Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

quinta-feira, 30 de novembro de 2017

Brasil – Inaugurado maior parque solar da América do Sul

Ribeira do Piauí - A italiana Enel inaugurou em Ribeira do Piauí (PI), o Parque Solar Nova Olinda, a maior central elétrica solar já em operação na América do Sul. Com capacidade instalada de 292 Megawatts (MW) e investimento de cerca de US$ 300 milhões, o parque vai gerar energia suficiente para abastecer 300 mil residências.

Até o fim deste ano, a empresa vai inaugurar um novo parque, totalizando quatro empreendimentos de energia solar (no Piauí e na Bahia) no Brasil, com investimentos de quase US$ 1 bilhão. A nova usina tem contrato de venda de energia pelos próximos 20 anos e estimativa de retorno financeiro em metade deste prazo.

Nova Olinda tem 930 mil painéis solares espalhados por 690 hectares (equivalente a 700 campos de futebol) em pleno semiárido nordestino, onde a energia solar vem se expadindo no último ano. Já há projetos de várias empresas em estados da Bahia, do Ceará e no próprio Piauí. Mas a energia solar ainda tem participação modesta na geração de eletricidade no Brasil, com fatia apenas 1%.

Segundo o secretário de Energia Elétrica do Ministério de Minas e Energia, Fabio Alves, no entanto, a perspectiva é de forte crescimento daqui para frente. O planejamento para 2026 prevê crescimento de cerca de 50 mil MW na capacidade de geração de energia no país, dos quais metade será de fontes eólica ou solar. Não à toa a Enel fez do Brasil uma das apostas de crescimento do grupo em energias renováveis.

A grandiosidade dos números de Nova Olinda contrasta com o baixo número de geração de vagas na fase operacional. Durante as obras, chegou-se ao pico de 1.700 trabalhadores diretos, sendo 40% de mão de obra local. Mas serão apenas 40 a 50 pessoas na operação e manutenção do parque. Boa parte dessa atividade será intensiva em tecnologia, como robôs para cortar grama e limpar os painéis solares.

Placas importadas da China

O empreendimento da Enel teve financiamento do Banco do Nordeste, mas as placas foram importadas da China, não apenas por serem mais baratas que as nacionais, como também pela incapacidade de a indústria nacional atender a demanda dos novos parques.

— A China ganhou essa guerra e permitiu reduzir muito o custo dos projetos de energia solar. Os painéis representam hoje 30% do custo de um projeto. No passado, esse percentual era de 90%. Mas o Brasil pode agregar valor aos projetos com outras tecnologias — disse Antonio Cammisecra, responsável global da Enel Green Power, braço do grupo para energias renováveis.

Os painéis se movem acompanhando o movimento do sol, como se fossem girassóis e captam a irradiaçao solar, que é transformada em energia. Esta, então, é levada por cabos subterrâneos a uma subestação no próprio parque e, de lá, segue por 47 quilômetros de linhas de transmissão até uma subestação da Chesf, onde é lançada no sistema interligado.

Por se tratar de uma energia limpa, estima-se que o novo parque solar vá evitar a emissão de aproximadamente 350 mil toneladas de CO2 na atmosfera, segundo a Enel. O conglomerado tem investido fortemente em energias renováveis. Ao todo, tem capacidade instalada em renováveis de cerca de 2.276 MW no Brasil, dos quais 670 MW de energia eólica, 716 MW de energia solar e 890 MW de energia hidrelétrica. Há ainda projetos de 275 MW de capacidade em construção.

Consolidação da distribuição

No Brasil, o grupo é dono da antiga Ampla, responsável pela distribuição de energia em 66 cidades do estado do Rio de Janeiro. Também controla a distribuidora do Ceará (ex-Coelce) e comprou recentemente a Celg, em Goiás. Segundo o presidente da Enel no Brasil Carlo Zorzoli, há interesse em participar da consolidação do mercado de distribuição no Brasil

— Já provamos sermos players no mercado de consolidação da distribuição no Brasil. Queremos fazer parte desse fenômeno — disse Zorzoli, sem dar detalhes sobre quais as empresas estariam na mira.

A Eletrobras vai privatizar suas distribuidoras, entre elas a Cepisa, no Piauí. A Enel é apontada como forte candidata à compra. Danielle Nogueira – Brasil in “O Globo”

quarta-feira, 29 de novembro de 2017

Estados Unidos da América – Solidariedade quando menos se espera

Antigo militar americano gastou o pouco dinheiro que tinha para ajudar uma automobilista que ficou sem combustível durante a noite. Kate agradeceu a John e lançou uma campanha de solidariedade que já angariou cerca de 320 mil euros que vão mudar a vida a este homem

Um sem-abrigo de Filadélfia, nos Estados Unidos, gastou todo o seu dinheiro (20 dólares) a ajudar uma automobilista que ficou sem combustível durante a noite. O gesto desencadeou uma enorme onda de solidariedade capaz de mudar uma vida.

A história começou em Outubro. Kate McClure, de 27 anos, ficou sem combustível numa autoestrada de Filadélfia. Era meia-noite e ficou com medo, mas encostou o carro e começou a andar em direcção a uma bomba de gasolina.

Foi então que conheceu John Bobbit, de 34 anos, um antigo marine, que já trabalhou como paramédico, a quem a vida pregou uma partida e foi obrigado a dormir na rua durante mais de um ano.

John passa os dias sentado à beira da estrada com um cartaz e, quando viu Kate, percebeu que havia um problema e decidiu ajudá-la.

“Ele viu-me a encostar e percebeu que havia algo de errado. Ele disse-me para voltar para o carro e trancar as portas. Alguns minutos depois ele voltou com um jerrican de gasolina. Usou os seus últimos 20 dólares para garantir que eu chegava a casa em segurança”, conta a automobilista.

Kate não tinha dinheiro consigo e John também não lhe pediu nada. Kate ficou tão sensibilizada com o gesto do ex-marine e começou a visitá-lo e a levar-lhe alimentos, roupa e algum dinheiro.

Kate e o namorado decidiram depois lançar uma campanha de recolha de fundos na internet para ajudar o sem-abrigo.

A meta original era conseguir juntar 10 mil dólares, mas chegaram superaram a barreira dos 380 mil dólares, o equivalente a cerca de 320 mil euros.

