Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

quinta-feira, 31 de março de 2016

Lançamento de "A Economia como Desporto de Combate"

O mais recente livro de Ricardo Paes Mamede, A Economia como Desporto de Combate, vai ser lançado no próximo dia 7 de Abril, às 18h00, na Sociedade de Geografia de Lisboa, na Rua das Portas de Santo Antão, n.º 100, em Lisboa.

A obra será apresentada por Sandra Monteiro e Pedro Nuno Santos.

Ricardo Paes Mamede doutorou-se em Economia pela Universidade Luigi Bocconi (Milão) e licenciou-se em Economia pelo Instituto Superior de Economia e Gestão da Universidade de Lisboa, onde obteve também o grau de mestre em Economia e Gestão de Ciência e Tecnologia.

Actualmente é professor de Economia Política do ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa, onde lecciona desde 1999 nas áreas da Economia e Integração Europeia, da Economia Sectorial e da Inovação, e das Políticas Públicas. É também investigador do Dinâmia'CET, Centro de Estudos sobre a Mudança Socioeconómica e o Território.

É co-autor de A Crise, a Troika e as Alternativas Urgentes (Tinta-da-China, 2013), co-organizador do livro Structural Change, Competitiveness and Industrial Policy: Painful Lessons from the European Periphery (Routledge, 2014) e autor de O Que Fazer Com Este País (Marcador, 2015). Escreve no blogue Ladrões de Bicicletas. Relógio D'Água Editores

Holanda – Casamento entre pessoas do mesmo sexo

Casais do sexo feminino são mais propensos ao divórcio que os casais do sexo masculino

Os casamentos do mesmo sexo foram legalizados na Holanda em 1 de Abril de 2001. Durante os primeiros dois anos mais casais do sexo masculino aproveitaram a oportunidade para casarem-se, mas desde 2003 mais casamentos entre mulheres foram registados. Em 2015 realizaram-se 765 casamentos do sexo feminino e 644 do sexo masculino, ligeiramente superior aos últimos cinco anos.


Os casais de lésbicas são mais propensos ao divórcio do que os casais masculinos. Dos 580 casamentos de lésbicas registados em 2005, mais de 30 por cento tinham terminado em divórcio uma década depois. Os casamentos gays são menos propensos a terminar em divórcio: depois de uma década, mais de 15 por cento dos casamentos homossexuais masculinos tinham terminado. A taxa de divórcio para os casamentos heterossexuais foi de 18 por cento.


As pessoas que se casam antes dos vinte ou entre 40 e 50 anos são mais propensos ao divórcio. O risco de divórcio também é maior quando há uma grande diferença de idade entre os parceiros. Ao tomar estas idades e as diferenças de idade em consideração, os casais de lésbicas ainda são mais propensos ao divórcio do que os casais masculinos e heterossexuais. Nesse caso, o risco de divórcio é o mesmo para o sexo masculino casais gays e heterossexuais.

A única análise realizada inclui apenas os casamentos entre parceiros que ainda estavam vivos em 2016.

Os homens homossexuais são mais velhos quando se casam

Em média, os parceiros homossexuais são mais velhos quando se casam do que os heterossexuais. Os homens homossexuais têm, em média, mais de 43 anos de idade no dia do casamento contra cerca de 37 para os homens heterossexuais. Quase 20 por cento dos homens casados ​​gays tinham 55 anos ou mais no dia do casamento.

As mulheres lésbicas também tendem a ser mais velhos no dia do casamento do que as mulheres heterossexuais. A idade média das parceiras lésbicas no dia do casamento é de 39 contra 34 as heterossexuais.


A diferença de idade é considerável entre os parceiros do sexo masculino

Além da idade média em que os homens homossexuais se casam, a diferença de idade entre eles também é mais ampla do que entre as parceiras lésbicas e heterossexuais. A diferença média de idade entre os parceiros do sexo masculino foi de 7,5 anos em 2015; sendo em mais de um quarto dos casamentos superior a dez anos. A diferença média de idade entre as parceiras lésbicas era de 4,6 anos, contra 4,3 anos entre os parceiros heterossexuais. In “CBS Statistics Netherlands” - Holanda

quarta-feira, 30 de março de 2016

Brasil - Porto do Itaqui impulsiona desenvolvimento econômico do Maranhão

          Foto: Handson Chagas/SECAP
Durante apresentação institucional dos resultados da Empresa Maranhense de Administração Portuária (Emap) em janeiro deste ano, o presidente da estatal, Ted lago, divulgou um dado comparativo que representa a guinada do Porto do Itaqui como indutor de desenvolvimento do Maranhão: o lucro líquido esperado em 2015 era de apenas R$ 307 mil, segundo projeções feitas em 2014. A projeção modesta se transformou em lucro real de R$ 68 milhões ao final de 2015.

A explicação para a grande diferença entre o lucro esperado e os lucros reais alcançados pelo Porto do Itaqui em 2015, foi o direcionamento que o Porto passou a ter no projeto de integração das cadeias geradoras de desenvolvimento econômico. O Itaqui opera, atualmente, dentro da centralidade estratégica de desenvolvimento do Estado.

