Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

domingo, 31 de julho de 2016

Viva quem canta














Vamos aprender português, cantando




Já que aqui estou
vou-lhes agora contar
de mil passos feitos vida
desta vida atribulada
desta vida de cantar

se sobrar peito
depois de mil melodias
depois de tantas palavras
tantas terras tant’stradas
tantas noites tantos dias

viva quem canta
que quem canta é quem diz
quem diz o que vai no peito
no peito vai-me um país

viva quem canta
que quem canta é quem diz
quem diz o que vai no peito
no peito vai-me um país


no Algarve mandei baile
toquei adufes na Beira
em Trás os Montes aprendi
a bombar como um Zé Pereira

Mundo fora dei abraços
nos Açores e na Madeira
deixei amigos do peito
e em casa cantei na eira

viva quem canta
que quem canta é quem diz
quem diz o que vai no peito
no peito vai-me um país

viva quem canta
que quem canta é quem diz
quem diz o que vai no peito
no peito vai-me um país

trago nos dedos malhões
toquei rondas de caminho
no Douro aprendi Janeiras
dancei as chulas no Minho

no Alentejo fica o peito
da planície de cantar
no fado colhi o jeito
de um país por inventar

viva quem canta
que quem canta é quem diz
quem diz o que vai no peito
no peito vai-me um país

viva quem canta
que quem canta é quem diz
quem diz o que vai no peito
no peito vai-me um país

cantei no alto de um monte
num tractor ou num celeiro
para vinte ou vinte mil
e das palavras fiz viveiro

p’ra quem canta por cantar
pouco mais se pediria
mas quem canta para sentir
para explicar-se e para ser
pensem só quanto haveria
ainda por dizer

viva quem canta
que quem canta é quem diz
quem diz o que vai no peito
no peito vai-me um país

viva quem canta
que quem canta é quem diz
quem diz o que vai no peito
no peito vai-me um país


Pedro Barroso - Portugal

Rodolfo Alonso, o fabricante de encantos

I

Depois de conhecer Antologia Pessoal, do poeta argentino Rodolfo Alonso, edição bilingue, com traduções de José Augusto Seabra (1937-2004), Anderson Braga Horta e José Jeronymo Rivera (Brasília, Thesaurus Editora, 2003), o leitor brasileiro tem a oportunidade de entrar em contato com Poemas Pendentes, do mesmo autor, igualmente em edição bilingue, com tradução de Anderson Braga Horta e apresentação de Lêdo Ivo (1924-2012), que acaba de chegar ao mercado pela Editora Penalux, de Guaratinguetá-SP.

Um dos maiores poetas latino-americanos do nosso tempo, Rodolfo Alonso tem tudo para ser o primeiro argentino a ganhar o Prêmio Nobel de Literatura, mas, a exemplo de Jorge Luis Borges (1899-1986), Julio Cortázar (1914-1984) e Ernesto Sabato (1911-2011), corre o risco de ser igualmente esquecido pela Academia Sueca, que, na América Latina, premiou Gabriela Mistral (1945), Miguel Ángel Astúrias (1967), Pablo Neruda (1971), Gabriel García Márquez (1982), Octavio Paz (1990) e Mario Vargas Llosa (2010).

                                                           II
Na contracapa, há um texto de Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) em que o poeta diz que Alonso não usa as palavras pela sensualidade que desprendem, mas pelo silêncio que concentram. Mais: que “sua poesia tenta exprimir o máximo de valores no mínimo de matéria vocabular, impondo-se por uma concisão que chega à mudez”.

Quer dizer, depois de uma apresentação como essa, não há muito para um resenhista o que acrescentar. Mas ainda vale a pena reproduzir o que Lêdo Ivo no prefácio disse dele, a quem chamou, com incontestável precisão, de “fabricante de encantos”: nesta coletânea, os poemas se exibem sempre em sua nitidez e concretude, com a rigorosa face imagística.