Quando soube que centenas de desconhecidos o ajudaram, John nem queria acreditar. “Isto muda a minha vida. Vocês fizeram tudo isto. É incrível”, afirmou o sem-abrigo.

John agora pensa encontrar uma casa e um trabalho para nunca mais voltar a dormir na rua.

Também tenciona doar algum do dinheiro que recebeu. “Este dinheiro foi para me ajudar. Por que não ajudar outras pessoas na mesma situação?”, disse à ABC News.

“Toda a gente enfrenta algum tipo de luta, então se eu puder tocar a sua vida da mesma forma que a minha foi tocada, isso seria um sentimento fantástico”, deseja o homem que com um gesto de solidariedade desencadeou outro gesto de solidariedade. In “R Renascença” - Portugal

Brasil - Governo projeta nova ferrovia que liga Paranaguá ao Mato Grosso do Sul

O governo do Paraná realizou ontem, terça-feira (28), em São Paulo, um evento para apresentar a proposta de construção uma ferroviária ligando Dourados, no Mato Grosso do Sul, até o Porto de Paranaguá. O objetivo é baratear o transporte da safra agrícola, hoje feito através de caminhões.

Para o financiamento será lançado um PMI (Procedimento de Manifestação de Interesse), instrumento que convida empresas interessadas a bancar os estudos para o projeto. A ideia do Executivo é que Ferroeste (que liga Cascavel à Guarapuava) seja incorporada à nova ferrovia.

O traçado, no entanto, não poderá utilizar a malha atualmente operada pela empresa Rumo, nem mesmo a sua faixa de domínio. Segundo o governo, a restrição é para proporcionar um “impacto direto na melhoria dos serviços logísticos”.

“A ferrovia que conecta a produção com o Porto de Paranaguá foi construída em 1885, por D. Pedro II. Precisamos de uma ferrovia com engenharia do século 21, produtiva e competitiva, que venha de fato atender o celeiro do mundo”, diz o diretor-presidente da Administração dos Portos de Paranaguá e Antonina (APPA), Luiz Henrique Dividino.

Como será

O chamado trecho 1 seria inteiramente novo, ligando Guarapuava ao Porto de Paranaguá, com 400 quilômetros de extensão. O trecho 2 já é uma concessão da Ferroeste, mas ainda será construída a extensão da linha de Guarapuava até Dourados (MS), passando por Guaíra, com mais 350 quilômetros de trilhos. O diretor-presidente da Ferroeste, João Vicente Bresolin Araujo, destaca que o trem é o modal mais barato atualmente. “O trem é a melhor alternativa para reduzir custos e tornar o produto brasileiro mais competitivo”, diz. Andreza Rossini – Brasil in “Paraná Portal”

terça-feira, 28 de novembro de 2017

Brasil – Chineses querem construir ferrovia atravessando o Brasil



Uma das maiores empresas ferroviárias do mundo, a CRCC (China Railway Construction Corporation) estuda liderar um consórcio para construir a Fiol (Ferrovia de Integração Oeste-Leste) e integrá-la ao porto de Ilhéus (BA). Hoje, a ferrovia tem um pequeno trecho em operação.

A intenção dos chineses é clara: escoar soja (segundo principal produto que eles compram no país, atrás do minério de ferro) do Centro-Oeste até o porto baiano Mas também há um interesse geopolítico. Eles querem criar alternativas ao canal do Panamá, obra bancada pelos EUA no século passado e que os asiáticos veem ainda hoje sob controle dos americanos.

Para criar essa alternativa, a Fiol terá cerca de 1.500 quilômetros e cruzará com a FNS (Ferrovia Norte-Sul).

Hoje, os grãos precisam seguir de caminhões até o porto de Santos (SP) ou ser transportados até um entroncamento da Ferrovia Norte-Sul rumo ao porto de Itaqui, no Maranhão. No entanto, existem dificuldades de passagem no trecho controlado pela mineradora Vale, único ponto de acesso até o porto do Nordeste.

O plano dos chineses inclui outro braço ferroviário, a partir da Ferrovia Norte-Sul, que seguirá de Campinorte (GO) até Lucas do Rio Verde (MT) e, de lá, até Porto Velho (RO). Essa linha continuará rumo ao Peru até um porto no oceano Pacífico.

O projeto foi apresentado pelo grupo chinês a representantes do governo brasileiro durante a viagem do presidente Michel Temer à China, no fim de agosto.

Desde então, o governo da Bahia já contratou a consultoria Accenture para desenvolver o projeto. Como a Fiol já é uma ferrovia prioritária da União, o governo baiano se comprometeu a transferir o projeto para o PPI (Programa de Parcerias de Investimentos) assim que estiver pronto.



A expectativa é que isso ocorra até o início do próximo ano para que a ferrovia seja licitada ainda no governo Temer. Pelas conversas iniciais, os chineses teriam de entrar no leilão, embora tenham manifestado a intenção de realizar a obra por conta própria desde que o governo desse autorização.

O apetite dos chineses não termina aí. Três outros grupos também se apresentaram para formar um consórcio e construir os 934 quilômetros da Ferrogrão, entre Sinop (MT) e Miritituba (PA). O projeto está em consulta pública e deverá consumir cerca de R$ 12 bilhões.

Nas conversas, o governo chinês deixou claro para os brasileiros seu interesse em ter a segurança de fornecimento de energia e ali- mentos. Por isso, não mede esforços nem recursos para investir em infraestrutura.

De janeiro a outubro, os chineses compraram US$ 19 bilhões em soja do Brasil, origem de 59% de todo o grão importado pelos asiáticos.

No mesmo período, o país importou US$ 5,5 bilhões em petróleo do Brasil. Outra explicação é que o projeto permitiria à China uma alternativa ao canal do Panamá, que, segundo eles, é “controlado” pelos EUA.

VENEZUELA

O apetite chinês pelo Brasil vem aumentando especialmente depois da crise na Venezuela De janeiro a outubro, o país recebeu US$ 10,8 bilhões do gigante asiático, como já mostrou a Folha.

A maior parte desses recursos foi destinada a fusões e aquisições especialmente na área de energia e transporte.

Entre os exemplos, estão a compra de 45,36% da CPFL Energia pela State Grid Corp of China, por US$ 3,7 bilhões, e da hidrelétrica de São Simão, por US$ 2,26 bilhões, pela State Power Investment Corporation.