Um exemplo dessa integração foi a entrega de 15km de pavimentação de trecho urbano da MA-006, por onde escoa grande parte da produção de grãos Maranhão. Graças a essa obra, a produção de soja no Sul do estado passou a chegar com mais facilidade ao porto e de lá para os mercados consumidores. Com a pavimentação do trecho, mais de 50% de toda a produção de soja do Maranhão agora chega com mais facilidade ao Porto do Itaqui.

O presidente da Associação de Produtores de Soja e Milho do Maranhão, Isaías Soltadelli, explica que com a recuperação do trecho da MA e a ampliação dos terminais de grãos no Porto do Itaqui, haverá aquecimento de vários setores da economia. “Agora podemos escoar milho e soja usando caminhões que percorrerão a rodovia até o Itaqui, isso vai gerar uma cadeia de atividades econômicas, com ampliação do setor de serviços, gerando oportunidades e melhorando a produtividade ”, avaliou.

Além dos investimentos em infraestrutura rodoviária para escoamento da produção maranhense, o Governo do Estado investiu na modernização do Porto atuando em duas frentes: investimentos públicos e privados.

“A capacidade recuperada de investimentos da Emap, com recursos oriundos da operação portuária, mostra que o Porto do Itaqui é autenticamente uma ferramenta de desenvolvimento do nosso Estado, porque essas obras geram emprego, renda e oportunidades para milhares de pessoas,” disse o governador Flávio Dino, ao anunciar as obras de reforma e ampliação dos terminais delegados, tanto da Ponta da Espera, quanto do Cujupe, num total de investimentos de R$ 300 milhões oriundos das receitas da própria Emap.

No campo dos investimentos privados, a ação do Maranhão é vista como exemplo para outros portos brasileiros, uma vez que o governo busca fortalecer sua posição no Matopiba, região formada por áreas situadas nos estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia. Para a Associação Brasileira dos Terminais Retroportuários e das Empresas Transportadoras de Contêineres (ABTTC), a movimentação recorde de cargas em 2015, está relacionada à entrada em operação do Tegram, Terminal de Grãos Privado, inaugurado pela presidenta Dilma Rousseff e pelo governador Flávio Dino em agosto do ano passado.

Segundo a ABBTC, apenas o Tegram deve superar já em 2016 a movimentação recorde de 2015, elevando de 3,4 milhões de toneladas para até 4,5 milhões de toneladas escoadas em 2016.

Outro paradigma que coloca o Porto do Itaqui na linha estratégica do desenvolvimento estadual é o seu crescente potencial para a entrada de mercadorias que podem ser processadas no Maranhão e gerar riqueza. In “Porto do Itaqui” - Brasil

Porto em números:

Crescimento de 21% em movimentações de cargas durante 2015 com recorde histórico de 21,8 milhões de toneladas;
Investimentos de no valor de R$ 1,35 bilhão até 2017;
Grau de satisfação dos clientes do Porto atingiu a marca de 75,93%, 11% a mais em relação ao ano anterior;
Expectativa de lucros para 2015 saltou de R$ 307 mil para R$ 68 milhões;
Mais de 100 mil passageiros embarcaram nos terminais de Ponta da Espera e Cujupe, somente no período carnavalesco de 2016.

Guiné-Bissau - Venezuela financia construção de um complexo escolar

Bissau – O sector de Prábis, na região de Biombo vai beneficiar de um complexo escolar para cerca de 900 alunos distribuídos em 11 salas de aulas e cuja construção avaliada em 212 milhões de francos CFA será financiada pela República de Venezuela.

Ao falar no acto do lançamento da primeira pedra para a construção do referido estabelecimento escolar, e que ocorreu na última sexta-feira, o Primeiro-ministro guineense disse que a edificação de uma escola com o nome de ”Hugo Chaves" constitui um símbolo da cooperação, amizade e parceria entre os dois povos.

Carlos Correia adiantou que o sonho que está a se tornar realidade na vila de Prabis é o resultado de um acordo firmado entre a Venezuela, Cuba e a Guiné-Bissau, tendo salientado que estará no país de Nicolas Maduro nos próximos dias com o objectivo de criar as condições para o alargamento da cooperação a outras áreas.

O chefe do Governo pediu a população a fazer o bom uso do complexo para o bem de todos, tendo apelado aos habitantes de Prábis para a proteger e vigiar os materiais que serão levados para iniciar as obras.
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Por sua vez, a Ministra da Educação Nacional agradeceu o gesto do governo Venezuelano tendo afirmado que para ter emprego no mundo de hoje, é preciso ir à escola e para o fazer é necessário ter os edifícios para albergar os estudantes.

Odete da Costa Semedo acrescentou ainda que, ter edifícios significa cuidar e proteger bem os que já existem para poder servir as gerações futuras, salientando que isso significa ter as carteiras, as portas e ter os professores.

“O que constatamos é que ao longo dos anos as diferentes escolas do país são equipadas com carteiras, portas e janelas, que acabam por desaparecer, por isso é que o Complexo Escolar “Hugo Chaves Frias” se localiza no meio da população para que todos sejam responsáveis na segurança dos materiais, bem como a futura conservação da escola” disse a ministra.