Lêdo Ivo, outro grande poeta esquecido pela Academia Sueca, aponta para o pano de fundo que cerca a poesia de Rodolfo Alonso, dizendo que sempre aponta para “uma era de emergências e turbilhões do século XX, como seu extenso catálogo de colisões e mudanças”. É o que se pode ver neste trecho do poema mais extenso desta coletânea, “Ocupem-se de Arlt”, de 1977, em que ele homenageia o romancista Roberto Arlt (1900-1942), que, em tão pouco tempo de vida, criou obras fundamentais, como Los siete locos (1929), um romance sobre a impotência do homem diante da sociedade que o oprime e obriga a trair seus ideais e a aceitar a hipocrisia burguesa. Eis um trecho:

                        Recordo a primeira vez que vi atuar a Aliança
                        os primeiros noticiosos do pós-guerra
                        rostos de homens mulheres meninos judeus quase sempre
                                   em ossos atrás de arame farpado
                        os campos de concentração que nunca esquecerei
                        como o inextinguível esplendor leproso do cogumelo de
                                   Hiroxima
                        a primeira vez que foram me buscar no colégio um dia de chuva
                                   como um casaco para lançar-me aos ombros não tinha capa
                        Recordo o barulho da chuva sobre o teto de um automóvel dentro
                                   do qual sou um menino que sobe pela primeira vez num carro
                        quando havia poucos carros
                        e descobre ambas as coisas
                        a intimidade de um interior em movimento  a intimidade da chuva
                                   a cara íntima que a cidade dá à chuva no outono o prazer de
                                   escutar chover sobre um teto
                        Recordo a impossibilidade da prosa para contar tudo isso
                        Recordo estas duas linhas de Rafael Alberto Arrieta
                        (“Sol da manhã/ glória do inverno”)
                        lidas num de meus primeiros livros de leitura
                        nas quais sem dúvida descobri a poesia
                        por experiência própria
                        e de uma vez para sempre
                        Quisera vir a ler outra vez Os sete loucos (...)


Para o leitor brasileiro – pouco conhecedor da história argentina –, o tradutor Anderson Braga Horta lembra que a Aliança aqui citada é uma referência ao violento grupo de extrema direita Alianza Libertadora Nacionalista, muito ativo à época do primeiro período do governo de Juan Domingo Perón (1895-1974), que vai de 1946 a 1955. Acrescente-se aqui que Rafael Alberto Arrieta (1889-1968) foi um professor e poeta que chegou a ocupar a presidência da Academia Argentina de Letras (1964), ligado ao modernismo do nicaraguense Rubén Darío (1867-1916), que nada tem a ver com o modernismo brasileiro, mas com a tendência francesa art nouveau.

Composto em parte por poemas mais antigos que não apareceram em livros anteriores e em parte por poemas recentes, alguns curtos, de duas linhas, mas não hai kais, este livro traz ainda uma homenagem – a que poucos poetas brasileiros fizeram – à cantora brasileira Maria Bethânia, de 2007, em que se lê:

                                   (...) Há tom, há densidade,
                                   há gravidade, há timbre,
                                   há palavra que canta
                                   e há música que expressa
                                   a pulsação que sentes.
                                   Rege, Bethânia, ordena
                                    a poesia do mundo,
                                   torna o caos em sentido,
                                   a altura em canto fundo,
                                   e faz do intenso, alento (...)


                                                           III
Rodolfo Alonso
Poeta, tradutor e ensaísta reconhecido internacionalmente, Rodolfo Alonso (1934) foi pioneiro na tradução para o castelhano na América Latina dos poemas de Fernando Pessoa (1888-1935), especialmente de seus heterônimos, e de grandes poetas brasileiros, dos quais era amigo como Carlos Drummond de Andrade, Murilo Mendes (1901-1975), Manuel Bandeira (1886-1968) e Lêdo Ivo.

Publicou mais de 30 livros. Traduziu poemas do francês, italiano e galego. Foi editado não só na Argentina como no Brasil, Bélgica, Colômbia, Espanha, inclusive em galego, México, Venezuela, França, Itália. Cuba, Chile e Inglaterra. Destacam-se as suas celebradas traduções de grandes poetas como Giuseppe Ungaretti (1888-1970), Cesare Pavese (1908-1950), Paul Eluard (1895-1952), Eugenio Montale (1896-1981), Charles Baudelaire (1821-1867) e Guillaume Apollinaire (1880-1918), entre outros.

Entre as distinções que recebeu, estão o Prêmio Nacional de Poesia e o Prêmio Único Municipal de Ensaio Inédito (por La voz sin amo), da Argentina, a Ordem Alejo Zuloaga da Universidade de Carabobo, na Venezuela, e Palmas Acadêmicas, da Academia Brasileira de Letras. Seu último livro de poemas, El arte de callar, obteve o Prêmio Festival Internacional de Poesia de Medellín, na Colômbia.

