Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

segunda-feira, 31 de julho de 2017

Macau – Escritor e Investigador Hélder Macedo de novo por terras do Oriente

A poesia chegou cedo, o acto de dizer não também. Porque bateu o pé contra o sistema, saiu de Portugal para voltar uma e outra vez, para ainda não estar lá, estando. Hélder Macedo é um nome incontornável do passado-presente da literatura portuguesa. Está por estes dias em Macau

Fez parte do Grupo do Café Gelo. Como é que funcionava esta tertúlia, influenciada ainda pelo Orpheu?

A obra de Fernando Pessoa começou a ser publicada, de facto, nos anos 1940. Nos anos 50, ainda era uma coisa recente. Fernando Pessoa era mítico, havia várias obras não só do Pessoa, como do Sá Carneiro, etc., que não eram acessíveis. O Gelo foi um bocado um acidente. Éramos jovens, com 19 ou 20 anos, e mais ou menos por acidente começámos a encontrar-nos – uns conheciam-se, outros não –, basicamente para fugirmos aos cafés literários.

Porquê? Eram chatos?

Eram chatos, eram estabelecidos, eram senhores pomposos, importantes. Aconteceu que um grupo de pintores alugou um quarto num sótão perto do Rossio. Não cabiam todos. Eram quatro pintores que partilhavam aquele espaço. Uns desciam e o café mais próximo era o Gelo que, nessa altura, era frequentado por uma clientela de pequena burguesia, pacata, nada intelectual, nada literária. Ia para lá para estar sossegada, não estar naquele ambiente dos cafés literários e dos cafés para estudantes. Uns foram atraindo outros para conversarmos. Eu tinha sido colega de liceu do Gonçalo Duarte, pintor, que me disse que ali tinha uma gente interessante, que eu ia gostar. Fui. Tinha conhecido o Manuel de Castro nessa altura também, ainda no liceu. Uns levaram a outros e sentimo-nos mais ou menos unidos por uma atitude existencial e política, de certa maneira, que era essencialmente de recusa do ‘status quo’, do salazarismo e até das carreiras literárias, da Brasileira, do espírito de promoção e de autopromoção que havia. No meio disto tudo, aparece lá o Mário Cesariny de Vasconcelos que, nessa altura, era um escorraçado social. Nós conhecíamos a obra dele, tinha publicado um livro ou dois. Gostámos muito dele e ele passou a ir ao Gelo. Ele também atraiu outras pessoas. Criou-se um bocado a ideia de que o Café Gelo era uma espécie de segunda ou terceira leva do surrealismo em Portugal. É e não é.

E não é porquê?

Todos nós beneficiámos da existência do Surrealismo, como beneficiámos da existência do Orpheu, do Futurismo, dessas coisas todas. Mas, com algumas excepções, nem os pintores, nem os escritores que depois vieram a ter o seu bocado de obra se podem caracterizar, de facto, como surrealistas. Herberto Helder não é um surrealista. É um homem que bebeu, com certeza, do Orpheu, mas bebeu da tradição bárdica do século XIX, bebeu da leitura da Bíblia, como se vê pela poesia dele. O Manuel de Castro era um homem muito interessado pelas coisas esotéricas, mas não era um surrealista. Eu não sou um surrealista. Alguns foram mais directamente influenciados pelo Surrealismo, como o Ernesto Sampaio, por exemplo, um nome de referência, extremamente importante – era a pessoa que, na altura, mais sabia de Surrealismo em Portugal, um excelente escritor. E depois também outros mais associados directamente à influência do Mário Cesariny: o António José Forte, o Virgílio Martinho, embora escrevesse mais prosa. Esses assumiram-se como surrealistas. Mas o Herberto, eu, o Manuel de Castro, não. As pessoas gostam de dar rótulos. Pronto, nada contra. A outra dimensão do Gelo, que é extremamente importante, é a ligação com os pintores. Foram fundamentais. Eles foram, de facto, os fundadores do Gelo. O João Vieira, o Gonçalo Duarte, o José Escada, o Costa Pinheiro. Alguns, depois, foram para Paris; outros, como o Costa Pinheiro, para a Alemanha. Reencontraram-se mais tarde em Paris, onde fundaram o KWY. Quando se fala no Gelo, há três Gelos: um inicial, jovens tacteantes; os que saíram e que continuaram lá fora qualquer coisa associada ao espírito do Gelo; e os que ficaram – e esses tornaram-se muito mais ortodoxos surrealistas e ficaram muito mais sob a influência directa do Mário Cesariny. Um notabilíssimo poeta, mas era um senhor que não brincava em serviço. Fingia que não, mas tinha o olho posto na glória póstuma. Ele guardava tudo, todos os papéis… E aquela mania surrealista de quem é ortodoxo e quem não é, quem é bom e quem é mau, aqueles catálogos que já em França havia e que deu sempre naquelas proliferações. Mas, se há uma coisa que unificava aquela gente toda, era uma atitude de recusa, o dizer ‘não’, o não querer pactuar política e socialmente, o desrespeitar as normas estabelecidas. A grande revolução que aconteceu no nosso tempo, recentemente, é de facto a afirmação das mulheres, que é uma coisa maravilhosa. A outra é a grande liberdade sexual, o que é espantoso. Nessa altura, os homossexuais eram perseguidos pela polícia. O Cesariny era humilhado semanalmente porque tinha de ir à polícia dizer que estava a portar-se bem. Nós tínhamos uma atitude de total liberdade em relação à própria sexualidade: cada um dormia com quem quisesse, não era obrigatório nem ser, nem deixar de ser, não entrava no assunto. Isso também era parte dessa atitude de recusa das normas estabelecidas e do sistema. Escrevi um texto que está incluído num livro de ensaios em que uso o título “A Utopia da Negação”: a negação como utopia, como desejo de recusa. O mais importante é sermos capazes de recusar, de dizer não. Os ‘sins’ organizam-se sozinhos, alternativamente. Mas temos de decidir o que não queremos. Se aceitarmos, estamos pactuando no essencial, e isso é que não pode ser feito.

Essa atitude vem dessa altura e dessa vivência?

