SÃO PAULO – O Ministério do
Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) ainda não divulgou os
números de 2014, mas quem trabalha no ramo sabe que o processo de concentração
das exportações brasileiras em poucos atores intensificou-se neste ano,
seguindo um ritmo que já foi considerável em 2013, quando 1,3% das empresas
tornou-se responsável por 79% dos US$ 242 bilhões obtidos com vendas ao
exterior. Os dados mais recentes indicam que, nos últimos sete anos, mais de
duas mil empresas abandonaram a atividade exportadora no Brasil: em 2007, 20,8
mil empresas exportaram, número que caiu para 18,8 mil em 2013.
As causas vão desde o
crescimento dos insumos e matérias-primas na pauta exportadora até um cenário
de contração dos principais mercados mundiais, passando pela perda de competitividade
da indústria nacional, já que as fábricas de produtos menos sofisticados não
conseguem competir com os produtos chineses nem no mercado interno nem no
externo. Um exemplo é o setor têxtil, que sofre concorrência desleal e predatória
de produtos importados cujos fabricantes se valem em seus países, especialmente
na Ásia, de subsídios e câmbio artificialmente baixo.
Hoje, o produto manufaturado
que mais rende em números à pauta de exportação são as plataformas de petróleo,
que são utilizadas como uma manobra contábil para que a corrente de comércio do
País não seja apresentada com números tão alarmantes. Mas, convenhamos, é levar
longe demais considerar a “exportação ficta” para a Petrobras como exportação apenas
com o objetivo de garantir um pequeno superávit na balança comercial. Na
verdade, quem exporta é um estaleiro para a Petrobras no exterior e essa
subsidiária aluga a plataforma para a Petrobras no Brasil. Assim, quando sai é
uma exportação, mas quando volta é a contratação de um serviço, ou seja,
“exportação ficta”.
O que fazer? Ora, é preciso
que o próximo governo deixe de lado essas manobras contábeis e assuma com um
programa que inclua, entre suas prioridades, a ampliação do número de empresas
exportadoras porque só assim o País poderá diversificar sua pauta. Para tanto,
terá de enfrentar os atuais “gargalos” que condenam o País a se tornar outra
vez um reles fornecedor de matérias-primas, tal como era no tempo do Brasil-colônia.
Só assim deixará de ser a economia praticamente “commoditizada” que é hoje, em
consequência da perda de importância do seu setor industrial.
Entre
esses “gargalos” que compõem o chamado custo Brasil, estão alguns que são
sobejamente conhecidos, como a tributação excessiva, a deficiência de infraestrutura
portuária e de transporte, a complexidade da legislação, a burocracia e a dificuldade
de acesso a recursos financeiros que limitam a atuação das empresas
exportadoras e daquelas que pretendem entrar ou voltar a atuar na área.
Um bom
começo seria estender os subsídios que beneficiam o agronegócio para as indústrias
que produzem manufaturados, acelerando as compensações de crédito do setor
exportador, além de desonerar a folha de pagamentos das empresas, o que traria
também alívio aos exportadores. Milton
Lourenço - Brasil
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Milton Lourenço é presidente da Fiorde
Logística Internacional e diretor do Sindicato dos Comissários de Despachos,
Agentes de Cargas e Logística do Estado de São Paulo (Sindicomis) e da
Associação Nacional dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística
(ACTC). E-mail: fiorde@fiorde.com.br. Site: www.fiorde.com.br.
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