Seu arquivo pessoal (textos e fotos) encontra-se em fase de catalogação na Universidade de Princeton, nos Estados Unidos. Recentemente, foi lançada em inglês The art of keeling quiet (Salt, Cambridge, 2015). Na França, saíram no mesmo ano L´art de se taire, com prólogo de Juan José Saer (Paris, Reflet de Lettres), e Dernier tango à Rosario (Paris, Al Amar) e está para ser lançado Entre les dents, com prólogo de Juan Gelman (Toulouse, Po&psy/Erès). Na Espanha, saiu em idioma galego Cheiro de choiva (Cangas, Barbantes, Cangas, 2015) e está prevista a publicação de Tango do galego fillo (Cangas, Rinoceronte). Dirigiu sua própria editora, com um catálogo de mais de 250 livros. Adelto Gonçalves - Brasil

____________________________________ 

Poemas Pendentes, edição bilingue, de Rodolfo Alonso. Tradução e notas de Anderson Braga Horta, com apresentação de Lêdo Ivo. Guaratinguetá-SP: Editora Penalux, 2016, 198 págs. E-mail: penalux@editorapenalux.com.br
Site: www.editorapenalux.com.br

____________________________________

Adelto Gonçalves, mestre em Língua Espanhola e Literaturas Espanhola e Hispano-americana e doutor em Literatura Portuguesa pela Universidade de São Paulo (USP), é autor de Os vira-latas da madrugada (Rio de Janeiro, José Olympio Editora, 1981; Taubaté, Letra Selvagem, 2015), Gonzaga, um poeta do Iluminismo (Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1999), Barcelona brasileira (Lisboa, Nova Arrancada, 1999; São Paulo, Publisher Brasil, 2002), Bocage – o perfil perdido (Lisboa, Caminho, 2003), Tomás Antônio Gonzaga (Academia Brasileira de Letras/Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2012), e Direito e Justiça em Terras d´El-Rei na São Paulo Colonial (Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2015), entre outros. E-mail: marilizadelto@uol.com.br

sábado, 30 de julho de 2016

Macau – Faltam tradutores bilingues






















Apesar de o Executivo ter trabalhado para colmatar esses problemas, “não podemos negar que, nalgumas áreas, existe sobreposição de funções e complexidade” que atrasam alguns processos, reconheceu Chui Sai On. O Chefe do Governo falava numa resposta a Chan Meng Kam que, durante o plenário da Assembleia Legislativa (AL) apontou o dedo à “lentidão dos processos administrativos” e ao facto de haver uma “redundância na estrutura dos serviços públicos”.

No entanto, garantiu o Chefe do Executivo, “o Governo tem dado atenção no sentido de resolver os problemas”. “Pretendemos reduzir os circuitos inter-serviços que podem levar a atrasos”, sublinhou. Outro dos problemas “urgentes” mencionados no seio da Administração foi a falta de tradutores bilingues, sobretudo numa altura em que Macau se pretende afirmar como plataforma entre os países lusófonos e a China.

A este propósito, Chui Sai On referiu o “reforço da cooperação financeira”, envolvendo mais instituições locais, de forma a atrair um maior número de pequenas e médias empresas. “O Secretário Lionel Leong vai liderar todos esses trabalhos. Como sabemos há falta de tradutores bilingues. Mesmo a nível interno, precisamos de 200 pessoas. Vai ser esta a nossa tarefa prioritária”. De recordar que em Abril o Chefe do Executivo, também na AL, tinha feito referência à necessidade de 126 tradutores.

A posição da RAEM enquanto ponte sino-lusófona “já tem um alicerce consolidado” e é reconhecido pelos países que constituem o Fórum para a cooperação entre a China e os países lusófonos, defendeu o Chefe do Executivo, em resposta a Cheang Chi Keong que questionou os resultados alcançados pela RAEM no âmbito do cumprimento do papel de plataforma.

Chui Sai On recordou a conferência ministerial deste ano que se realiza em Outubro, prometendo o reforço dos trabalhos para atrair mais pequenas e médias empresas. O Chefe do Executivo confirmou ainda que o evento será presidido por um governante de Pequim.

No âmbito da cooperação entre a China e a lusofonia, o Chefe do Governo destacou o “grande progresso” nas trocas comerciais entre o Continente e os países de língua portuguesa desde 2003, além de outras iniciativas como a criação de um fundo chinês para financiar projectos de desenvolvimento em países lusófonos.

O gabinete do Chefe do Governo confirmou esta semana que Chui Sai On vai a Portugal numa visita que tem início a 13 de Setembro. Esta é a sua segunda visita oficial a Lisboa. A primeira vez que visitou oficialmente Portugal foi em Junho de 2010, meses depois do início do seu primeiro mandato”.