Virá dessa experiência. Por outro lado, é uma atitude que levou a esta experiência. Era uma coisa partilhada. Numa loja daquelas muito lisboetas – em que tinha, de um lado, mercearia, e do outro residência do dono – o Manuel de Castro encontrou, na residência, uma coisa impressa que dizia ‘Aqui não se vende’, significando que aquilo não era a loja. O Manuel tirou aquilo e punha diariamente na mesa do café: ‘Aqui não se vende’. A nossa atitude estava, de certa maneira, simbolizada por aquilo. Nós não estamos à venda.

Hoje em dia, este tipo de encontros, onde se discute o estado das coisas, da política, da literatura, praticamente não existe.

Existe muito menos.

É a consequência do desinteresse?

Há uma grande proliferação, há muita mais gente que escreve, que pinta, uns bem, outros mal, outros assim-assim. Há uma tentativa um bocado artificial, em Lisboa, de criar uma espécie de grupos. Por exemplo, as pessoas associadas à Abysmo, uma excelente editora, sentem que são um bocado um grupo, mas é mais difícil. Há uma coisa que, felizmente, falta: a repressão. A polícia, o perigo, o proibido, o risco, as torturas, Caxias, choques eléctricos – havia um elemento de risco que agora não há. Vários dos nossos amigos – e eu – aos 18 ou 19 anos, foram presos e torturados, eram uns adolescentes, miúdos. Ainda bem que não existe. Se se quer ser maldito, é por vontade e não por necessidade. Nós tornámo-nos um bocado malditos por sanidade, porque, no fundo, a recusa era a sanidade, a recusa era portarmo-nos mal. Um termo que é muito usado e abusado – o abjeccionismo – não é tanto no sentido que se dá actualmente, da pessoa se portar abjectamente. Não, o mundo em volta é que era abjecto. Ao recusarmos aquilo estávamos, de algum modo, a fazer uma afirmação positiva através da recusa. O que acho muito interessante é que as gerações mais novas estão agora a recuperar um bocado a mitificação do Gelo com o Pacheco, o endeusar literário também do Mário Cesariny, felizmente com algumas consequências muito positivas que foi a redescoberta do Manuel de Castro, que estava esquecido – um notabilíssimo poeta. Consegui que o João Paulo Cotrim publicasse um livrinho do José Manuel Simões, “Sobras Completas”, toda a obra completa dele que ele considerava importante e que me entregou, num envelope castanho, a última vez que estive com ele em Paris. Morreu um ano depois, não querendo voltar a Portugal. Estive uns bons dez anos até conseguir editor e o Cotrim publicou. As “Sobras Completas” é um livro muito giro, muito interessante, muito bom. E há outros que podem ser descobertos. Mas está a haver um interesse grande de várias pessoas a escrever sobre o Gelo.

Do Gelo à política. Foi secretário de Estado da Cultura no Governo de Maria de Lourdes Pintasilgo, numa altura complicada, no pós-revolução.

Tinha trabalhado politicamente contra o regime, foi essa a razão pela qual não podia estar em Portugal. Depois regressei e, em 1975, fui convidado pelo então Governo provisório e aceitei ser Director-Geral dos Espectáculos. O Governo caiu, houve um período de várias semanas sem Governo, sem coisa nenhuma, uma coisa perfeitamente caótica. Para entrar no meu gabinete, que era no Palácio Foz, tinha de pedir licença aos piquetes. Nessa altura, como não havia muito mais que pudesse fazer, decidi publicar umas notas sobre o que poderia ser eventualmente uma política cultural, o que se poderia fazer. E isso foi publicado no Diário de Notícias que, na altura, era dirigido pelo Saramago. Decidi não continuar, voltei para Londres. No Verão de 1979, eu e a minha mulher fomos de férias a Portugal, de carro, pacatamente. Chegámos a Lisboa, fui ver os meus amigos, que se reuniam no café Montecarlo – o Carlos de Oliveira, o José Cardoso Pires, o Herberto Helder – e o [Augusto] Abelaira diz-me que se falava em mim para secretário de Estado da Cultura. Ri-me muito e disse-lhe: ‘Ah, e fala-se de si para ministro da Saúde’. Quando cheguei a casa dos meus pais, à noite, um telefonema a convidar-me. Fiquei muito surpreendido. O que deve ter acontecido foi que a Maria de Lourdes deve ter lido essas notas, achou que a coisa fazia algum sentido e decidiu convidar-me. Era um Governo provisório, diziam que era 100 dias mas afinal foram cinco meses, foi pouco tempo e, como tal, aceitei. Nunca quis ter uma carreira política. Devo ter sido a única pessoa em Portugal que foi director-geral e membro do Governo e que não tem um chavo de pensão de coisa nenhuma. Portanto, nunca quis coisa nenhuma e queria, precisamente, ter a minha total independência. Depois de o Governo se ir embora, tive três convites para deputado, de vários partidos. Recusei, não quis ter uma carreira política. Mas alguma coisa foi feita e que, depois, por ódio pessoal do Sá Carneiro à Maria de Lourdes Pintasilgo, foi apagada.

O que é que foi apagado?

Para já, uma coisa sem precedentes na democracia: suspenderam em bloco todos os actos que podiam ser suspensos do Governo da Maria de Lourdes Pintasilgo. Não só na cultura – nos serviços sociais, no trabalho. Tudo suspenso, para tornar a coisa uma espécie de não-Governo, o que é ideológico porque a Maria de Lourdes, sendo católica, tinha um programa muitíssimo mais à esquerda do que o Partido Socialista. Por outro lado, era uma posição antifeminista por ser mulher, que ainda por cima vivia com outra mulher. Na área da cultura posso dizer três coisas: quem criou o Museu de Arte Moderna no Porto foi o Governo da Maria de Lourdes numa sessão pública onde eu estava. Este projecto ficou parado durante uns tempos e depois foi reaproveitado pela Maria Teresa Gouveia, que criou Serralves. A origem de Serralves foi a negociação que fiz em mandar para o Porto, instalado provisoriamente no Museu Soares dos Reis, a colecção de arte moderna do Estado. Uma outra coisa que fizemos foi a compra do prédio da Cinemateca de Lisboa. São coisas que não puderam ser destruídas porque já havia investimento de dinheiro e não se podia recuar. O que fizeram foi obliterar a origem. É impensável que na Cinemateca, que foi um prédio comprado com a minha assinatura, não haja uma referência que esta aquisição foi feita no Governo da Maria de Lourdes. Também não é aceitável que, em Serralves, na sua proto-história, não seja mencionado o mesmo facto. Outra coisa que deixei organizado, e que depois foi feito pelo João de Freitas Branco, foi uma planificação dos teatros nacionais, incluindo a compra do Teatro de São João. Mas isto foi bloqueado mesmo porque foi a tempo. Depois do 25 de Abril houve um painel em que 48 pintores, desde o Pomar ao Escada, pintavam um dos 48 quadrados que faziam o painel. Era um painel fascinante que era, no fundo, a história da pintura moderna portuguesa. Este painel estava instalado no centro de exposições de um pequeno museu em Belém. O director deste museu era o João Vieira, que me disse que as instalações eléctricas naquele local estavam muito precárias. Fiz um despacho para que o espaço fosse encerrado, para que pudéssemos fazer as reparações. O meu sucessor no cargo, como o fecho tinha sido um acto do Governo anterior, mandou abrir o local. O resultado foi que ardeu e o painel desapareceu. Isto é um exemplo anedótico, mas trágico. É pena porque algumas coisas podiam ter ficado melhor, e não ficaram. A planificação da rede nacional de teatros podia ter sido feita. De qualquer forma, o que isto significa é que existiu essa atitude de antagonismo em relação ao Governo da Maria de Lourdes Pintasilgo e do que ela representava. Isso também se manifestou uns anos depois, quando foi candidata à Presidência. Trabalhei com ela nisso e tive várias reuniões, mesmo com militares, e houve uma mudança de atitude porque não aceitavam a ideia de que uma mulher pudesse ser a pessoa que comandava as forças armadas.