A governante lembrou a população de Prábis, que a escola é para rapazes e raparigas não o contrário porque segundo ela se o país quer vir a ter governantes mulheres, as raparigas devem ir à escola, tendo afirmado que a futura escola vai receber até ao nível da 9ªclasse e mais tarde vai ser alargado para o 12º ano de escolaridade.

Por fim, o Embaixador da República de Venezuela na Guiné-Bissau, afirmou ser um prazer realizar um sonho e vontade do Presidente defunto daquele país, Hugo Chaves que sempre empenhou para que a cooperação Sul-Sul fosse uma realidade em qualquer parte do mundo e sobretudo nos países do sul.

Édi Córdoba exprimiu ser necessário que as obras estejam concluídas no tempo previsto, para que as crianças e jovens daquele sector possam receber os benefícios de uma educação adequada. In “Agência de Notícias da Guiné” – Guiné-Bissau

Mercosul: balanço de 25 anos

O Mercosul, criado a 26 de março de 1991, chega à marca dos 25 anos, senão como uma iniciativa coroada de êxito, pelo menos como um empreendimento que alcançou mais pontos positivos que negativos. Reunindo Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai, países fundadores, e Venezuela, que completou seu processo de adesão em 2012, o bloco constitui, sem dúvida, a mais abrangente iniciativa de integração regional já implementada na América Latina.

Mantém como estados associados ou estados parte Chile, Peru, Colômbia, Equador, Bolívia, Guiana e Suriname e abrange 72% do território da América do Sul, espaço equivalente a três vezes a área da União Europeia; 70% da população sul-americana (275 milhões de habitantes) e 77% do Produto Interno Bruto (PIB) da América do Sul (US$ 3,18 trilhões de um total de US$ 4,13 trilhões).

Com tamanha capacidade produtiva, bem que o Mercosul poderia ter avançado mais. E, se não o fez, culpa não cabe apenas ao Brasil, mas a todos os países-membros que, governados por regimes presidencialistas centralizadores, mostraram-se reféns da mentalidade atrasada e da falta de visão global que tem caracterizado seus líderes, que sempre se deixaram levar por interesses de grupos que, em vez de buscarem a livre competição, procuraram se abrigar sob o guarda-chuva do protecionismo.

Ainda agora o governo argentino, que parecia ter deixado para trás essa mentalidade com o presidente Mauricio Macri, deu mostras de que continua aferrado a políticas protecionistas, que tornam a integração sul-americana lenta e seus resultados frustrantes. A Argentina ampliou a lista de itens importados que exigem licenças não automáticas para entrada no país. A medida, que engloba produtos metálicos, de ferro, de aço, laminados e máquinas, entre outros, afetando especialmente o setor automotivo, é uma tentativa de contenção do superávit brasileiro no primeiro bimestre.

Mesmo com esses problemas, isso não significa que o Brasil poderia estar em situação mais confortável, se o Mercosul não existisse. Acusar o Mercosul de constituir o principal obstáculo para que o País tivesse assinado maior número de acordos com outras nações ou blocos é desconhecer os meandros da política econômica brasileira. Os principais opositores à assinatura de novos acordos compõem setores bem influentes em Brasília: são as indústrias pouco competitivas que impedem esses acordos e não os parceiros do Mercosul.

É preciso reconhecer que essas indústrias não são competitivas porque querem, mas também vítimas de um mal chamado custo Brasil, que as torna incapazes de competir no mercado externo. Sem contar o receio de europeus e norte-americanos com a competitividade do agronegócio brasileiro e argentino. Como se sabe, em todo o mundo, o setor agrícola é o mais protegido por tarifas altíssimas e barreiras sanitárias.

Seja como for, em 2015, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), o Brasil exportou para o Mercosul US$ 18 bilhões, dos quais US$ 15,7 bilhões em produtos industrializados, importando US$ 12,2 bilhões, dos quais US$ 9,9 bilhões em produtos industrializados. O Mercosul representou apenas 9,4% dos US$ 191,1 bilhões referentes ao total das vendas externas.

Os números mostram que o Mercosul ocupa uma posição pouco expressiva em relação ao porte da economia brasileira, atuando ainda como união aduaneira em fase de consolidação, longe de alcançar a terceira e última fase da integração, que seria o de mercado comum autêntico. Se, à guisa de balanço, não se pode deixar de reconhecer que, neste quarto de século, evoluiu bastante, forçoso é reconhecer que ainda há muito que avançar. Milton Lourenço - Brasil


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Milton Lourenço é presidente da Fiorde Logística Internacional e diretor do Sindicato dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística do Estado de São Paulo (Sindicomis) e da Associação Nacional dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística (ACTC). E-mail: fiorde@fiorde.com.br. Site: www.fiorde.com.br

terça-feira, 29 de março de 2016

Moçambique – Novo regadio em Nhamatanda

Mais de 80 mil produtores do distrito de Nhamatanda, na província de Sofala, dispõem desde a semana finda de um regadio com capacidade para 5500 hectares.

Trata-se do regadio de Muda Massequece, inaugurado na passada quinta-feira, 25 de Março de 2016, pela governadora da província de Sofala, Helena Taipo, e que foi construído no âmbito do Projecto de Desenvolvimento de Irrigação Sustentável (PROIRRI), com o objectivo de apoiar o aumento da produção e do comércio de produtos agrícolas.