A deslocação ocorrerá, assim, no mês anterior à V conferência ministerial do Fórum Macau, que realiza este género de eventos a cada três anos. Inês Almeida – Macau (com Lusa) in “Jornal Tribuna de Macau”

sexta-feira, 29 de julho de 2016

Portugal – Americanos compram tecnológica de Braga

iMobileMagi, tecnológica de Braga que se destacou pelo produto Family Safety, foi compra peloes americanos da Smith Micro Software


A norte-americana Smith Micro Software anunciou a aquisição da iMobileMagic, tecnológica portuguesa que se destacou pelo produto Family Safety para smartphones, tablets e wearables.

Incubada na Startup Braga / InvestBraga, a iMobileMagic, e iniciou a sua atividade em 2011 como especialista no desenvolvimento de aplicações móveis para o mercado de consumo (segurança e proteção de crianças, idosos e outros membros da família que necessitem de cuidados extra).

A empresa portuguesa emprega atualmente 16 colaboradores e tem clientes na Europa e Ásia, incluindo companhias como a T-Mobile, O2 e MEO.

Sedeada em Aliso Viejo, na Califórnia, a Smith Micro Software desenvolve software para alguns dos principais operadores móveis e fabricantes de dispositivos. Está cotada no NASDAQ, com o símbolo SMSI.

Esta é a segunda vez que uma tecnológica de Braga é comprada por uma empresa norte-americana. Em 2008 também a MobiComp tinha sido adquirida pela Microsoft. João Ramos – Portugal in “Expresso”

Moçambique – Desenvolvimento do desporto escolar

O Ministério da Juventude e Desportos procedeu, na passada segunda-feira, 25 de Julho de 2016, no distrito de Boane, província de Maputo, à entrega simbólica de bolas de basquetebol, futebol e voleibol à Escola Secundária Nelson Mandela, num acto que marcou o lançamento do projecto “Bolas para os Distritos”, patrocinado pela mcel-Moçambique Celular.

Trata-se da implementação do memorando de entendimento celebrado, em Maio, passado, entre a operadora pública de telefonia móvel e o Ministério, visando a revitalização e massificação do desporto no seio dos adolescentes e jovens no País.

No total, a mcel vai fornecer, ao longo de dois anos, quatro mil bolas aos núcleos desportivos escolares e comunitários indicados pelo Ministério da Juventude e Desportos, sendo 2 mil de futebol, mil de basquetebol e outras mil de voleibol.
























A adesão a este programa, conforme referiu Cláudio Chiche, administrador Comercial da mcel, no acto do lançamento do projecto, insere-se nas acções de responsabilidade social corporativa que a operadora tem vindo a desenvolver e representa mais um compromisso, com vista a contribuir para a massificação do desporto moçambicano.

“Estamos certos que esta acção vai trazer a médio e longo prazos resultados positivos para o desporto no País, razão pela qual renovamos o nosso compromisso em continuar a colaborar com o sector, com a finalidade de consolidar as práticas desportivas e também para que a marca mcel seja identificada por este compromisso nas nossas comunidades”, indicou Cláudio Chiche.

Intervindo, igualmente, na ocasião, Alberto Nkutumula, ministro da Juventude e Desportos, sustentou que “se é na escola e na saúde e noutras áreas sociais que a meta do Governo é de reduzir a distância entre estes serviços e a população, nós também, na área desportiva, devemos lutar para que a prática desportiva seja mais acessível à população”.

Para que isso aconteça, segundo argumentou o governante, a questão da massificação desportiva não deve ser um mero exercício de retórica, mas sim uma bandeira da nossa acção governativa, que deve, acima de tudo, ser de actos concretos para o alcance desses objectivos e massificar o desporto na sua verdadeira plenitude.

“A entrega simbólica de bolas à Escola Secundária Nelson Mandela, em Boane, pode ser entendida agora como um pequeno passo, mas, por outro lado, que não haja dúvidas de que o mesmo constitui um acto decisivo para a materialização deste grande sonho”, disse, acrescentando que “a distribuição de bolas, no âmbito deste projecto, beneficiará milhares de jovens, dentre os quais poderão nascer atletas que sejam capazes de elevar o nível de competitividade desportiva e dignificar o País internacionalmente”. In “Olá Moçambique” - Moçambique

quinta-feira, 28 de julho de 2016

Portugal - BA Vidro compra fábrica na Alemanha

A BA Vidro adquiriu uma nova empresa na Alemanha. Com esta nova aquisição, a vidreira nacional passa a contar com um portefólio de oito fábricas repartidas por Portugal, Espanha, Polónia e agora a Alemanha. O montante da aquisição não foi revelado.

