questões e perturbações bio psíquicas.”

Estamos, escreve, perante uma narrativa que nos remete para “o conceito de uma literatura multidimensional e holística, de uma literatura para e do Terceiro Milénio, um Milénio que será caracterizado pelas grandes descobertas sobre o funcionamento da mente, como preconizou Michel Foucault”.

Por quem vibram os tambores do Além, segundo o professor universitário, Nataniel Ngomane, é uma reflexão que instiga o leitor a revisitar e questionar conceitos e crenças e caminhos de vida julgados firmes e consolidados”.

“Tomando como referência espaços geopolíticos do actual território de Moçambique e suas milenares figuras mitológicas – até agora desconhecidas de muitos de nós – Pita e Chiziane conduzem o leitor pelas sinuosas e múltiplas veredas das cavernas africanas, derramando sobre alas incontáveis feixes de luz de um saber (curandeirismo) sobre o qual urge questionar se oculto, escamoteado ou, pura e simplesmente, reprimido e votado à margem ou ao esquecimento”, escreve o académico. In “Debatemoz” - Moçambique

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