Intervindo na inauguração da infra-estrutura, Helena Taipo explicou que o Governo pretende desenvolver iniciativas inovadoras e sustentáveis de produção orientada para o mercado.

“Este empreendimento foi construído no âmbito dos esforços que o nosso Governo tem estado a envidar para apoiar as comunidades nas diversas áreas, incluindo produção agrícola como estamos a testemunhar”, explicou a governante.

O empreendimento custou um total de 1 175 667 de meticais, disponibilizados pelo Banco Mundial e pelo Governo japonês.

Usando da palavra, o representante dos camponeses beneficiários do regadio, David Alficha, assumiu que o Governo ajudou a resolver os principais problemas que afectam a agremiação.

“Estamos felizes por o Governo nos ter ajudado. Assim poderemos aumentar as nossas áreas de cultivo e aumentar a nossa renda”, congratulou-se.

David Alficha referiu que a sua organização, que conta com 60 membros, na sua maioria mulheres, produz cana sacarina, que é matéria-prima para a produção de açúcar.

O coordenador do PROIRRI em Sofala, Manuel Magombe, disse, por seu turno, que o empreendimento entregue é o primeiro de muitos outros que ainda se vão colocar à disposição dos camponeses, devendo irrigar nove mil hectares. In “Jornal de Notícias” - Moçambique

segunda-feira, 28 de março de 2016

Cartas de Amílcar Cabral a Maria Helena - A outra face do homem

São cartas de amor que não entram na intimidade do casal, mas entram no coração do homem. A filha chama-lhes “cartas com amor”, mais do que “cartas de amor”. Um livro para conhecer melhor o mito em que se tornou o homem Amílcar Cabral.



Ele de pasta de couro na mão, fato e gravata, uma gabardine branca debaixo do braço. Ela de saia comprida preta, um casaco da mesma cor e um ramo de flores. Os dois sorriem, como em algumas das (poucas) fotografias do casal que aparecem em Cartas de Amílcar Cabral a Maria Helena / A Outra Face do Homem – organizado pela filha e historiadora Iva Cabral, e pelos também editores da Rosa de Porcelana, Márcia Souto e Filinto Elísio.

Porque este livro de capa dura e maior do que o habitual tem mais reprodução de cartas do que imagens do homem que marcou a História de libertação nacional da Guiné-Bissau e de Cabo Verde, do homem que foi e continua a ser um dos grandes ícones da luta contra o colonialismo português. São cartas de amor que não entram na intimidade do casal, mas entram no coração do homem. A filha chama-lhes “cartas com amor”, mais do que “cartas de amor”.

Amílcar Cabral pode dizer a Helena que tem saudades da amada, mas usa a escrita sobretudo como um contador de histórias do seu quotidiano. Por isso às vezes parece que estamos a ler diários, onde descreve a vida da Lisboa daquele tempo, ou o impacto que uma cidade como Luanda teve em si.

São, é verdade, cartas que revelam as diversas fases da vida do casal que se conheceu no Instituto Superior de Agronomia. Entre o namoro, que começou em 1946, e o casamento que durou até meados dos anos 1960 (a própria filha não se lembra exactamente da data da separação): os dois estiveram juntos uns 20 anos. O Cabral que primeiro aparece é o jovem de 22 anos, nascido na Guiné-Bissau mas criado em Cabo Verde, ainda estudante em Lisboa, a escrever a uma Maria Helena, portuguesa, natural de Chaves.

Em Outubro de 1946 começa por tratar “Maria Helena” por você. Eram então colegas no curso de Agronomia em Lisboa. Deseja-lhe boa sorte para os exames. Fala-lhe em saudades uns meses depois. E em Março de 1948 confessa-lhe, a partir da Casa dos Estudantes do Império, em Lisboa, e já depois de passar em revista o seu dia: “Sabes que já não sei estudar sozinho? Sabes que eu já não sei estar sem a tua presença? Vem depressa Lena, que te espera ansiosamente o muito dedicado, Amílcar”. E assim sucessivamente, com cartas diárias e longas, enviadas de Lisboa mas também de Angola (Luanda e Benguela) ou de Paris, até ao dia em que planearam a fuga de Helena e a filha Iva para França em 1960.






















Cabral era poeta que escrevia sonetos de amor: “Quero cantar teus olhos, teu falar, / Teus gestos, teus suspiros de Mulher…/Num verso só quero consumar /Toda a expressão imensa, do teu ser”. Era o escritor que pedia o julgamento crítico à sua “Lena querida”: depois de lhe dizer que tinha escrito um conto, e que este já estava dactilografado, informa-a: isso “não implica que não me possas indicar as deficiências que notares”. 

A correspondência está dividida em duas décadas, 1946-1950 e 1950-1960. Assim se vai revelando a personalidade amorosa e intelectual do Cabral fundador do Partido Africano para a Independência de Cabo Verde e Guiné-Bissau (PAIGC, em 1959), do guerrilheiro contra o exército português (assassinado, porém, em Conacri por membros do PAIGC, em 1973), do herói de muitos hoje pela ideologia anti-racista que proclamou, pelo ícone da negritude em que se tornou.