O interesse chinês também levou Pequim a fechar um acordo com o Brasil e criar, em maio, um fundo de investimento de US$ 20 bilhões destinado a financiar projetos de infraestrutura no país que sejam considerados relevantes para ambas as partes. Júlio Wiziack – Brasil in “Folha de São Paulo”

Galiza - Um manifesto político em ‘Galeguia (antes chamada lusofonia)’, de Manuel Miragaia

Numa entrevista publicada em Jornalirismo, o escritor angolano Pepetela expressava a suas profundas reticências relativamente ao o termo lusofonia, com que se denomina a união dos países de fala portuguesa: “é um mito forjado há pouco e que não vai ter grandes frutos se se continuar em insistir que o que nos une é só a língua”(1).

Precisamente, como alternativa surge a etiqueta galeguia, que remete para as origens históricas e coloca em foco a Galiza, banindo o capítulo colonial que explicaria a situação alargada da língua hoje no mundo. A tentativa não era, contudo, pioneira. O termo galeguia fora já proposto por Luís Ruffato no VIII congresso da Associação Internacional de Lusitanistas em 2005 e, como indicava Bruno Góis (2), a brasileira Adriana Lisboa, os portugueses José Luís Peixoto e Possidónio Cachapa, o angolano Ondjaki, o timorense Luís Cardoso e os galegos Quico Cadaval e Carlos Quiroga mostraram-se favoráveis a esse neologismo. Em 2014, a cantora Aline Frazão, também angolana, reivindicava novamente a etiqueta e, como se sabe, as opiniões do pessoal da música influem especialmente na sociedade. Aliás, Aline Frazão julgava que era uma maneira elegante de esquivar o inominável, a colonização, para num apelo à concórdia, neutro e unificador, apanhar a unidade das variantes espalhadas pelo mundo (3). Logicamente, as suas palavras tiveram grande eco na Galiza porque ressumavam afeto por esta terra:

Não há terra como a Galiza, não há gente como a galega. Quem, dos que falamos português, já foi tocado pela generosidade desse canto do planeta, sabe do que estou a falar. Do Brasil, perguntem ao Chico César ou ao Lenine. Da Guiné, perguntem ao Manecas Costa. De Angola, perguntem ao Pepetela ou ao Ondjaki. Eu mesma vivi em Santiago de Compostela um ano, onde cultivei sólidas amizades e projectos profissionais (lá gravei o meu primeiro disco), vivendo cada dia em português. A maneira como somos recebidos na Galiza ultrapassa qualquer definição de hospitalidade. Falamos a mesma língua e isso nunca teve um efeito tão surpreendente, tão carinhoso. Mas este é ainda um vínculo escondido, um laço invisível, um namoro secreto que deve ser assumido oficialmente e bradado aos sete ventos. […] Vai ser que, afinal, não falamos a língua do colono: falamos galego de Angola, com o sabor bantu do Atlântico-Sul.

O recente livro de Manuel Miragaia pode ler-se como um contributo a esta guerrilha da comunicação que demostra as colisões internas dos átomos, as suas fricções e roçamentos, numa língua que ocupa o sétimo lugar entre as mais faladas do mundo. O autor intitula precisamente o seu poemário Galeguia (antes chamada Lusofonia) e Manel Cráneo, o seu potente ilustrador, propõe como capa uma casa de pedra em cuja porta, uma labrega galega, com socos e chapéu de palha, figura acompanhada dum preto e dum indiano do Brasil. As três personagens têm qualquer cousa nas mãos: a galega um pão, o africano um globo terráqueo e o brasileiro um forcado de duas pontas. Mas ainda falta um elemento: ao pé deles três foi colocado o galo de Barcelos. Portugal é apenas representado por um objeto simbólico, como se quisessem transmitir-nos que a força libertadora do grupo descansa n@s oprimid@s. Ainda bem que a editora Chiado, portuguesa, reserva como logótipo um pequeno círculo onde figura o próprio Pessoa; noutro caso até poderia parecer um agravo contra Portugal. Não tal. Porém, antes de tomarmos posicionamento num debate que se apresenta polémico, importa é dizer que este livro nasce duma ferida.

As feridas podem ser múltiplas. As mais inofensivas são chagas minúsculas na pele que deixam o tecido interno à vista. Lavamo-las cuidadosamente; cobrimos as feridas com um apósito e confiamos em que curem. Porém, algumas são mais profundas: procedem de grandes afrentas com a sua carga de dor e humilhação. Na descrição habitual, indica-se que os ferimentos são feitos por utensílios, por armas ou por comportamentos simbólicos. Quase sempre é esquecida a palavra como causa da ferida. É frequente escutar numa discussão que tal ou qual aspeto constituem apenas uma questão terminológica. Quem assi falar está a suster que as palavras são tema menor, que estorvam porque escurecem os conceitos. Quem assim falar está orgulhoso de não ser suscetível. Situa-se por cima das emoções; situa-se na magnífica ingenuidade de Leibniz que, quando uma vez propus um sistema de comunicação artificial, estava certo de poder escapar da ambiguidade e a vaguidade das línguas humanas, presumivelmente defeitos, e ainda de superá-las com um sistema da sua invenção. Leibniz era, sem dúvida, um homem seguro de si próprio. E um bocado ingénuo, visto que considerava que com o seu artefacto permitiria desvendar quem de entre os participantes num debate teria razão porque com uma língua lógica e perfeita chegaria um momento em que o equivocado simplesmente não poderia construir a seguinte frase. Porém, muitos de nós, muitas de nós, em particular, somos suscetíveis. O feminismo, por exemplo, foi elaborando um relato potente sobre a falta de inocência das palavras. E o mesmo pode dizer-se de todos os movimentos subalternos. Ser oprimido implica sempre adaptar-se aos conceitos e valores do opressor, renunciando aos próprios: isto serve para o relato de classe, para o relato de raça, para o relato de género e para quaisquer outras diferenças. Daí que Manuel Miragaia empreenda nesta entrega poética uma reescritura da história, através da língua comum. Todo um repto.

