Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Portugal – 1º de Dezembro

Um ato de coragem insuperável contra a maior potência do Mundo de então. A única revolução sem apoio de qualquer exército contra o mais potente exército da altura.

Esta semana passará mais um ano sob um dos maiores momentos da História portuguesa: O golpe que restaurou a independência nacional depois de mais de meio século de submissão ao poder da Espanha imperial dos Habsburgos.

Embora fosse o mais antigo feriado nacional, criado na segunda metade do séc. XIX, um dos poucos feriados monárquicos que sobreviveu à 1ª República, que atravessou a Ditadura e boa parte do regime democrático, não resistiu aos golpes de títeres que confundiram finanças de contabilista com marcadores fundamentais da nossa memória histórica.

É certo que a Esquerda nunca gostou deste feriado. Desprezou-o em nome dos seus preconceitos ideológicos, do atavismo ridículo, permitindo que fosse apropriado por um nacionalismo bacoco e ultramontano. Porém, a verdade é que foi a Direita mais radical que alguma vez governou em democracia que haveria de o assassinar.

Nem a Esquerda, seja lá isto o que for, nem a Direita, seja mais bronca ou mais culta, perceberam que 1640 abriu as portas para a expansão do maior ativo que Portugal entregou à Humanidade – a sua própria Língua. Esta Pátria imensa, como lhe chamava Fernando Pessoa, é falada por duzentos e cinquenta milhões de pessoas. É a Língua mais falada no hemisfério sul, é um dos processos de comunicação mais poderosos entre pessoas, entre comunidades, entre povos.

É um tesouro universal parido em português e que só ganhou a dimensão extraordinária que hoje assume no quadro das Nações graças ao movimento libertador liderado pelos duques de Bragança, executado pelos fidalgos conspiradores e pelo povo de Lisboa. Um ato de coragem insuperável contra a maior potência do Mundo de então. A única revolução sem apoio de qualquer exército contra o mais potente exército da altura.

Se esses punhados de homens e de mulheres tivessem olhado a História com a mesma mediocridade com que é vivida pela ignorância que nos governa, hoje a nossa Língua teria a dimensão do catalão ou do basco, sem possuir a carta de alforria que a torna no maior contributo português para a História Universal. Nenhum ministro das Finanças será capaz de contabilizar o valor deste património na nossa balança de pagamentos. Tem um valor infinito.

Garante o novo governo que vai repor este feriado. É boa ideia. Mas que o faça recuperando o verdadeiro significado que assumiu para a dimensão universalista de Portugal e da sua Língua. Moita Flores – Portugal in “Correio da Manhã”

Galiza - I ediçom das Luso Paparocas

O pessoal do Beco da Língua em colaboraçom com a Fundaçom Artábria e o departamento de português da EOI de Ferrol iníciam um ciclo gastronómico sob o nome de "Luso Paparoca" que decorrerá nos próximos meses e no que poderemos degustar sabores da Angola, o Brasil, Cabo Verde, a Galiza... e a lusofonia toda.

A primeira cita será o próximo 11 de dezembro de 2015, sexta-feira, às 22h com umha ementa indo-portuguesa que estará composta por:

- entradas portuguesas e indianas (bolinhos de bacalhau, chamuças, rissóis de camarão...)
- Caril de frango com manga acompanhado de arroz
- Água e Vinho verde
- Sobremesa e café

Também haverá ementa vegana sob demanda

A data límite para apontar-se é o 9 de dezembro e o preço da ementa é 12 euros. As praças som limitadas.

Podes apontar-te no café-bar do nosso Centro Social ou escrevendo para correiodeartabria@gmail.com ou becodalingua@gmail.comFundaçom Artábria - Galiza

domingo, 29 de novembro de 2015

Brasil – Concurso Nacional Novos Poetas, Prêmio Poetize 2016

Está a terminar o prazo, 05 de Dezembro de 2015, para as inscrições no Concurso Nacional Novos Poetas, Prêmio Poetize 2016.

Aberto a todos os brasileiros, nascidos ou naturalizados, com idade superior a 16 anos. Os candidatos podem concorrer até dois poemas originais de sua autoria, escritos em língua portuguesa.

A realização cabe à Vivara Editora Nacional com o apoio cultural da Revista Universidade, sendo o tema a concurso livre, assim como o género lírico optado.

Deste evento resultará o livro “Prêmio Poetize 2016. Antologia Poética”. Para mais informações aceda ao sítio da organização aqui. Baía da Lusofonia

Brasil - A crise e a falta de bom senso

De 2000 para 2014 as exportações mundiais saltaram de US$ 6 trilhões para US$ 22 trilhões e o Brasil acompanhou essa tendência quadruplicando suas vendas para o mercado externo, que passaram de US$ 55 bilhões para US$ 225 bilhões. Pode parecer muito, mas esse crescimento poderia ter sido maior, tivesse tido o País administradores públicos mais responsáveis, que promovessem investimentos em infraestrutura superiores aos 2,5% do Produto Interno Bruto (PIB) da última década.

O resultado disso é que hoje o País tem de suportar um custo logístico equivalente a 11,5% do PIB, ou seja, aproximadamente US$ 270 bilhões, levando-se em conta o PIB de 2014 (US$ 2,3 trilhões), segundo dados do Fundo Monetário Internacional (FMI), o que representa o dobro do que é gasto pelos EUA, o triplo do que é gasto pela Europa e o quádruplo do que é gasto pela China. Segundo especialistas, o máximo admissível seria um custo logístico de até 5% do PIB, ou seja, US$ 115 bilhões. Esse custo provocado por estradas precárias e portos ineficientes, entre outros problemas, influi diretamente nas vendas para o exterior, principalmente de produtos manufaturados.

Obviamente, não é só o governo que deve fazer investimentos, mas também a iniciativa privada que depende diretamente de um ambiente otimista e de crescimento, o que não se vê hoje em função de uma instabilidade política sem razão de ser, já que o Brasil apresenta uma dívida externa líquida de apenas 34% em relação ao PIB, menor que a da Alemanha (50%), país-exemplo de administração pública, dos EUA (80%), da União Europeia (70%) e do Japão (127%).

Vive-se, portanto, hoje o pior dos mundos unicamente porque se perdeu o bom senso político, o que ocasionou uma grave crise de confiança que paralisou investimentos e consumo, sem base na realidade dos números. Vivesse o País hoje sob um regime parlamentarista, como as nações da Europa Ocidental, o atual governo (ou seja, o gabinete) já teria sido substituído por outro que, com um primeiro-ministro de credibilidade à frente, pudesse devolver a confiança à população e ao empresariado.

