Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

sexta-feira, 30 de setembro de 2016

Câmara Agrícola Lusófona – Missão empresarial à Guiné-Bissau


A Câmara Agrícola Lusófona (CAL) inicia hoje, 30 de Setembro de 2016, uma Missão Empresarial à República da Guiné-Bissau, no âmbito do seu Programa de Internacionalização do Sector do Agronegócio, iniciativa comparticipada parcialmente pela União Europeia – Portugal 2020 e COMPETE 2020.

Nos últimos anos, a República da Guiné-Bissau tem dado importantes passos para a atracção de investimento estrangeiro, constatando-se uma grande dinâmica e entusiasmo por parte de empresários portugueses. É um país que possui um potencial económico interessante devido à riqueza dos seus recursos naturais e à existência de alguns sectores ainda inexplorados.

A agricultura, a agroindústria e as pescas constituem os principais eixos de desenvolvimento do país. A economia é dominada pela produção de arroz, a base da dieta alimentar do país, e pela produção da castanha de caju, da qual é um dos cinco maiores produtores mundiais, com 195 mil toneladas, em 2015. O caju, em 2014, representou 77% do total, em valor, de todas as exportações da Guiné-Bissau. A incipiente indústria transformadora é, essencialmente, do sector alimentar, em particular, a produção de óleos vegetais.

Na Conferência Internacional de Doadores para a Guiné-Bissau, que decorreu em 2015, em Bruxelas, definiu-se o Plano Estratégico e Operacional da Guiné-Bissau até 2020, que mobilizará 1,989 mil milhões de euros. Este financiamento é uma janela de oportunidade para o investimento de empresas portuguesas, em particular, em hotelaria, pescas, agricultura ou agroindústria.

Para a empresas que queiram exportar os seus produtos, a Guiné-Bissau é, ao contrário do que se poderia supor, um mercado com muito por explorar, apesar do seu pequeno tamanho. Note-se que, relativamente ao sector agroalimentar, aquele país importa cerca de 117 milhões de euros. No entanto, de Portugal, só exporta pouco mais de 16 milhões. Ou seja, Portugal representa, apenas, 13% do total das importações agroalimentares da Guiné-Bissau! Câmara Agrícola Lusófona

Moçambique – Inauguração da nova ponte ferroviária sobre o rio Umbelúzi

O Presidente da República, Filipe Nyusi, inaugurou na passada quarta-feira, 28 de Setembro de 2016, a nova ponte ferroviária sobre o rio Umbelúzi, no distrito de Boane, província do Maputo, uma infra-estrutura que vai permitir o aumento da capacidade de carga para cinco milhões de toneladas por ano na Linha de Goba.

Trata-se da primeira maior infra-estrutura do género construída após a Independência nacional e que custou aos cofres da empresa Portos e Caminhos de Ferro de Moçambique (CFM) perto de 590 milhões de meticais.

A nova ponte, com 362 metros de extensão e que assenta em cinco pilares de betão com uma altura que varia entre os sete e 11,5 metros, poderá suportar 27 toneladas por eixo, contra os anteriores 18,5, o que irá permitir a circulação de locomotivas com maior capacidade e composições de acima de 100 vagões, contra 50 da antiga ponte.

No seu discurso, Filipe Nyusi realçou a importância da nova ponte no desenvolvimento da economia nacional e regional dado que “os diferentes agentes e operadores económicos passam a ter ao seu dispor uma obra moderna e de qualidade, que vai garantir o transporte de pessoas e bens em condições seguras e em maiores quantidades. Esta ponte vai ajudar no escoamento de mercadorias e cativar mais tráfego para a Linha de Goba”.

Mais adiante, o Presidente da República instou a empresa CFM a continuar a apostar no desenvolvimento de infra-estruturas capazes de fazer face à demanda. “Um sistema de transporte eficiente e competitivo só se desenvolve com infra-estruturas modernas”.

“Essa missão deve incidir, fundamentalmente, na construção de novas infra-estruturas ou na substituição, elevação, inovação, modernização e expansão das existentes”, disse Filipe Nyusi, que recomendou à empresa Portos e Caminhos de Ferro de Moçambique a ser proactiva na mobilização de tráfego com vista à rentabilização da nova ponte.

Por seu turno, o ministro dos Transportes e Comunicações referiu que a inauguração da nova ponte sobre o rio Umbelúzi acontece “num contexto em que o Sector dos Transportes e Comunicações é chamado a mobilizar a sua capacidade para a modernização e ampliação da sua rede ferroviária nacional, para responder ao novo quadro de aumento de carga ferroviária em quase todas as nossas linhas”.

Para responder a este novo quadro, segundo Carlos Mesquita, o sector dos Transportes e Comunicações está a implementar um vasto programa de ampliação das infra–estruturas ferroviárias noutras frentes, como os estudos para a ampliação da capacidade da linha de Ressano Garcia, obras de ampliação da linha-férrea de Sena, consolidação das operações no Porto de Nacala-a-Velha, reabilitação do Porto de Nacala, entre outras acções programadas.

Já o presidente do Conselho de Administração da empresa CFM, Victor Gomes, fez saber que, no âmbito deste projecto, está prevista a construção de um bloco de duas salas de aula, na Escola Primária Completa Antigos Combatentes, e uma maternidade e a respectiva vedação, ambos no bairro Paulo Samuel Kankhomba, no distrito de Boane. In “Olá Moçambique” - Moçambique

quinta-feira, 29 de setembro de 2016

Montenegro – Empresa procura fornecedores de fruta e legumes

Uma empresa de Montenegro especializada na comercialização e distribuição de frutas e legumes procura produtores de frutas e vegetais frescos de alta qualidade.

Segundo a secção de Oportunidades de Negócio da Enterprise Europe Network, a empresa, fundada em 1995, pretende actuar como distribuidora.