O que falta hoje em dia à cultura em Portugal?

Sou um optimista. Se vivesse em Portugal, se calhar, irritava-me mais. Há sem dúvida mais gente que lê, há uma quantidade muitíssimo maior de gente que escreve. A maior parte é uma porcaria, mas a percentagem dos que têm nível não é, certamente, inferior ao que era. O que há, talvez, é uma grande confusão entre qualidade e quantidade. Tornam-se também grandes sucessos literários pessoas cuja obra não o merece. Mas isto é um fenómeno que acontece em muitos países. Sem citar nomes, se falarmos de escritores que são celebrados como grandes escritores, muitos deles não valem nada. Há outros, menos celebrados, e que são muito bons, mas os escritores excepcionais são poucos em toda a parte. O mesmo acontece na pintura, por exemplo. Há uma democratização da criatividade literária e artística, o que não significa que haja um abaixamento de nível. O que há é gente de baixo nível que produz e que dantes não havia. Se calhar, e sendo optimista, quantidade também pode gerar qualidade. Das pessoas que dantes não tinham acesso nenhum à cultura, agora há mais que o têm e que vão produzindo coisas que se calhar são boas e que, noutras circunstâncias, nunca teriam produzido. A minha atitude é muito mais positiva do que a dos meus amigos em Portugal. Há de tudo e o facto de haver gente que lê aquela péssima literatura de aeroporto, e que compra livros no supermercado, significa que pelo menos lêem. O que faz falta em Portugal é crítica literária. Paradoxalmente, no tempo do Salazar, os jornais portugueses tinham uma coluna de crítica literária. Não era só no Diário de Notícias, mas todos os jornais de Lisboa e do Porto tinham as suas páginas literárias, coisa que agora não existe.

Começou por estudar Direito.

Foi, mas não acabei o curso porque tive de sair de Portugal a meio. Depois da campanha do General Delgado, envolvi-me numa intentona, as pessoas começaram a ser presas e tive de sair.

E como é que apareceu a literatura?

Desde pequenino. A minha mãe gostava muito de poesia, lia-me poesia, fazia-me decorar “os boizinhos” do Afonso Lopes Vieira e eu comecei a escrevinhar poesia com uns 11 anos. Fazia umas rimazitas. Naquela altura fazia três coisas: escrevia poesia, andava de bicicleta e jogava futebol.

A sua escrita é biográfica, especialmente a poesia.

Os romances não são biográficos, com excepção de “Partes de África”, que tem elementos autobiográficos, mas também tem falsificações. Conto como se tivesse acontecido, mas não aconteceu. Dava-me jeito, em termos de narrativa, que tivesse acontecido, o que acabou por me dar problemas porque há algumas personagens que são fusões de possibilidades de ser. É o caso de um médico que é a fusão entre um médico abnegado que conheci e um médico corrupto que havia. Misturei os dois e os filhos do abnegado cortaram relações comigo. O inspector da PIDE que também aparece nesse livro e que acabou por salvar, na verdade, São Tomé, é também a fusão de dois que conheci. Também uso a primeira pessoa com muita frequência na minha narrativa e na minha ficção, mas continua a ser uma ficção. Ponho-me nesse hipotético Hélder Macedo a contracenar com gente que não existe. A estratégia aí é dar credibilidade à ficção, mas, por outro lado, torna fictício o narrador. Na poesia é diferente. Escrevo pouca poesia. Não sou um poeta que escreve habitualmente. Costumo escrever poesia em tempos de viragem. É uma coisa interna.

A poesia é uma coisa muito íntima?

É. E é necessário ter muita cautela para não nos envergonharmos em público.

Estamos em pleno encontro da Associação Internacional de Lusitanistas (AIL). Como é que vê este congresso, o primeiro a Oriente?

