Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

Macau – um pequeno território capaz de construir Pontes.

Macau é a ponte entre a China e o mundo lusófono e por consequência a CPLP. A China tem demonstrado muita simpatia por este conjunto de países da mesma forma que tem demonstrado interesse em fortalecer as relações comerciais entre os dois. São levadas a cabo Cimeiras, Conferências Ministeriais e contactos diplomáticos de vária natureza. Falamos de um território com uma extensão de apenas 30km2 mas com uma influência e uma visibilidade que correspondem a muito mais do que isso


Ao analisar com mais rigor a questão da Lusofonia, podemos verificar que o Brasil mais do que qualquer outro é o protagonista por excelência da CPLP. As suas fragilidades e os seus interesses são sempre tidos em linha de conta, mais do que os de qualquer outro dos membros, na tomada de decisões - o Acordo Ortográfico teve uma grande influência sua - e é tido como o grande bastião da Comunidade Lusófona.

No entanto, o Brasil é um país com imensas idiossincrasias de difícil resolução e vê em todas as alternativas comerciais ou económicas um escape para os seus problemas e não uma forma de resolução dos mesmos.

E isto leva-nos a que nos questionemos, apesar de sabermos que a maioria da população falante de Português se encontra em território brasileiro e que este foi um dia considerado como uma “extensão de Portugal”, sobre o porquê deste protagonismo dado ao Brasil que não se reflecte em melhores condições para toda a CPLP? Tivesse o Brasil um papel de destaque e uma imagem de maior credibilidade na sua gestão interna, e talvez isso fosse possível.

Assim, ao olharmos para o mapa-múndi e no que à CPLP diz respeito, podemos perceber que começam a aparecer muitos países que pedem o estatuto de observadores e embora nos seus estatutos, a CPLP não admita territórios como seus membros, há territórios que não só mantêm uma ligação forte à Lusofonia, como aos usos e costumes que herdaram aquando da passagem dos portugueses, como inclusivamente mantêm o uso da Língua embora neste momento estejam agregados politicamente a outros países.

A questão galaico-portuguesa, no entanto, assume outros contornos. Há uma grande identificação cultural e linguística entre a Galiza e Portugal, são muitas até as plataformas educativas e comerciais que unem os galegos e os nortenhos. As semelhanças linguísticas contribuem sobremaneira para o fortalecimento destes laços mas é necessário não cair no erro da padronização. No caso da Língua, a corrente reintegracionista deixou cair o debate sobre o galego vivo nos anos 80 ao mesmo tempo que apadrinhava uma identificação com a norma portuguesa. O Acordo de 1990 leva a que se dê mais um passo em direcção à aproximação de ambos os espaços mas este desrespeita a tradição ortográfica do galego pois propõe que se fale galego mas se escreva português o que vai de encontro ao principal objectivo do Acordo Ortográfico e que o torna virtualmente impraticável.

Quanto aos estatutos, sob pena de a CPLP ficar presa em si própria, eles podem ser alterados desde que tal signifique um benefício claro para o mundo da Lusofonia independentemente da vertente em que se manifeste. Não que se devam alterar por qualquer coisa de somenos importância mas que não estejam desenhados para proteger os interesses de poucos.

A CPLP tem crescido de importância e os mercados têm estado atentos até porque é preciso diversificar as economias e estes podem crescer se houver desenvolvimento de países que estavam manietados por regimes castradores da sua liberdade de crescimento empresarial e económico.

Normalmente, esses territórios estão agregados a grandes gigantes económicos que não estão interessados em deles abrir mão ou em colocá-los numa posição de maior protagonismo mas isso não significa que não se coloquem hipóteses e não se pense sobre elas.

Olhando para o mapa da Lusofonia – e não o da CPLP visto este (ainda) não admitir territórios – observemos a questão de Macau.

