Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

domingo, 9 de agosto de 2015

Portugal - A Produtividade e a Organização

Numa vila situada na parte continental de Portugal duas fábricas de têxteis laboram a uma centena de metros de distância.

Numa delas, criada por um luso-descendente, filho de um casal de emigrantes que encontrou na Alemanha o local de trabalho permitindo um futuro melhor. O jovem, depois de uma infância a gozar férias na localidade de origem dos pais, estimulado pela qualidade climática, beleza paisagística, decidiu, com o apoio das poupanças dos pais, regressar a Portugal e investir numa fábrica de têxteis.

Mandou construí-la, preocupando-se com a auto-suficiência energética, decidiu instalar painéis solares no telhado do edifício e quatro mini eólicas em cada extremo do mesmo.

Uma centena de trabalhadores chegam diariamente, de segunda a sexta-feira, por volta das 7h e 50M às instalações, transportados por dois autocarros da empresa, para às 8 horas iniciarem o trabalho com modernas máquinas computorizadas que permitem o fabrico de tecidos de qualidade.

Por volta das 10H 30M há uma paragem de quinze minutos para os trabalhadores descansarem e realizarem as tarefas pessoais que considerem importantes. Às 13 horas os trabalhadores deslocam-se para a cantina no interior das instalações, onde durante uma hora têm acesso a uma refeição gratuita, escolhida na véspera entre quatro pratos diferenciados.  Nesta empresa não há subsídio de almoço.

O regresso ao trabalho faz-se pelas 14 horas e depois de um intervalo de quinze minutos a meio da tarde a fábrica encerra às 17H 30M, regressando os trabalhadores a casa, transportados novamente nos autocarros da empresa. Quem quiser usufruir, a empresa disponibiliza gratuitamente às famílias dos trabalhadores, uma lavandaria para tratamento da roupa, com acesso através de um cartão que permite a utilização até às 24 horas.

Nos meses de Junho a Setembro, o jovem empresário organiza piqueniques quinzenalmente ao fim-de-semana, onde ele e os trabalhadores mais as respectivas famílias, participam nos mais diversos passeios, utilizando os autocarros da empresa e alugando as viaturas que forem necessárias.

A empresa é um caso de sucesso, com os seus produtos exportados para os exigentes mercados do centro e norte da Europa. O empresário está a pensar aumentar a produção, contratando mais trabalhadores. Tem sido convidado, mas recusa qualquer função política. A empresa tem uma sólida situação financeira.

Os trabalhadores desta empresa compram os seus haveres no comércio tradicional da vila, entre o encerrar da fábrica e as 20 horas e ao sábado até à hora do almoço, pois da parte da tarde e ao domingo as lojas estão encerradas.

A uma centena de metros encontra-se a outra empresa têxtil, construída na mesma época, por um jovem de uma família rica da vila, que apostou no mesmo equipamento que a entidade anterior.

Os empregados podem entrar na empresa das 8 h até às 10 horas, o almoço efectua-se entre as 12 e as 14 horas e a saída das 17 às 20 horas. Não tem cantina, os trabalhadores têm uma sala onde podem aquecer num micro-ondas o almoço trazido de casa, ou deslocarem-se a um restaurante ou a casa para tomarem a refeição. Todos recebem um subsídio de almoço que é recebido num cartão a utilizar, normalmente em estabelecimentos que têm terminais de multibanco.

A empresa exporta uma pequena parte da produção para o sul da Europa, o restante destina-se ao mercado nacional e como demora muito tempo a receber dos clientes,transacciona à porta da fábrica, em dinheiro, a clientes que depois vão vender em feiras ambulantes ou em locais de passagem de pessoas, nas grandes cidades, no seu percurso entre a casa e o emprego.

O empresário passa a vida entre a fábrica e a agência bancária para tentar resolver os seus problemas. Uma das soluções que pretende implementar é a redução de pessoal, pois os encargos são elevados.

Os empregados, queixam-se que trabalham muito, pois saem tarde da fábrica, mas em cada semana trabalham o mesmo número de horas que a outra empresa, esquecendo-se que na maioria das vezes entram quase às 10 horas.

Como não conseguem fazer as compras dentro do horário do comércio local e não têm acesso aos terminais multibancos, os trabalhadores aproveitam o fim-de-semana para deslocarem-se à sede do concelho, para utilizarem o valor do subsídio de almoço em aquisições no hipermercado. Estes trabalhadores não contribuem para o desenvolvimento da sua terra.

Este último empresário tem movido influências, embora com as dificuldades da sua empresa, conseguindo que um seu irmão tenha conseguido ganhar as eleições para presidente da junta de freguesia.

Duas empresas, dois percursos distintos, dois resultados díspares, devido a organizações individualizadas, que levam a produtividades diferenciadas. Em qualquer entidade, o mais importante são as pessoas. Baía da Lusofonia

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