O desafio de Manuel Miragaia é praticado sem concessões num repasso pormenorizado a diferentes figuras da história preteridas ou invisibilizadas. O monte Medúlio −aquele episódio mítico onde até as mães envenenam os filhos e a si próprias para serem antes mortas do que escravas−, o rei suevo Hermerico −o primeiro conde de Portucale, nascido, por acaso, na Crunha− ou o mariscal Pero Pardo de Cela, que resistiu o assédio dos reis Católicos e só foi apresado pela traição dos seus criados−, como outras figuras mais modernas: Rosalia de Castro, Castelao, o Johán Vicente Viqueira das Irmandades da fala, o guerrilheiro Foucelhas ou o sensível artista Man. Também pululam por Galeguia personagens doutras latitudes: o Zumbi dos Palmares −o último líder dum quilombo do Brasil colonial− o Tiradentes −executado por ter participado na conspiração de Minas Gerais contra o domínio português− ou Amílcar Cabral, libertador de Guiné-Bissau e Cabo Verde. Todas elas circulam pelo poemário junto a outras vozes plurais e coletivas: a da outra Galiza, interior e abandonada, a dos pobres mareantes, a da Mátria.

Galeguia é um texto com vocação épica e política e, nesse sentido, antipoético. Não pretendo com isto dizer que esteja falto de beleza. Simplesmente, o autor não pretende apressar a palavra e reduzi-la à mínima expressão, como é habitual na poesia contemporânea. Ao contrário, Manuel Miragaia transita um universo fortemente narrativo, onde a rima é um recurso de bardo, a repetir um som monocorde, incessante, com ressonâncias solenes. O objetivo, a meu ver, é difundir um manifesto político: informar dessas figuras, relatar a história dum agravo e infundir coragem a quem ler. Os poemas “Sermos bisagra” e “Carta galega ao Estado espanhol” são indicativos deste afã e, para quem lê na Galiza, é impossível não lembrar o Ramom Cabanilhas de “Em pé”.

Voltemos ao começo. A palavra Galeguia vinha a manter vivo um debate, o das línguas usadas como arma política. Uma fronteira política convencional colocou a Galiza dentro do estado espanhol e fora do estado português, mesmo se falamos a mesma língua. Com o tempo, esse processo determinou que na Galiza se tornasse oficial uma variante com traços de crioulização entre o português e o espanhol e escrita tendo este como modelo, numa decisão que visava conseguir a sua aceitação como língua escrita e a sua introdução nas escolas, no melhor dos casos, ou para evitar qualquer movimento separatista, na versão política que muitos de nós preferimos e que a atualidade do caso catalão obriga a revisar: a unidade da Espanha não pode ser questionada, a menos que se pretenda ser acusado de sedição.

Mas também essa irrealidade convencional do estado é a que determina que territórios afastados da metrópole e dominados por ela (Brasil, Angola, Moçambique, Cavo Verde, Timor) se vissem obrigados a abandonar as suas magníficas línguas, muitas delas em franca agonia. A ideia de as línguas serem uma pertença em exclusivo dos seus falantes responde a uma ótica nacionalista no sentido em que usa este termo na Europa: uma ótica chauvinista e folk. As línguas são, como a arte ou o conhecimento científico, patrimônio cultural de todos os seres humanos, e a sua perda faz com que a humanidade seja a cada ano mais pobre, mais homogénea. A ferida volta a sair à luz. Quem negar as palavras não poderá ressarcir depois com elas. A colonização exercida por Portugal ou por qualquer outro estado é um episódio triste, que implicou a exploração da classe trabalhadora, o racismo, as humilhações exercidas manu militari, a expropriação dos recursos naturais das etnias submetidas, e uma, mais que evidente, destruição da natureza −dos rios, das florestas, dos mares, das substâncias naturais sanadoras que se encontram na selva−. Mas também a colonização exercida pelo estado espanhol na Galiza inclui esses episódios, exceto talvez o de raça porque somos pálidos como os suevos, mas lembremos com quanto rigor e seriedade científica queriam os sábios gramáticos manter nos dicionários do espanhol a aceção de ‘parvo’ para o termo galego.

Como quase todos os problemas políticos a questão é ordenar as prioridades. O livro de Manuel Miragaia obrigou-me a matutar muito seriamente sobre se era uma prioridade a questão da etiqueta. Acho que não. Não tenho problema com lusofonia porque priorizo é que nos agasalhem com a sua cumplicidade e com o seu respeito os irmãos que moram lá fora e que falam outras variedades da nossa mesma língua. Lusofonia, para mim é um termo perfeitamente válido e discordo com Pepetela: o facto de apenas estarmos unidos pela língua não é questão menor; eis a nossa força. Mas olho com curiosidade a tentativa de reapropriação praticada pelos partidários de Galeguia; a reapropriação sempre é punk, sempre é feroz, estimulante. Cá, na Galiza, para convencer o pessoal falto de autoestima, muitas vezes evitamos o termo português e usamos o de galego internacional, que ainda muitos utentes de normativas reintegracionistas detestam com o curioso argumento de o galego não precisar internacionalidade para ser. Obviamente. O euskera é uma língua e não precisa de apoio exterior. O catalão é uma língua e não precisa ser falado além das suas fronteiras. Porém, termos a hipótese de difundir os nossos produtos sem passar por intermediários, de enriquecer-nos com as nuances do galego bantu de Aline Frazão ou do galego amazônico, ou do galego do Algarve, é uma oportunidade que não estamos em condições de esbanjar. Para a supervivência do galego em concreto, importa é ser internacional.

Hoje, quando a AGLP já entrou na CPLP, bem que nessa condição inquietante de observadora, o debate pode ser interessante. Para não ver a língua como instrumento duma história passada de opressão, mas como uma ponte para partilharmos literatura e música, comércio, ideias, espaços de encontro, conceitos académicos. Sem que ninguém tenha que deixar de ser quem é.

Manuel Miragaia trabalha lá, introduzindo neste Galeguia, que é um texto pedagógico, um apêndice com informação das figuras que uns estados que vivem de costas viradas não difundiram, e com as palavras da variante galega que não são usadas em Lisboa e que ele está a reivindicar. No seu texto, para além do projeto inicial, aparecem outros muitos temas: a conquista da soberania política, ecos antipatriarcais e um profundo amor pela paisagem que produz um poemário suscetível duma leitura ecocrítica.

Parafraseando Aline Frazão, vai ser que, afinal, não falamos a língua do colono, que no nosso caso é o espanhol: falamos português da Galiza, com o sabor indígena do Atlântico-Norte das nossas rias. Teresa Moure – Galiza in “A Tecer aranheiras”

UCCLA - Acolhe Concurso Internacional de Clarinete de Lisboa

O 4.º Concurso Internacional de Clarinete de Lisboa está a decorrer no auditório da UCCLA, entre os dias 27 e 30 de novembro.