Para mais informações, procurar pela referência ME-2016-311 aqui. Informações sobre a empresa aqui.

A Enterprise Europe Network é uma rede de serviços para ajudar as empresas a inovar e a competir melhor no espaço europeu.

Mais de 500 pontos de contacto

Formada por mais de 500 pontos de contacto, espalhados por 40 países na Europa, a rede oferece um conjunto de serviços descentralizados e de proximidade, que apoiam as pequenas e médias empresas (PME) no seu processo de internacionalização e no encontro de parceiros estratégicos para a inovação e o desenvolvimento sustentado dos seus negócios.

Em Portugal, liderada pelo IAPMEI – Agência para a Competitividade e Inovação, a Enterprise Europe Network é representada por um consórcio que envolve doze entidades públicas e associativas, distribuídas regionalmente por todo o território nacional, incluindo as regiões autónomas dos Açores e da Madeira. João Borges – Portugal in “Agricultura e Mar Actual”

Portugal – Empresa alemã Eberspaecher investe em Tondela

O presidente da Câmara de Tondela, José António Jesus, mostrou-se ontem satisfeito com a aposta do grupo alemão Eberspaecher no seu concelho, onde será instalada uma nova fábrica de tecnologia de escape, que irá criar 120 postos de trabalho no próximo ano. «Hoje é um dia marcante para o concelho de Tondela, o nosso futuro será de maior riqueza e prosperidade. Na passada segunda-feira, foi-vos dado conhecimento da importante vitória que alcançámos: vencemos um dos processos mais difíceis com que nos defrontámos, o que é motivo de enorme satisfação e orgulho para o nosso território», referiu.

Em conferência, José António Jesus revelou que o processo de negociação para a instalação desta nova unidade no concelho de Tondela decorreu ao longo dos últimos dois anos, sem que tivessem sido oferecidas condições diferentes das proporcionadas a outras empresas já instaladas. «A instalação desta importantíssima unidade industrial vem potenciar o desígnio que afirmámos para o nosso concelho. É por isso que consideramos este investimento como um dos mais relevantes realizados no nosso território nas últimas décadas», acrescentou.

No seu entender, a instalação desta nova fábrica vai fazer com que Tondela se torne «indiscutivelmente no concelho com maior potencial industrial instalado na região». «Com o investimento agora anunciado, nos próximos cinco anos o concelho de Tondela terá cerca de 1600 trabalhadores alocados só ao sector automóvel», acrescentou.

Ao longo do seu discurso, o autarca de Tondela recordou que o primeiro investimento do ‘cluster’ automóvel se realizou há 25 anos, com a instalação da Huf Portuguesa, seguindo-se a Avon e Brose; para além de contar ainda com empresas de outras áreas como a Labesfal (produtos farmacêuticos), Bodum, Gialmar, Interecycling, entre outras.

«Queremos fazer deste concelho o melhor para se investir e trabalhar, mas também desejamos que tenha a melhor oferta para a atracção e fixação de pessoas. Assim, estamos a construir um plano de dinamização do investimento imobiliário, para alargar o mercado disponível, diversificando a oferta para que se possa atrair e fixar um maior número de pessoas e famílias, acompanhando desta forma a nossa capacidade de atracção económica», concluiu.

500 colaboradores até 2020

O grupo alemão Eberspaecher avançou na segunda-feira que irá instalar na Zona Industrial do Lajedo, no concelho de Tondela, uma fábrica de tecnologia de escape, cuja produção deverá arrancar no início no terceiro trimestre de 2017.

A Eberspaecher fez saber que o novo edifício de produção e logística irá criar cerca de 120 postos de trabalho no local, até final de 2017, num total de 500 colaboradores até 2020.

A nova fábrica irá fornecer componentes de ‘Hot-End’ e ‘Cold-End’, para veículos a gasóleo e gasolina, a fábricas de construtores de automóveis europeus em Espanha, Portugal e no norte de Marrocos. Isto inclui sistemas de escape completos, filtros de partículas de gasolina e catalisadores. In “Diário de Coimbra” - Portugal

Angola – Os factos da quinzena XI

Os Factos da Quinzena [*]

1º Facto: Começou o 7º Congresso do MPLA

Com uma novidade: 1- Os discursos do Presidente JES que sempre primaram pela sua capacidade manipuladora e dormência repetitiva, desta vez alcançaram o condão da risibilidade: quem são os empresários que enriquecem ilicitamente, em Angola e no exterior: os próximos de Sª Exª ou as nossas irmãs e filhas quitandeiras, que levam "porrada" todos dias?

2º Facto: Minha análise sobre a posição do veterano do MPLA, Ambrósio Lukoki

Oiço que há críticas contra o veterano Lukoki, por se ter recusado a integrar o novo comité central do MPLA e ter colocado as suas ideias fora das estruturas do partido, promovendo uma conferência de imprensa paralela a um congresso do partido, em curso. Diz-se que deveria ter apresentado uma candidatura sua, dentro do período estabelecido para o efeito e concorrer interna e pacificamente, contra José Eduardo dos Santos (JES).

Pedirei aos que assim se pronunciam – se o dizem de boa-fé, por desconhecimento de causa – que se dediquem a investigar um pouco, para poderem concluir sobre esta real possibilidade, dentro de um partido onde, por promoção do próprio JES, todos os caminhos neste sentido estão bloqueados. Para quem se deve lembrar, eu levantei este problema em 2001, em várias entrevistas (Agora, Folha 8 e Angolense).