Enquanto isso não ocorre, o que se prevê é que o País deverá cair até o final do ano mais dois postos no ranking das maiores economias do planeta, passando de sétimo para nono, com um PIB estimado de US$ 1,8 trilhão, sendo ultrapassado por Índia e Itália. Tudo isso em função de uma carência de lideranças políticas nunca vista no País. Milton Lourenço - Brasil

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Milton Lourenço é presidente da Fiorde Logística Internacional e diretor do Sindicato dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística do Estado de São Paulo (Sindicomis) e da Associação Nacional dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística (ACTC). E-mail: fiorde@fiorde.com.br. Site: www.fiorde.com.br.

sábado, 28 de novembro de 2015

‘Minha querida Beirute’: saga da cultura libanesa no Brasil

                                                           I

Foi o crítico literário e filósofo da linguagem russo Mikhail Bakhtin (1895-1975) quem, nos anos 20 do século XX, empregou o conceito de polifonia, então um termo mais utilizado em discussões teóricas sobre música, para analisar a obra de Fiódor Dostoiévski (1821-1881), o que o fez revolucionariamente em Problemas da poética de Dostoiévski (São Paulo, Forense, 2010) e Questões de literatura e de estética (São Paulo, Hucitec, 2010), ao afirmar que a literatura, mais especificamente o romance, podia colocar em jogo uma multiplicidade de vozes ideologicamente distintas, que resistiam ao discurso autoral.

O mesmo arcabouço teórico pode ser utilizado para definir como texto polifônico Minha querida Beirute (Goiânia, Editora Kelps, 2012), o sexto romance de Miguel Jorge (1933), autor nascido em Mato Grosso do Sul, mas radicado desde criança em Goiás, dono de vasta obra, que inclui mais de 30 livros de poemas, romances, novelas infanto-juvenis e contos, além de ensaios e peças de teatro, que lhe renderam várias premiações e o levaram a ser incluído no Dictionary of International Biography, Twenty-Third Edition, da Inglaterra, honraria rara para um escritor brasileiro.

Essa filiação à definição bakhtiniana já havia sido percebida pela professora Moema de Castro e Silva Olival, em seu recente livro A literatura brasileira e a cultura árabe (Goiânia, Editora Kelps, 2015), no qual estuda livros de autores descendentes de libaneses, entre os quais os de Miguel Jorge, como Veias e vinhos (1982), Nos ombros do cão (1991) e Pão cozido debaixo de brasa (1997), trilogia urbana centrada em Goiânia, O Deus da hora e da noite (2008), dedicando, porém, a maior parte (48 páginas) de sua análise à Minha querida Beirute, ao percorrer detidamente cada um dos seus 36 capítulos.

Para Moema Olival, Miguel Jorge, a cada capítulo de Minha querida Beirute, acresce “mudanças de foco, de percepção da realidade, que, na proliferação de vozes diversas, nos fornecem dado de enriquecimento quanto aos diversos perfis que nos são apresentados, de tal maneira que o esboço da personalidade de cada personagem se realize com mais completude”.

Sem dizê-lo explicitamente, a professora aponta, com percuciência critica, a natureza polifônica do romance, como diria Bakhtin se tivesse vivido para ler este livro, ainda que em uma hipotética tradução russa. Enfim, para a professora, Minha querida Beirute constitui um “privilegiado campo de interesse das disciplinas interdisciplinares que hoje atuam de modo significativo na leitura crítica dos textos, como psicologia, filosofia, psicanálise, sociologia, história, uma vez que o grande objeto é o ser humano”.

Já o professor Rogério Santana, da Universidade Federal de Goiás (UFG), mestre em Literatura Brasileira pela UFG e doutor em Literatura Brasileira pela Universidade de São Paulo, no texto de apresentação que escreveu para este livro, chama a atenção para a definição bakhtiniana de polifonia, que tornou “compreensível a dimensão das várias vozes que podem compor uma narrativa”, dizendo que Minha querida Beirute é exatamente um romance polifônico, embora não seja “feito de vozes que se cruzam, no afã de colocar o leitor em posição de investigador de narradores”.

Para Santana, Miguel Jorge, com seu domínio narrativo invejável, permite que o leitor possa sentir e se beneficiar do deleite estético que o romance reserva no discurso do narrador distanciado, dos personagens e de outros agentes discursivos “como metáfora do mundo de ilusão que é a literatura”. Depois de definições tão perfeitas, difícil é imaginar o leitor destas linhas que não se sinta atraído por conhecer este romance.

                                               II
Considerando-o então já fisgado, para auxiliar esse hipotético leitor, é preciso agora contar o que reserva este livro de Miguel Jorge. Em linhas gerais, conta a história de um anti-herói, Monsalim, ou apenas Salim, em sua luta para reconstruir sua vida no Brasil, mais especificamente no Brasil Central, em Goiânia, desde quando, comandante de um grupo armado num dos muitos combates políticos que se travavam no Líbano, decidiu deixar a guerra para trás, trazendo consigo no navio a fiel esposa Nasta e Chalub, Ziad, Narrid, Rachid e Mamede, seus ex-comandados e “figadais companheiros de aventuras e desventuras”, como observa Carlos Nejar no prefácio que escreveu para este livro.

Mas não se pense que o leitor haverá de sentir desde logo simpatia por Monsalim. Pelo contrário. Aos olhos de hoje, poucos haverão de nutrir bons sentimentos por um homem que constitui o physique du role do libanês bem sucedido (ao menos no Brasil): machão, falso moralista, ditador em casa com a mulher e a família e igualmente mandão com os amigos e aqueles que passam a depender de sua astúcia financeira, ícone da cultura patriarcal, galanteador e libidinoso nas ruas, cortejado e amante de muitas mulheres, um tipo “com os dedos cheios de anéis de ouro e grossas correntes no pescoço”, como diria dele uma voz maledicente da Rua 4, a das lojinhas dos turcos em Goiânia. Enfim, o rei do mundo. Obviamente, não se quer dizer aqui que todo libanês (ou seu descendente) seja assim. Até porque há muitos que são bons pais de família, fiéis à esposa, solidários com os amigos.

