Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

sexta-feira, 2 de outubro de 2015

Estados Unidos da América - Porto de Long Beach investe para receber meganavios

Estratégia é baseada em planejamento logístico, expansão do sistema viário e adoção de novas tecnologias


Os grandes portos mundiais têm um desafio pela frente: estar preparados para atender os novos meganavios conteineiros, cujos últimos modelos podem carregar até 21 mil TEU (unidade equivalente a um contêiner de 20 pés) e vão chegar ao mercado nos próximos anos. Os complexos marítimos terão de operar essas embarcações com eficiência e sem impactos para a comunidade ao redor. Para cumprir essa missão, o Porto de Long Beach, o segundo maior dos Estados Unidos, estabeleceu uma estratégia baseada em planejamento logístico, a expansão de seu sistema viário e a adoção de novas tecnologias.

Esses planos foram conhecidos e debatidos com empresários e autoridades do Porto de Santos, que estão em visita ao complexo marítimo norte-americano, na manhã de terça-feira(29). A viagem conclui a programação da edição deste ano do Santos Export - Fórum Internacional para a Expansão do Porto de Santos. A parte inicial do seminário, composta por seus painéis de debates, ocorreu entre os dias 10 e 11 de agosto, em Santos.

Long Beach percebeu que precisava se preparar para os meganavios há cerca de cinco anos, quando os armadores anunciaram que essas embarcações iriam operar nas linhas entre o Extremo Oriente e a costa oeste dos Estados Unidos, onde está localizado. “O mercado está em evolução e os portos têm de encarar esse desafio. Não se trata de fazer um juízo de valor, se isso é bom ou mal, mas é o que está ocorrendo. Somos um grande porto, o segundo maior dos Estados Unidos, e temos de atender esses navios”, afirmou o executivo-sênior da Cadeia de Suprimentos do Porto de Long Beach, Michael Christensen, que apresentou os projetos de infraestrutura do complexo marítimo para a comitiva santista ontem, na sede da autoridade portuária.

Christensen destacou que, para receber esses cargueiros, Long Beach teve de preparar sua infraestrutura, como o aprofundamento dos canais de acesso para 55 pés (16,5 metros), e otimizar sua programação logística. Entre as ações implantadas, uma das principais foi a adoção de mudanças no cotidiano de suas operações.

“Esses navios descarregam contêineres muito rápidos, em uma velocidade maior do que a prevista para os terminais portuários quando foram projetados. Então percebemos que teremos muita carga que terá de sair rápido do porto e temos de fazer isso sem impactos na região. Tivemos de repensar nossa logística”, afirmou o executivo-sênior.

Esses estudos começaram nos últimos anos e foram realizados em parceria com o Porto de Los Angeles - vizinho ao de Long Beach e seu principal concorrente - , terminais, operadores logísticos e armadores. Algumas medidas já foram definidas e começaram a ser aplicadas no mês passado, quando tradicionalmente o movimento de cargas na costa oeste dos Estados Unidos aumenta, permanecendo assim até novembro. Entre elas, está a distribuição dos horários de entrega das cargas de importação. Antes, a maior parte era retirada dos terminais durante o dia. Agora, essas atividades também são feitas à noite.

A divisão ocorreu sem a necessidade de alterar tarifas ou aplicar taxas especiais para tornar o horário noturno mais competitivo, como aconteceu em outros portos que utilizaram essa estratégia. “Não foi preciso adotar essas medidas. Foi um grande acordo do mercado. Todos entenderam a importância de melhor distribuir essas atividades”, disse Christensen.

Distribuição de cargas

Imagem: Carlos Nogueira

Outra mudança envolveu a melhor distribuição das cargas no pátio, de modo a agilizar sua entrega aos caminhões. A estratégia do Porto de Long Beach também engloba investimentos dos terminais em novas tecnologias.

É o caso do Long Beach Container Terminal, instalação de contêineres do complexo marítimo que está em fase final de testes e deve começar a operar em abril do próximo ano. A unidade, que foi visitada pelo grupo do Santos Export no início da manhã de ontem, iniciará suas atividades podendo movimentar 1 milhão de TEU por ano, quantidade que chegará a 3,3 milhões de TEU por ano quando for totalmente implantada (o que deve ocorrer apenas em 2020).

Segundo seus técnicos, essa eficiência será possível graças ao sistema operacional semi-automatizado que foi implantado. Nele, os contêineres são transportados entre o pátio e o costado por veículos controlados por computador. Os trabalhadores acabaram deslocados para a recepção das cargas, o planejamento das operações e as atividades de bordo.

Para Michael Christensen, o investimento em tecnologia é uma ferramenta “essencial” na nova realidade vivida pelo setor portuário. “Os meganavios demandam portos cada vez mais eficientes e o investimento em tecnologia garante isso”, afirmou.

Os planos de Long Beach ainda incluíram a melhoria dos acessos aos terminais. Pontes estão sendo construídas de modo a melhorar o tráfego rodoviário e a malha ferroviária que atende os terminais foi ampliada.

A ferrovia, aliás, tem papel de destaque no desenvolvimento do porto, especialmente após a construção do Alameda Corridor, uma via ferroviária subterrânea de mais de 30 quilômetros de extensão, que atravessa a área urbana de Los Angeles, ligando a zona portuária aos pátios ferroviários. Ela entrou em operação no início do século e, hoje, movimenta 42 composições ferroviárias (cada uma com uma extensão variando de três a quatro quilômetros) por dia.

O empreendimento foi apresentado ontem aos empresários e autoridades do Porto de Santos, pela diretora de Assuntos Governamentais e Comunitários da Autoridade de Transporte do Alameda Corridor, Connie Rivera.

A utilização do Alameda Corridor e a otimização do transporte ferroviário foram “importantes” para melhorar a eficiência do complexo marítimo, comentou o executivo-sênior da Cadeia de Suprimentos do Porto de Long Beach, Michael Christensen. “Sem a ferrovia, não conseguiremos avançar como queremos”, disse.

Para o dirigente portuário, a evolução vivida pelo complexo marítimo é um processo “natural”, consequência do desenvolvimento do mercado. “Hoje, o setor portuário está mudando. Mesmo os portos que não vão receber os meganavios, como Santos, têm de se ajustar a novas realidades pois devem passar a receber navios maiores. E para isso terão de ser mais eficientes. É uma nova era para os portos e temos de estar preparados”, destacou.

Agenda

Imagem: Carlos Nogueira

Além das reuniões na sede da autoridade portuária e da visita ao novo Long Beach Container Terminal, o grupo do Santos Export ainda foi recebido por técnicos da consultoria Aecom, em seus escritórios na cidade. A empresa, uma das principais nesse mercado, se destaca por seus projetos de infraestrutura, tanto para a iniciativa privada (ela participou da construção do LBTC).

Long Beach foi o segundo porto visitado pela comitiva santista nesta viagem. Na segunda-feira, eles conheceram as instalações de Los Angeles e se reuniram com autoridades desse complexo marítimo.

Hoje, o grupo segue para Oakland, também no estado da Califórnia, na costa oeste do país. Amanhã, estão previstos encontros com representantes da autoridade portuária e encontros com empresários e consultores da região. Leopoldo Figueiredo – Brasil in “A Tribuna”

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