Trata-se de uma organização da Associação CULTIVARTE- Quarteto de Clarinetes de Lisboa e da Fundação INATEL, com o apoio da UCCLA e integra o Congresso Europeu de Clarinete organizado pela Associação Portuguesa do Clarinete (APC).

Este concurso pretende contribuir para a visibilidade internacional do desenvolvimento do Clarinete em Portugal. Participam mais de 30 candidatos, vindos de inúmeros países da Europa, Ásia, América. 



Morada:

Avenida da Índia, n.º 110 (entre a Cordoaria Nacional e o Museu Nacional dos Coches), em Lisboa
Autocarros: 714, 727 e 751 - Altinho, e 728 e 729 - Belém
Comboio: Estação de Belém
Elétrico: 15E - Altinho
Coordenadas GPS: 38°41’46.9″N 9°11’52.4″W



segunda-feira, 27 de novembro de 2017

Galiza – Universidade de Vigo e Município de Pontevedra unem esforços contra a Vespa velutina

Imagem: Wikicommons / Francis Ithurburu
O campus de Vigo terá uma estação experimental, pioneira na Europa, para o estudo da Vespa velutina, iniciativa pioneira que decorre do acordo de colaboração que a instituição académica assinou com o Conselho Municipal de Pontevedra, que destinará 60 mil euros para uma pesquisa coordenada pelos professores do Departamento de Ecologia e Biologia Animal Josefina Garrido e María Calviño. O projeto também abrange o estudo do ciclo biológico desta espécie e o seu comportamento nesta área, o que permitirá, como o reitor explicou, Salustiano Mato, definir uma série de directrizes que permitam a detecção precoce dos seus juvenis e medidas que "sirvam para mitigar os efeitos negativos desta espécie invasora".

Após a assinatura de um acordo para o qual a delegação destinará 40000 euros neste ano e outros 20000 após essa investigação, o presidente da instituição provincial, Carmela Silva, destacou a "enorme preocupação" que a Vespa velutina nigrithorax asiática está a gerar no setor de apicultura, já que é um predador de abelhas e frutas, bem como o "alarme social" que está sendo gerado no domínio público. Silva lembrou a morte de um vizinho de Porriño depois de ter sido atacado por estes insectos e ressaltou que, segundo a Junta, " 87% dos municípios da província são afetados pela presença de juvenis da velutina", que em 15 foram detectados a presença de mais de 100 juvenis e, em toda a Galiza, 65% do território é afectado por um insecto: "cientistas alertam que em pouco tempo irão colonizar todo o norte da península".

"O mais importante é que uma estação experimental será montada pela primeira vez e que nos permitirá trabalhar com as espécies e ver aspectos que não poderíamos saber", Garrido enfatizou uma investigação que contempla a criação, no campus de Vigo, de uma primeira estação experimental na Espanha, que, como acrescentou Silva, tornará a Universidade "um ponto de referência no estudo de como esta espécie se comporta em toda a península" e permitirá "responder a outros lugares, não apenas da Galiza, mas de todo o Estado, especialmente do norte e noroeste da península ".

"A nossa ideia com esta estação é iniciar experiências baseadas principalmente em colmeias de abelhas, nas quais podemos observar comportamentos de ataque e como podem ser as estratégias de defesa", acrescentou María Calviño de uma iniciativa na qual Garrido, pesquisador na área de Zoologia, liderará os estudos que fornecem informações detalhadas sobre o ciclo biológico, enquanto Calviño, professor de ecologia, irá vincular esse conhecimento do ciclo biológico com "a sua integração no ecossistema e a interação com outros organismos".



Neste sentido, Mato enfatizou a importância de analisar como a velutina "adapta-se ao nosso ecossistema e as diferentes variáveis ​​climáticas ", uma vez que esta espécie pode supor para a apicultura o que, entretanto, supõe a filoxera para o setor vitivinícola, Ele advertiu, levando em conta também que "os efeitos das mudanças climáticas causam um efeito multiplicador na expansão desta espécie".

Um dos principais objetivos deste projecto é "aumentar a eficiência" na detecção e destruição de juvenis, explicou Calviño, para o qual trabalharão na definição de uma série de "protocolos que possam ser fáceis de colocar em marcha e que não sejam excessivamente caros" para que haja uma eliminação antes de se tornarem “juvenis consolidados". A elaboração dum protocolo para a sua detecção através de métodos baseados na marcação com dispositivos que facilitam o monitoramento e que permitam delinear as suas rotas de alimentação constitui nesse sentido, outro dos trabalhos a desenvolver num projecto do qual eles esperam que possam deixar recomendações para que as actividades dos serviços encarregados ​​pela remoção desses juvenis "sejam eficazes", como acrescentou Silva, que anunciou que este projecto precisava de outras medidas "que envolvessem mais recursos, o Conselho do município está envolvido a 100%".

Inserido no protocolo da estrutura de colaboração que a Universidade e o Município de Pontevedra assinaram em 2015, este convénio dirigido a "dar resposta do conhecimento" a um problema específico terá continuidade, segundo anunciou Silva, com outro acordo que ambas as instituições assinarão em breve e que permitirá organizar uma "grande jornada de debate e análise sobre a situação dos nossos montes, como as alterações climáticas os afectam e quais as medidas que devem ser tomadas". Esta iniciativa, acrescentou, permitirá "do rigor fazer propostas que nos permitam desenvolver uma nova política florestal essencial e urgente". In “GCiência” - Galiza

domingo, 26 de novembro de 2017

Que Nem Kalu










Vamos aprender português, cantando


Ai de mim, se volta com esse jeito manso
como quem quer por um segundo recordar
ai de mim, sugiro deixar no passado
se sabe que vai dar errado
vá!