Macau é a ponte entre a China e o mundo lusófono e por consequência a CPLP. A China tem demonstrado muita simpatia por este conjunto de países da mesma forma que tem demonstrado interesse em fortalecer as relações comerciais entre os dois. São levadas a cabo Cimeiras, Conferências Ministeriais e contactos diplomáticos de vária natureza. Falamos de um território com uma extensão de apenas 30km2 mas com uma influência e uma visibilidade que correspondem a muito mais do que isso.

Ora se a ligação a Portugal e à Lusofonia é de tal ordem, o que impede os responsáveis pela CPLP de proporem que o pólo de liderança passasse do Brasil para Macau?

A China cria o Fórum de Cooperação Económica e Comercial como instrumento diplomático para melhorar as relações sino-lusófonas colocando-o em Macau. Este Fórum organiza Seminários sobre temas fulcrais para a Comunidade Lusófona e sobre o papel e relações que este bloco mantém com a China. Há outros dois organismos criados por Pequim e que pretendem prosseguir os mesmos fins ainda que com outros meios. São eles, o Instituto de Promoção do Comércio e do Investimento de Macau (IPIM) que tem como missão o aprofundamento das relações com os países de língua portuguesa e a Comissão para o Desenvolvimento da Plataforma de Serviços para a Cooperação Comercial entre a China e os países de língua portuguesa que é presidida pelo chefe de Governo de Macau.

A Comissão tem como missão intensificar a formação e as trocas comerciais e culturais entre a China e os países lusófonos além de disponibilizar assistência e serviços de consultadoria nas áreas de tradução/interpretação ou outras matérias como sejam: língua, finanças, gestão e assuntos legais. Esta Comissão tem o objectivo de munir Macau com a capacidade de utilizar plenamente as suas vantagens especiais, impulsionando o seu papel como plataforma capaz de desenvolver uma forte colaboração entre o bloco sino-lusófono.

No entanto e apesar da criação e implementação de todos estes mecanismos, há muito mais tendência para conversações bilaterais do que necessariamente em grupo como o G7 ou outras organizações multilaterais. Por outro lado e apesar de nenhum País “dirigir” a CPLP, seria difícil vermos o Brasil ir a Macau debater problemas de construção aeronáutica espacial ou Angola deslocar-se a Macau para debater a exportação de petróleo. Assim, o problema coloca-se não ao nível de uma liderança do Brasil mas da falta de liderança.

Falamos de um território que se encontra sob a batuta da China mas ao mesmo tempo de um território organizado política e administrativamente, que defende os Valores da Lusofonia na sua plenitude e que poderia ser uma mais-valia no comércio luso-asiático mais do que o Brasil que não tem com este bloco relações tão privilegiadas quanto Macau seja pela questão da proximidade geográfica ou mesmo pela cultural.

É claro que isto não passa de uma sugestão mas quem sabe se com o tempo não ganha forma? A repolarização da CPLP e o abandono dos métodos tradicionais e fechados que tem aplicado, abrindo-se apenas naquilo que são, para si, vantagens imediatas, pode vir a revelar-se no futuro como algo bastante positivo, o tempo dirá. Luísa Vaz - Portugal

(A autora não usa o Acordo Ortográfico)


Luísa Maria Teixeira Vaz - Natural da cidade do Porto, licenciada em Estudos Europeus pela Universidade Aberta com formação em Relações Internacionais pela Universidade do Minho. Fundadora e escritora num blog de opinião chamado "As Opiniões da Lu" onde são expostos pontos de vista sobre temas da actualidade de forma livre e sem amarras. Participa na coluna Ágora Lusitana do blog Rua da Constituição com uma opinião mensal e tem uma participação quinzenal no blog BIRD Magazine. É também fundadora e blogger no Insónias.

Está neste momento a preparar compilações dos seus artigos em formato e-book. O primeiro prevê-se que seja lançado ainda este ano. Profissionalmente esteve ligada à revisão e publicação de obras numa Editora bem como realiza trabalhos de tradução e retroversão em várias áreas de conhecimento. Colabora no blogue “Baía da Lusofonia”. 
Correio electrónico: luisateixeiravaz@gmail.com  

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