Para compor aquela figura estereotipada, Miguel Jorge, com invejável mestria, recorre a toda sorte de expediente literário, ao imaginá-la vítima de uma agressão (pouco esclarecida), com uma faca atravessada no pescoço, que não pode ser arrancada sob pena de levá-lo de vez para o outro mundo. A partir desse episódio e de sua luta pela sobrevivência, o romancista, igualmente descendente de libaneses, em ritmo cinematográfico, com flashbacks sucessivos, diálogos, monólogos interiores e oito cartas de ex-amantes, constrói uma personagem que é facilmente identificada em vários tipos que se destacaram (e ainda se destacam) na vida nacional e que, bem ou mal, refletem em parte os valores que desde o berço trouxeram do Líbano.

Como bem observa Carlos Nejar no prefácio, há, porém, neste livro capítulos de alta voltagem poética e ainda um texto antológico que chama atenção pela construção de uma personagem que não é humana, a cachorra Valderéz, que faz lembrar a Baleia, de Vidas Secas, de Graciliano Ramos (1892-1953), a cadelinha Mila, de Quase memória, de Carlos Heitor Cony (1926), e Os bichos, de Miguel Torga (1907-1995).

                                               III
Miguel Jorge, poeta, romancista, contista, dramaturgo, cronista, ensaísta e roteirista, nasceu em Campo Grande-MS, mas cedo se mudou com seus pais comerciantes para a cidade de Inhumas, em Goiás, onde fez o curso primário. Cursou o ginásio em Goiânia e terminou o científico no colégio Marconi, em Belo Horizonte. Formou-se em Farmácia e Bioquímica pela Universidade Federal de Minas Gerais, Direito e Letras Vernáculas pela Universidade Católica de Goiás, lecionou Farmacotécnica na Faculdade de Farmácia da UFG e Literatura Brasileira no Departamento de Letras da Universidade Católica de Goiás.

Foi um dos fundadores do Grupo de Escritores Novos (GEN) e seu presidente por duas vezes. Também foi por duas vezes presidente da União Brasileira de Escritores (UBE), seção de Goiás. Dirigiu também por duas vezes o Conselho Estadual de Cultura de Goiás e é membro da Academia Goiana de Letras.

Estreou com Antes do túnel, contos (Goiânia: Editora da UFG, l967). Entre seus últimos livros, estão O Deus da hora e da noite, romance (Goiânia: Editora Kelps, 2008); Dias pequenos: de como as mulheres atraem seus maridos, comédia em um ato; As confissões da senhora Lydia, drama em um ato (Prefeitura de Goiânia, Editora Kelps, 2010); e De ouro em ouro, edição que contém Livro de poemas, com ilustrações do pintor Roos e CD com poemas declamados pelo próprio autor (Casa Brasil de Cultura, 2010).

Entre os prêmios que conquistou estão o ABCA para o romance Veias e vinhos (1982);  Machado de Assis da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro para o romance Pão cozido debaixo de brasa (1997), Prêmio de Poesia Hugo de Carvalho Ramos da UBE-GO e Secretaria Municipal de Cultura (1989) para Profugus, Prêmio de Poesia Hugo de Carvalho Ramos da UBE-GO e Secretaria Municipal de Cultura (1998) para Calada nudez (l998) e 2º Prêmio Centro-Oeste da Funarte para Matilda, peça de teatro.

Escreveu com o diretor João Batista de Andrade o roteiro para o longa-metragem Veias e vinhos, baseado em seu romance, filmado em São Paulo, de abril a maio de 2004 e lançado no mercado em 2006. Seus textos sobre artes visuais estão inseridos, na grande maioria, no livro Da caverna ao museu: dicionário das artes plásticas em Goiás, de Amaury Menezes, editado pela Fundação Cultural Pedro Ludovico Teixeira, de Goiânia. Adelto Gonçalves - Brasil

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Minha querida Beirute de Miguel Jorge, com prefácio de Carlos Nejar e apresentação de Rogério Santana. Goiânia: Editora Kelps, 634 págs., 2012, R$ 29,90. E-mail: migueljorgeescritor@gmail.com

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Adelto Gonçalves é doutor em Literatura Portuguesa pela Universidade de São Paulo (USP) e autor de Os vira-latas da madrugada (Rio de Janeiro, José Olympio Editora, 1981; Taubaté, Letra Selvagem, 2015), Gonzaga, um poeta do Iluminismo (Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1999), Barcelona brasileira (Lisboa, Nova Arrancada, 1999; São Paulo, Publisher Brasil, 2002), Bocage – o perfil perdido (Lisboa, Caminho, 2003), Tomás Antônio Gonzaga (Academia Brasileira de Letras/Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2012), e Direito e Justiça em Terras d´El-Rei na São Paulo Colonial (Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2015), entre outros. E-mail: marilizadelto@uol.com.br

Timor-Leste – Porto de Tibar adjudicado

A Bolloré Consortium venceu o concurso para a construção e exploração do novo porto de Tibar, em Timor-Leste. O contrato da parceria público-privados será assinado no decurso do primeiro trimestre de 2016.

A novidade foi avançada pelo primeiro-ministro timorense no final da reunião do Conselho de Ministros que analisou o relatório final do concurso público e aprovou as condições do contrato de concessão por 30 anos, a ser assinado por ambas as partes.

Com um custo estimado em 400 milhões de dólares, a construção do novo porto, que servirá a capital timorense Dili, deverá ficar concluída até ao final do próximo ano.

O porto deverá ter capacidade para receber passageiros e mercadorias e processar cerca de um milhão de toneladas/ano.

Na corrida à concessão, os franceses do grupo Bolloré tiveram como adversária a britânica Peninsular & Oriental Steam Navigation Company, subsidiária da DP World, do Dubai.

O grupo Mota-Engil chegou a interessar-se pelo projecto mas não formalizou a apresentação de qualquer proposta. O mesmo fez a ICTSI, dss Filipinas. In “Transportes & Negócios" - Portugal

sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Carlos Nejar: o espetáculo da palavra

                                                            I

Se como ensina o professor Massaud Moisés (1928), em A criação literária. Prosa II (São Paulo, Editora Cultrix, 19ª ed., 2005), prosa poética é a fusão da poesia e da prosa, caracterizada pela musicalidade, pela metaforização abundante e a divisão da frase em segmentos que recordam a cadência do verso, O feroz círculo do homem (Taubaté-SP, Editora Letra Selvagem, 2015), de Carlos Nejar (1939), preenche todos esses requisitos. Constitui, portanto, um romance escrito inteiramente em prosa poética.