Tira esses olhos de mim, não faz assim que nem Kalu
que não nos deixa esquecer, prosseguir
tira esses olhos de mim, esqueço dessa sua ausência
que lembra em nosso dia-a-dia da falta que faz sonhar

Decidi, sabendo bem o mal que faz
a tônica e as resultantes disso tudo
escolho assim, ficar um pouco aqui quietinho
tentado, mas vai ser melhor, bem melhor

Tira esses olhos de mim, não faz assim que nem Kalu
que não nos deixa esquecer, prosseguir
tira esses olhos de mim, esqueço dessa sua ausência
que lembra em nosso dia-a-dia da falta que faz sonhar

Tira esses olhos de mim, não faz assim que nem Kalu
que não nos deixa esquecer, prosseguir
tira esses olhos de mim, esqueço toda a tua ausência
que lembra em nosso dia-a-dia da falta que faz sonhar

Versos que Compomos na Estrada - Brasil


sábado, 25 de novembro de 2017

Brasil - Alguns Poetas de Moçambique em Interface com a Poesia de Língua Portuguesa de Goa

Alguns Poetas de Moçambique em Interface com a Poesia de Língua Portuguesa de Goa é a temática de palestra do professor Duarte Nuno Braga, da Universidade de São Paulo (USP) e Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), nesta quarta-feira, 29 de novembro, às 14h30, na sala 308 do prédio 20, Campus Coração Eucarístico. O evento é uma promoção do Grupo de Estudos Estéticas Diaspóricas, do Programa de Pós-graduação em Letras, com apoio do Centro de Estudos Luso-Afro-Brasileiros (Cespuc), e do Camões – Instituto da Cooperação e da Língua, do Ministério dos Negócios Estrangeiros, de Portugal. In “Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais” - Brasil



O professor Duarte Nuno Drumond Braga n. (19/09/1981) possui licenciatura em Línguas e Literaturas Modernas – Estudos Portugueses (2005), Mestrado (2009) e Doutoramento (2014) em Estudos Comparatistas, todos pela Universidade de Lisboa. Pós-doutorado, acerca da representação de Goa e de Macau na literatura de língua portuguesa do séc. XX, desenvolvido desde 2014 na área de Estudos Comparados de Literaturas de Língua Portuguesa na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, onde atua como docente na pós-graduação e na extensão universitária. Trabalha nas áreas de Literatura Portuguesa e Literatura Comparada. duartedbraga@gmail.com


Brasil - Língua Portuguesa Brasileira – História e Pluralidades

A Lei 11.310 de 12 de Junho de 2016, tornou oficial 5 de Novembro o “Dia Nacional da Língua Portuguesa”. Em homenagem ao aniversário de nascimento de um grande ilustre brasileiro: Rui Barbosa nascido em 5 de Novembro de 1849. Para reflexão, uma das célebres frases criadas por Rui Barbosa: “Maior que a tristeza de não haver vencido é a vergonha de não ter lutado”. E assim, começando pelo último fato histórico do idioma no Brasil se delineia a história e as diversidades dos falantes deste país.

A Língua Portuguesa Brasileira tem raízes no Português lusitano falado pelo colonizador europeu que mesmo com a presença da civilização indígena que possuía a sua língua possibilitadora do processo de comunicação entre os mesmos; o homem branco na condição de detentor do poder, visto que as nações exploradoras se viam assim: impôs o seu idioma enterrando o maior tesouro cultural dos primeiros habitantes do Brasil. Pelo que conta a história, antes mesmo do idioma português ser oficializado em Portugal já estava sendo imposto em “Pindorama” primeiro nome atribuído pelos nativos ao Brasil.

Não obstante que, a Língua Portuguesa falada na Península Ibérica, teve origem no Latim Vulgar trazido pelos romanos no século III a.c com influências menores de outros idiomas. O Latim vulgar era falado pelas pessoas mais simples, digamos, que não tinham um elevado grau de instrução e eram estas pessoas que trabalhavam no setor agrícola, base da colonização. Após a queda do Império Romano no século V d.c e as invasões germânicas (os Bárbaros), o português arcaico se desenvolveu como um dialeto românico chamado de galego português diferenciando das outras línguas românicas ibéricas e em 1290 foi decretado a língua oficial do reino de Portugal pelo rei D. Dinis. O português moderno aconteceu em 1516 e a normatização da língua foi iniciada em 1536 a criação das primeiras gramáticas cujos autores se destacam: Fernão de Oliveira e João de Barros.

A expansão marítima contribuiu muito para o homem europeu viajar, explorar e impor a cultura portuguesa onde chegava, aqui no Brasil, os primeiros escritos em língua lusitana são as cartas escritas por Pero Vaz de Caminha as quais narravam ao rei D. Manoel o que era visto no Monte Pascoal, estas cartas são consideradas pela literatura a “Certidão de Nascimento do Brasil”. A expansão da Língua Portuguesa aconteceu também além do Brasil (América do Sul), no continente europeu (Portugal berço da respectiva língua), Angola, Moçambique, Cabo Verde, Guiné Bissau, São Tomé e Príncipe (África), Goa e Timor Leste (Ásia). Em 1990, através da CPLP (Comunidade dos países de Língua Portuguesa) firmou um Tratado Internacional com o objetivo de criar uma ortografia unificada. Em 31 de Dezembro de 2012 marca o término do período do novo acordo Ortográfico e a oficialização do mesmo nos países que falam a Língua Portuguesa.

O dinamismo a língua falada no Brasil é a soma de vocábulos do idioma português do colonizador, outro grupo de palavras de origem do Tupi-guarani língua dos primeiros habitantes do Brasil. Há uma grande presença do vocabulário africano com a vinda dos escravos, caracterizando assim as raízes do idioma no Brasil e também através dos compostos eruditos ou hibridismo classificados em: a) helenismos: radicais gregos e prefixos gregos (demagogo, anfíbio); b) latinismos: radicais e prefixos latinos (ovíparo, advogado).

A evolução da língua acontece através dos neologismos (internauta, deletar, blogueiro) e ainda palavra-valise (Showmício, Flaflu), além dos estrangeirismos ou (empréstimos linguísticos) de palavras do idioma francês como também, as contribuições do inglês norte-americano (personal trainer, making-of) e o aportuguesamento de palavras estrangeiras que se incorporam ao idioma como (xampu,futebol, abajur,boate); os neologismos semânticos (tira – policial, figura – gravura ou pessoa) constituindo uma numa língua brasileira com um conjunto de vocábulo de um riquíssimo léxico e um vasto campo de significação.

É importante salientar que no Brasil todos falam a língua portuguesa, mas existem usos diferentes da mesma devido aos diversos fatores: a) Os regionalismos: se caracterizam pela diferença de falares de uma região para outra isto pode ocorrer na pronúncia ou no significado das palavras; b) fatores culturais: o grau de escolarização de uma pessoa define a forma de falar diferente daquela que não teve acesso à escola; c) fator contextual diz respeito ao modo de falar de acordo com a situação: muitos termos utilizado na conversa não podem fazer parte de um discurso de solenidade de formatura; d)fator natural: a linguagem infantil apresenta formas diferentes da linguagem adulta.