Quem primeiro sugeriu que fosse em Macau, fui eu. Fui presidente da AIL, depois foram simpáticos e elegeram-me presidente honorário, que é uma óptima posição: uma pessoa manda bocas e não tem de fazer nada (risos). Sempre achei que era fundamental sair da Europa. Como presidente e com o Carlos André como secretário-geral, planeámos depois de um congresso em Oxford fazer uma coisa no Rio de Janeiro. Foi a primeira vez que o congresso aconteceu fora da Europa. Mais tarde, fez-se nos Estados Unidos e depois achámos que era importante fazer em África, e acabou por acontecer em Cabo Verde que, simbolicamente, estava muito bem. A Universidade tinha acabado de ser criada. Depois disso, o passo óbvio era o Oriente. Aí a minha ideia era de que, entre os dois sítios óbvios – Goa e Macau – a escolha fosse Macau, devido à atitude dos chineses. Enquanto em Goa a língua portuguesa foi obliterada tendo tido raízes muito mais fundas do que, alguma vez, teve em Macau, aqui é mantida. Não será muito desenvolvida, mas é mantida. É até é política oficial que podemos ver nos nomes das ruas, nos documentos oficiais. É assumidamente, uma das línguas oficiais e isso é uma atitude inteiramente diferente da atitude indiana. Seria estúpido não escolher Macau. Até como uma afirmação política em relação à Índia. Não é que em Goa tenham obliterado as línguas europeias. Não. O português foi substituído por outra língua colonial, o inglês. Ora, se se mantém uma língua colonial, porque diabo de razão vão destruir uma presença cultural que lá esteve durante 500 anos? Estão a chular a história de Portugal com os monumentos, com as igrejas, retirando a identidade que fazia parte daquela gente e daquela cultura, muito mais do que aqui em Macau. Estas são as razões negativas. Como razões positivas, quando cá vim há quatro anos, a minha ideia era, precisamente, negociar a hipótese de Macau. Fui recebido pelo presidente do Instituto Politécnico de Macau que acolheu imediatamente a ideia, fala um português perfeito, lê Camões e deu-nos condições extraordinárias. A proposta acabou por ser feita em Cabo Verde com muito boas condições. Pode não atrair tanta gente como outros congressos, devido à distância. Tivemos a desistência de umas 40 pessoas do Brasil, 15 dias antes de o congresso começar devido à crise, mas ainda assim, estamos com cerca de 150 pessoas. Na sessão de abertura, a presença do Governo foi notável. O desenvolvimento da língua portuguesa é, obviamente, parte de uma política chinesa. Terão as suas razões, mas a nós também dá jeito. Sofia Mota e Isabel Castro – Macau in “Hoje Macau”

Pode ler outra entrevista de Hélder Macedo em Macau no ano de 2014 aqui.

domingo, 30 de julho de 2017

Desfado

















Vamos aprender português, cantando


Quer o destino que eu não creia no destino
e o meu fado é nem ter fado nenhum
cantá-lo bem sem sequer o ter sentido
senti-lo como ninguém, mas não ter sentido algum

Ai que tristeza, esta minha alegria
ai que alegria, esta tão grande tristeza
esperar que um dia eu não espere mais um dia
por aquele que nunca vem e que aqui esteve presente

Ai que saudade
que eu tenho de ter saudade
saudades de ter alguém
que aqui está e não existe
sentir-me triste
só por me sentir tão bem
e alegre sentir-me bem
só por eu andar tão triste

Ai se pudesse não cantar "ai se pudesse"
e lamentasse não ter mais nenhum lamento
talvez ouvisse no silêncio que fizesse
uma voz que fosse minha cantar alguém cá dentro

Ai que desgraça esta sorte que me assiste
ai mas que sorte eu viver tão desgraçada
na incerteza que nada mais certo existe
além da grande certeza de não estar certa de nada

Ai que saudade
que eu tenho de ter saudade
saudades de ter alguém
que aqui está e não existe
sentir-me triste
só por me sentir tão bem
e alegre sentir-me bem
só por eu andar tão triste

Ai que saudade
que eu tenho de ter saudade
saudades de ter alguém
que aqui está e não existe
sentir-me triste
só por me sentir tão bem
e alegre sentir-me bem
só por eu andar tão triste

Ana Moura – Portugal

Pedro Silva Martins - Portugal

sábado, 29 de julho de 2017

Portugal – Camião ligeiro eléctrico produzido no Tramagal


A Mitsubishi Fuso Truck, empresa do grupo Daimler, anunciou o início da produção em série do modelo Fuso eCanter, o primeiro veículo comercial de mercadorias 100% elétrico. A inauguração, na fábrica do Tramagal, em Abrantes, contou com a presença do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa e de Marc Llistosella, presidente e CEO da Mitsubishi Fuso Track e Bus Corporation

“A Fuso é o primeiro comercial da categoria que é produzido em pequenas séries, completamente elétrico, livre de emissões e que se move praticamente em silêncio. O seu desenvolvimento em Portugal foi liderado pela equipa de engenharia da Daimler Trucks baseada no Japão, com os nossos colegas em Portugal a realizarem mais um trabalho brilhante que agora nos permite mostrar ao mundo a mais recente inovação da Daimler Trucks”, referiu Albert Kirchmann, presidente & CEO da Mitsubishi FusoTruck & Bus Corporation.

Marc Llistosella, citado numa nota da Daimler, informou que já foram recebidas as primeiras encomendas e que o lançamento global foi agendado para "uma das mais icónicas megacidades, Nova Iorque, em setembro".

A fábrica do Tramagal vai produzir a nova viatura Fuso eCanter, em simultâneo com a viatura comercial Fuso Canter convencional.



O eCanter inclui seis baterias de 13,8 kWh de capacidade, o que totaliza pouco mais de 80 kWh. A autonomia anunciada é de 100 quilómetros, um valor que, segundo a marca, é suficiente para os percursos diários feitos por este tipo de camiões em circulação urbana e suburbana. A capacidade de carga varia de duas a três toneladas em função do tipo de caixa escolhido pelo cliente. Os faróis são LED e a grelha frontal diferenciam claramente este camião dos Canter com motores a combustão.

Ainda de acordo com a informação disponibilizada pela marca, os custos de operações serão mais baixos quando comparados com modelos equivalentes com motor Diesel, permitindo recuperar o investimento extra inicial em três anos.

Recorde-se que a fábrica do Tramagal emprega atualmente mais de 400 trabalhadores e exporta para cerca de 30 países europeus, Israel, Marrocos e Turquia. In “Automonitor” - Portugal

sexta-feira, 28 de julho de 2017

Macau - Exposição de Franquia de Macau atrai cada vez mais entidades

A Feira de Produtos de Marca da Província de Guangdong e Macau e a Exposição de Franquia de Macau arrancam hoje. Até domingo, nas instalações do Venetian, mais de meio milhar de expositores de Macau e do estrangeiro vão dar a conhecer os seus produtos, à procura de oportunidades de negócio

Arrancam hoje e prolongam-se até domingo, a Feira de Produtos de Marca da Província de Guangdong e Macau (GMBPF, na sigla inglesa) e a Exposição de Franquia de Macau (MFE, na sigla inglesa). A nona edição de ambos os certames realiza-se este ano em conjunto, no que constitui uma tentativa do Instituto de Promoção do Comércio e do Investimento de Macau (IPIM) de “alargar o número de visitantes profissionais”, a partilha de recursos, a criação de sinergias e o aumento da eficácia das bolsas de contacto. As duas feiras têm como palco o Centro de Convenções e Exposições do Venetian e reúnem no total mais de meio milhar de expositores de Macau e do estrangeiro.