Como observa o jovem escritor, jornalista e crítico Diego Mendes Sousa (1989) no posfácio que escreveu para este livro, em dez capítulos de O feroz círculo do homem, o leitor pode escutar a voz de Carlos Nejar ecoar no pensamento do relator Tibúrcio Dalmar, personagem enveredado na arte de guardar as sombras das almas no sótão de um tenda localizada em Pontal do Orvalho – entre o cimo do monte e as margens do rio João Aragem – que toma a forma de uma Caverna circular, governada pelo enigmático Círculo.

Como logo percebe o culto leitor, o livro recorre à alegoria da caverna, também conhecida como parábola da caverna, mito da caverna ou prisioneiros da caverna, passagem escrita por Platão que se encontra na obra intitulada A República (Livro VII) em que o filósofo grego procura mostrar como o ser humano pode se libertar da condição de escuridão que o aprisiona através da luz da verdade. Nessa obra, Platão discute sobre teoria do conhecimento, linguagem e educação na formação do Estado ideal.


                                               II
Na apresentação que escreveu para este livro, o romancista Miguel Jorge (1933) define esta obra como “uma ópera filosófica”, dizendo que este romance funciona “como se um coro de vozes levantasse outras vozes no respirar intranquilo de um círculo desenhado em linhas de fogo”. Compara-o ainda a uma “catedral de forma barroca onde as figuras, no milagre de um tempo passado, podem ser vistas de vários ângulos e várias faces”.

Neste caso, é a palavra que constitui o espetáculo, pois, como observa o romancista, “a palavra, senhora de todos os espaços, como se desse cor ao coro de vozes, vibrava ao vento”. Ou seja, a palavra aqui adquire o sentido bíblico, de voz de Deus, a explicação para aquilo que não se explica, para as nossas ansiedades e perplexidades diante do Desconhecido. Diz Nejar:

“E onde a palavra se impõe, declina a razão. E onde o sobrenatural se entremostra, cada vez mais entramos e saímos na palavra. Até rebentar de novo a semente, as plantas, flores, árvores, montanhas. Nem importa o que poderia ter sido a história, mas do que sucede e sucederá”.

Para Miguel Jorge, não há medida para este romance, ou ensaio filosófico, que ele define também como “peça para um teatro de sensações históricas, capaz de revelar a dicotomia ou trilogia incorporada ao conceito literário modernista”. É o que se pode perceber neste trecho de Nejar:

“Nada se sabe”, diz Fernando Pessoa, “tudo se imagina”. Mas vivi mais do que imaginei, até imaginar mais do que vivi. Como admitir que a vida toda é apenas imaginação. Às vezes uma imaginação que endoidou e volta à cura sonhando”.


                                               III
Carlos Nejar, gaúcho de Porto Alegre, radicado em Vitória, no Espírito Santo, é também poeta, tradutor, advogado, promotor e procurador de Justiça aposentado. Foi considerado um dos 37 escritores-chave do século, entre 300 autores memoráveis no período compreendido entre 1890 e 1990, segundo ensaio do crítico suíço Gustav Siebenmann (1923) no livro Poesía y poéticas del siglo XX en la America Hispánica y el Brasil (Editora Gredos, Biblioteca Românica Hispânica, Madri, 1970).

Seu primeiro livro de poesias, Sélesis, foi lançado em 1960. Hoje, sua bibliografia conta com mais de 30 títulos de poesia, além de romances como Um certo Jaques Netan (1991), O túnel perfeito (1994), Carta aos loucos (1998), e Riopampa, ou o moinho das tribulações (Prêmio Machado de Assis, da Fundação Biblioteca Nacional, em 2000) e ensaios diversos e até literatura infanto-juvenil como O Menino-rio (1985), Era um vento muito branco (1987), A formiga metafísica (1988), Zão (1989) e Grande vento (1997).

Participou de antologias e coletâneas de poesias e tem sua obra traduzida para diversos idiomas. Em 1989, entrou na Academia Brasileira de Letras, ocupando a cadeira de seu conterrâneo Vianna Moog (1906-1988). Participou de vários congressos e eventos internacionais de poesia, representando o Brasil, e foi premiado em diversas oportunidades: Prêmio Nacional de Poesia, do Instituto Nacional do Livro, em 1970; Prêmio Fernando Chinaglia, da União Brasileira de Escritores, em 1974; Prêmio Monteiro Lobato, em 1981; e Troféu Cassiano Ricardo, do Clube de Poesia, em 1995, entre outros.

Seus principais livros de poesia são O campeador do vento (1966), Danações (1969), Ordenações (1971), Casa dos arreios (1973), O poço do calabouço (1974), A árvore do mundo (1977), Os viventes (1979), Livro de gazéis (1984), A genealogia da palavra (1989), Amar, a mais alta constelação (1991), Simon vento Bolívar (1993), Arca da aliança (1995), Sonetos do paiol, e Ao sul da aurora (1997). A exemplo de O feroz círculo do homem, de prosa poética é também O poço dos milagres (Prêmio da Associação Paulista de Críticos de Artes, 2005).

Em 2013, saiu a terceira edição de Viventes, acrescida de 300 novos poemas, e o romance A negra labareda da alegria.  Em 2012, publicou Contos inefáveis, pela editora Nova Alexandria. Em 2014, A vida secreta dos gabirus, pela Editora Record, e Matusalém de flores, pela Editora Boitempo. Adelto Gonçalves - Brasil

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O feroz círculo do homem, de Carlos Nejar. Taubaté-SP: Editora Letra Selvagem, 160 págs., 2015, R$ 35,00. E-mail: letraselvagem@letraselvagem.com.br

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Adelto Gonçalves é doutor em Literatura Portuguesa pela Universidade de São Paulo (USP) e autor de Os vira-latas da madrugada (Rio de Janeiro, José Olympio Editora, 1981; Taubaté, Letra Selvagem, 2015), Gonzaga, um poeta do Iluminismo (Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1999), Barcelona brasileira (Lisboa, Nova Arrancada, 1999; São Paulo, Publisher Brasil, 2002), Bocage – o perfil perdido (Lisboa, Caminho, 2003), Tomás Antônio Gonzaga (Academia Brasileira de Letras/Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2012), e Direito e Justiça em Terras d´El-Rei na São Paulo Colonial (Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2015), entre outros. E-mail: marilizadelto@uol.com.br


quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Moçambique - Aeroporto de Nacala prepara operações internacionais

O aeroporto de Nacala deverá iniciar as operações internacionais entre Março e Abril do próximo ano, disse o presidente da empresa pública Aeroportos de Moçambique (AdM)

Emanuel Chaves acrescentou, citado pelo “Domingo”, que o aeroporto deverá receber já em Dezembro de 2015 a respectiva certificação para poder operar como aeroporto internacional, “sendo esperado que a partir daquela data as companhias que operam na zona norte do país comecem a utilizar a infra-estrutura.”