Porque nem só de amor e do quotidiano fala a Helena, portuguesa, branca – descreve a segregação racial na África do Sul (29/08/48) onde “aos brancos (…) não lhes convém que estes [negros] se tornem seus concorrentes, que os filhos dos negros, evoluídos, instruídos, façam concorrência aos seus filhos na luta pela vida”. Há uma mistura entre o quotidiano, em que conta o que andou a ler, transcreve passagens de autores proibidos como Jorge Amado, e o político, em que tece críticas ao “demasiadamente burguês”, “ar que se respira” na Avenida Casal Ribeiro, para onde foi viver (23/08/50).

Insiste igualmente nas questões raciais, falando dos problemas que existem no Brasil, aproveitando para criticar Portugal onde “o negro é afastado do exército, da marinha, da Magistratura, etc” (28/08/50). Cinco anos depois, mostra-se chocado com o que vê em Luanda, “das coisas mais miseráveis que imaginar se pode em matéria de ambiente colonial”. De alguma maneira falava, nas entrelinhas, da discriminação racial que os dois viveram na Lisboa da época onde um casal misto não era bem aceite. E antevia o que viria mais tarde a escrever no panfleto The Facts about Portugal’s African Colonies.

Na última carta que se publica aqui nesta edição, datada de 30 de Abril de 1960, elenca por items as “decisões fundamentais para o nosso futuro, para a vida” e organiza metodicamente a partida dela para Paris. São gestos corajosos de alguém que podia ser apanhado pela PIDE a qualquer momento.

“Não foi só rebelde”

O leitor encontrará apenas um lado da história que é a descrita por Cabral mas ouvirá também a voz de Helena. Quando decidiu publicar as cartas do pai, e as entregou à editora, Iva Cabral não sabia que, mais tarde, haveria também de se deparar com as da mãe. Mas quis manter o projecto assim, até porque se nota que “há um diálogo”, diz ao Ípsilon: “O meu pai está sempre a escrever o que pensa para ter o eco da minha mãe, é uma dupla que se constrói conjuntamente”, sublinha. A publicação das cartas foi também uma forma de honrar a mãe, “uma mulher extraordinária”.












































Estas não são as únicas cartas que Amílcar Cabral escreveu a Helena – há mais, até depois de 1960, que a filha decidiu não publicar. “Escolhi as cartas até antes do início da luta (de libertação nacional). A última é onde combina com a minha mãe como fugir de Portugal. Diz à minha mãe: ‘larga tudo’. Eu e a minha mãe saímos de Portugal logo depois dessa carta”, lembra. “Fomos de comboio através de Espanha para Paris.”

Quis mostrar a época em que ainda era estudante, engenheiro ligado a Portugal, trabalhando na Guiné-Bissau ou em Angola quando ainda não tinha tomado “a decisão de ir para a luta”. Entre a primeira e última carta, a historiadora nota que houve uma grande evolução: primeiro Cabral quer ir para África, mas depois quer ir para fazer algo, a luta de libertação.

A historiadora Iva Cabral releu as cartas para as organizar em livro e, como filha, garantiu que não ia “revelar intimidades”.

Apesar de conhecer muito bem o pai - o humor, o romantismo – uma coisa surpreendeu-a: a escrita. “Ele era poeta, disse-me que deixou de ser poeta quando leu Neruda”. Mas não pensava que pudesse ser tão bom na prosa. “Não tenho só a visão de filha, mas também de historiadora. Acho que as cartas só o dignificam mais pelo humanismo que demonstram. Não é qualquer jovem que tem essa capacidade de escrever e pensar tão bem aos 22 anos. E dignificam também a minha mãe, porque ele precisava dela para dar o passo. Há uma frase que gosto muito em que ele lhe diz: ‘a única certeza que tenho é que quero ir para a África. A outra é que ‘te amo’.

Estas cartas revelam o amor entre os pais, sim. Porém, uma das grandes preocupações da historiadora foi mostrar aos jovens que “um líder se constrói a si mesmo: estudando, namorando, tendo amizades, amando a cidade em que vive. Ninguém nasce líder”. Quis revelar a outra face do mito, do herói. “Há muita juventude que o conhece só como o rebelde. Queria que conhecessem o humano, a pessoa que ama e que diz ‘vamos estudar’, que ama os amigos, que tem objectivos na vida. Há muito jovem que é cabralista e tem que saber que ser cabralista não é só ser rebelde. Tem que haver ética, moral.” Joana Henriques – Portugal in Jornal "Público"



Joana Gorjão Henriques - Entrei para o PÚBLICO, no final de 1999, para estagiar na Cultura, onde fiquei durante dez anos, cobrindo um pouco de tudo e muito de teatro. Nessa altura, as vozes de contestação às medidas dos ministros eram diárias e a cobertura da política cultural intensa. Ao mesmo tempo, sempre escrevi sobre outras áreas. Em 2007 participei no lançamento do novo Ípsilon, onde estive como editora adjunta até 2009. A seguir fiz uma pausa na profissão e no país. Primeiro, ganhei a bolsa de um ano da Nieman Foundation for Journalism na Universidade de Harvard, EUA; depois, fui estudar Sociologia na London School of Economics, em Londres, e nesses dois anos foi quase como aprender tudo de novo. Desde o meu regresso em Julho de 2011 que escrevo sobre várias áreas, cá dentro e lá fora. jgh@publico.pt

domingo, 27 de março de 2016

Dunas









Vamos aprender português, cantando


Mês de março em Salvador
O verão está no fim.
Todo o mato está em flor
E eu me sinto num jardim