“A Expansão Contínua de Marcas – Novas Oportunidades de Negócio à Vista” é o tema da edição de 2017 da Exposição de Franquia de Macau. O evento conta com mais de 155 expositores em representação de países como a República Popular da China, o Brasil, o Japão, a Malásia, Portugal, Moçambique, o Reino Unido e a Finlândia, que se estreia no evento. Irene Lau, vogal executiva do IPIM, revelou que serão expostas “roupas de moda e temas relacionados com a restauração, vendas a retalho, serviços educativos, lazer e entretenimento, serviços financeiros, agenciamento de marca e serviços de consultoria”.

A responsável do Instituto de Promoção do Comércio e do Investimento destacou o interesse dos países lusófonos, que tem crescido ao longo dos anos. Enquanto que em que 2015 participou uma única empresa do universo da lusofonia, no ano de 2016 estiveram presentes marcas do Brasil, Timor-Leste e Moçambique. Este ano, a Exposição de Franquia de Macau conta com a participação de três empresas brasileiras e seis portuguesas, sendo que Moçambique também se faz representar.

O primeiro dia da Exposição de Franquia de Macau será marcado pelo “Fórum sobre Oportunidades de Negócio em Franquia de Marcas Internacionais”, que terá como enfoque o tema “Big Data: factor crucial de sucesso dos franqueados”. Para além de especialistas na área, foi também convidado a participar Li Ning, um dos ginastas mais populares da República Popular da China e que é actualmente presidente do conselho de administração do grupo Li Ning, especializado em equipamento desportivo. No ano passado, a marca de produtos que comercializa foi considerada uma das 100 melhores no que à venda a retalho online na China diz respeito.

Myanmar e Indonésia estreiam-se na Feira

Na nona edição da Feira de Produtos de Marca da Província de Guangdong e Macau, encontram-se instalados 345 ‘stands’, sendo 107 pertencentes a expositores de Macau, 194 aos da Província de Guangdong, 30 aos do Myanmar e 14 a empresas e entidades provenientes da Indonésia. As exposições de produtos típicos do Myanmar – artigos de jade, vestuário, peças de artesanato e produtos alimentares – e da Indonésia – produtos alimentares, artigos de consumo diário, artigos de artesanato e jóias – constituem uma estreia na Feira.

O representante do departamento do comércio da província de Guangdong, Huang Yongguang, apontou que, no ano passado, “as trocas comerciais entre Guangdong e Macau ascenderam a 2,06 mil milhões de dólares americanos”. Huang Yongguang avançou ainda que “são 12 o número de novas empresas de Guangdong autorizadas a estabelecer-se no território”. Joana Figueira – Macau in “Ponto Final”

Portugal – Morcegos combatem pragas no Vale do Tua em Trás-os-Montes

O Parque Natural Regional do Vale do Tua começou, em fevereiro, a colocar caixas-abrigo em terrenos agrícolas e, menos de meio ano depois, os técnicos constatam que “a taxa de ocupação é de 58%, quando o que seria previsível era uma taxa de ocupação de 10%”, de acordo com os dados divulgados.

O objetivo deste projeto é criar condições para a presença dos morcegos em terrenos agrícolas na área do parque, tendo em conta que estes pequenos predadores ajudam no combate a pargas, como insetos, o que torna desnecessário o uso de pesticidas e outros químicos para defender as culturas agrícolas.

“No seguimento da última ronda de monitorização, nos dias 19 e 20 de julho, determinou-se ser de 36 o número de caixas ocupadas, com mais 22 caixas com indícios de uso frequente, levando o número total de abrigos em utilização para 58, das 100 colocadas”, constatou Pedro Leote, o biólogo que acompanha o projeto.

Ao todo, foram espalhadas pelo parque uma centena de caixas e a taxa de utilização “revelou-se cinco vezes superior ao que seria de esperar”, já que, “por regra, de acordo com outros projetos já implementados, a taxa de ocupação na primeira temporada ronda os 10%”.

Segundo os resultados da última monitorização, “36 das caixas-abrigos tinham, na hora da visita do técnico, morcegos no seu interior e nas restantes 22 caixas o biólogo encontrou guano (fezes de morcego) em quantidade, que indica a ocupação do espaço”.

Os responsáveis consideram “estes primeiros resultados animadores” e adiantam que “podem determinar o alargamento do projeto”.

As pragas agrícolas são uma ameaça frequente, que podem dizimar produções com consequente quebra de rendimento.

A solução encontrada pelo Parque do Tua “passa pela intensificação da presença de algumas espécies de morcegos, predadores naturais, que consomem grandes quantidades de presas, maioritariamente insetos”.

Os abrigos para os predadores foram colocados com “o intuito de aumentar o número de colónias de morcegos nos sistemas agrícolas e florestais, de maior relevância na área do parque, concretamente, as vinhas, os olivais e as florestas de sobreiro”.

A partir de setembro o técnico responsável pelo projeto vai dar início à realização das primeiras análises laboratoriais para avaliar, entre outras coisas, quais as espécies de morcegos que apresentam melhores resultados no combate às pragas.

Os responsáveis acreditam que “este projeto poderá constituir um excelente exemplo onde a investigação científica está ao serviço do desenvolvimento sustentável, esperando deste modo que o modelo de gestão do parque se possa disseminar ao nível regional e nacional”.

A coordenação é feita pelo Parque Natural Regional do Vale do Tua com a colaboração de um biólogo a tempo inteiro e o apoio especializado do Centro de Investigação em Biodiversidade da Universidade do Porto. In “24Sapo” - Portugal

Macau – Reforço da língua portuguesa

“Pequim lançou uma estratégia em torno de Macau e do português, o que veio aumentar o interesse na sua aprendizagem em mais de 30 universidades do continente e, se juntarmos a isto, o apoio do governo da RAEM e das autoridades lusas, é caso para dizer que as perspectivas para a divulgação da Língua Portuguesa nesta zona do globo não poderiam ser melhores”

O Congresso dos Lusitanistas, que decorreu, esta semana, em Macau, foi um êxito ao reunir, pela primeira vez, na Ásia, especialistas da Língua Portuguesa de todo o Mundo. A escolha de Macau parece óbvia face à importância, cada vez maior, do português no território e no continente e, também, pela aposta que o governo central tem feito na promoção da nossa língua.