As variedades linguísticas no Brasil também se dá em decorrência dos dois níveis de fala existente no país. Conforme a Linguística (Ciência que estuda a linguagem), uma das dimensões existe no português que se aproxima da norma-padrão aquela caracterizada como uma espécie de lei que normaliza o uso da língua falada ou escrita é uma variedade de prestígio social conhecida como norma culta falada por pessoas escolarizadas, nesta modalidade estão incluídas as chamadas línguas técnicas restritas ao vocabulário das profissões: (engenharia, químicos, biólogos, linguista e outras). A outra dimensão são as formas faladas por pessoas de pouca instrução com situação escolar menos prestigiada que frequentemente são vítimas do preconceito linguístico este variedade linguística é denominada variedade popular ou coloquial.

Na língua popular estão presentes “as gírias” palavras ou expressões que servem para marcar a identidade de um determinado grupo social, às vezes ultrapassam fronteiras desse grupo e passam a ser usadas por boa parte da população. Quando ligada a uma profissão a gíria é chamada de “jargão”: “aplicar o drible da vaca”, “dar um chocolate” são exemplos de jargão futebolístico muito usado pelos torcedores. Ou também as gírias podem desaparecer rapidamente se atualmente se diz “é dez” para elogiar; “prafrentex” (em desuso) era usado para algo avançado.

Para alguns estudiosos da língua, “a gíria” não é a linguagem popular, mas um estilo que integra a linguagem popular, uma vez que nem todas as pessoas que se exprimem através da linguagem popular usam gíria. Uma pessoa pertencente a um grupo social da periferia de uma cidade pode utiliza termos da própria língua portuguesa com significações criadas e entendida perfeitamente pelo próprio grupo o qual está inserido. É o resultado da capacidade e criatividade de um povo atribuindo às palavras ou expressões giriáticas o rico universo semântico (significação) construído pelo povo que se comunica entre si mesmo vivendo à margem das classes dominantes e muitas vezes discriminados pelas mesmas por se expressarem de maneira diferente da linguagem culta. São falantes de um mesmo país chamado Brasil.

Mediante os conceitos linguísticos todas as variedades são legítimas e funcionam permitindo não só às pessoas interagirem como também produzindo cultura e arte. Muito embora os diferentes sotaques sejam motivos para o preconceito linguístico entre aqueles que utilizam a norma culta sobrepondo àqueles que desconhecem a mesma dentro do próprio país. Por outro lado, o preconceito linguístico também acontece partindo dos falantes de Portugal em relação ao Brasil quando fortalece a ideia de que “o brasileiro não sabe português e só em Portugal se fala bem português” (Marcos Bagno).“O brasileiro sabe o seu português, o português do Brasil enquanto os portugueses de Portugal sabem o português deles. Nenhum dos dois é mais certo ou mais errado, mais feio ou mais bonito; são apenas diferente um do outro” (Marcos Bagno). Mª do Carmo de Santana – Brasil in “Diário do Sertão”

Moçambique – “Projecto Teresinha – Uma vida em Moçambique”



Teve lugar no passado dia 20 de Novembro, no Auditório do Edifício-Sede do BCI, em Maputo, a apresentação oficial do Projecto “Teresinha – Uma vida em Moçambique”, uma Exposição Literária e Fotográfica, que relata o quotidiano da vida de uma mulher em Moçambique.

O evento, com a presença de patrocinadores, parceiros, familiares, amigos e alguns escritores, contou com a intervenção do Representante da Champier, Lda, Director do Hospital Central de Maputo e do Administrador do BCI.

O Projecto Teresinha inclui 20 obras que serão doadas ao Hospital Central de Maputo para exposição numa parede, construída de raiz pelos autores do projecto, na farmácia do hospital. Este local foi escolhido por ser aquele onde a maioria dos pacientes passam algum tempo sentados à espera pela sua vez de atendimento. Os autores das obras pretendem com esta exposição proporcionar aos utentes daquele espaço de um momento de espera mais positivo, possibilitando que desfrutem desta exposição combinada de poesia e fotografia.

O Director do Hospital Central de Maputo, Mouzinho Saíde, afirmou “desde já os nossos agradecimentos à Lisié e ao Mariano, por nos estarem a oferecer esta fantástica exposição. O hospital é um espaço que, mais do que doenças, deve ser um espaço de saúde, de bem-estar social, de bem-estar mental e cultural, o hospital é, no fundo um espaço de iteração entre médicos, enfermeiros, auxiliares, pacientes, familiares em que a arte pode e deve ser também uma ferramenta para podermos melhorar o estado de saúde daqueles que sofrem. É neste contexto que o Projecto Teresinha – Uma vida em Moçambique muito pode contribuir para a melhoria do ambiente do hospital, trazendo a beleza e a harmonia da poesia e da fotografia a todos quantos utilizam o espaço da farmácia do Hospital. Endereço, mais uma vez aos autores do projecto, pelo apreço que têm demonstrado em relação ao hospital e aos seus utentes, o nosso abraço e muitíssimo obrigado”.

“O BCI assume, desde a sua fundação, uma forte e permanente preocupação social, identificando-se com causas que afectam as comunidades locais, no quadro da sua missão, de “contribuir activamente para o desenvolvimento económico e social de Moçambique”. Sendo a Cultura um dos seus pilares em matéria de responsabilidade social corporativa, o BCI mostrou-se disponível, desde a primeira hora, para ser um parceiro de referência do Projecto “Teresinha – Uma Vida em Moçambique”, com a certeza de que o mesmo alcançará os objectivos que se pretendem, dando corpo à arte como veículo de inserção social.

Quero, pois, felicitar os autores e agradecer-lhes a oportunidade que nos proporcionam de associar a marca BCI aos seus trabalhos, dando espaço a que, uma vez mais, vinquemos o sentido de Cidadania e de Responsabilidade Social que caracteriza a actuação do BCI”, afirmou Dr. Luís Aguiar, Administrador do BCI.

Por sua vez, Adil Mesquita, Representante da Champier, Lda afirmou que “é com imensa honra e satisfação que, a Champier, Lda abraça este projecto no âmbito da sua responsabilidade social, um projecto que acreditamos que irá contribuir de forma significativa no âmbito social proporcionando alegria, promoção e divulgação da arte”.