Quem sair do Abaeté
Rumo à praia do Flamengo
Não de carro mas a pé,
Pelas dunas, mato a dentro

Há-de ver belezas tais
Que mal dá pra descrever:
Tem orquídeas, gravatás,
Água limpa de beber

Cavalinhas e teiús,
Borboletas e besouros,
Tem lagartos verdazuis
E raposas cor de ouro

Sem falar nos passarinhos,
Centopeias e lacraus,
Nas jiboias e nos ninhos
De urubus e bacuraus

Vejo orquídeas cor de rosas
Entre flores amarelas
Dançam cores. Vão-se as horas
Entre manchas de aquarelas

Desce a tarde. Vem na brisa
Um cheirinho de alecrim
Canta um grilo. Sinto a vida:
Tudo está dentro de mim.

Mês de março em Salvador
O verão está no fim.
Todo o mato está em flor
E eu me sinto num jardim.

Mês de março em Salvador
O verão está no fim.
Todo o mato está em flor
E eu me sinto num jardim

Quem sair do Abaeté
Rumo à praia do Flamengo
Não de carro mas a pé,
Pelas dunas, mato a dentro

Há-de ver belezas tais
Que mal dá pra descrever:
Tem orquídeas, gravatás,
Água limpa de beber

Cavalinhas e teiús,
Borboletas e besouros,
Tem lagartos verdazuis
E raposas cor de ouro

Sem falar nos passarinhos,
Centopeias e lacraus,
Nas jiboias e nos ninhos
De urubus e bacuraus

Vejo orquídeas cor de rosas
Entre flores amarelas
Dançam cores. Vão-se as horas
Entre manchas de aquarelas

Desce a tarde. Vem na brisa
Um cheirinho de alecrim
Canta um grilo. Sinto a vida:
Tudo está dentro de mim.

Mês de março em Salvador
O verão está no fim.
Todo o mato está em flor
E eu me sinto num jardim.


Rosa Passos e Ivete Sangalo - Brasil

sábado, 26 de março de 2016

Nicarágua – Canal tem novo início aprazado para Agosto de 2016

A construção do Canal da Nicarágua começará em Agosto de 2016, com a instalação de um cais e de um depósito de combustível para receber e abastecer a maquinaria pesada necessária aos trabalhos, avança a “Bloomberg”, que cita fonte da HKND (Hong Kong Nicaragua Canal Development Investment Company).

A construção do Canal da Nicarágua (que se propõe fazer concorrência ao Canal do Panamá, cuja obra de alargamento está em fase de finalização) chegou a ter arranque previsto para 2015, com um prazo de cinco anos para ser inaugurado, mas a necessidade de ajustes no projecto, segundo a HKND, levaram ao adiar o arranque dos trabalhos.

O projecto tem um custo estimado de 50 mil milhões de dólares (44,4 mil milhões de euros). A HKND assume a construção, contra uma concessão por um prazo de 100 anos. O financiamento será assegurado pela emissão de dívida e pela entrada de novos sócios no consórcio, admitindo-se mesmo a realização de uma IPO (Oferta Pública Inicial).

O canal atravessará a Nicarágua, de Punta Gorda, na costa atlântica, a Brito, no Pacífico, passando pelo lago Nicarágua, no centro do país. Terá uma extensão de 276 quilómetros, 230 a 520 metros de largura e fundos de até -27,6 metros. Muito maior do que o Canal do Panamá mesmo depois da expansão.

O projecto compreende, além do canal propriamente dito, uma zona franca, dois portos de águas profundas (um em cada extremo), um aeroporto internacional (na província de Rivas), estradas, e instalações turísticas.

O projecto do Canal da Nicarágua obteve aprovação do estudo de impacto ambiental em Novembro de 2015, apesar da contestação das populações locais e de várias ONG ambientalistas. In “Transportes & Negócios” - Portugal

Moçambique – Nampula estimula actividade agrícola

O governo de Nampula através da Direcção Provincial da Agricultura e Segurança Alimentar (DPASA), acaba de adquirir 53 tractores e suas respectivas alfaias para estimular a actividade agrícola naquela região norte de Moçambique.

Segundo informações facultadas a reportagem da AIM pelo sector da agricultura naquela província, os tractores serão distribuídos por todos os 23 distritos daquela província. O distrito de Ribàué foi pioneiro ao receber 10 tractores e suas respectivas alfaias, acto que teve lugar na terça-feira da semana corrente.

O director da DPASA, Pedro Dzucule, disse que para além de concretizar o projecto de agro-negócios traçado pelo governo daquela província, através da criação de centros de serviços agrários em diversos distritos, a aquisição dos referidos tractores faz parte da operacionalização da estratégia de mecanização agrícola.