O presidente da AdM disse ainda que a empresa que dirige tem estado em contacto directo com as companhias que transportam passageiros envolvidos na exploração dos depósitos de gás natural descobertos na bacia do Rovuma “para nos garantirem que Nacala passará a ser o aeroporto de entrada em Moçambique.”

Emanuel Chaves adiantou ter sido já entregue “às autoridades nacionais” um pedido – “bem como a respectiva fundamentação” – para que o aeroporto de Nacala seja o único na região norte do país a processar voos internacionais.

O mercado do transporte aéreo em Moçambique circunscreve-se actualmente a 1,7 milhões de passageiros por ano.

Concebido e construído pela brasileira Odebrecht, em parceria com a empresa Aeroportos de Moçambique, o Aeroporto Internacional de Nacala foi inaugurado em Dezembro de 2014 e tem capacidade para atender 500 mil passageiros e receber 5 mil toneladas de carga por ano.

As instalações do aeroporto ocupam 30 mil metros quadrados de área construída, incluindo o terminal de passageiros de 15 mil metros
quadrados, torre de controlo e a pista de 3 100 metros de comprimento, dimensões que permitem a operação de aviões de grande porte, como o Boeing 747.

O aeroporto entrou em funcionamento com voos comerciais operados pelas Linhas Aéreas de Moçambique e a sua gestão está a cargo da AdM, responsável pela administração das infra-estruturas aeroportuárias de Moçambique. In “Transportes & Negócios” - Portugal

Brasil - Grupo chinês compra 23,7 por cento da companhia brasileira Azul Linhas Aéreas

A companhia brasileira Azul Linhas Aéreas (pertencente ao consórcio que adquiriu a portuguesa TAP) anunciou nesta terça-feira, 24 de Novembro de 2015, a venda de 23,7% de seu pacote acionário ao grupo chinês HNA, por 1,7 bilhão de reais (456 milhões de dólares).

A operação permitirá à terceira maior companhia aérea do Brasil - de capital fechado - fortalecer o caixa, renovar a frota, amortizar dívidas e abrir uma porta no mercado asiático, afirma a empresa em um comunicado.

"O investimento de 1,7 bilhão de reais no atual cenário do Brasil demonstra que temos um modelo de negócios de sucesso e que o HNA Group, em sua condição de investidor de grande escalam tem confiança na equipe da Azul. Além disso, coloca nossa empresa como a mais valiosa do mercado aéreo brasileiro com um valor de mais de 7 bilhões de reais (1,877 bilhão de dólares)", disse Antonoaldo Neves, presidente da empresa.

A Azul foi criada em 2008, conta com 138 aviões em serviço e tem uma participação de mercado de 17% no país, segundo a empresa. A companhia opera quase exclusivamente no Brasil, mas tem alguns voos para Estados Unidos, Guiana Francesa e Uruguai.

"É uma oportunidade única para investir na América Latina", afirmou Adam Tan, presidente do HNA Group. In “Defesanet” - Brasil

Macau - Cerimónia de encerramento do Colóquio de Inspecção das Actividades Comerciais e Económicas para os Países de Língua Portuguesa

Realizou-se no dia 20 de Novembro de 2015, na parte da manhã, na sede do Secretariado Permanente do Fórum para a Cooperação Económica e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa (Macau), a “Cerimónia de Encerramento do Colóquio de Inspecção das Actividades Comerciais e Económicas para os Países de Língua Portuguesa” do Centro de Formação do Fórum de Macau, ministrado pela Universidade de São José.

A cerimónia de encerramento contou com a presença das seguintes personalidades: Secretário-Geral do Secretariado Permanente do Fórum de Macau, Dr. Chang Hexi; representante da Delegação Comercial do Departamento dos Assuntos Económicos do Gabinete de Ligação do Governo Central da República Popular da China na RAEM; Cônsul-Geral da República de Angola na RAEM, Dra. Sofia Pegado da Silva; Cônsul-Geral da República de Moçambique na RAEM, Dr. Rafael Custódio Marques; Cônsul Honorário da Guiné-Bissau em Macau, Dr. John Lo; Secretário-Geral Adjunto (indicado pelos Países de Língua Portuguesa) do Secretariado Permanente do Fórum de Macau, Dr. Vicente de Jesus Manuel; Coordenadora do Gabinete de Apoio ao Secretariado Permanente do Fórum de Macau, Dra. Cristina Morais; Reitor da Universidade de São José, Prof. Doutor Peter Stilwell; Coordenadora do Gabinete de Administração do Secretariado Permanente do Fórum de Macau, Dra. Zhang Jie; Coordenador do Gabinete de Ligação e Delegado de Cabo Verde, Dr. Mário Vicente; e Delegados dos Países de Língua Portuguesa junto do Fórum de Macau.


O Secretário-Geral Adjunto do Fórum de Macau, Dr. Vicente de Jesus Manuel, o Reitor da Universidade de São José, Prof. Peter Stilwell, bem como o Chefe rotativo do Colóquio, Dr. Francisco José Julião Chacha, proferiram discursos na cerimónia de encerramento.

Este é o quinto colóquio realizado pelo Centro de Formação do Fórum de Macau em 2015. Este Colóquio registou 21 inscrições de dirigentes, chefes e técnicos dos serviços públicos do Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e Portugal. O curso decorreu entre os dias 8 a 22 de Novembro em Macau e na ilha de Hengqin.

O colóquio pretendeu disponibilizar uma plataforma para estudo e intercâmbio entre os participantes dos vários países participantes. No colóquio foram leccionadas várias palestras temáticas e os participantes tiveram, ainda, a oportunidade de realizar várias visitas de prospecção e estudo.

Durante a estadia do grupo em Macau, o ensino versou sobre as seguintes temáticas: Marketing de Serviços; Políticas de Regulação e de Supervisão; Comércio e Economia; Políticas Económicas e de Negócio; Sistema Jurídico da RAEM; Desenvolvimento da Indústria de Turismo e Entretenimento; Segurança e Sistema de Saúde Adaptado às Necessidades Públicas; Políticas Ambientais e Urbanísticas; e o Papel de Macau como Plataforma entre a China e os Países de Língua Portuguesa.