O português deixou de ser, apenas, uma língua utilitária para se transformar, nestas paragens, numa língua comercial, a par do inglês, devido ao incremento das relações entre a China e os Países de Língua Portuguesa.

Pequim lançou uma estratégia em torno de Macau e do português, o que veio aumentar o interesse na sua aprendizagem em mais de 30 universidades do continente e, se juntarmos a isto, o apoio do governo da RAEM e das autoridades lusas, é caso para dizer que as perspectivas para a divulgação da Língua Portuguesa nesta zona do globo não poderiam ser melhores.

Neste sentido, a inauguração das viagens aéreas entre Pequim e Lisboa irá contribuir para um maior estreitamento das relações entre os dois países e um crescente interesse por ambas as línguas. Há muito que não havia a ligação quase directa entre o território e a capital portuguesa, desde o fim dos voos da TAP.

Como estas viagens são da companhia Capital Airlines e têm um período experimental, o factor decisivo passa pelo número de passageiros o que, até ao momento, tem sido muito satisfatório - as quatro primeiras ligações estão praticamente esgotadas...

Com Portugal na moda, o país em recuperação económica, é natural que aumente o interesse dos turistas chineses contribuindo para solidificar estes voos da Capital Airlines. Jorge Silva – Macau in “Jornal Tribuna de Macau”

quinta-feira, 27 de julho de 2017

Cuba - Feira Internacional de Havana

Inscrições abertas para participar da Feira FIHAV

As empresas brasileiras dos complexos de alimentos, bebidas e agronegócios; máquinas e equipamentos; casa e construção; higiene e cosméticos; e moda podem se inscrever até sexta-feira (28/7) para participar da Feira Internacional de Havana (FIHAV), que acontece entre os dias 30 de outubro e 3 de novembro de 2017, em Havana, Cuba.

A participação brasileira no evento está sendo coordenada pela Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil), que há mais de uma década tem apoiado a ida das empresas à feira. Em 2015, foram gerados cerca de US$ 23 milhões em negócios durante o evento e estimados US$ 126 milhões para os 12 meses seguintes. 

O Brasil é o 3º maior fornecedor de produtos importados por Cuba, com mercadorias que contemplam diferentes setores produtivos nacionais. Todas as empresas inscritas serão avaliadas de acordo com a metodologia da Apex-Brasil. Os perfis empresariais que forem aprovados para participar da FIHAV serão comunicados até a 1ª semana de setembro. InApex – Brasil”

FIHAV 2017

Data: 30 de outubro a 03 de novembro
Local: Recinto Ferial EXPOCUBA, Carretera del Rocío – Km 3 ½, Havana, Cuba

Inscrição aqui. (até 28 de julho)

Macau - Mundo asiático dos mais dinâmicos do ponto de vista do ensino da língua portuguesa





























O presidente da Associação Internacional dos Lusitanistas (AIL) considera “surpreendente” e “impressionante” o investimento de Macau na Língua Portuguesa em Macau para a construção de uma “rede mais ampla de ensino linguístico”. Para Roberto Vecchi, essa aposta vê-se em termos numéricos mas também na “qualidade das apresentações, dos projectos, das investigações, dos colegas chineses de Macau e da China em particular”.

“O que se percebe é que estamos numa comunidade de pares, ou seja, não há um norte ou sul da associação mas estamos todos num diálogo de patamar e troca recíproca”, afirmou Roberto Vecchi, em declarações ao Jornal Tribuna de Macau.

O Congresso da AIL termina na sexta-feira, mas após dois dias de conferências e sessões paralelas já é possível vislumbrar um resultado muito positivo, apontou o responsável.

Sendo esta uma estreia da associação em terras asiáticas, Roberto Vecchi vê vantagens para os dois lados, incluindo Macau. “É uma fase importantíssima para a associação por duas questões. Não é só a questão inaugural de estar na Ásia mas a questão mais importante para uma associação como a nossa, disseminada, é encontrar um mundo de novos colegas que levam para a associação os seus projectos de investigação, temas e linguagens. Para nós é um enriquecimento enorme”, destacou.

“O resultado e a expectativa depois desta experiência é realmente ter potencial para criar novas redes de investigação, intercâmbios, projectos de didática universitária”, acrescentou Roberto Vecchi indicando que o salto para o Oriente reflecte também a visão global que a Associação Internacional dos Lusitanistas quer ver crescer. “Essa internacionalização da associação permite valorizar o melhor que temos: uma vocação para a investigação, ensino académico de alta qualidade no mundo em vez de estarmos fechados nos nossos gabinetes e universidades. Esperamos ver uma nova fronteira que, de facto, se abra”, sublinhou.

Nesse contexto, sublinhou, o “mundo asiático” é um dos mais “dinâmicos do ponto de vista do ensino da língua portuguesa”

Plataforma9 colmata lacuna fundamental.

O presidente da Associação Internacional dos Lusitanistas falava à margem de uma conferência plenária na qual foram divulgados dois projectos ligados à associação: Plataforma9 e a revista “Veredas”.

Apresentado por Rui Vieira Nery, director do programa língua e cultura portuguesa da Fundação Calouste Gulbenkian, e Elias Feijó Torres, o projecto da Plataforma9 foi pensado e elaborado pela AIL com a contribuição financeira e a tutela institucional da Fundação Calouste Gulbenkian. Na altura, a associação era presidida precisamente por Elias Feijó Torres.

“Para nós foi logo evidente que havia um terreno a explorar e depois de várias hipóteses que se puseram de colaboração achámos que havia uma lacuna fundamental que não era preenchida por nenhuma das plataformas existentes”, vincou Rui Vieira Nery, notando que a Plataforma9 pretende responder directamente aos interesses da comunidade de investigadores e professores que trabalham com o Português. “Quer-se uma plataforma que não seja dirigista, que seja aberta, que reflicta a pluralidade da nossa experiência e múltipla origem dos nossos pontos de partida diversificados”.

Além disso, realçou o objectivo de cruzar sobretudo “informação que nos permita saber quando é que há congressos, colóquios, eventos, vagas de investigação ou docências em universidades, programas de financiamento para projectos de investigação, entre outros”.