Vou ser muito franco, até porque tratei deste problema, num ângulo, o mais cientificamente possível, no meu último livro “Angola: estado-nação ou estado-etnia política”, uma tese que vai, aliás, ao encontro de Lopo de Nascimento, ao despedir-se da vida política na Assembleia Nacional, em 2014. O problema hoje já não é de salvar a imagem e os valores que o MPLA sempre defendeu e ou corrigiu, ao longo dos anos, como parece ser ainda a preocupação de Lukoki. Eu, pelo menos já desisti disso. É que isso tornaria JES um homem igual aos outros militantes mais ou menos experientes. Mas acontece que isso amedronta a muita gente, sobretudo a uma certa elite, que agora vai se mobilizar em termos de invocações étnicas, rácicas e regionalistas, como aliás já se viu nas entrelinhas do discurso do Presidente, ao declarar que o partido é de todas as raças, todas etnias, regiões, etc. e mais alguma coisa, como se o problema fosse esse.

Todos sabemos que o problema, hoje por hoje, é que o país está a ser entregue a uma só família, parentes e amigos de ocasião, fora e dentro do país.

3º Facto: Partidos políticos portugueses no II Congresso do MPLA: ideologias ou interesses?

Muitos se falou e ainda se fala sobre este facto. No meu ponto de vista as questões ideológicas da equação, nas relações Angola Portugal, no plano partidário, há muito se perderam, especialmente, com a queda do Muro de Berlim. Aliás, em África – podemos visualizá-lo agora melhor – essas questões só serviam para encobrir a defesa de interesses geo-estratégicos.

Neste âmbito, achei completamente sem sentido e mesmo lamentáveis as declarações que se atribuem ao representante do Partido Comunista Português (PCP), que o expuseram como imaturo ou ignorante, já que o oportunismo, numa vertente tão descarada, não costuma caracterizar tanto o PCP. Entendo que o PCP possa invocar razões de soberania, como o tem feito, no caso da rejeição de projectos parlamentares do Bloco de Esquerda (BE), de condenação à repressão contra as liberdades em Angola, mesmo quando inclua vítimas luso-angolanas. Na mesma medida não posso entender que o PCP destrate, com invocações passadistas, um partido político angolano – a UNITA – agora apenas adversário político do MPLA, depois de se ter estabelecido um pacto que constitui a trave mestra daquilo por que o povo angolano – e por contaminação, o povo português, tendo em conta os laços – aspirou durante tantos anos – o silêncio das armas. Ideologias não salvam vidas nem estabilizam estados, particularmente, em África.

A vida ensina-nos, hoje por hoje, que vale o que se faz e não o que se escreve ou se diz. O MPLA, hoje, não tem outra ideologia que não a de submeter-se a José Eduardo dos Santos, apoiá-lo a troco de alguns favores, para deixá-lo apossar-se, à vontade, de enormes recursos do país e manter o poder definitivamente, com o apoio do exterior, que se defende com a falácia do respeito à soberania, onde o interesse de indivíduos é confundido com os interesses públicos.

Não há mal nenhum que partidos de um e de outro lado se convidem mutuamente para determinados eventos. Mas é fácil intuir o motivo do destaque que se deu aos partidos portugueses no VII Congresso do MPLA: salvar a imagem afundada do líder incontestável, impressionando os angolanos que deverão continuar a pensar que eternizar-se no poder para enriquecer, de tal monta, a família e amigos, dentro e fora do país, traz um enorme prestígio, pelo menos, na nossa antiga metrópole.

4º Facto: Apóstolos João e Paulo na direcção do MPLA: que esperanças?

Tentava remover alguns problemas para poder opinar sobre a nomeação João Lourenço e Paulo Kassoma, para os cargos de Vice-Presidente e Secretário-Geral do MPLA, respectivamente, quando o primeiro logo me afastou as dificuldades, para recordar a verdade àqueles que já se animam com a ideia de que desta vez o “chefe” vai mesmo sair, “que bom!” E sempre, para meu espanto, com tanto tempo de escola do assunto que temos, com a ideia peregrina de muitos (partidos políticos e outras entidades individuais e colectivas, fora e dentro do próprio MPLA) de que a saída do Homem, em si, é que vai resolver o problema de Angola, que é deveras grave.

João Lourenço é referido no sítio Rede Angola (RA) como se tendo surpreendido, com a sua indicação (eleição) para segundo homem do MPLA. Diz que antes altercou com um jornalista que estava convicto que as coisas acabariam assim, enquanto ele dizia da sua convicção de que tudo não passava de especulação. Mas quando lhe colocaram a questão de se saber se estava ou não preparado para substituir o chefe, aí, mesmo depois de prometer trabalhar muito, lembrando-se, com certeza, do que lhe acontecera nos princípios do século, quando ocupava, pela primeira vez, esta mesma aparente “pole position”, foi escusar-se a comentar.

Este é o problema. A caminho da terceira década do estabelecimento da democracia multipartidária no país, no maior partido que se diz deter o poder como associação de vários indivíduos, a ascensão para cargos tão importantes continua a depender de um só homem; cuja estrutura pessoal de apoio informa primeiro determinados jornalistas, para que os “eleitos” não se convençam que estarão lá por mérito próprio. Os homens indicados (depois necessariamente “eleitos”) para criar certas ilusões, por mais valiosos que sejam, como João Lourenço e Paulo Kassoma, só podem prometer muito trabalho. Nunca podem ter ambições pessoais, no domínio político. Sempre é muito cedo, mas a verdade é que “nunca mais é sábado”, como se dizia antigamente. Marcolino Moco – Angola in “Moco Produções”

[*] Textos, por ordem cronológica, à volta do VII Congresso do MPLA adaptados de post’s nas minhas páginas pública e privada do FB.
____________________________

Marcolino José Carlos Moco – Nasceu em Chitue, Município de Ekunha, Huambo a 19 de Julho de 1953Licenciado em Direito e mestre em Ciências Jurídico-Políticas pela Universidade Agostinho Neto, e doutorando em Ciências Jurídico-Políticas na Universidade Clássica de Lisboa. Advogado, Consultor, Docente Universitário, Conferencista. Primeiro-ministro de Angola, de 2 de Dezembro de 1992 a 3 de Junho de 1996 e Secretário-Executivo da CPLP – Comunidade dos Países de Língua Portuguesa – de 1996 a 2000. Governador de duas províncias: Bié e Huambo, no centro do país, entre 1986 e 1989, Ministro da Juventude e Desportos, 1989/91.  