Dzucule acredita que com a aquisição daquele equipamento, que servirá ao produtor em regime de aluguer, os camponeses vão aumentar significativamente a sua produtividade, cultivando uma maior extensão e, assim, reduzir a insegurança alimentar.

Sentimos que estamos a dar resposta as necessidades dos produtores no que toca a disponibilidade das máquinas para aumentarem as suas áreas de cultivo para produzirem muita comida, estamos também a contribuir para a mecanização agrícola e a nossa luta é de transitarmos do uso da enxada de cabo curto para uso da maquinaria para desenvolver a agricultura na nossa província, referiu.

Sobre o custo de aluguer do equipamento agrícola, Ângelo Campos Ferreira, da empresa Agro Busines Mozambique limitada, a companhia que ganhou o concurso para gerir os centros agrários daquela província, disse que ainda não foi definido.

Vamos definir a tarifa de uma forma democrática, envolvendo todos actores na área agrícola, para além da administração do distrito e da Direcção Provincial da Agricultura, mas o nosso propósito é de estabelecermos um preço aceitável para o camponês, frisou.

Para além de tractores, o sector da agricultura adquiriu quatro mil enxadas de cabo longo, para substituir o uso de enxadas de cabo curto.

Há dias, o governo de Nampula adquiriu e distribuiu para todos distritos daquela província 180 motobombas para estimular a produção de hortícolas e reduzir as elevadas taxas de desnutrição naquela província.

Com uma população estimada em cinco milhões de habitantes Nampula é a província com o maior número de habitantes em Moçambique, a maioria dos quais sobrevive com base a agricultura. A província também possui cerca de 4,5 milhões de hectares de terra arável. Albino Abacar – Moçambique in “Agência de Informação de Moçambique”

sexta-feira, 25 de março de 2016

Angola – Os factos da quinzena

Adaptado de um artigo no último número do quinzenário AGORA. 

Seleccionei quatro factos relevantes para esta Angola de construção quase adiada, nesta segunda quinzena do regresso do Agora, para deles falar. Alguns desses factos tiveram realização efetiva no tempo referido, outros apenas nele se terão repercutido.

1º Facto

Finalmente a Igreja Católica angolana começa a assumir a sua responsabilidade irrenunciável, como elemento fundamental na construção de uma angolanidade que não pode continuar, em nome de não sei que tipo de paz, a basear-se numa autêntica racionalização da falta de ética e de moralidade públicas, mesmo quando temos consciência que como humanos, não somos, geralmente, santos.

Resta-nos encorajar estas posições que vão, quiçá, contribuir para salvar a Angola dos nossos dias (já bastante danificada) e, especialmente, a Angola do futuro, a dos nossos filhos e netos.

É provável que, em pleno século XXI, perante este presente de iniquidades de um sistema político, venham os visados recordar aos nossos prelados de hoje, os erros do passado há muito relevados, como a inquisição e outros quejandos. A Igreja, nas suas responsabilidades hodiernas não deveria ceder, a troco do que quer que seja.

2º Facto

Falou-se muito das relações entre Portugal e Angola, e, como sempre, confundindo-se completamente conceitos e palavras-chaves sobre a matéria.
 
Uma das mais badaladas confusões conceituais é que os comentadores e lobbies autorizados do sistema angolano não conseguem ou fingem não ser possível distinguir-se entre relações Estado/Estado e de problemas relacionais de âmbito meramente pessoal, decorrentes da complexidade dos nossos laços objectiva e subjectivamente tecidos, ao longo do nosso relativamente longo processo histórico comum.

O último surto convulsivo de insultos a Portugal institucional e de cidadãos, em que se manifesta essa confusão conceitual, relaciona-se com um processo judicial que só indirectamente toca um governante angolano, o Vice-Presidente da República, mas na sua qualidade de pessoa humana, que dado o fato de realizar significativa actividade pessoal na antiga metrópole, como muitos de nós o fazemos (uns mais outros menos, de acordo com as afinidades e possibilidades que aí nos ligam). E curioso, tanto quanto se me deu a perceber, é que o próprio se dispôs a esclarecer calmamente a questão. Pode, efectivamente, comentar-se igualmente, “nas calmas”, o crónico problema da quebra do sigilo processual no sistema português de justiça que, no tem afectado também as próprias personalidades públicas portuguesas (incluindo o agora herói “angolano” Paulo Portas, que não o do antigo jornal Independente). Um problema que para lá de ser apenas português (o de certa promiscuidade, não de todo em todo de sentido negativo, entre a liberdade de imprensa e a autonomia do processo judicial) é, antes demais, euro-ocidental.

3º Facto

Aqui chegamos, de facto, ao principal facto na base do aparecimento de tantas carpideiras, no âmbito das relações Angola/Portugal que, segundo penso e se atesta, vão muito bem em todos os planos, não obstante um ex-ministro português, nessa confusão de conceitos, não se ter coibido de falar de um certo perigo de “judiciarização” das relações entre Portugal e Angola, o que, no meu ponto de vista, não difere muito duma invocação da necessidade de “angolanização” do sistema judicial português, já que Angola é 14 vezes maior que a antiga metrópole e tem, por isso, segundo um comentador angolano, “um Mercedes” quantas vezes maior e melhor que o “Mercedes” português.