Sandra Santos, presidente executiva da BA Vidro, adianta ao Económico que “desde que fomos para a Polónia que tínhamos o objectivo de adquirir uma empresa na Alemanha”. Para a presidente da BA Vidro, este “é um passo importante, uma vez que se trata de um mercado estratégico”.

A nova empresa factura 40 milhões de euros e emprega 150 funcionários e numa primeira fase irá funcionar sobretudo para o mercado polaco e alemão, mas a BA Vidro não descarta a possibilidade de vir a aumentar a capacidade da nova unidade e assim abastecer outros mercados. In “Económico” - Portugal

O Brasil, o Mercosul e a UE

SÃO PAULO – Antes de fechar a questão em favor da derrubada da cláusula que obriga os parceiros do Mercosul a negociar em conjunto a assinatura de acordos de livre-comércio, o Itamaraty deveria avaliar muito bem as consequências para a indústria nacional da flexibilização do bloco, que permitiria aos demais sócios fechar tratados bilaterais de forma isolada. Assim, a Argentina poderia fechar um acordo com a China, reduzindo a zero a alíquota de produtos manufaturados que o Brasil exporta para aquele país. Isso significaria a perda de mercado para setores como o calçadista e o de máquinas e equipamentos, que são grandes exportadores para a Argentina.

Ao que parece, o governo interino entendeu que a Argentina tem sido o principal obstáculo para que o Brasil firme um número maior de acordos. De fato, por intermédio do Mercosul, o Brasil assinou só três acordos de livre-comércio com economias pouco representativas – Egito, Palestina e Israel. Desses, o único que está em vigor é com Israel. Além disso, a Palestina nem nação é, mas apenas uma instituição estatal semi-autônoma que governa nominalmente as regiões da Cisjordânia e toda a Faixa de Gaza dentro do estado israelense. É de se reconhecer que a negociação para um acordo de livre-comércio com a União Europeia (UE), que se arrasta desde 1999, não tem avançado em razão da resistência argentina.

É verdade que, depois da eleição de Maurício Macri, a Argentina parece mais disposta a avançar nas negociações, mas, de prático, até agora, nada se constatou. Sem depender da Argentina, o governo brasileiro espera lograr em pouco tempo a assinatura de vários acordos bilaterais, principalmente com Canadá, Japão, Coreia, Efta (Suíça, Noruega, Islândia e Liechtenstein) e, em especial, com a UE.

Diante disso, afigura-se urgente uma revisão nas negociações com a UE, pois a impressão que se tem é que o bloco europeu já descartou o Mercosul de seu quadro de prioridades. E que a troca de ofertas não passa de mero jogo diplomático, para não se dizer perda de tempo. Portanto, a continuar nesse diapasão, o Brasil só terá a perder, pois é o que vem acontecendo nos últimos cinco anos.

De acordo com os números do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC), a corrente de comércio (importação/exportação) entre Brasil e UE caiu de US$ 99,6 bilhões, em 2011, para US$ 70,5 bilhões, em 2015, um decréscimo de 30%. As exportações brasileiras para aquele bloco têm caído todos os anos: foram US$ 53,1 bilhões em 2011; US$ 49,1 bilhões em 2012; US$ 47,7 bilhões em 2023; US$ 42 bilhões em 2014; e US$ 33,9 bilhões em 2015.

Já as importações subiram de 2011 a 2013, mas caíram em 2014 e 2015: foram US$ 46,4 bilhões em 2011; US$ 47,7 bilhões em 2012; US$ 50,7 bilhões em 2013; US$ 46,7 bilhões em 2014; e US$ 36,6 bilhões em 2015. Em 2016, a corrente de comércio continua em queda: no período de janeiro a junho, as exportações caíram de US$ 16,6 bilhões, em 2015, para US$ 15,6 bilhões em 2016; e as importações, desceram de US$ 15,8 bilhões em 2015 para US$ 15,2 bilhões em 2016, no mesmo período. Houve superávit na corrente de comércio de 2010 a 2013, mas, desde então, a balança tem sido deficitária para o Brasil.

Dentro da UE, os Países Baixos costumam ter maior participação como compradores do Brasil – em média, 30% –, seguidos por Alemanha (15%), Itália (9%) e Reino Unido (9%), que, recentemente, deixou de integrar o bloco. As importações vêm da Alemanha (30%), Itália (13%), França (12%) e Espanha (8%).