Lisié Champier e Mariano Silva, autores do Projecto Teresinha uma vida em Moçambique afirmaram “sentimo-nos muito honrados por finalmente podermos apresentar este projecto ao público, é verdade que não foi fácil até podermos passar do papel para a implementação, mas é isto que nos entusiasma, podermos ver hoje o nosso trabalho finalmente exposto, e muito em breve, no local onde sonhamos, na Hospital Central de Maputo. Ao Director do Hospital e a todos que acreditaram no projecto Teresinha desde a primeira hora, o nosso especial agradecimento. Como já referimos o projecto terá várias fases que ambicionamos alcançar, que explorará diversas vertentes culturais, estamos a falar de – “Exposição Literária e Fotográfica no Hospital Central de Maputo”; “Exposição Literária e Fotográfica nos principais hospitais do país”; “Lançamento do livro ‘Teresinha – Uma Vida em Moçambique”; “Peça de teatro”; “Filme” e finalmente “uma Novela”, e acreditamos que, com a mesma força que finalmente nos foi possível concretizar esta primeira fase, iremos passo a passo, concretizar as outras que agora mencionamos. Muitíssimo obrigado, mais uma vez, a todos que nos apoiaram a tornar este projecto realidade”. In “Olá Moçambique” – Moçambique

Para acompanhar o projecto aceda aqui.

China - Parceria para desenvolvimento de infra-estruturas de transporte no espaço lusófono

Em Janeiro do próximo ano, uma comissão mista das empresas portuguesa e chinesa reunir-se-á para estudar a calendarização do acordo de parceria, que, além da capacidade de desenvolver infra-estruturas, apresenta “a capacidade de cativar financiamentos exteriores” no caso de países de escassos recursos financeiros, como referiu o vice-presidente da China Tiesiju Civil Engineering Group CO. LTD/China Railway Engineering Corporation, Shao Gang



O protocolo, assinado na Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP), em Lisboa, entre a IP Engenharia, SA/Grupo Infraestruturas de Portugal e a China Tiesiju Civil Engineering Group CO. LTD/China Railway Engineering Corporation, permitirá intervir em Angola, Moçambique, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe e Guiné-Bissau, nos projectos “que cada país necessitará mais para se desenvolver e estimular a economia local”.

Em Janeiro do próximo ano, uma comissão mista das empresas portuguesa e chinesa reunir-se-á para estudar a calendarização do acordo de parceria, que, além da capacidade de desenvolver infra-estruturas, apresenta “a capacidade de cativar financiamentos exteriores” no caso de países de escassos recursos financeiros, como referiu o vice-presidente da China Tiesiju Civil Engineering Group CO. LTD/China Railway Engineering Corporation, Shao Gang.

O responsável pela empresa chinesa revelou que a “joint-venture” com a empresa pública portuguesa visa “procurar oportunidades de parceria” com governos de países africanos, apresentando a possibilidade de “fazer a ponte com bancos de desenvolvimento chineses”.

Shao Gang aludiu ainda à possibilidade de Governos de países africanos de situação financeira débil poderem recorrer “a empréstimos” concedido pela China, “em condições vantajosas”, porém assinalou que “estas situações terão de passar” pelos executivos de Portugal e China.

Presente na cerimónia de assinatura do memorando de entendimento, o secretário de Estado da Internacionalização, Eurico Brilhante Dias, notou que “Portugal identificou a relação política, económica e social com a República Popular da China como uma prioridade”, pelo que assinalou que se deu ontem “um passo importante”. “Portugal já mostrou que é um parceiro de longo prazo nos países de língua portuguesa em África e, por isso, com a República Popular da China, somos o parceiro que tem as melhores condições para a abordagem a estes mercados”, afirmou, sustentando que “a disponibilidade do investimento do Banco de Desenvolvimento da China é uma solução virtuosa, ganhadora”.

A empresa pública chinesa assinou igualmente um protocolo de características idênticas com a construtora Teixeira Duarte, em cerimónia que teve também a presença do embaixador da China em Portugal, Cai Run, e do presidente da AICEP, Luís Castro Henriques. In “Jornal Tribuna de Macau” – Macau com “Lusa”

Cabo Verde - Desafios e oportunidades para execução da Política Regional de Pesca e de Aquacultura

Cabo Verde vai conhecer os desafios e oportunidades que possam contribuir para o diálogo regional, como também facilitar, no futuro, a implementação da Política Regional de Pesca e de Aquacultura

Essas respostas estão no relatório de consultoria sobre o “Estudo/análise da contribuição das Políticas e Estratégias Nacionais de Pesca e de Aquacultura para a Segurança Alimentar e Nutricional em Cabo Verde”, enquadrado no Programa FIRST “Impacto, Resiliência, Sustentabilidade e Transformação para a Segurança Alimentar e Nutricional na CEDEAO”.

De acordo com informações facultadas à Inforpress pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), o estudo/análise realizado em Cabo Verde teve como propósito, mapear e avaliar o impacto das políticas e estratégias de pesca e de aquacultura existentes na segurança alimentar e nutricional e na redução da pobreza das populações em Cabo Verde.

A identificação dos desafios e as oportunidades a nível nacional, que possam contribuir para o diálogo regional, como também facilitar, no futuro, a implementação da Política Regional de Pesca e de Aquacultura da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO).

Para a validação do “Estudo/análise da contribuição das Políticas e Estratégias Nacionais de Pesca e de Aquacultura para a Segurança Alimentar e Nutricional em Cabo Verde” que tem sido realizado em paralelo em todos os Estados membros, a FAO promove entre 23 e 24 de Novembro na Cidade da Praia, um ateliê que será inaugurado a partir das 08:30 num dos hotéis da capital.

O evento vai contar com a participação dos parceiros nacionais e internacionais, e de representantes de instituições e organizações profissionais directamente implicadas na formação e/ou implementação da política nacional de pesca e de aquacultura, da segurança alimentar e nutricional, da luta contra a pobreza e de questões ligadas ao género.

O Programa FIRST é resultado da parceria entre a FAO e a União Europeia, com o objectivo de fornecer um mecanismo de apoio às políticas de pesca e de aquacultura nos Estados membros da CEDEAO, visando a melhoria da segurança alimentar e nutricional das populações locais. In “Expresso das Ilhas” com "Infopress"