Com efeito, nesta quinzena, continuou a dominar a questão do Processo 15+2, uma matéria que não mereceu a atenção, por exemplo, dos chamados meios de comunicação pública, em Angola, nesta fase em que, das detenções e prisões ilegais, tanto sob o ponto de vista adjectivo quanto substantivo, dos chamados “revus”, se chegou ao ridículo de invocar uma das muitas brincadeiras de formação de governos de “facebookianos”, sem qualquer nexo de causalidade com o assunto, como algo que devia acarretar a responsabilidade de explicação dos “indicados”, mesmo quando o autor da iniciativa escolhida foi o primeiro a explicar as razões do seu “exercício”, não sofrendo, por isso, qualquer incómodo.

Na verdade, há um meio de comunicação pública que aparece à liça – o Jornal de Angola –  que em páginas quase escondidas, tornou-se o instrumento de um tribunal que acha que deve ser respeitado, só por ser órgão formal de um Estado arrastado até ao mais fundo das indignidades, para citar personalidades cujo paradeiro é mais do que público e notório, ignorando todo o articulado dos códigos processuais civil e penal que salvaguardam a dignidade de pessoas a citar, em situações que não deveriam ser tão risíveis ou exprimindo tanta arrogância e abuso do poder.  Mas as injustiças de uma Justiça angolana pública e notoriamente comandada por “ordens superiores” vai muito longe, de tal forma que, se um dia um Portugal, igualmente soberano, se predispusesse a seguir os conselhos do eloquente Paulo Portas, poderia ver-se perante cenas como a que aconteceu com o Padre Pio, que como bom homem de Deus, acorreu urgentemente ao chamamento do arrogante tribunal, mas teve, a seguir, como prémio, a divulgação de um panfleto, no pátio e arredores da sua paróquia na Província da Huila, em que era acusado se ter usado o dinheiro dos paroquianos para se deslocar a Luanda, para responder a um interrogatório, na qualidade de suposto “golpista de estado” contra Sua Excelência o Arquitecto da Paz (já não era apenas um simples declarante). Contra mim, que me recusarei, até as últimas consequências, a participar em tal teatrização judicial, transbordam recados sobre a necessidade de me manter calmo e sereno (“como sempre o foi, porque se mete agora” – como se eu é que me tivesse metido –  “no sarilho desses miúdos!?”).

Pergunto se a Europa e Portugal, em particular, se degradaram tanto, pelo gosto ao material, que devido a certos investimentos de certos angolanos bem conhecidos, sendo tão minoritários e tão circunscritos em torno da figura de um chefe do Executivo em exercício, que se têm que calar, mesmo no plano de meras opiniões pessoais ou de sectores que pouco têm a ver com o âmbito das soberanias nacionais na sua plenitude. A menos que se trabalhe para a tão suspeita quanto evidente monarquização absoluta do regime angolano, supostamente, para melhor garantir alguns apetites, na antiga metrópole, não se tenha de depender de uma repartição justa de recursos em Angola, no âmbito de uma relação justa e solidária entre dois Estados e Povos, condenados a caminhar juntos.

4º Facto

Não será por esta tentativa de monarquização absolutista de Angola, com fervorosos fãs em Portugal que se ouviu um certo doutorado em questões militares angolanas e africanas, falar no grande perigo do afastamento da cena política de José Eduardo dos Santos, em 2018, devido à situação dos generais (que generais e porque se haviam de amotinar!)? Entretanto, por cá, um comentador político, quase sempre encomendado sem contraditório na nossa TPA, o que não parece disfarçar a sua “boa alimentação” por fontes altíssimas, ele mesmo, foi o primeiro a corroborar a minha dúvida, sobre se a dita comunicação surpreendente da retirada de dos Santos não é senão e, mais uma vez, apenas um fait-divers, que segundo ele (o comentador) é de todo em todo legítimo, para um político de tamanha e inigualável craveira.

O que é que é essencial afinal, independente de políticos que se retirem ou se mantenham, neste ou naquele partido?

1- Que dentro do nosso país, sejamos respeitados e se acabe com a vergonha de prisioneiros políticos com pretextos tão risíveis quanto insuportáveis como no caso do Dr. Marcos Mavungo, em Cabinda, e dos chamados “revus”, em Luanda;

2- Que se acabe com a partidarização descarada do Estado, onde o bom comportado é aquele que não se arrepia com a existência de “empresários do MPLA”, “juristas do MPLA”, etc. que tomam conta de tudo de forma descarada, nas respectivas áreas e coisas assim;

3- Acabar e termos capacidade de ridicularizar o uso de fantasmas, como o longínquo 27 de Maio, que em vez de ser resolvido a favor das vítimas, tão antigas como isso, é hoje utilizado pelo “comando supremo”, para amedrontar a juventude, legitimamente ciosa de exercer os seus direitos e deveres como cidadãos;

4- Debater, urgentemente, a interferência tão descarada do poder executivo sobre a Justiça, transformando aquilo que devia haver de mais sagrado num país e num sistema de democracia em construção, no campo do ridículo e de tanta falta de seriedade. Marcolino Moco – Angola in “Moco Produções”