O projecto foi criado em 2014 e pretende tornar-se num meio de comunicação “exemplarmente multidisciplinar”, referiu. Catarina Almeida – Macau in “Jornal Tribuna de Macau”

Península ibérica – Fogo!!

Carta aberta a intelectuais frívolos e cientistas irresponsáveis

Estivemos no fim de semana em Portugal. Na zona zero da grande desgraça. Do grande Incêndio.

Nada pode haver comparável com o horror das chamas a rodear o TODO. A envolver o mundo. O ar e a Terra.

Nada que possa devolver a vida as mais de 64 pessoas entrampadas na sua armadilha. Na Trampa mortal.

Essa gente tem nomes. Tinha nomes. Eu não os conheço, mas recuso-me a tratar deles por números. Eles/as amaram, abraçaram, desejaram, correram, brincaram e pagavam ao banco, como fazemos nós cada dia. Não eram culpados. Como não o são as vitimas da guerra.

Eu trato este drama de guerra. Uma guerra entre a economia que procura o lucro pronto, fácil e UNIVERSAL e a gente do comum. As pessoas que são utilizadas para cederem seu terrenos ante uma plantação única. Que vai ser facilitada polas empresas madeireiras e de pasta de papel. O lucro pode ser pouco para os indivíduos, mas é algo que fazer com aquela terreno que já não trabalham. Por serem velhos. Por viver longe, ou por ter perdido os interesses que o mundo da agricultura trazia. A maioria das pessoas, na Europa Ocidental, moram nas cidades. Herdaram aquele terra de seu avôs e ficam gratas por receberem alguns euros por cada corta de eucalitos. Turnos de corta cada vez mais ajustados. Diziam-nos em Castanheira de Pêra ou Figueiró dos Vinhos ou em Pedrogrão, que estes turnos estavam agora nos 7 anos. As árvores queimadas que nós vimos eram delgadas, fraquinhas, direitas para o céu por mais de 10 metros de alto. O lume que prendeu nelas foi logo para acima, e fez as folhas e a cortiça saírem disparadas como bombas. Estas bombas não caem de aviões de guerra, são disparadas desde a Terra, como mísseis que logo prendem nas massas cerradas de eucalitos d’arredor.

Vimos hectares e hectares de massas dessa nefasta monocultura, em pê. De menos de 30 cmts de diâmetro, descascadas, desfolhadas na sua maioria. Mas ainda em pê. E como a natureza é um milagre, já começando a rebentar com novas folhas. Tudo ao se redor ficara morto. Os animais do bosque, desde o ar até o subsolo: Pássaros, mamíferos e vermes. Tudo o que faz a terra rica, diversa e viva para continuar o caminho da evolução biológica. (Os poucos que ainda sobrevivem baixo um eucalital!) Porque as massas de eucalitos, ainda antes de arder, já são letais para a maioria dos seres vivos. Isso é um fato comprovado polos cientistas. Mas nem era necessário seu contributo docto. Basta ver, ouvir e andar por entre as massas de eucalitais para termos saudade do canto de pássaros, Para votar de menos o voar dos insectos. Para lembrar como estranha o correr dalguma limalha.

As árvores nem são más nem boas. O que é errado é o manejo que delas podem fazer os seres humanos. Na Galiza estamos numa situação parecida a de Portugal.

Quer na Galiza ou Portugal o eucalito é a espécie mais abundante entre as massas florestais. Neste país o ultimo inventario ( 2013) regista 812.000 Hª.( o 22% da superfície florestal) Na Galiza o inventário de 1998 dava um monto de 174.210Hª e na atualidade está nas 390.000Hºs, é dizer mais do 29% da superfície arborizada galega.

Mas estos são dados. Frios para discutir entre quem cobra do eucalito, e defende a tudo custo as suas plantação sem limites, e quem pretende que não se instale a sua monocultura como única opção para a Terra.

Os dados quentes são os milheiros de hectares ardidas cada ano. Os brigadistas morridos no salvamento dos incêndios, a perda de vidas e de Biodiversidade, o aceleramento do Câmbio Climático o empobrecimento da terra.

Os dados quentes são a criança abrasada em braços de seu pai dentro de um carro com os vidros fundidos pelas altas temperaturas. Os dados quentes são o grupo de bombeiros voluntários que queimado seu caminhão deitaram-se sobre as pessoas para as ampararem com o seu corpo e seus trajes antifogo. Os dados quentes são as populações em desamparo porque todas as estradas por onde fugir eram caminhos de fogo mortal.

Os dados quentes são as terras queimadas que irão cair até os rios ou as rias para acabarem seu percurso mortal invadindo de cinzas as águas .As cinzas são ricas em Sódio, que forma soda caustica em contacto com a água, rebaixando o seu PH e provocando fortes alterações no ambiente mortais para a maioria de peixes, mariscos e bicheria dos meios aquáticos.

Depois de termos visto o de Portugal, e concluir que isso poderia ter sido igual na Galiza há que se definir. Não valem frívolas elucubrações acerca de manejos de dados para fazerem com eles malabarismos. É a realidade, que sempre é teimosa, a que se impõe.

Há que acabar com esta política florestal!!

Aparecem iniciativas vizinhais valiosas, como as de Casal de São Simão. São movimentos cívicos que devem ser apoiados. Pretendem um trabalho comum de eliminação de eucalitos a volta da aldeia numa franja de 500 metros, e mais:

Um bom caminho corta lumes com lugar para virarem os caminhões e, ainda, charcas no alto, recolhendo as águas da chuva, que vão manter o terreno húmido e disponibilizar irão de água para eventualidades de incêndios.

Pretendem preservar e repovoar com as espécies próprias da zona: Sobreiras medronheiros (érvedos) que nascem lá espontaneamente. Restituir os habitats que a sucessão ecológica criara durante centos de anos. Gerando riqueza no lugar que possa atrair novos moradores.

Acolheram-nos na sua casa com todo afeto e carinho para explicar-nos seus planos. O povo é que se está a mobilizar de maneira calma e civilizada. Esta iniciativa é seguida também pola aldeia vizinha de Ferreira muito mais afetada polo grande fogo que Casal. E irá se estender a outros lugares como exemplo de boas praticas cidadãs.

ADEGA apoia esta ação de defesa contra o lume. Esta iniciativa voluntária e generosa de trabalho comunitário. Junto com a Associação Quercus de Portugal tentamos preparar atividades em comum de apoio a vizinhança sempre que eles quiserem e solicitem ajuda. No máximo respeito as iniciativas nascidas da base do povo.