Do programa constaram visitas à Direcção dos Serviços de Economia, ao Instituto de Promoção do Comércio e do Investimento de Macau, ao Instituto Cultural, à Direcção de Inspecção e Coordenação de Jogos, ao Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais, à Direcção dos Serviços de Turismo, à Associação de Divulgação da Lei Básica de Macau, ao Banco da China (sucursal de Macau), à Sociedade de Abastecimento de Águas de Macau, S.A.R.L., às empresas Servair Macau, Hovione PharmaScience Ltd., entre outros serviços e entidades privadas.

Os participantes visitaram também a Expo Internacional de Viagens (Indústria) de Macau e realizaram intercâmbios com a delegação do “Seminário de Promoção Turística” e “Seminário de Alto Nível sobre Turismo, Convenções e Exposições entre a China e os Países de Língua Portuguesa”.

Em Hengqin, os participantes do Colóquio visitaram a incubadora de empresas INNO Valley para melhor conhecerem o respectivo projecto e o a Zona Experimental de Livre Comércio de Guangdong.

O Colóquio teve como objectivo aproveitar as vantagens de Macau como plataforma, procurando evidenciar as políticas, práticas e experiências do Interior da China e de Macau na área de inspecção das actividades comerciais e económicas, recorrendo para tal a variadas palestras temáticas e visitas, visando consolidar a troca de experiências entre os Países de Língua Portuguesa, o Interior da China e Macau.

A formação procurou ainda oferecer oportunidades de aperfeiçoamento profissional e de aquisição de conhecimento tecnológico, abrindo oportunidades de cooperação nas vertentes comerciais e económicas. A actividade serviu, desta forma, para fomentar a promoção da cooperação económica regional, ajudando assim a concretizar o plano de cooperação e desenvolvimento na área da educação e formação de recursos humanos do Fórum de Macau, aprofundando o papel de Macau como a plataforma de serviços para a cooperação comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa. Gabinete de Apoio ao Secretariado Permanente do Fórum para a Cooperação Económica e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa - Macau

Brasil - Para recuperar o tempo perdido

SÃO PAULO – O Tratado Transpacífico (TPP, na sigla em inglês), que reúne EUA, Canadá, Japão, Austrália, Brunei, Chile, Cingapura, Malásia, México, Nova Zelândia, Peru e Vietnã, entrou em vigor no dia 5 de outubro, mas já é possível saber que será danoso ao comércio exterior brasileiro, já que, com a eliminação de taxas de importação e de pelo menos 50% das barreiras não tarifárias, as exportações nacionais serão bastante afetadas. Afinal, os produtos vendidos entre os países-membros do tratado ficarão comparativamente mais baratos. Hoje, o Brasil exporta US$ 54 bilhões para os 12 países do TPP, 35% dos quais em produtos manufaturados.

Esses produtos que majoritariamente seguem para EUA, Peru, México e Chile passam a enfrentar a concorrência do Japão e da própria nação norte-americana. No setor agrícola, os prejuízos também já são visíveis tanto para o Brasil como para a Argentina, que terão de enfrentar em desvantagem a concorrência de produtos da Austrália e Nova Zelândia.

Se o Tratado Transatlântico (TTIP) entre EUA e União Europeia (UE) vier a ser formalizado, a situação para o Mercosul – e para o Brasil, que detém 70% do Produto Internacional Bruto (PIB) da região – ficará ainda mais difícil. TPP e TTIP vão passar a ditar o processo de formulação de normas de comércio e investimentos, esvaziando por completo a Rodada Doha da Organização Mundial do Comércio (OMC). Basta ver que só o comércio EUA-UE já é responsável por 70% das trocas mundiais.

E o Brasil? Até o final de 2014, o Brasil preferiu ignorar essas movimentações, ao contrário de Chile, Colômbia, Peru e México, que, por meio da Aliança do Pacífico, incluíram-se nas negociações para o TPP e com a UE. É de se lembrar que Colômbia, Coréia do Sul, Taiwan e Filipinas já estão na fila para aderir ao TPP.

Sem alternativas, o atual governo teve de deixar para trás antigas cantilenas terceiromundistas para procurar uma reaproximação com os EUA, a partir de um acordo para harmonizar normas técnicas. E quer desajeitadamente levar o Mercosul a um acordo com a UE, mas com poucas chances de êxito, já que, além da política protecionista defendida pela Argentina, os dois lados têm dificuldades para avançar as negociações, cada qual acusando o outro de querer levar vantagens.

Dentro da nova orientação, o governo conseguiu fechar um acordo automotivo com a Colômbia e começou a negociar com o México a ampliação do comércio com tarifa zero. Já não é pouco, mas insuficiente diante do atual quadro. Diante disso, parece claro que, para recuperar o tempo perdido, o País não só deve procurar se inserir na economia global a partir de sua adesão a grandes blocos, com o Mercosul ou não, mas também fazer a lição de casa para reduzir o chamado custo Brasil que influi diretamente na competitividade dos produtos nacionais. Sem preço não se vende nada, como sabe o mais iniciante dos comerciantes. Mauro Dias - Brasil

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Mauro Lourenço Dias, engenheiro eletrônico, é vice-presidente da Fiorde Logística Internacional, de São Paulo-SP, e professor de pós-graduação em Transportes e Logística no Departamento de Engenharia Civil da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). E-mail: fiorde@fiorde.com.br Site: www.fiorde.com.br