O Brasil costuma exportar produtos básicos, especialmente minério de ferro, farelo de soja, café, soja e óleos brutos de petróleo, que representam mais de 50% do total. As importações são majoritariamente de produtos manufaturados, ou seja, mais de 95%. Em outras palavras: a UE, embora seja um parceiro extremamente relevante, nunca irá substituir os mercados argentino e venezuelano para os produtos manufaturados brasileiros, que podem perder competitividade com a flexibilização do Mercosul. Milton Lourenço - Brasil


__________________________________________

Milton Lourenço é presidente da Fiorde Logística Internacional e diretor do Sindicato dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística do Estado de São Paulo (Sindicomis) e da Associação Nacional dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística (ACTC). E-mail: fiorde@fiorde.com.br. Site: www.fiorde.com.br

quarta-feira, 27 de julho de 2016

Guiné-Bissau – Apresenta projectos de habitação e infraestruturas rodoviárias na China

Bissau - O ministro das Obras Públicas Construções e Urbanismo vai chefiar a delegação da Guiné-Bissau que participa na Cimeira China-África à decorrer no final do corrente mês, em Pequim, Republica Popular da China.

Em declarações à imprensa, Malam Banjai disse que o país vai levar para a China projectos rentáveis nos sectores da habitação e infraestruturas rodoviárias.

Segundo o governante, na reunião de Pequin proceder-se-á ao balanço da implementação das acções estabelecidas na Cimeira China/África realizada em Dezembro do ano passado, na África do Sul.

Aquele responsável destacou os sectores de habitação social e infraestruturas rodoviárias entre outros projectos que o país irá apresentar na Cimeira, tendo assegurado que a relação entre a Guiné-Bissau e a China é um contributo fundamental e inevitável.

A delegação da Guiné-Bissau, partiu ontem, 26 de Julho de 2016, para a cidade de Pequim e será composta pelo Director Geral da Política Externa, Marcelino Pedro de Almeida, e o Director do Programa do Investimento Público, Lino Sá.

A Cimeira China/África marcado para o final do mês em curso, acontece numa na altura em que o Governo Chinês já disponibilizou 63 mil milhões de euros para países africanos, contribuição que será desbloqueada mediante apresentação de projectos concretos. In “Agência de Notícias da Guiné” – Guiné-Bissau

Moçambique - Acelera o passo na cabotagem marítima

A cidade de Maputo acolhe desde a passada segunda-feira, 25 de Julho, o seminário sub-regional sobre a Implementação das Emendas à Convenção para Certificação de Marítimos, que conta com a participação de delegados provenientes de Cabo Verde, Comores, Madagáscar, Maurícias e Seychelles.



















O evento acontece numa altura em que os países signatários desta convenção (STCW/78) se debatem com a falta de implementação das emendas deste instrumento, especificamente às de Manila 10, referentes à introdução de novos cursos de formação de marítimos, uso de cartas náuticas electrónicas, entre outras inovações.

De acordo com a vice-ministra dos Transportes e Comunicações, Manuela Rebelo, que dirigiu a cerimónia de abertura deste seminário, “a morosidade na implementação desta emenda está associada à falta de formação contínua dos oficiais náuticos”.

Para Manuela Rebelo, a formação contínua dos oficiais náuticos é fundamental para os membros signatários deste instrumento, no geral, e para Moçambique, em particular, devido ao facto de o País estar a implementar um programa integrado, com vista à revitalização da cabotagem marítima.

O programa de revitalização da cabotagem marítima inclui um pacote de incentivos especiais, tais como a redução das taxas portuárias, prioridade na atracagem de navios, medidas fiscais, entre outros.

Este seminário contou também com a presença do representante da Organização Marítima Internacional (OMI), Sascha Pariston, que, na sua intervenção, se referiu à necessidade de os países signatários da Convenção STCW/78 garantirem a sua implementação.

De acordo com o representante da OMI, só com pessoal capacitado é que as companhias marítimas podem garantir a navegação e, por via disso, contribuir para o crescimento da economia global.

A Convenção STCW/78 estabelece regras de formação e certificação para os marítimos, cujo cumprimento deve ser feito através da criação de uma legislação harmonizada por parte dos países membros.