Estas iniciativas têm o valor de estourar nas caras da classe política para que estas tomem conta do valor do COMUM e preparem leis estritas de ordenamento das florestas e do território. Mas as leis não chegam. Têm de serem cumpridas.

Na Galiza existem muitas limitações a plantar eucalitos. Mas ficam no papel. ADEGA tem feito, mais de trezentas denuncias no que vai de ano sobre plantações ilegais de eucalitos e só uma mínima parte foi atendida e obrigado a levantar as árvores.

Cúmplices são a Confederación Hidrográfica que mira para outro lado e põe mínimas multas sem qualquer perigo para os infratores. A Xunta que ordena arquivar as denuncias, os guardas florestais que não cumprem com o seu papel e deixam fazer, etc. Toda uma estrutura corrompida que colabora para que o BEM COMUM da Terra seja apenas para uns poucos poderosos, grandes industrias que mandam mais que os governos eleitos polo povo. Os catedráticos de Universidade que fazem florituras com dados manipulados e procuram o favor de quem lhes paga são cúmplices também. Não queira a “providencia” que uma desgraça como esta lhes caia na consciência. Poderão viver com ela?

Nós definimo-nos por uma política florestal diversa. Polo aproveitamento integral do Monte e do Bosque, pola diversificação de culturas e polo cumprimento da LEI.

Ainda: As massas de eucalitos devem ser eliminadas nesse continuo perigoso e agresivo que têm na atualidade. A política tem de ser global e social.

Recuperemos os nossos bosques: Caducifolios, diversos e adaptados ao ambiente local. Eles fizerom de corta fogos, já nos grandes incendios do 2006 e mostrarom outra vez esse valor protector no grande incêndio de Portugal. Adela Figueroa – Galiza in “Portal Galego da Língua”




Adela Clorinda Figueroa Panisse é de Lugo (Galiza), fazedora de versos, observadora do mundo e cuidadora de amizades. Trabalhadora no ambientalismo e na criatividade da palavra. Foi professora e lutadora pela recuperação da dignidade da Galiza e, ainda, pela solidariedade entre os seres humanos e a sua reconciliação com a terra. Gosta de rir, cantar e de contar contos. Também de escutar histórias, de preferência ternas e de humor.

quarta-feira, 26 de julho de 2017

Brasil – Porto do Itaqui continua a impulsionar o Maranhão

Com ampliação e modernização, além do recorde na movimentação de grãos no primeiro semestre de 2017, o Porto do Itaqui vem gerando resultados que aceleram o desenvolvimento do Maranhão.

Os recursos destinados ao Porto do Itaqui até o ano de 2020 totalizam R$ 1,5 bilhão, incluindo reinvestimentos dos lucros da Empresa Maranhense de Administração Portuária (Emap), recursos federais e de empresas da iniciativa privada que operam no local.

Boa parte desses investimentos já está em andamento. É o caso da terraplenagem de nova área para armazenagem de combustíveis no Porto do Itaqui, investimento privado que totaliza R$ 242 milhões. A previsão é de aumento de 30% da capacidade de movimentação de granéis líquidos.

Segundo a Agência Nacional de Petróleo (ANP), o Porto do Itaqui é o principal centro de consolidação de distribuição de carga de granéis líquidos para o país. Além da nova área para armazenagem, há outros cinco projetos em fase de prospecção na área de instalação de tancagem.

Outros projetos importantes para o desenvolvimento do estado envolvem a construção do terminal de granel sólido e a construção do terminal de papel e celulose, já em andamento. Juntas, as obras totalizam R$ 553,5 milhões, equivalentes a 36,5% dos investimentos totais no porto.

“O Projeto da obra de instalação do terminal de celulose já passou por consulta pública e está em análise no TCU. Nossa projeção é que até o primeiro trimestre do ano que vem seja feita a licitação pública por meio de leilão. São investimentos de R$ 270 milhões”, diz o presidente da Emap, Ted Lago.

Ele revela ainda o avanço de um importante projeto: “Está em andamento na Comissão de Licitação a construção de um berço próprio. Será um berço de carga geral, preparado para receber carregadores de navios, grãos e outras cargas. Um berço misto”. A estimativa para a construção é de 36 meses, sendo uma das maiores obras com recursos públicos do Maranhão. “Em agosto ou setembro devemos colocar o edital na praça, com investimentos entre R$150 e R$ 160 milhões.”

Mais riqueza para o Maranhão

A Emap passou a usar os próprios lucros para reinvestir em melhorias de infraestrutura do Porto. “O governador Flávio Dino determinou que investíssemos recursos próprios da empresa para essas melhorias no porto, já que os recursos públicos devem ser destinados à saúde, educação, segurança pública. Essa estratégia permitiu que os lucros da Emap fossem utilizados para atrair mais investimentos. Para se ter uma ideia, hoje, praticamente um terço da arrecadação de ICMS passa pelo Porto do Itaqui”, diz Ted Lago.

É o recolhimento de tributos como o ICMS que permite investimentos do governo em obras e políticas públicas. Com os recursos oriundos desses tributos, os impactos da crise no Maranhão foram atenuados em relação a outros estados, protegendo empregos e garantindo investimentos para os que mais precisam.

Agregando valor

Além dos bons resultados na movimentação de grãos, que colocaram o Porto do Itaqui com crescimento à frente de outros grandes portos brasileiros, a Emap trabalha para agregar valor à rica vocação maranhense para a produção de grãos.

“Há uma cadeia produtiva muito importante em torno da produção de grãos, A movimentação envolve também seus subsídios, fertilizantes e combustíveis. Há uma relação direta entre esses três produtos; e trabalhamos para agregar novas oportunidades de negócios em torno desses componentes”, explica o presidente da Emap.

Exemplo dos resultados dessa estratégia é a assinatura de um estudo que a Emap assinou em parceria com Cooperação Andina de Fomento (CAF) para integração da MA-006, uma das principais vias de escoamento da produção de grãos do Estado. “Hoje temos o transporte de 60% da produção de grãos feito por ferrovias, o que é ótimo, mas ainda temos regiões próximas ao Porto que precisam ser feitas por meio de caminhões. Esse estudo de integração logística da rodovia é um passo importante para recuperação da MA- 006”, finaliza Ted Lago. In “O 4º Poder” - Brasil