quarta-feira, 25 de novembro de 2015

O romance de Adelto

                                                           I          
O professor Adelto Gonçalves é conhecido e enaltecido pelo exercício da crítica literária, função que desempenha com segurança, simpatia e estilo tanto nos modernos meios de comunicação virtual — importantes sites do País e do exterior, notadamente Portugal — quanto em órgãos da imprensa tradicional. A qualidade, a frequência e a intensidade desse trabalho, uma das mais louváveis exceções à tendência dos grandes periódicos, hoje, de eliminar a resenha crítica regular a cargo de profissionais “do ramo”, competentes e respeitados, fazem, por si sós, benemérita a pena do escritor.
A crítica registra e analisa a produção literária, atuando como fiel e guia do leitor e armazenando, para os historiadores e estudiosos do setor, informações sem as quais a pesquisa seria um perder-se na floresta, cada vez mais densa e intrincada, dos produtos e despejos editoriais. Sem a crítica restam a publicidade e a resenha expositiva, cumpridoras, é certo, de um papel respeitável, mas incapazes, por definição, de ir ao âmago da criação literária, em termos de técnica, de humanismo e de arte.
Além disso, é autor de ensaios literários, históricos e biográficos como, apenas exemplificando, os que dedicou a Bocage, Tomás Antônio Gonzaga e Fernando Pessoa, que lhe aumentaram a notoriedade e lhe granjearam justos prêmios.
Finalmente, sabemo-lo autor de narrativas ficcionais, como os contos de Mariela Morta (sua estréia, em 1977) e o romance Barcelona Brasileira, publicado em Lisboa, em 1999, e em São Paulo, em 2002. Quanto a mim, tomo conhecimento direto desta sua faceta de escritor apenas agora, com a recente publicação, por LetraSelvagem, da segunda edição de Os Vira-Latas da Madrugada. Tendo-o escrito no final da adolescência, refundiu-o em 1977-78, vindo essa versão a merecer destaque, dois anos depois, no Prêmio Nacional José Lins do Rego, da editora José Olympio, que o publicou em 1981.
                                             II
A trama tem base na realidade, passando-se em Santos, num espaço fervilhante de vida e de miséria, entre o porto, o bairro Paquetá e o centro da cidade. Os personagens são — diz em nota o editor, Nicodemos Sena — “ex-sindicalistas, punguistas, jornaleiros, vendedores de jogo do bicho, catadores de restos que caem no transporte antes de chegar aos navios, mendigos, engraxates, cafetinas, cafetões, prostitutas e jovens aprendizes de todo tipo de expediente”; os “vira-latas”, diz o posfácio de Maria Angélica Guimarães Lopes, são os moleques do bairro.
E o tempo? Este, segundo o autor, “não existe, os acontecimentos se confundem, as datas são esquecidas”; não obstante, deve ser afastada a idéia de uma intemporalidade absoluta: a trama se desenvolve às vésperas do golpe militar de 1964, que lhe impõe um corte brusco, sem o recurso usual de um final definitivo.
Conforme detalha Ademir Demarchi nas orelhas, em que lhe traça ágil roteiro, há um plano de fundo fortemente político por trás do enredo, com personagens que rememoram a Coluna Prestes e a era Vargas, tomados em cena “no período pré-golpe”.
Desse grupo humano emergem com força figuras marcantes como o velho Marambaia, seu calejado “mestre”, e o jovem Pingola com sua explorada amante, a jovem prostituta Sula. Marambaia, legendário participante da Coluna, depois homem do mar e, nessa condição, capitão de motins em defesa de direitos dos marujos, é forte presença nessas páginas, com um halo de conselheiro e mentor. Pingola, seu protegido, malandrinho, mas aprendiz de estatuário, leva sua contradição até a página final, quando parece tomar consciência de sua condição subumana e apontar os olhos para uma meta.
O verdadeiro protagonista do romance, assim o sentimos, é a sua humanidade sofrida, recalcada em patamares de primitivismo socioeconômico. O livro estrutura-se em três “confissões”, palavras do eu-narrador que o comentam e definem, cada uma delas introduzindo uma de suas partes, culminando com uma “Última confissão”, sem sequência, espécie de brevíssima coda à guisa de “moral da história”. É interessante registrar como numa dessas confissões, a segunda, o romancista nos adianta uma das vertentes mais notórias do futuro crítico, o ensaio de fulcro histórico, ao discorrer sobre a origem e a etimologia do nome de batismo da região do Paquetá, com base nas anotações de Francisco Martins dos Santos, em sua História de Santos, de 1937; e, naturalmente, ao descrever o Paquetá de “hoje”. 
                                             III
Sobre quem leia o livro salteadamente, randomicamente — eu mesmo às vezes o faço, e isso é possível no caso, pois os capítulos de Os Vira-Latas da Madrugada soem ter um fechamento que lhes permite o folheio aleatório —, impende o risco de acabar pespegando-lhe o rótulo de niilismo, tal o acúmulo de desgraças e humilhações que relata. Se se detiver nas páginas que descrevem a animalesca fúria repressória e torturadora dos beleguins da quartelada, ou nas que pintam a loucura supostamente revolucionária do velho Marambaia, seguida de seu covarde assassínio, tal conclusão parecerá indiscutível: a mensagem seria de treva e desesperança.
Mas o capítulo do enterro do negro artesão, quando Plínio intui que Marambaia “aproveitara o dinheiro do jogo do bicho para dar ao pobre João de Angola um enterro decente”, antecipa conclusão bem diversa. Pois, “então, Plínio sentiu uma ternura imensa por Marambaia; nem tudo no mundo era mesquinharia”; e “de repente, ali, inclinado sobre os joelhos, descobria a solidariedade, a honestidade, a amizade, valores que pareciam mortos”. Outro momento luminoso é o que encerra o volume (antes da já comentada “confissão” final), com Pingola, após o sepultamento de Angola, que lhe ensinara a arte de esculpir em madeira, e o martírio de Marambaia, seu protetor, abraçando a companheira grávida:
“Amanhã, iremos embora desta merda de cais .... Vamos começar de novo. Ele vai precisar de um pai de quem possa ter orgulho”, diz, apontando com os olhos para a sombra do ventre inchado da mulher que se desenha na parede.
Valida-se, assim, em termos de fé — ou pelo menos de esperança — em nossa tumultuosa humanidade, este belo romance de Adelto Gonçalves, válido essencialmente, de resto, pelo vigor da narração e pela compassividade intrínseca do narrador. Anderson Horta - Brasil
  
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Anderson Braga Horta, mineiro de Carangola, poeta, ensaísta e crítico literário, formado em Direito pela Universidade do Brasil-RJ, vive em Brasília desde 1960. Foi diretor legislativo da Câmara dos Deputados e co-fundador da Associação Nacional de Escritores. É membro da Academia Brasiliense de Letras e da Academia de Letras do Brasil. Já conquistou 15 prêmios literários. É autor de Proclamações (Brasília, Editora Thesaurus, 2013), entre outros livros de uma vasta obra.