Marcolino Moco & Advogados - Ao serviço da Justiça e do Direito

Marcolino Moco International Consulting 

www.marcolinomoco.com

Avenida de Portugal, Torre Zimbo. Nº 704, 7º andar
Tel: 930181351/ 921428951/ 923666196
Luanda - Angola

quarta-feira, 28 de setembro de 2016

Para se fazer poesia, não basta emoção

                                                             I 
Do que se faz um poeta? Dar resposta a essa pergunta não é tarefa das mais fáceis, mas, para enfrentar esse desafio, o poeta Anderson Braga Horta aceitou prestar um depoimento ao poeta, jornalista e professor de Literatura Brasileira da Universidade Federal da Paraíba, Sérgio de Castro Pinto. É esse depoimento o texto que encerra e dá titulo ao seu mais recente livro, Do que é feito o poeta (Brasília: Thesaurus Editora, 2016), em que o escritor faz um retrospecto de uma carreira com mais de seis décadas, além de reunir textos extensos e breves a respeito de autores ainda atuantes como Afonso Ligório, Alaor Barbosa, Antonio Miranda, Edson Guedes de Morais, Fabio Coutinho, José Jeronymo Rivera, Sânzio de Azevedo e Viriato Gaspar, ao lado de outros que já subiram para o andar de cima, como Fontes de Alencar (1933-2016), Romeu Jobim (1927-2015), José Geraldo Pires de Mello (1924-2010) e Luiz F. Papi (1922-2009)

Embora esta não seja uma obra complementar a Sob o signo da poesia (Brasília: Thesaurus Editora, 2003), como se percebe pelos nomes alinhados no parágrafo acima, é marcante neste livro a presença maciça de autores que fizeram sua vida profissional e literária na Capital da República. Do livro fazem parte ainda textos diversos, como resenhas de livros e comentários sobre o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, de 1991. Neste particular, para rematar, há um texto curioso, como se pode constatar já por seu título, “O perigo dos omens vermellos ow o paiz amarelo (notas para uma Novela Ortográfica)”.

No depoimento “Do que é feito o poeta”, Braga Horta, além de descrever alguns dados pessoais e rememorar detalhes da infância e juventude, faz a sua profissão de fé poética, ao defender que não basta inspiração para que alguém se torne um bom poeta, argumentando que é necessário também assenhorear-se das técnicas do verso, o que, aliás, não se vê na maioria dos versejadores de hoje. E lembra: “(...) o poeta há de comover-se e comover, sim, mas não se há de entregar, ingenuamente, à emoção desassistida da inteligência, porque a emoção, por si só, não é ainda arte, não é ainda poesia”.

Ainda nesse depoimento, Braga Horta chama a atenção, de forma subliminar, para um paradoxo: embora o Brasil reconhecidamente hoje apresente baixo desempenho no âmbito da Educação, nunca se viram tantos poetas como agora. O triste é que, na maioria, são poetastros que mal conseguem disfarçar o fraco domínio que têm do idioma.

A leitura desse depoimento vem bem a propósito, pois coincide com a intenção do atual governo de impor mais uma reforma no currículo escolar do ensino fundamental e médio, novamente com o disfarçado objetivo de facilitar o percurso do aluno. Não é à toa que se formam cada vez mais pessoas semi-alfabetizadas, mas diplomadas, inclusive no ensino superior. Neste caso, basta ver o tempo que se levava para se concluir um curso de mestrado ou doutoramento numa universidade pública há vinte ou trinta anos e compará-lo com o que se leva nos dias atuais. Hoje tudo é mais fácil. 
                       
                                                           II
De autores ligados à Brasília, dois dos textos que se destacam são aqueles em homenagem a José Jeronymo Rivera. O primeiro, “José Jeronymo Rivera, poeta e tradutor”, de quando de sua entrada na Academia de Letras do Brasil em 11 de agosto de 2004, e o segundo, “Da privilegiada formação de um grande poeta-tradutor”, referente à sua admissão à Academia Brasiliense de Letras, em 20 de março de 2014.

De se ressaltar é que tanto Braga Horta como Rivera estudaram, no começo da década de 50, no Colégio Leopoldinense, na pequena cidade de Leopoldina, na Zona Mata de Minas Gerais, um quarto de século depois de passar por lá um futuro médico que ficaria muito conhecido em Coimbra: Adolfo Rocha (1907-1995), nascido em São Martinho de Anta, Sabrosa, em Portugal, que, ao voltar à pátria, mais tarde, debaixo do pseudônimo Miguel Torga, haveria de se tornar um dos maiores escritores da Língua Portuguesa do século XX. Braga Horta e Rivera descobriram a poesia, praticamente, naqueles tempos mineiros e continuaram amigos inseparáveis em Brasília, unidos também por laços familiares.

Segundo o autor, Rivera, se abandonou precocemente e de maneira injustificada a prática do poema, já em Brasília, haveria de continuar ligado à poesia como tradutor. E, de fato, desde então, tem legado magistrais traduções de poesia espanhola e francesa para a Língua Portuguesa. Não satisfeito, ainda se dedica por estes dias ao estudo do grego moderno para, com certeza, enriquecer a Língua Portuguesa com novas traduções de obras de poetas helênicos.