As convenções internacionais são instrumentos que têm como objectivo estabelecer regras universais com vista a assegurar que todos os Estados membros adoptem os mesmos princípios e evitem acidentes marítimos, muitos dos quais associados à fraca capacitação dos recursos humanos. In “Olá Moçambique” - Moçambique

terça-feira, 26 de julho de 2016

Salinas, o poeta do amor

     I

Depois de lançar em 2012 a tradução de A Voz a Ti Devida (Brasília; Thesaurus Editora), de Pedro Salinas (1891-1951), o tradutor José Jeronymo Rivera (1933) coloca no mercado Razão de Amor & Longo Lamento, do mesmo autor, pela Editora Kelps, de Goiânia, contribuindo para que o poeta espanhol seja um pouco mais conhecido no Brasil. Trata-se de dois livros em um só volume, que compõem com A Voz a Ti Devida uma trilogia daquele que é conhecido no mundo hispânico como “o poeta do amor”.

Salinas fez parte da Geração de 27, que inclui, entre outros, Rafael Alberti (1902-1999), Jorge Guillén (1893-1984), Luis Cernuda (1902-1963), Vicente Aleixandre (1898-1984) e Federico García Lorca (1898-1936), o mais famoso deles. É verdade que A Voz a Ti Devida é o seu título mais conhecido, justamente considerado o melhor livro de poesia amorosa do século XX da Literatura Espanhola, mas os que compõem a trilogia não ficam nada a dever.  
     
Pedro Salinas
Esta trilogia faz parte da segunda etapa da vida de Salinas como poeta, que é marcada por uma lírica em segunda pessoa, dirigida à mulher amiga e amada, mas evocada no ambiente da época, a conturbada década de 30 na Espanha, que fez Salinas mudar-se compulsoriamente para os Estados Unidos, onde a partir de 1936 passou a atuar como professor universitário. Esses poemas, especialmente os dois últimos livros da trilogia, seriam inspirados pela professora norte-americana Katherine Whitmore, com quem o poeta viveu um romance naquele país.

Na poesia dessa fase, são comuns metáforas de muita intensidade, dentro de longas estrofes que se valem de elementos métricos curtos, com assonâncias, que estabelecem um ritmo inconfundível. Desse período são La Voz a ti Debida (1933); Razón de Amor (1936) e Largo Lamento (1939).

                                                           II
De assinalar é que a primeira fase da poesia de Salinas vai até o começo da década de 30, influenciada por Juan Ramón Jiménez (1881-1958), período em que publicou Presagios (1924), Seguro azar (1929) e Fabula y signo (1931). A terceira etapa vai de 1939 até a sua morte, em 1951, período em que publicou mais dois livros – El contemplado (1946) e Todo más claro y otros poemas (1949).  Em 1955, em edição póstuma, saiu Confianza, que reúne poemas do período de 1942 a 1944.

Graduado em Direito, Letras e Filosofia, Salinas dedicou-se sempre à docência universitária. De 1914 a 1917, atuou como leitor de Espanhol na Sorbonne, em Paris, onde se doutorou em Letras. De sua afinidade com a cultura francesa resultou a vontade de traduzir para o espanhol Em busca do tempo perdido, de Marcel Proust (1871-1922), tarefa que não chegou a concluir, tendo vertido alguns volumes.

Depois, Salinas ensinou na Universidade de Sevilha e, em 1922-23, em Cambridge.  Passou para a Universidade de Múrcia e, em seguida, para a de Madri. As circunstâncias da guerra civil espanhola (1936-1939) o obrigaram a mudar-se para os Estados Unidos, onde passou a lecionar na Universidade Johns Hopkins, em Baltimore. Em 1943, transferiu-se para a Universidade de Porto Rico, mas reassumiu mais tarde a cátedra na Johns Hopkins. Morreu em Boston, mas está sepultado em San Juan de Puerto Rico.


                                                           III
Quem compulsar o original e ler estes dois livros de Salinas que saíram agora em português vai constatar que o poeta teve a sorte de encontrar o seu tradutor ideal. Salinas não é um poeta rebuscado – pelo contrário, busca a singeleza como ideal –, mas, por isso mesmo, é de difícil tradução, ou seja, é fundamental que seu tradutor seja também poeta, pois, muitas vezes, a singeleza de seus versos exige a recriação.