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Os Vira-latas da Madrugada, de Adelto Gonçalves, com prefácio de Marcos Faerman, apresentação de Ademir Demarchi, posfácio de Maria Angélica Guimarães Lopes e ilustrações e capa de Enio Squeff. Taubaté-SP: Associação Cultural Letra Selvagem, 216 págs., 2015, R$ 35,00. E-mail: letraselvagem@letraselvagem.com.br  
Site: www.letraselvagem.com.br

terça-feira, 24 de novembro de 2015

Comissão Europeia - Uma em cada quatro crianças vive em risco de pobreza ou de exclusão social na UE

Crescer numa situação de pobreza pode ter repercussões durante toda a vida. A pobreza infantil é uma realidade na União Europeia: uma em cada quatro crianças vive em risco de pobreza e de exclusão social. Os eurodeputados debateram ontem, 23 de novembro de 2015, e votam hoje, um relatório em que urgem os Estados-Membros a reforçar o combate à pobreza infantil e às desigualdades sociais.

Segundo a Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos das Crianças, todas as crianças têm direito à educação, aos cuidados de saúde, alojamento, ao lazer e a uma alimentação equilibrada. No entanto, na Europa isto nem sempre acontece. De acordo com o Eurostat, em 2014, cerca de 26 milhões de crianças e jovens (menores de 18 anos) viviam em risco de pobreza e de exclusão social, ou sejam 27,7% de todas as crianças que vivem na UE.

Há crianças a viver em risco de pobreza em todos os Estados-Membros. Os países com maior percentagem de crianças a viver em risco de pobreza são a Roménia (51%), a Bulgária (45,2%) e a Hungria (41,4%). Em Portugal são quase um terço das crianças: 31,4%. Os países com as percentagens mais baixas são a Dinamarca (14,5%), a Finlândia (15,6%) e a Suécia (16,7%)

A subnutrição também está a crescer entre as crianças europeias. De acordo com a UNICEF, na Estónia, Grécia e Itália, a percentagem de crianças que não pode permitir-se a comer carne ou peixe de dois em dois dias duplicou desde 2008.

Pobreza infantil é um fenómeno multidimensional

A pobreza não é apenas uma questão de dinheiro. Para além de incluir a incapacidade de assegurar despesas básicas como a alimentação, o vestuário e a habitação; a pobreza também está ligada à exclusão social e à falta de acesso a cuidados de saúde e educação de qualidade.

As crianças que vivem em famílias monoparentais, especialmente com as mães, também se encontram em maior risco de pobreza.

Na segunda e na terça-feira, os eurodeputados debatem e votam o relatório da comissão parlamentar do Emprego e dos Assuntos Sociais. O relatório elaborado pela eurodeputada portuguesa Inês Zuber (CEUE/EVN) faz uma série de recomendações aos Estados-Membros e à Comissão Europeia para combater "as alarmantes taxas de pobreza infantil na Europa".

"As políticas de austeridade criaram esta situação e o problema está a piorar. Os Estados-Membros têm que assegurar às crianças e às suas famílias o acesso à educação, à saúde, à segurança social e é necessário fazer face ao desemprego, promover a segurança do emprego e redes parentais-educacionais e sociais, alimentação equilibrada e alojamento adequado", defende Inês Cristina Zuber. Comissão Europeia


Brasil - Para onde vai a China?

SÃO PAULO – Quem vive o dia-a-dia do comércio exterior sabe que, depois de 35 anos de êxitos econômicos, a China deparou-se em 2009 com uma recessão mundial e teve de abandonar a antiga política de exportar maciçamente produtos de baixa qualidade, substituindo-a por outra de alto valor agregado com base em tecnologia de ponta. Como isso exige cérebros mais desenvolvidos, o governo chinês tem investido muito em educação para formar grandes contingentes de mão-de-obra especializada.

Ao mesmo tempo, o novo modelo chinês prevê o crescimento de seu mercado interno, com a formação de uma classe média capaz de absorver grande parte de sua produção industrial. Isso exige a expansão dos seus negócios ao redor do mundo, pois só assim lhe será possível garantir o fornecimento de insumos para a sua indústria. Exemplo disso é o grande número de acordos setoriais assinados recentemente com a Argentina, cujo interesse, claro está, é usufruir no futuro de maciças exportações para o mercado alimentício chinês que já se encontra em franca expansão.

Ainda que não haja um feroz antagonismo entre EUA e China, sabe-se que a política externa de cada um desses mega-países exclui o outro. Tanto que a China não faz parte do recente Tratado Transpacífico (TTP) e, em contrapartida, lançou em 2014, dentro do âmbito do foro Comunidade de Estados Latinoamericanos e Caribenhos (Celac)-China, uma iniciativa destinada a se tornar um tratado que exclui explicitamente EUA e Canadá e prevê pesadas inversões na região.

Levando-se em conta a ideologização que tem marcado o Mercosul, que nos últimos tempos passou a funcionar mais como fórum de discussão política do que comercial, parece que a América do Sul deverá se inclinar para a esfera chinesa, principalmente se a próxima rodada de negociações com a União Europeia (UE) vier a fracassar, a exemplo de outras nos últimos 15 anos.

Não parece esse um caminho nebuloso, considerando-se que, segundo cálculos do Fundo Monetário Internacional (FMI), em 2020, a economia chinesa deverá abranger um quinto do Produto Interno Bruto (PIB) mundial. Sem contar que hoje a China já é o principal produtor de manufaturados, desalojando das posições cimeiras EUA e UE. Em compensação, sabe-se que a China, apesar de suas dimensões continentais, não dispõe de grandes extensões de terra aráveis nem de recursos hídricos muito generosos, o que significa que, por largos anos, haverá de ser um grande importador de alimentos.

Portanto, é fundamental que os atuais responsáveis pela política externa brasileira saibam ler com atenção as tendências globais. Já não se está à época do alinhamento automático, o que equivale a dizer que o Brasil não só deve procurar aderir ao TTP, apesar do grande obstáculo que é a baixa competitividade de sua economia, como lutar por um acordo Mercosul-UE e igualmente estar aberto para um relacionamento comercial intenso com a China, adotando uma política extremamente pragmática, que preveja o mútuo benefício. Afinal, há muito que se sabe que um país não tem amigos, mas apenas interesses. Milton Lourenço - Brasil

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Milton Lourenço é presidente da Fiorde Logística Internacional e diretor do Sindicato dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística do Estado de São Paulo (Sindicomis) e da Associação Nacional dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística (ACTC). E-mail: fiorde@fiorde.com.br. Site: www.fiorde.com.br.