                                                           III
Anderson Braga Horta (1934), nascido em Carangola, Minas Gerais, formou-se em 1959 pela Faculdade Nacional de Direito da Universidade do Brasil-RJ. Jornalista, professor e poeta de reconhecido prestígio na América Latina, foi diretor legislativo da Câmara dos Deputados e co-fundador da Associação Nacional de Escritores (ANE). É membro da Academia Brasiliense de Letras e da Academia de Letras do Brasil.

Predominam em sua obra títulos de poesia, como Altiplano e outros poemas, de 1971, seguido de Marvário, Incomunicação, Exercícios de homem, O pássaro no aquário, reunidos, com inéditos, em Fragmentos da paixão (São Paulo: Massao Ono, 2000), que obteve o Prêmio Jabuti de 2001, mais Pulso (São Paulo: Barcarola, 2000), Quarteto arcaico (Guararapes, 2000), 50 poemas escolhidos pelo autor (Rio de Janeiro: Galo Branco, 2003), Soneto antigo (Brasília: Thesaurus Editora, 2009), De uma janela em Minas Gerais – 200 sonetos (miniedição em 4 volumes, 2011), e Tiempo del Hombre: selección elemental bilingüe español-portugués (Ciudad de Lima: Maribelina/Casa del Poeta Peruano, 2015).

Na linha da crítica e da ensaística, publicou pela Thesaurus Editora: Erotismo e poesia (1994), opúsculo, Aventura espiritual de Álvares de Azevedo: estudo e antologia (2002), Sob o signo da poesia: literatura em Brasília (2003), Traduzir poesia (2004), Testemunho & participação: ensaio e crítica literária (2007), Criadores de mantras: ensaios e conferências (2007), e Proclamações (2013).

No segmento de contos, publicou Cinco Histórias de Bichos (opúsculo), 2004; O Benzedor de Cobras (opúsculo), 2006; Cinco Histórias de Bichos/Fünf Tiergeschichten (opúsculo), tradução de Curt Meyer-Clason, 2008, e Pulso Instantâneo, 2008. Como tradutor, publicou mais de vinte livros, entre poesia e prosa. Já conquistou 15 prêmios literários. Adelto Gonçalves - Brasil

_____________________________________

Do que é feito o poeta, de Anderson Braga Horta. Brasília: Thesaurus Editora, 412 págs., 2016, R$ 35,00. E-mail: sac@thesaurus.com.br Site: www.thesaurus.com.br
  
_________________________________________ 

Adelto Gonçalves, mestre em Língua Espanhola e Literaturas Espanhola e Hispano-americana e doutor em Literatura Portuguesa pela Universidade de São Paulo (USP), é autor de Os vira-latas da madrugada (Rio de Janeiro, José Olympio Editora, 1981; Taubaté, Letra Selvagem, 2015), Gonzaga, um poeta do Iluminismo (Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1999), Barcelona brasileira (Lisboa, Nova Arrancada, 1999; São Paulo, Publisher Brasil, 2002), Bocage – o perfil perdido (Lisboa, Editorial Caminho, 2003), Tomás Antônio Gonzaga (Academia Brasileira de Letras/Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2012), e Direito e Justiça em Terras d´El-Rei na São Paulo Colonial (Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2015), entre outros. E-mail: marilizadelto@uol.com.br

Internacional - Transporte marítimo de contentores crescerá até 3,8% ao ano

O transporte marítimo internacional de contentores deverá crescer entre 2,2% e 3,8% ao ano até 2020, de acordo com o The Boston Consultancy Group (BCG).

No mesmo horizonte, a frota mundial de navios porta-contentores deverá passar dos actuais 20,5 milhões para cerca de 24 milhões de TEU de capacidade, prevê a consultora.

Mas uma coisa são os volumes e outra, bem diferente, a rendibilidade do negócio. O que dependerá em grande parte do reequilíbrio entre oferta e procura de capacidade.

O BCG estima que tenham de ser retirados do mercado entre dois milhões e 3,3 milhões de TEU. O sector terá de acelerar o ritmo de desmantelamento de navios e resistir à tentação do crédito e à colocação de mais encomendas de novos navios, avisa.

Imprescindível será também por termo à guerra de preços que tem assolado a indústria nos últimos 15 anos. O BCG sublinha a propósito que “com o fim dos GRI [General Rate Increases] na UE, o risco de guerra de preços é maior”.

Num ambiente difícil, as companhias com mais probabilidades de sobreviver serão aquelas que consigam mais economias de escala (casos das gigantes Maersk Line, MSC ou CMA CGM) e também aqueloutras que apostem em nichos de mercado, casos da Wan Hai e da SITC.

As observações e avisos do BCG foram deixados na recente conferência Global Liner Shipping, em Singapura, pela sócia e directora-geral, Camille Egloff. In “Transporte & Negócios” - Portugal

terça-feira, 27 de setembro de 2016

Lançamento do livro "Campo de Ourique – A Aldeia de Lisboa – Volume II - História do bairro nas história da gente”

Amanhã, 28 de Setembro de 2016, pelas 18H 30M, na Casa Fernando Pessoa (Rua Coelho da Rocha, nº 16) em Lisboa, será apresentado o livro "Campo de Ourique – A Aldeia de Lisboa – Volume II - História do bairro nas história da gente” da autoria do Prof. Doutor José Eduardo Carvalho. O livro, uma edição da Quimera Editores, tem o apoio da Junta de Freguesia de Campo de Ourique e será apresentado pela Presidente da Assembleia de Freguesia de Campo de Ourique, Inês de Medeiros. Baía da Lusofonia


Internacional – Dia Mundial Marítimo

Instituído pela IMO (Organização Marítima Internacional), o órgão das Nações Unidas cuja missão é desenvolver e manter uma estrutura regulatória abrangente para o transporte aquaviário, o Dia Marítimo Mundial é comemorado anualmente na última semana de setembro. A Marinha do Brasil, no Rio de Janeiro, vai comemorar a data hoje (27), no Centro de Instrução Almirante Graça Aranha, com a presença de diversas autoridades e representantes da comunidade marítima, da SOAMAR (Sociedade Amigos da Marinha), das empresas de navegação e dos Sindicatos ligados à atividade.

