Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Internacional – O Catar, os lóbis e o Porto do Barreiro

No momento que está a decorrer, até 19 de Dezembro de 2014, o procedimento de avaliação da Proposta de Definição do Âmbito do Estudo de Impacte Ambiental do projecto “Terminal de Contentores do Barreiro” na Agência Portuguesa do Ambiente (APA) a Autoridade de Avaliação de Impacte Ambiental por proposta da Administração do Porto de Lisboa, o Catar anunciou a construção offshore do seu novo porto em Mesaieed.

Projecto do Porto de Mesaieed
O novo porto offshore de Mesaieed no Catar terá a sua primeira fase concluída no ano de 2016 o que corresponderá a uma capacidade estimada de 2 milhões de TEU, será construído em 53% por empresas do Catar e depois de concluídas as segundas e terceiras fases, a capacidade aumentará para os 6 milhões de TEU, cobrirá uma área de 26 Km2 e substituirá o actual porto de Doha.

Este porto tem uma concepção baseado nas experiências internacionais que ultimamente tem estado na criação dos novos portos a nível mundial, abandonando a construção alicerçada em abrigos naturais, privilegiando estruturas offshore ou flúvio-marítimas.

Nesta última categoria de portos, os flúvio-marítimos, construídos junto à foz dos rios, temos recentemente dois bons exemplos, o porto francês de Le Havre que construiu o seu Porto 2000 junto à foz do rio Sena, ou o London Gateway no rio Tamisa, com um cais de 2 700 metros, uma profundidade de 17 metros e uma capacidade para 3,5 milhões de TEU.

Mas é efectivamente no offshore que os novos portos estão a ser construídos e temos um conjunto diverso de portos espalhados pelo mundo, Maasvlakte 2 na Holanda, Zeebrugge na Bélgica, Wilhelmshaven na Alemanha, Yangshan em Xangai na China, Mesaieed no Catar, ou em situação suspensa o porto de Peruíbe no Brasil.

Os novos portos estão-se adaptando à configuração dos novos porta-contentores que há trinta anos tinham um comprimento médio de 185 metros transportando 1 200 TEU, hoje a média ronda os 330 metros e os 9 600 TEU. A Maersk na sua linha Ásia – Europa, tem ao serviço os porta-contentores Triple E, com capacidade para 18 000 TEU, um comprimento de 400 metros e prevê até 2019 ter 30 navios ao serviço. Os porta-contentores da Maersk estão ao serviço na Península Ibérica no porto de Algeciras e foram concebidos levando em consideração o ambiente, dado que consomem menos combustível e emitem menos gases poluentes. Em estudo estão os porta-contentores classe F, denominados “Malacca Max” com capacidade para 27 000 TEU.  

Recentemente foi notícia, mais concretamente no mês de Novembro de 2014, o embate de um navio-tanque contra um dos pilares da Ponte 25 de Abril, no rio Tejo em Lisboa, felizmente sem danos significativos.

Apenas o Porto de Sines, entre os portos portugueses, tem capacidade para receber os grandes porta-contentores, que exceptuando os Triple E e os Post New Panamax passarão no novo canal do Panamá, mas todos eles irão passar no canal da Nicarágua cujas obras se iniciam neste mês de Dezembro, ou mesmo no canal do Suez após as futuras obras de alargamento.

Uma das razões para a aposta em portos offshore tem a ver com o calado dos porta-contentores e com a eliminação de custos com as dragagens nos leitos dos rios, que ciclicamente vão perdendo fundo, obrigando a despesas de limpeza que são onerosas.

Área para o Porto do Barreiro
A construção de um porto principal no Barreiro vem na linha inversa de tudo o que até agora foi aqui escrito e as afirmações da Dra Marina Lopes Ferreira, Presidente do Porto de Lisboa à comunicação social são um alerta, embora sem essa intenção. Passo a transcrever, segundo a Agência Lusa, afirmações da Dra Marina Ferreira: “A responsabilidade financeira do investimento será sempre do concessionário”, afirmou, destacando que, quanto às dragagens de manutenção no rio Tejo, há no Porto de Lisboa duas modalidades: se o Porto de Lisboa tiver de fazer as dragagens irá cobras taxas maiores, se não tiver de fazer as dragagens cobrará taxas mais pequenas porque as dragagens ficarão a cargo do concessionário. Marina Lopes Ferreira falava à margem da assinatura de um protocolo entre o Município do Barreiro, a administração do Porto de Lisboa, a Baía do Tejo, a Refer e as Estradas de Portugal (EP), que prevê a cooperação e a troca de informações entre estas entidades tendo em vista a construção de um terminal de contentores no Barreiro.

Jurisdição do porto de Lisboa
No colóquio "Terminal de Contentores no Barreiro: uma oportunidade?" organizado pelo movimento "Dar Futuro ao Barreiro", presidido pelo deputado do PSD e vereador da Camara Municipal do Barreiro Bruno Vitorino, a Dra Marina Ferreira afirmou: "O canal do Barreiro é bem conhecido por nós e é dragado pelas empresas Atlanpor e Tanquipor. Em fase de manutenção, as dragagens do novo terminal devem rondar o milhão de euros", defendeu, explicando que as dragagens iniciais na fase de obra estarão a cargo dos investidores.

Vasco da Gama nasceu em Sines e chegou à Índia pela simples razão de Portugal estar no centro do mundo, pelos nossos mares passam as principais rotas marítimas, pelo menos enquanto o continuado degelo do polo Norte não abrir a rota do ártico, seja dos canais do Panamá e Suez e futuramente Nicarágua, ou pelo sul de África.

A introdução de nova legislação ambiental na UE denominado Sulphur Emission Control Area (SECA) que tem origem na Organização Marítima Internacional das Nações Unidas (IMO) e visa garantir uma redução substancial das emissões de enxofre marinhos no norte da Europa a partir do próximo dia 01 de Janeiro de 2015, numa região que abrange o mar Báltico, o Categate, o mar do Norte e o Canal da Mancha, vem alterar os custos dos transportes marítimos para aquela região, que levará os armadores a procurarem portos na Península Ibérica com ligação a uma linha férrea eficiente, rápida, que reduza os custos e tempo de percurso.


A construção de um novo porto de contentores para Lisboa é uma obra importante, que terá futuro, para além do comércio internacional português, deve ser uma porta de trânsito das mercadorias de e para a Europa, de e para portos longínquos, mas certamente que o porto do Barreiro não será esse porto desejado para Lisboa, mas sim um porto secundário de apoio a um porto principal, que faça concorrência aos principais portos europeus. Baía da Lusofonia

Densidade de navios ao largo da costa portuguesa

Proposta de Definição do Âmbito do Estudo de Impacte Ambiental do Terminal de Contentores do Barreiro

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