SÃO PAULO – Se algum resultado
benéfico pôde trazer o incêndio nos tanques de granéis líquidos do terminal da
Ultracargo que, no começo de abril, tumultuou as atividades no Porto de Santos
foi que serviu de alerta para o governo federal quanto a necessidade de que
saiam logo do papel as obras que prevêem novos acessos viários na entrada do
município. Ainda que seja impossível calcular os prejuízos causados à economia
– só os produtores de grãos de Mato Grosso queixam-se de perdas superiores a R$
20 milhões –, o desastre mostrou que o País precisa repensar o quanto antes a
sua infraestrutura logística, encontrando outras formas de escoamento das
cargas.
Hoje, o Porto de Santos é
responsável por 27% do comércio exterior brasileiro, mas não tem recebido por
parte dos governos federal e estadual a atenção que merece por sua dimensão e
importância, principalmente em relação a obras de infraestrutura viária, já que
pensar em modernizar e ampliar a abrangência de outros modais, como o
ferroviário e hidroviário, parece constituir sonho impossível.
Como se viu, para preservar a
segurança e a mobilidade da população santista, a Prefeitura local foi obrigada
a formar um gabinete de crise que optou pela restrição ao acesso de caminhões
aos terminais da margem direita do porto, medida que durou nove dias. Dessa
forma, só parcela mínima dos cinco mil veículos de carga que trafegam
diariamente pelo local pôde chegar aos terminais. É de se lembrar que o acesso
à margem esquerda, que abriga terminais que movimentam cargas do agronegócio,
não chegou a ser proibido em nenhum momento. Mesmo assim, os prejuízos foram
imensos.
Diante disso, é de se lamentar
que os últimos governos não tenham investido tanto quanto deveriam para ampliar
a malha viária nas regiões Centro-Oeste e Norte do País. Por exemplo: quem já
se aventurou a viajar de 200 a 400 quilômetros além de Cuiabá em direção ao
Pará e Rondônia sabe a aventura que é trafegar em estradas sem asfalto e
sinalização e, praticamente, fechadas pelo avanço das árvores de lado a lado.
Ninguém, obviamente, é contra
a atividade do agronegócio, mas não se pode admitir que os portos de Santos e
Paranaguá continuem como o corredor majoritário para a produção de grãos do
Centro-Oeste, com sensíveis prejuízos aos segmentos que se utilizam dos dois
complexos para o embarque e desembarque de manufaturados e semimanufaturados.
Para estimular a utilização do
porto de Santarém, o governo deveria dotar o Pará de uma infraestrutura viária
mais eficiente, pois a maior parte do trecho da BR-163 no Estado ainda é de
estradas de terra que, nesta época de chuvas que vai até julho, viram um
lamaçal em meio a muitos buracos. Urgente é também a implantação da Ferrovia
Transoceânica, empreendimento dos governos brasileiro e chinês, cuja conclusão
está prevista para seis anos e que ligará o Norte do Rio de Janeiro ao Peru,
passando por Goiás, Rondônia e Acre, ligando o Atlântico ao Pacífico. Com isso,
haverá ganhos de frete, tempo e eficiência, desafogando também os portos do
Sudeste. Milton Lourenço - Brasil
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Milton Lourenço é presidente
da Fiorde Logística Internacional e diretor do Sindicato dos Comissários de
Despachos, Agentes de Cargas e Logística do Estado de São Paulo (Sindicomis) e
da Associação Nacional dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e
Logística (ACTC). E-mail: fiorde@fiorde.com.br. Site: www.fiorde.com.br.
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