O tema escolhido pelo IMO neste ano é “Transporte marítimo: indispensável para o mundo”, em uma iniciativa para chamar a atenção da população mundial para a importância do transporte marítimo no bem-estar e no desenvolvimento da humanidade.

Segundo menciona a UNCTAD em sua publicação Review of Maritime Transport 2015, foi transportado por vias marítimas, em 2014, um total aproximado de 9,84 bilhões de toneladas de carga pelos mares do mundo, incluídos aqui os 171 milhões de Teus movimentados – o que representa 1,3 tonelada para cada habitante do planeta! Como demonstra o gráfico a seguir, a carga vem crescendo de forma exponencial, tendo aumentado espantosos 278% de 1970 a 2014, com apenas uma pequena queda em 2009, decorrente da crise iniciada no final de 2008.























Esse volume de carga foi transportado por uma frota total de 89.464 navios, com uma capacidade total em tonelagem de 1,75 bilhão de toneladas. Frota essa conduzida por 1,18 milhão de tripulantes oriundos de mais de 150 nacionalidades, com predominância de pessoal da Ásia, seguido por países da OECD, conforme se verifica no gráfico abaixo:














Um aspecto curioso da diversidade no transporte marítimo é a composição de nacionalidades e bandeiras dos navios. Eu já me deparei com um navio em que havia nada menos do que 11 nacionalidades diferentes a bordo, compondo um grupo de não mais do que 25 marítimos no total, e cuja bandeira da embarcação não tinha relação alguma com as nacionalidades desses tripulantes. É a mais global de todas as indústrias, na qual aqueles que atuam perdem qualquer tipo de preconceito de raça, nacionalidade e religião.

Há de se salientar que, além desses “homens do mar”, está envolvida de forma direta com o transporte marítimo uma multidão de agentes marítimos, despachantes, agentes de carga, trabalhadores portuários, práticos, autoridades portuárias etc. baseados em mais de 4.951 portos em 196 países.

Nas palavras da IMO, divulgadas seu comunicado referente ao Dia Marítimo Mundial, a atividade merece mais atenção. “A verdade é que o transporte marítimo afeta a todos nós. Não importa onde você se encontra no mundo, se olhar em volta, você certamente verá alguma coisa que foi ou será transportada por via marítima, seja na forma de matérias primas, componentes ou produtos acabados. Ainda assim, poucas pessoas têm ideia de quanto dependem do transporte marítimo. Para a grande maioria, o transporte marítimo está distante de sua percepção. Isso é um desserviço para uma indústria que silenciosa e eficientemente, dia e noite, nunca pausando ou parando, mantém o mundo girando e sustém as pessoas do mundo alimentadas, abrigadas e entretidas. É uma história que precisa ser contada”, diz a organização internacional.

O Guia Marítimo, seus colunistas e colaboradores vêm prestar sua homenagem a todas as pessoas ligadas a essa atividade essencial, fascinante, envolvente e global. Parabéns a todos nós. Robert Grantham – Brasil in “Guia Marítimo”



Robert Grantham - Formado pela PUC/RS com licenciatura em ensino da língua inglesa, Robert Grantham desenvolveu sua carreira na área da navegação, atuando como executivo em agencias marítimas, como Wilson Sons, Orion e Lachmann, com passagem pelo Banco de Desenvolvimento do Estado do Rio Grande do Sul (Badesul), atuando na área internacional. Posteriormente foi o responsável pelo start-up das operações da China Shipping no Brasil e Diretor Comercial e Executivo do Porto de Itajaí. Atualmente dedica-se a consultoria, como sócio da empresa Solve Shipping Specialists, tendo realizado trabalhos para Drewry, TESC, LogZ, Porto de Itajaí, Steamship Mutual - P&I, Norsul entre outros. Como palestrante e moderador participou de eventos como Mare Forum, Port Finance International Brazil, Container Handling Technology Brazil, Itajaí Trade Summit. É colaborador da revista Container Management e Árbitro da Câmara de Mediação e Arbitragem do Brasil (CAMEDIARB) e da Câmara de Arbitragem e Mediação de Santa Catarina (CAMESC).

Brasil - Comércio exterior: um novo modelo

SÃO PAULO – Que boa parte da atual crise político-econômica pela qual o País passa hoje se deve a erros na condução da política externa, não há dúvidas. Basta ver que a diplomacia brasileira de 2004 a 2011, praticamente, descuidou do aspecto comercial, tentando conquistar para Brasil – e para o então presidente Lula – um hipotético prestígio no mundo por meio de uma possível integração sul-americana, de novas parcerias com países árabes e africanos e as demais nações do Brics (Rússia, Índia, China e África do Sul).

Dentro dessa estratégia, o Mercosul deixou de ser um bloco comercial para se tornar um fórum de discussões políticas e ideológicas. Em nome de uma imaginária liderança, o País teve de suportar uma série de desaforos de governos ditos bolivarianos. Hoje, infelizmente, o Mercosul só tem acordos com países que representam menos de 10% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial, o que o deixa, praticamente, de fora dos principais mercados.

Em nome dessa utopia, o governo brasileiro trabalhou, em conjunto com o governo argentino, pelo fracasso das negociações com os Estados Unidos para a formação da Área de Livre Comércio das Américas (Alca) e nunca conseguiu unir e liderar o Mercosul a ponto de oferecer uma proposta que pudesse alcançar consenso com os negociadores da União Europeia. A filosofia seguida era que tanto Estados Unidos como UE queriam apenas que entregássemos as nossas jóias, dando em troca bijuterias.