Por isso, encontrou em José Jeronymo Rivera um “poeta disfrazado de traductor”, na perfeita definição que consta do estudo introdutório que José Antonio Pérez-Montoro escreveu para A Voz a ti Devida. Em outras palavras: Rivera seria o interlocutor certo não só pelo conhecimento que tem da língua espanhola como pelo respeito que devota à sintaxe original. Vejamos como exemplo estes versos de Razão de Amor:
                                   Serás, amor,
                                   um grande adeus que não se acaba?
                                   Viver, desde o princípio, é separar-se.
                                   Já no primeiro encontro,
                                   com a luz e com os lábios,
                                   o coração percebe essa aflição
                                   de ter que cego estar e só um dia.
                                   Amor é demora milagrosa
                                   de seu próprio acabar:
                                   é prolongar o feito mágico
                                   de que um e um sejam dois, ao contrário
                                   de uma primeira pena desta vida. (...)

                                   (...) Se se estreitam as mãos, e se se abraça,
                                   nunca é para afastar-se,
                                   é porque a alma cegamente sente
                                   que a forma permissível de estar juntos
                                   é uma despedida grande, clara.
                                   É que o que é mais seguro é sempre o adeus.

No estudo introdutório que escreveu para Razão de Amor & Longo Lamento, o poeta Anderson Braga Horta reconhece que a tradução perfeita é impossível, mas observa que, no caso, “a perfeição da tradução está em reproduzir, recompor, recriar em vernáculo um artefato com o máximo das qualidades do original”. É, de fato, o que faz Rivera, “poeta experimentado na arte de traduzir”, segundo a definição de Braga Horta.


                                                           IV                                                      
José Jeronymo Rivera
Engenheiro civil, economista e administrador, Rivera, que reside em Brasília desde 1961, foi professor universitário e de ensino médio. É membro da Academia de Letras do Brasil, da Academia Brasiliense de Letras, da Associação Nacional de Escritores (ANE) e da Academia Leopoldinense de Letras e Artes.

Leitor compulsivo em espanhol, francês, inglês e italiano, Rivera tem dado uma contribuição inestimável ao enriquecimento das letras nacionais com criações originais de outras línguas, como é bom exemplo a tradução que fez de Gaspard de la Nuit, de Aloysius Bertrand (1807-1841). Produziu também numerosas versões do português para o castelhano, algumas já publicadas em Poetas Portugueses y Brasileños de los Simbolistas a los Modernistas, obra organizada pelo professor José Augusto Seabra (1937-2004), ao tempo em que era embaixador de Portugal em Buenos Aires, publicada pelo Instituto Camões.

Traduziu também Cidades Tentaculares, poemas do belga Émile Verhaeren (1855-1916), de quem tem pronta para ao prelo a versão de Les Heurs. Traduziu ainda o clássico Rimas, de Gustavo Adolfo Bécquer (1836-1870). De sua produção poética, publicou Aprendizado de poesia: 1951-1953 (Brasília: Thesaurus Editora, 2004). Publicou ainda Humberto de Campos: Poesia; Xavier Placer: Poemas; Miguel Torga: Contos; e Almeida Garrett: Poesias, pela Thesaurus Editora. Colaborou, em parceria, na tradução de Poetas do Século de Ouro Espanhol; Victor Hugo: Dois Séculos de Poesia; Sátiro e Outros Poemas; Antologia Poética Ibero-Americana; e Rodolfo Alonso: Antologia Pessoal, entre outros. É detentor dos prêmios de tradução Joaquim Norberto e Cecília Meireles, da União Brasileira de Escritores (UBE), do Rio de Janeiro. Adelto Gonçalves – Brasil


 ________________________________________

Razão de Amor & Longo Lamento, de Pedro Salinas. Tradução de José Jeronymo Rivera, com apresentação de Fabio de Sousa Coutinho e estudo introdutório de Anderson Braga Horta. Goiânia: Editora Kelps, 2016, 224 págs. E-mail: kelps@kelps.com.br
Site: www.kelps.com.br


___________________________________ 

Adelto Gonçalves é mestre em Língua Espanhola e Literaturas Espanhola e Hispano-americana e doutor em Literatura Portuguesa pela Universidade de São Paulo (USP) e autor de Os vira-latas da madrugada (Rio de Janeiro, José Olympio Editora, 1981; Taubaté, Letra Selvagem, 2015), Gonzaga, um poeta do Iluminismo (Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1999), Barcelona brasileira (Lisboa, Nova Arrancada, 1999; São Paulo, Publisher Brasil, 2002), Bocage – o perfil perdido (Lisboa, Caminho, 2003), Tomás Antônio Gonzaga (Academia Brasileira de Letras/Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2012), e Direito e Justiça em Terras d´El-Rei na São Paulo Colonial (Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2015), entre outros. E-mail: marilizadelto@uol.com.br