Bem, o resultado disso pode ser hoje medido em números: a participação dos produtos manufaturados na pauta comercial brasileira, que em 2000 era de 59%, em 2014 foi de 36% e, em 2016, provavelmente, alcançará índice ainda menor, em consequência da perda de espaço no mercado norte-americano, o maior do planeta, da falta de políticas de inovação para a indústria e de outros projetos de expansão do comércio exterior.

Já as commodities, que tinham uma participação de 38% em 2000, passaram a representar 60% da pauta de exportações em 2014. É de se lembrar que commodities (matérias-primas) são mercadorias sem agregação de valor e que geram poucos empregos. Tudo isso resultou no fechamento de postos de trabalho no setor industrial e nos segmentos ligados ao comércio exterior. Quer dizer, o País, praticamente, voltou ao tempo do colonialismo, quando era apenas fornecedor de matérias-primas.

O que se espera, portanto, do atual governo é que adote um novo modelo de exportação que desonere o produto, ao longo de toda sua cadeia produtiva, além de tornar o seu sistema tributário cada vez mais simples e competitivo, de modo a onerar cada vez menos as empresas, já que tão cedo o País não conseguirá tornar sua infraestrutura de transporte mais eficiente nem se livrar de seu pesado custo logístico. Milton Lourenço - Brasil

__________________________________________________ 

Milton Lourenço é presidente da Fiorde Logística Internacional e diretor do Sindicato dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística do Estado de São Paulo (Sindicomis) e da Associação Nacional dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística (ACTC). E-mail: fiorde@fiorde.com.br. Site:www.fiorde.com.br

segunda-feira, 26 de setembro de 2016

Galiza – Amigo vem!








Ao Afonso Fernandes,

grande amigo e amante do Zeca


O diretor do PGL, o companheiro Ernesto Vázquez Sousa, pediu-me que escrevesse qualquer cousa, um algo, sobre o Zeca Afonso e a Galiza. Ao começo pensei que não estava capacitado e rejeitei amavelmente a proposta, a aludir um futuro artigo sobre a eterna dialética otimismo / pessimismo em redor do País. Mas afinal reconsiderei o assunto com o intuito de tentar atar doutro jeito os dous cabos da corda, o Zeca e o nosso País. Achei que qualquer cousa boa poderia surdir do simples fato de tentá-lo, mesmo se o resultado não fosse o esperado. Eu não tenho muitos conhecimentos sobre a relação do Zeca com a Galiza, e pus-me então a reviver as suas canções, muitas vezes escutadas, muitas vezes admiradas. Queria encontrar uma música e uma letra que puxassem por mim pra escrever o artigo. Mas nada chegava com a suficiente força. As canções eram magníficas, mas não chegava o que tinha que chegar. Até que digitei no computador Traz outro amigo também. Estou condenado a digitar porque os quatro LPs que tinha do cantor de Aveiro, emprestados pelo Afonso Fernandes e gravados em cassete, desapareceram há tempo, um dia que a fita, cansada de virar, saiu pra fora e ao querer eu arranjar o problema, rachou ou estragou-se, sei lá. A fita já não queria virar mais. Inda há pouco comprei Com as minhas tamanquinhas em CD, felizmente recuperado.

Mas o que tinha que chegar chegou. Após bastantes anos a voz única e profunda do Zeca, tremendo no ar, voltou a emocionar-me, voando muito perto dalgo que procurava e não achava. Amigo. Maior que o pensamento. Por essa estrada amigo vem. Não percas tempo que o vento é meu amigo também. Em terras. Em todas as fronteiras. Seja bem-vindo quem vier por bem. Se alguém houver que não queira, trá-lo contigo também. Aqueles, aqueles que ficaram. Em toda a parte todo o mundo tem. Em sonhos me visitaram. Traz outro amigo também. E chorei sem querer chorar. Sempre gostara muito daquela cantiga, mas agora parecia-me diferente, grandiosa, aquela letra tão simples e tão perfeita, aquela melodia tão intensa, uma cantiga sublime para falar da amizade universal.

O Zeca repetia com frequência em Portugal que a Galiza não era Espanha, e já estava farto de o fazer, lutando contra os preconceitos lusitanos. É bem sabido que a primeira vez que cantou a Grândola foi em Compostela, anos antes do 25 de Abril. A Galiza teve o privilégio de escutar um dos mais grandes hinos à liberdade pela primeira vez. A guarida do Zeca foi a Galiza, como ele próprio dizia, o seu refúgio, e o cantor na nossa terra sentia-se à vontade. A garrafa vazia de Manuel Maria, dizia numa das suas canções, mencionando o nosso poeta da Terra Chã e amigo seu. Maior que o pensamento. A amizade torna-se qualquer cousa elevada e inexprimível. Perante o pessimismo que muitas vezes nos afoga ao pensarmos na nossa realidade, perante a perda de identidade, temos de pensar que se calhar a Galiza é maior que o pensamento, e se fazemos confiança nela, ela há-de vir por essa estrada, tarde ou cedo.

Por essa estrada amigo vem. A estrada está sempre pronta para ser percorrida. Não se pode viver sempre num mundo artificial, alienante e inautêntico, tendo muito perto aquilo que é autêntico e libertador. Por baixo do disfarce mais ou menos grosso do colonialismo, mora ainda um galego capaz de sê-lo se quiser. Com efeito, podemos escolher o pessimismo e pensar que a estrada vai ficar sempre baleira, a esperarmos o amigo que nunca chegará. Mas também podemos escolher o otimismo e confiar em nós próprios, apesar dos nossos grandes erros coletivos. Também podemos confiar nos nossos devanceiros e nos nossos filhos, reafirmando a identidade que ainda os une através da língua.

Vinho velho vinho novo tudo a terra pode dar. Dêem as pipas ao povo. Só ele as sabe guardar, escrevia o poeta cantor na bela canção Viva o poder popular. Criemos um patriotismo popular e democrático, longe da falácia dos partidos políticos. Um patriotismo popular para recuperarmos a identidade, o uso e a qualidade da língua, para recuperarmos o autogoverno, para poder construir um espaço próprio, um futuro neste mundo globalizado, insustentável e autómato, onde no planeta inteiro nada é diferente e tudo é o mesmo. Se não chamamos pelo amigo, o amigo nunca virá.

A Galiza está longe, como longe estava Ítaca para o valente Ulisses. Mas essa viagem possível, herdança do colonialismo, tem qualquer cousa positiva. A Galiza aparece como o ideal a atingir, não um ideal perfeito, não uma falsa Arcádia, mas uma revolução possível, uma realidade claramente melhor da que temos hoje, uma Pátria imprescindível em redor da qual criar uma nova sociedade democrática e livre, capaz de derrubar a tirania económica e política do Estado. A Galiza deve ser o ideal que puxe por nós, a vontade inquebrantável de voltarmos ao lar, apesar de todos os obstáculos.

Milho verde, milho verde (…) folha larga maçaroca, cantava o Zeca. Há razões para o pessimismo, muitas. Eu mesmo tenho morado no pessimismo no passado. Mas também há muitas razões para o otimismo. O nosso meio rural e a nossa língua ainda estão vivos. Temos mais de mil aldeias abandonadas, mas por enquanto a nossa grande dispersão geográfica ainda é uma realidade como traço identitário. Outros povos não resistiram à maquinaria implacável do Estado-nação e no século XXI acham-se com a identidade quase perdida, nomeadamente no caso da língua própria: o povo bretão, o povo corso, o povo escocês, irlandês ou galês. Na minha viagem à Bretanha tinha a formosa esperança de escutar a língua dos Bretões, mas o único que pude fazer nas duas semanas que lá estive foi comprar livros em bretão. Já não se escuta a antiga língua céltica, quase o mesmo que acontece na Irlanda independente ou no País Basco, onde só uma minoria usa o gaélico ou o euskara, apesar mesmo de serem línguas oficiais. Somos, portanto um povo forte, de grande resistência.

O que faz falta é acordar a malta, dizia o Zeca. Cumpre organizarmo-nos, criarmos consciência de País. Precisamos há muito tempo de um movimento organizado e popular, que for capaz de acordar a malta. A malta é o Povo Galego, espanholista ou não, galego-falante ou não. Mas é o Povo Galego que deve ser acordado, transformado, mudado. A Espanha não é o principal obstáculo. O principal obstáculo somos nós próprios, a Espanha que alimentamos no nosso interior. Temos que ultrapassar a resistência pra chegarmos à ação. E a ação começa sempre no interior, na mudança interior. Não nos podemos resignar, eis o grande erro. A realidade é sempre dinâmica, transformável. Como dizia Uxio Novoneyra num emocionante poema: sabemos que o ser humano pode ser outra cousa, sabemos que a Galiza pode ser outra cousa.

Vejam bem que não há só gaivotas em terra quando um homem se põe a pensar. E se houver uma praça de gente madura e uma estátua de fevre a arder. Estes grandes versos do Zeca Afonso estão a falar de nós. O sistema político atual nega o pensamento, conquista o planeta com a criação de um ser não pensante em mãos do Estado e da sua falsa democracia, em mãos de uma tecnologia alienante. Mas quando um homem se põe a pensar, pode surdir a Galiza, um povo indomável sem Estado próprio no Fim da Terra, que para ser livre só precisa de uma cousa: a liberdade. E se calhar ainda lá espera uma praça de gente madura.

Em terras. Em todas as fronteiras. Seja bem-vindo quem vier por bem. Estes sublimes e singelos versos de fraternidade universal devem ser aplicados na Galiza. Seja bem-vindo quem vier por bem. Quem vier por bem deve ser sempre bem-vindo. Esqueçamos os dogmatismos e as ideologias para permitirmos a união. O amor pela Galiza há-de fazer o resto.

Amigo. Maior que o pensamento.

Galiza. Maior que o pensamento

Por essa estrada amigo vem

Manuel Meixide – Galiza

Manuel Meixide Fernandes - Depois de nascer em Chantada e passar alguns anos pela Península adiante, nomeadamente em Euskadi, onde chega a estudar a metade do primeiro ano do antigo E.G.B., com sete anos volta definitivamente para morar na Galiza, na sua comarca natal. Lá estudará o resto do ensino primário e secundário, para finalmente obter em Compostela a Licenciatura em Filosofia e Ciências da Educação. Um ano antes começa a estudar o curso de Tradução e Interpretação na cidade de Vigo. Tem colaborado na década de noventa na revista chantadina Além-Parte, publicando nela diversos contos. Foi co-fundador da infelizmente dissolvida Associação Cultural Rodrigues Lapa, nascida na vila do Asma no ano 2007. A partir do ano 2001 dá aulas de francês no secundário, morando na vila da Estrada desde o ano 2011.


domingo, 25 de setembro de 2016

Ei-los que partem














Vamos aprender português, cantando


Ei-los que partem
novos e velhos
buscar a sorte
noutras paragens
noutras aragens
entre outros povos
ei-los que partem
velhos e novos
ei-los que partem
velhos e novos

Ei-los que partem
olhos molhados
coração triste
a saca às costas
esperança em riste
sonhos dourados
ei-los que partem
olhos molhados
ei-los que partem
olhos molhados

Virão um dia
ricos ou não
contando histórias
de lá de longe
onde o suor
se fez em pão
virão um dia
ricos ou não
virão um dia
ricos ou não

Virão um dia
ricos ou não
contando histórias
de lá de longe
onde o suor
se fez em pão
virão um dia
ricos ou não
virão um dia
ou não


Manuel Freire - Portugal